O dia em que o senado azul, enfim, tomou o poder na Europa: os 10 anos da primeira Champions do Chelsea | OneFootball

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·20 de maio de 2022

O dia em que o senado azul, enfim, tomou o poder na Europa: os 10 anos da primeira Champions do Chelsea

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O que Manchester City e Paris Saint-Germain vivem hoje em dia na Champions League não é tão diferente do que o Chelsea sentia há uma década. Os Blues conquistaram a Premier League de maneira inapelável, buscaram também o bicampeonato, renovaram a conquista em 2010. Porém, o projeto ao qual se propunha Roman Abramovich parecia incompleto enquanto a Europa não viesse. Os londrinos mudavam de treinadores e gastavam muito em reforços, mas concentravam seu fortalecimento numa espinha dorsal de ídolos: eram os chamados “senadores”, que mandavam nos vestiários e brilhavam em campo. Petr Cech no gol, John Terry na defesa, Frank Lampard no meio e Didier Drogba no ataque. Certa feita, quando os insucessos na Champions não se esgotavam, até parecia que o sonho nunca se cumpriria. No entanto, os senadores tornaram isso possível. Numa trajetória já improvável, o Chelsea superou adversários mais badalados e faturou a tão aguardada Orelhuda em 2011/12. Cech e Drogba, em especial, arrebentaram numa mítica final em Munique contra o Bayern.

É interessante observar como o projeto do Chelsea com a grana de Abramovich não demorou a emplacar. A escolha de José Mourinho era certeira. Mais do que isso, o clube foi muito bem ao se estruturar em cima de claras lideranças em campo. Terry e Lampard já se afirmavam por lá, Cech e Drogba chegaram como estrelas em potencial. Os quatro tiveram outras parcerias importantes nesses anos todos, outros que se aproximaram em importância durante parte da caminhada – e aqui dá para citar Ashley Cole e Michael Essien em especial, entre os que permaneciam em 2011/12. Contudo, nenhum desses coadjuvantes atingiram a longevidade dos senadores e nem a influência. É difícil conceber a força dos Blues sem os quatro.


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Abramovich precisou de três temporadas para fazer do Chelsea um bicampeão memorável na Premier League. Na Champions, diferentemente, o sucesso demorou a se confirmar. Os Blues quase sempre faziam boas campanhas. Sempre tinham eliminações traumáticas. Do pênalti perdido na final em Moscou ao golaço de Iniesta (e as reclamações da arbitragem), do improvável Monaco ao carrasco Liverpool, sempre existia um empecilho para frustrar os londrinos. A Champions simplesmente não acontecia, por mais que sobrassem talentos em Stamford Bridge e a Premier League acabasse conquistada com grandes desafiantes para frente.

Em 2011/12, o Chelsea buscou seu “novo Mourinho” em André Villas-Boas. De qualquer forma, a impressão era de um final de ciclo para os senadores. Eles nem eram tão velhos, todos na casa dos 30 anos, mas o rendimento não era o mesmo de meados da década anterior. Cech parecia cair de nível, Terry se envolvia em seguidas polêmicas, Lampard vinha com mais problemas físicos, Drogba já pensava em sair. Parecia a hora de passar o bastão a Fernando Torres, Juan Mata, Ramires, David Luiz. Um processo de renovação já passava a ser desenhado em Stamford Bridge.

O Chelsea se distanciou da briga pelo título na Premier League ainda durante o primeiro turno. E a campanha na fase de grupos da Champions também não era confiável. Os Blues venceram apenas duas das primeiras cinco rodadas, ambas em casa, e somavam oito pontos. Até o Genk do jovem Kevin de Bruyne arrancou um empate na Bélgica. A classificação estava ameaçada antes da visita do Valencia a Londres na última rodada. O Chelsea respondeu com a vitória por 3 a 0, numa noite de Drogba, com dois gols e uma assistência para Ramires. O senado passava a mandar.

Não foi aquele resultado que sanou a crise. André Villas-Boas foi demitido no início de março de 2012. E a Champions parecia outra vez fadada ao fracasso, de maneira até precoce. Na ida das oitavas de final, o Chelsea acabou amassado pelo Napoli no San Paolo. Os celestes venceram por 3 a 1, contando com o melhor do trio formado por Edinson Cavani, Ezequiel Lavezzi e Marek Hamsik. Para a volta em Stamford Bridge, os Blues já teriam novo técnico. Antigo ídolo e assistente de AVB, Roberto Di Matteo foi promovido ao cargo principal sem necessariamente ter currículo para isso.

Se faltava tarimba ao treinador, os senadores sabiam como liderar aquele grupo. E seriam fundamentais no reencontro com o Napoli. Reserva na ida, Lampard estava de volta ao time titular, assim como Terry, desfalque por lesão. A reviravolta aconteceu com os 3 a 1 devolvidos no tempo normal e ampliados para 4 a 1 na prorrogação. Drogba, Terry e Lampard marcaram os gols no tempo normal, enquanto Didier também deu a assistência para Branislav Ivanovic ser o herói na prorrogação. A partir daquele jogo, o Chelsea voltava a sonhar com a Champions. Não tinha o frescor de outros tempos, mas tinha seus protagonistas cascudos no torneio.

As quartas de final foram de mais calmaria para o Chelsea. A equipe venceu os dois jogos contra o Benfica e nem dependeu tanto dos senadores. Salomon Kalou marcou na Luz, Lampard e Raul Meireles fizeram na volta. Isso até que o Barcelona aparecesse no caminho durante as semifinais. O incensado Barça de Pep Guardiola, campeão continental em duas das três temporadas anteriores. O mesmo Barça que tinha provocado algumas das eliminações mais dolorosas aos Blues. Era a chance da vingança, provavelmente a última dos senadores.

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O Chelsea que pegou o Barcelona em Stamford Bridge (GLYN KIRK/AFP via Getty Images/One Football)

O velho mestre Mourinho, na Inter, já tinha apresentado um meio de parar aquele Barcelona. A chave do ônibus azul estava nas mãos de Di Matteo, e com quatro motoristas que tinham os blaugranas entalados na garganta. Se era difícil evitar um massacre contra um Barça tão forte, os Blues se agarraram à eficiência para a vitória por 1 a 0 em Stamford Bridge. Os catalães tiveram 79% de posse, 24 a 4 nas finalizações. Drogba anotou o gol decisivo, Cech fechou sua meta e assim o resultado se deu, permitindo que os ingleses tivessem a vantagem do empate na Espanha.

A segunda partida, no Camp Nou, era daquelas que uma eliminação poderia parecer natural. O Barcelona de novo foi com tudo para cima e chegou a abrir dois gols de vantagem. Os coadjuvantes e os gols fora seriam as chaves para o Chelsea rumo à decisão, com o empate por 2 a 2 valendo a festa azul. No fim do primeiro tempo, Sergio Busquets e Andrés Iniesta fizeram dois gols, enquanto Terry foi expulso num lance de descontrole. A casa parecia cair, e na conta do senador menos confiável naquela época. Antes que o intervalo chegasse, porém, Lampard encontrou um caminho para descontar. Foi dele o passe para a cavadinha de Ramires, daqueles gols que marcam a campanha, e que teria um peso imenso à história.

No segundo tempo, o Barcelona vencia, mas precisava de mais um gol para avançar. Teve um pênalti aos quatro minutos. Tinha Messi no ano mais goleador da carreira. O travessão surgiu pela frente e impediu o gol. O Barça sentia o nervosismo e esbarrava nas trincheiras azuis. Até Drogba se desdobrava na marcação, fazendo praticamente uma lateral esquerda improvisada, num jogo em que Gary Cahill saiu lesionado no primeiro tempo e deixou os londrinos sem sua zaga titular. O tempo passou sem que o terceiro gol viesse aos blaugranas e Cech operou os seus milagres, até que Fernando Torres matasse o confronto num contragolpe durante os acréscimos, em seu gol mais importante na decepcionante passagem pelo clube.

O Chelsea estaria na final. E encararia um Bayern de Munique motivado. A chance de jogar na Allianz Arena era uma motivação, as cicatrizes dos vices recentes eram uma motivação, a coroação da geração que ficava sempre no quase era uma motivação. Do outro lado, entretanto, os Blues também não queriam desperdiçar a oportunidade. E, para eles, o tempo parecia mais curto. Era o agora ou nunca, mesmo encarando aquela multidão vermelha nas arquibancadas, num jogo só teoricamente em campo neutro.

O Bayern seria senhor do jogo em Munique. Mas não do placar em 1 a 1. O duelo entre Arjen Robben e Petr Cech começou no primeiro tempo, com uma defesaça do goleiro com o pé. Os Blues até encaixavam seus contra-ataques, mas sem tanto perigo. O segundo tempo chegou e, aos 37 minutos, a final parecia liquidada. Bastian Schweinsteiger cruzou e Thomas Müller mandou para dentro. Restava pouco tempo para uma reação do Chelsea. Restava o suficiente para Drogba, que decretou o empate aos 43, numa cabeçada de manual. Os Blues estavam vivos, sabe-se lá como, rumo à prorrogação.

O mesmo Drogba que foi herói poderia ser vilão, ao cometer um pênalti sobre Franck Ribéry. Para sorte do marfinense, ele tinha Cech ao seu lado. E o goleiro se agigantou para defender a cobrança de Robben, sem nem dar rebote. O placar se manteve inalterado e o Bayern estava com o psicológico afetado. Não era uma boa coisa para encarar uma disputa por pênaltis.

Com Terry suspenso, o fantasma de Moscou não deu as caras em Munique. Manuel Neuer até parou Juan Mata no primeiro tiro dos Blues, mas Cech estava impossível naquela noite. O goleiro acertou o canto em todas as cobranças do Bayern. Não alcançou as três primeiras, mas igualou a disputa na quarta, de Ivica Olic. Ashley Cole, de atuação excelente durante os 120 minutos, fez na sequência. Bastian Schweinsteiger, então, seria mais um desbancado pelo goleiro do Chelsea. Até que, por fim, o chute final caísse nos pés de Drogba. Ele seria mesmo herói, o definitivo. Converteu, abraçou Cech, não escondeu as lágrimas.

Aquele era um título dos senadores. O maior, o que tanto perseguiram. Os olhares iam todos sobre eles. Na entrega do troféu, Drogba até permitiu que Abramovich tivesse o gosto de erguer a taça, num sinal de reconhecimento ao investimento do magnata. Mas o milionário se escorava nos medalhões do elenco. Drogba saiu logo na temporada seguinte rumo ao Galatasaray, o trio restante teve mais alguns anos de idolatria. A história que fica, de qualquer maneira, tem o rosto do quarteto nos livros. Nada daquilo seria possível sem eles. Em especial, o passo final à eternidade dado em Munique.

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