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·05 de junho de 2025
O curioso caso do campeão que virou lanterna em seis meses na MLS

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·05 de junho de 2025
Consegue imaginar seu clube se tornando campeão e, seis meses depois, ocupando a última posição na tabela? Para o torcedor comum de futebol, esse cenário catastrófico não passa de uma miragem, fruto de uma imaginação fértil, ou uma distopia distante e impossível de representar a realidade.
O futebol é uma verdadeira caixinha de surpresas e casos assim, embora raros, existem. O exemplo mais recente vem da MLS e tem como surpreendente protagonista o poderoso LA Galaxy - o maior vencedor da competição.
Do céu ao inferno em 16 longos atos. Essa premissa poderia ser o título de uma peça teatral, mas representa, na verdade, a situação atual dos Galaxy, visto que conquistaram, em dezembro de 2024, o título norte-americano - vitória por 2-1 na final, contra os NY Red Bulls - e agora ocupam, o último lugar da classificação.
Com quatro empates e 12 derrotas em 16 partidas, o time de Los Angeles registrou o pior início de um campeão na temporada seguinte ao título na história da MLS. A primeira vitória surgiu apenas na madrugada do último domingo (1 de junho), na 17ª rodada, diante do Real Salt Lake.
Mas, afinal, quais são os motivos para esse momento e início atípico do LA Galaxy na temporada de defesa do título Falta de planejamento, problemas táticos ou simplesmente... azar? Fomos atrás das (possíveis) respostas.
Essa queda de desempenho do Los Angeles Galaxy está associada a vários fatores, desde lesões que afastaram elementos cruciais do elenco a longo prazo até à saída do principal artilheiro da temporada passada, passando ainda pelas atuações abaixo do esperado dos goleiros.
A baixa de maior impacto está relacionada com a ausência de Riqui Puig, o maestro que costuma ditar o ritmo da música produzida pela orquestra galáctica. O meia espanhol, de 25 anos, sofreu uma lesão grave - ruptura do ligamento cruzado anterior do joelho - e foi submetido a uma cirurgia, por isso ainda não disputou qualquer partida em 2025.
Na temporada anterior, o meio-campista foi peça fundamental na equipe comandada por Greg Vanney, tendo participado em 36 partidas e somado 17 gols e 14 assistências. Vale lembrar que o ex-Barcelona jogou 30 minutos lesionado, nas semifinais da MLS, e ainda deu assistência para o gol da vitória.
Outro reforço de peso que esteve afastado na reta inicial da temporada é Marco Reus. Contratado em agosto de 2024 junto ao Borussia Dortmund, o alemão ainda só disputou 22 partidas na MLS pelo novo clube. Além da falta de ritmo, o experiente atacante tem sido assombrado, nos últimos anos, por sucessivas lesões.
Esta temporada, Reus participou apenas em 12 dos 21 encontros disputados pelo atual campeão norte-americano. Uma lesão no joelho - um problema que o incomoda desde o ano passado - o afastou dos gramados durante pouco mais de um mês, tendo recuperado recentemente a titularidade. Ainda assim, a sua importância no elenco dos Galaxy é inquestionável.
Ainda no campo das ausências, destaque para as saídas no mercado de transferências de Dejan Joveljic e de Mark Delgado. O atacante sérvio foi o artilheiro do time de Los Angeles em 2024, com 21 tentos apontados. Já o experiente meia de 30 anos, por sua vez, participou em 40 partidas na temporada passada e era um autêntico pilar no meio-campo dos campeões.
Em termos coletivos, a permeabilidade defensiva tem sido um dos aspectos mais criticados por parte dos torcedores. Em 17 jogos, o Galaxy sofreu 36 tentos, o que representa uma média de 2,11 gols sofridos por jogo. Greg Vanney precisa, ainda, decidir qual é o seu goleiro titular, uma vez que tem alternado entre Novak Micovic e John McCarthy.
Esta rotatividade numa posição tão crucial, aliada às várias mexidas no setor defensivo, levam a falta de rotinas, entrosamento e, acima de tudo, falta de confiança. Aliás, alguns dos gols sofridos aconteceram em lances bizarros, onde foi visível a falta de comunicação. Apesar do clean sheet frente ao combalido Real Salt Lake, o Los Angeles Galaxy permitiu que os visitantes conseguissem 19 arremates. Demasiados para um jogo (supostamente) controlado desde o minuto 13.
Tal como a moda, também a história tende a ser cíclica. Apesar deste começo ser o pior de um campeão em toda a história da MLS, existem também dois casos de temporadas em que o campeão teve um início de temporada tão ruim.
Dois cenários ligeiramente semelhantes, protagonizados pelo suspeito do costume: LA Galaxy. O anterior pior registo pertencia já ao conjunto de Los Angeles e remonta ao longínquo ano de 2006, quando os galáticos somaram três vitórias, três empates e dez derrotas nos primeiros 16 jogos do campeonato.
Antes disso, a reta inicial de 2003, após conquistar o título da MLS na temporada anterior, foi também negativa, com um registo de três vitórias, sete empates e seis derrotas em 16 partidas, somando uma sequência de oito jogos consecutivos sem conhecer o sabor da vitória.
Outro semelhante nos leva a reta final de temporada dos SJ Earthquakes em 2014, após terem sido campeões no ano anterior. Os Quakes finalizaram a temporada 2013/14 com uma sequência de 15 jogos consecutivos sem vencer - sete empates e oito derrotas para fechar a temporada.
Ainda assim, os LA Galaxy igualaram o pior feito em termos de partidas sem triunfar, com um total de 16 encontros sem alcançar a vitória. Esta negativa marca pertencia ao Houston Dynamo e à sua sequência de duelos sem vencer - no total, registaram oito empates e oito derrotas em 16 jogos.
O tenebroso início de época em LA levantou uma grande dúvida durante a análise realizada pelo nosso portal. Então, este é, ou não, o pior início de um campeão nos últimos tempos?
Olhando somente às principais ligas das 16 melhores nações - segundo o ranking da FIFA -, a sequência negativa do Galaxy representa, de fato, o pior começo de um campeão no século XXI.
Esta marca - iniciar a temporada com 16 jogos sem conhecer o sabor da vitória no campeonato - isola-se de forma contundente na liderança de uma restrita lista, composta também por Vélez Sarsfield e Nantes.
O time argentino foi campeão em 2024 e começou a temporada de defesa do título, em 2025, com oito jogos sem conhecer o sabor da vitória. Já os franceses só alcançaram a primeira vitória na temporada 2001/02 - após ter sido campeão no início do século - na 12ª rodada - quatro empates e sete derrotas.
Face ao momento dos atuais campeões da MLS, as críticas não são o único aspecto que se multiplica. Também as promessas dos torcedores, em caso de um milagre, começam a ganhar força e algumas são, no mínimo, inusitadas.
Sacha Kljestan, antigo meia dos Galaxy e atual comentarista do programa MLS on AIR, da AppleTV, acredita ser "impossível" os galáticos alcançarem os playoffs esta temporada.
Ainda assim, caso esse cenário se venha a confirmar, o ex-jogador de 39 anos admite "raspar o cabelo, pintar de loiro e tirar o bigode", sendo este último um traço característico de Sacha há longos anos.
Dax McCarty, experiente meia de 38 anos, estava também presente no painel de comentaristas e mostrou-se cético quando questionado sobre as hipóteses dos Galaxy alcançarem a fase decisiva da MLS.
"É altamente improvável, precisam de protagonizar uma reta final histórica. Se continuarem a defender assim, não vão conquistar triunfos fora de casa. [Rapar o cabelo?] Não o faço, mas pinto de loiro e deixo crescer o bigode", confessou, entre risos.
Conseguirá o LA Galaxy aproveitar a pausa internacional para recarregar baterias, afastar os fantasmas e aprontar a um segundo turno quase perfeito, mantendo o sonho dos playoffs vivo?