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Trivela

·28 de novembro de 2021

O erro individual foi fatal, mas o Flamengo teve outros tantos problemas – alguns já bem conhecidos

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Cinco minutos do primeiro tempo da prorrogação. Andreas Pereira recebe de David Luiz e toma pressão de Deyverson. O meia hesitou, perdeu a bola e viu o atacante do Palmeiras avançar e marcar. O erro foi fatal dentro do jogo, porque foi o gol que decretou a derrota por 2 a 1. Apesar disso, esse não foi o único erro do Flamengo na partida. Diante de um adversário que parecia saber exatamente o que faria em campo, o Flamengo não soube. Não pareceu, em nenhum momento, preparado para o jogo que viveu.


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Era sabido que individualmente o Flamengo era melhor. Inclusive para o Palmeiras e o técnico Abel Ferreira. Ninguém discutia isso. A capacidade de decisão presente no elenco rubro-negro é enorme. os alviverdes precisariam entrar em campo para evitar que os talentos do time da Gávea tivessem espaço e tempo para decidirem, como estão acostumados. Isso inclui muita disposição, entrega, a raça, que está sempre na boca da torcida. Mas isso é pouco. O que é preciso, de fato, é um plano de jogo, uma ideia, é saber como minimizar os riscos que o adversário te coloca. Foi isso que o Palmeiras fez. Correr muito qualquer atleta consegue. Saber como correr, por que se corre, isso já é outro passo.

Desde a chegada de Renato Portaluppi, no dia 10 de julho, uma das coisas que mudou no clube foi o ambiente, que era considerado muito pesado com a presença de Rogério Ceni. O técnico, atualmente no São Paulo, tinha métodos exigentes e o seu time de fato oscilava demais, ainda que os resultados fossem ótimos. O futebol, nem tanto. Ainda assim, ele entregou o título brasileiro e tinha bons jogos. Havia uma ideia no time, mas ela não parecia ser executada da melhor forma. Havia questionamentos válidos ao trabalho de Ceni, embora houvesse, também, um excesso de crítica especialmente pela comparação – sempre um tanto injusta – com o que Jorge Jesus tinha feito.

A chegada de Renato melhorou o ambiente e, inicialmente, passou a ser uma máquina de vitórias e de goleadas. Foram seis vitórias seguidas, o que, em termos de resultado, é absolutamente espetacular. O desempenho, contudo, tinha ressalvas. O time de Renato tinha outras qualidades, diferentes das de Ceni. Os jogadores tinham mais liberdade em campo, menos responsabilidade em alguns setores do campo. Em um primeiro momento, isso funcionou. A empolgação foi grande, porque individualmente os jogadores rendiam.

Como qualquer trabalho, o de Renato passou a enfrentar desafios diferentes, até porque os adversários foram mudando à medida que viram os progressos rubro-negros em jogos anteriores. Houve tropeços como a goleada sofrida para o Internacional por 4 a 0 no Maracanã, mas esse não é o principal aspecto. Ali foi um jogo ruim como um todo. As maiores lições deveriam vir de outros jogos, como o 5 a 1 sobre o São Paulo em que o jogo foi equilibrado e, de repente, por uma conjunção de fatores que juntou problemas do adversário e acertos individuais, surgiu uma goleada que era difícil de explicar. O problema é quando o time vence sem saber como venceu e por que venceu.

O time de Renato é muito mais agressivo que o de Rogério Ceni. É, também, menos equilibrado. Também parece menos preparado para lidar com diferentes cenários, especialmente se for durante os jogos. Seu estilo de jogo envolve uma imposição ao adversário, o que por muitas vezes funcionou, especialmente contra adversários mais frágeis. O direto do Flamengo é um soco muito forte e por vezes pode deixar o adversário tonto ou mesmo nocauteá-lo. O problema é que o Flamengo não parece preparado para um adversário que saiba levantar a guarda e, mais, atacá-lo nas suas fraquezas. Se a imposição pela qualidade não funciona, o que o time pode fazer? No caso do Flamengo, muito pouco.

Diante do Palmeiras, nesta final de Libertadores, o time não pareceu preparado para o que Abel Ferreira preparou. Não só pelo esquema tático, com uma mudança surpreendente, mas também porque não soube enfrentar o Palmeiras. Dá a sensação daquilo que ouvíamos antigamente que “eles é que tem que se preocupar com a gente, não nós com eles”. Só que o Palmeiras se preocupou e se preparou para o Flamengo. O rubro-negro pareceu querer encaixar o seu jogo no adversário, mesmo que o adversário tenha mudado o jogo. É como uma criança tentando encaixar uma peça quadrada em um espaço triangular.

Poderia ter empatado e até virado, claro, porque o futebol é um jogo que tem alguma dose de aleatoriedade. Poderia ter feito o gol no segundo tempo com Michael, poderia ter feito outro gol com Gabigol. Mas o time vivia com os mesmos problemas de outros jogos, como foi contra o Athletico Paranaense no Maracanã, quando o time foi eliminado da Copa do Brasil. Depois de sofrer um gol, não conseguiu reagir e mudar o jogo.

Quando o Flamengo empata o jogo com Gabigol, o Palmeiras teve alguns minutos atordoado. Seria importante saber como aproveitar a tontura do adversário para atacá-lo. O problema é que o time parecia não saber lidar com a proposta do Palmeiras mesmo àquela altura do jogo. O Flamengo não soube o que fazer para tirar vantagem. Pior ainda: viu o adversário se reorganizar e retomar. O Flamengo tentou seguir atacando sem parar, mas não parecia saber como se livrar da marcação palmeirense. Não sabia como lidar nem com os contra-ataques do Palmeiras, já que o time de Abel Ferreira continuava sendo perigoso, mas errou muito também nas transições e perdeu a chance de marcar mais gols.

Arrascaeta fez uma ótima partida, mesmo claramente sem ter as melhores condições. É dele o passe para Gabigol. Foi dele também o passe para Michael, que poderia ter marcado o segundo gol. Ele se esforçou o tempo todo, inclusive na marcação. Mas o Flamengo teve muita dificuldade de criar jogadas a partir de como o Palmeiras se armou. O uruguaio, um dos personagens do jogo por ser no estádio que ele aprendeu a sonhar, ficou sozinho. Pareceu faltar uma estratégia diante da situação que o clube viveu.

Esses problemas não eram novos. O Flamengo já tinha os vivido antes. Mas desta vez, o adversário era alguém não só capaz de causar mais dificuldades que a média, ele é capaz de se adaptar às diferentes fases do jogo. O Palmeiras não é genial, mas é capaz de fazer seus adversários sofrerem nos jogos e é preciso saber lidar com isso. Como sair dessas armadilhas, como desestabilizar e causar problemas no time de Abel Ferreira? O Flamengo de Renato não parecia saber a resposta.

Perder jogos é sempre ruim. A derrota não pode ser a resposta de tudo, o que significa que quando ela chega, em uma competição do peso da Libertadores, não quer dizer que tudo tem que ser jogado abaixo, ir para o chão. Não precisa ser assim, ao menos não deveria ser assim sempre.

O problema é que o time do Flamengo por vezes ganhou sem saber bem por quê. Eventualmente, quem não sabe por que ganha acaba perdendo, porque não controla as variáveis mais perigosas para minimizar os riscos e mudar quando é preciso, mesmo dentro dos jogos. O futebol é um jogo, como disse o Abel, mas é preciso estudá-lo para saber como fazer para lidar com as possíveis adversidades.

O Flamengo precisará lidar com o que fez e o que não fez. Será importante avaliar para entender o que se quer e o que será necessário daqui para frente. O Campeonato Brasileiro ainda tem alguns compromissos pela frente, mas o que se viu em campo em Montevidéu foi um time com pouco repertório e muita qualidade. Parece pouco para quem tem as ambições do tamanho do Flamengo. O erro de Andreas Pereira só pesou porque havia a falta de muito mais coisas que impediram o excelente time do Flamengo de fazer mais.

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