O CSKA Sofia de 1981/82 e seus duelos de peso no caminho à semifinal da Copa dos Campeões | OneFootball

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Trivela

·24 de agosto de 2021

O CSKA Sofia de 1981/82 e seus duelos de peso no caminho à semifinal da Copa dos Campeões

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Das quatro vezes em que um time da Bulgária chegou a uma semifinal europeia, três foram com o CSKA Sofia. O maior campeão do país angariou ao longo de algumas décadas a reputação de “mata-gigantes” nas competições continentais. E a campanha mais representativa dessa vocação veio na Copa dos Campeões de 1981/82. Nela, o clube do exército deixou pelo caminho o campeão espanhol (Real Sociedad) e o do próprio torneio europeu (Liverpool), chegando ainda a derrotar o detentor da Bundesliga (Bayern de Munique) no jogo de ida das semifinais – vitória que o fez sonhar com a vaga na decisão, a qual acabou não vindo.

Embora suas origens remetam a outro clube criado por oficiais do exército búlgaro no começo dos anos 1920, o CSKA foi oficialmente fundado em 1948, em meio à reorganização do futebol do país pelo governo comunista instituído ao fim da Segunda Guerra. Sua nomenclatura, porém, mudou várias vezes: originalmente chamado Septemvri CDV, também ficou conhecido por um tempo como CDNA, antes de adotar o CSKA na temporada 1962/63, com o complemento “Cherveno Zname” (“Bandeira Vermelha”).


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Foi sob esse nome que o clube alcançou pela primeira vez a semifinal da Copa dos Campeões. O caminho começou ainda na fase preliminar, ao despachar com facilidade o Sliema Wanderers, de Malta. Na sequência, ficaram pelo caminho Olympiacos, Górnik Zabrze e Linfield, antes de cruzar com a poderosa Internazionale de Helenio Herrera nas semifinais. Um surpreendente empate em 1 a 1 em Milão e outro pelo mesmo placar em Sófia levaram a decisão da vaga a um jogo extra, em Bologna, vencido pelos nerazzurri por 1 a 0.

Se a Inter, ao fim do duelo, acabou levando a melhor, o mesmo não puderam dizer alguns outros campeões europeus que enfrentaram os búlgaros em edições futuras da mesma competição. O CSKA foi o responsável por impedir o tetra consecutivo do Ajax, base da Laranja Mecânica, ao eliminá-lo nas oitavas de final da temporada 1973/74, bem como pôs fim ao sonho do tri seguido do Nottingham Forest de Brian Clough, superado ainda na primeira fase da edição de 1980/81 ao perder ambas as partidas por 1 a 0.

Por volta de 1968, a sigla CSKA (que significa “Clube Esportivo Central do Exército”) ganhou novo complemento: “Septemvriysko Zname”, ou “Bandeira de Setembro”. Embora internacionalmente o meio do futebol ainda se referisse à agremiação simplesmente como CSKA Sofia, era esse o nome oficial que ainda vigorava na temporada 1981/82. Nesta ocasião, o clube se encontrava bem no meio de um tetracampeonato nacional, entre 1979/80 e 1982/83. E pretendia provar sua força também no cenário europeu.

À frente do time desde abril de 1979 estava Asparuh Nikodimov, ex-meia do clube e da seleção da Bulgária, que disputou as Copas do Mundo de 1970 e 1974 e levou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968. Havia pendurado as chuteiras no Sliven em 1978 e iniciado, aos 33 anos, a carreira de treinador logo num dos postos mais altos dentro do país, ao comandar o clube que o projetara internacionalmente. Seria ele o técnico a iniciar a trajetória do tetra, vencendo os três primeiros títulos.

O elenco

Previsivelmente, por se tratar de um dos clubes mais poderosos do país, Nikodimov tinha à sua disposição um elenco onde praticamente todos os titulares haviam defendido a seleção búlgara. Entretanto, a defesa seria bem remodelada para a nova temporada em vista da saída de antigos titulares: o veterano lateral-direito Ivan Zafirov se aposentou, o zagueiro Angel Rangelov seguiu ao exterior, onde defenderia o Iraklis grego, e o lateral-esquerdo Tsonyo Vasilev desceu à segunda divisão para jogar no pequeno Shumen.

Com isso, o time-base começava pelo goleiro Georgi Velinov, de bom posicionamento e ótimos reflexos. Embora jovem (completou 24 anos no início da campanha), já acumulava a titularidade também na seleção. À frente dele vinha a linha defensiva liderada pelo capitão Georgi Dimitrov, zagueiro sólido, imponente e já um líder nato com apenas 22 anos, ostentando a braçadeira no clube e, a partir daquela temporada, na seleção (a qual já defendia desde os 19 anos e ajudaria a levar ao Mundial do México, em 1986).

As outras três posições da linha de quatro defensores tinham novos titulares. A saída de Rangelov abriu espaço para que o vigoroso Georgi Iliev recuasse da posição de volante “cão de guarda” à frente da defesa para formar a dupla com Georgi Dimitrov no miolo de zaga. Já pelas laterais, o ofensivo Krasimir Bezinski substituía com mais fôlego o veterano Zafirov na direita, enquanto na esquerda Dinko Dimitrov, jogador mais cauteloso e de tarefas mais defensivas, ocupava o posto que até o meio do ano havia sido de Vasilev.

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O capitão Georgi Dimitrov cumprimenta Graeme Souness, do Liverpool

O meio-campo tinha um trio titular bem definido. Mas os frequentes problemas físicos com os quais sofreu o talentoso armador Plamen Markov ao longo daquela temporada permitiram que ele participasse de início em apenas três das oito partidas da campanha. Dessa forma, seu lugar no setor ao lado do dinâmico Ruzhin Kerimov e do polivalente e ofensivo Radoslav Zdravkov foi disputado por outros dois jogadores – o armador pela esquerda Nikola Velkov e o volante Metodi Tomanov – dependendo do adversário.

Já na frente atuavam três jogadores de características complementares. Um deles era Spas Dzhevizov que, apesar da grande estatura e de vestir a camisa 9, não era chegava a ser exatamente um centroavante. Na verdade, tratava-se de um “nove à húngara”, jogador típico das equipes da Cortina de Ferro, uma espécie de ponta de lança muito técnico, talentoso e cerebral que recuava para municiar os homens de frente.

Outro titular era o baixinho ponta-direita Tsvetan Yonchev, ágil, de bom drible, habilidade e muita movimentação. E o terceiro atacante era Stoicho Mladenov, este sim um verdadeiro jogador de área, um goleador de bom porte físico, rápido, valente e oportunista. Além deste trio, outro homem de frente – Aliosha Dimitrov – foi bastante utilizado em alguns momentos da campanha, especialmente no início (e inclusive balançando as redes).

O começo da campanha

O sorteio da primeira fase colocou logo de cara no caminho dos búlgaros nada menos que a Real Sociedad, campeã espanhola. Entretanto, se por um lado tratava-se de um adversário de força reconhecida, no qual mais de meio time titular defendia a seleção da Espanha, por outro lado era – ao contrário do CSKA – uma equipe com histórico muito incipiente nas competições europeias de clubes, além de estreante na Copa dos Campeões. Era um fator que tornava o confronto um tanto aberto, equilibrado, imprevisível.

No primeiro jogo, em Sófia, no dia 16 de setembro de 1981, os bascos montaram uma barreira na frente de sua área, dispostos a garantirem o empate. O CSKA, por sua vez, teve comando das ações desde o início e poderia ter aberto o placar ainda na etapa inicial se o árbitro suíço Bruno Galler não tivesse ignorado um pênalti de Genaro Celayeta em Aliosha Dimitrov, aos 22 minutos. Mas a ofensiva búlgara só começou a levar perigo de verdade quando Plamen Markov entrou lugar de Zdravkov no segundo tempo.

Seria precisamente dos pés de Markov que nasceria a jogada do único gol da partida, já no apagar das luzes, aos 44 minutos, quando a Real Sociedad parecia satisfeita com o resultado. O armador recebeu a bola na meia direita e cruzou alto para a área. O centro alcançou Yonchev, que acertou uma cabeçada inapelável no canto de Luís Arconada. O gol premiou o time que buscou a vitória, mas os txuri-urdin não chegaram a lamentar o revés por 1 a 0 e apostavam em reverter a desvantagem na partida de volta, em Atotxa.

Só que, duas semanas depois, foi a vez de o CSKA demonstrar resiliência defensiva. O domínio donostiarra parou na excelente atuação de Velinov, que chegou a deter dois chutes seguidos de “Periko” Alonso e Jesús Satrústegui dentro da área no início do segundo tempo. Mas nos minutos finais o cansaço dos bascos permitiu até algumas escapadas perigosas aos búlgaros, que não tiveram Yonchev, mas contaram com Dzhevizov, desfalque em Sófia. Numa delas, aos 42 minutos, Celayeta evitou o gol em cima da linha.

O empate em 0 a 0 na Espanha classificou os búlgaros, que teriam um adversário em tese bem mais fácil nas oitavas de final: os semiamadores norte-irlandeses do Glentoran, que haviam tirado o ainda mais fraco Progrès Niedercorn, de Luxemburgo, na fase anterior (naquela época não havia nenhum tipo de distinção de cabeças de chave ou divisão em potes nos sorteios dos mata-matas europeus e qualquer confronto era possível). O que não se imaginava era que o clube de Belfast venderia tão caro sua eliminação

Mais uma vez jogando a ida em Sófia, o CSKA marcou duas vezes de saída: Aliosha Dimitrov bateu falta no canto e abriu o placar aos oito minutos e Zdravkov, de pênalti, ampliou aos 35. Sem mais gols na etapa final, a vantagem de 2 a 0 por pouco não se mostrou insuficiente na partida de volta em Belfast: Jim Cleary e Ron Manley balançaram as redes para os Glens e forçaram a inesperada prorrogação. Mas a cinco minutos do fim do tempo extra Aliosha Dimitrov diminuiu para 2 a 1 e carimbou a classificação dos vermelhos.

Desbancando os campeões do continente

Após a virada do ano, os búlgaros teriam pela frente nada menos que o Liverpool, atual campeão do torneio, como adversário nas quartas de final. Os Reds de Bob Paisley já haviam deixado pelo caminho os finlandeses do Oulun Palloseura e, com mais dificuldade, o bom time do AZ ’67 (vice da Copa da Uefa no ano anterior) em dois jogos movimentados. Além disso, estavam por iniciar uma fantástica campanha de recuperação na liga inglesa que os levaria – com sobras, no fim – a mais um título, o quinto em sete anos.

Os dois times também haviam se encontrado na edição anterior da competição e na mesma fase. Daquela vez, o Liverpool praticamente encaminhara sua classificação no jogo de ida ao golear por 5 a 1 em Anfield, com atuação decisiva do meia Graeme Souness, antes de vencer também em Sófia por 1 a 0. Escaldados, os búlgaros pareciam mais preparados desta vez, apesar de não terem aprimorado nenhum tipo de marcação especial sobre o escocês, autor de três gols no confronto passado em Merseyside.

O Liverpool, por sua vez, tentou repetir o ritmo intenso daquela goleada no primeiro tempo do novo confronto de ida, outra vez disputado em Anfield, em 2 de março de 1982. Não teve, porém, a mesma pontaria, além de o CSKA contar com Velinov em outro dia inspirado. Perto do intervalo, os búlgaros começaram a crescer no jogo, e Kerimov obrigou Bruce Grobbelaar a praticar uma defesa difícil num chute de longe. Era um prenúncio do bom futebol demonstrado pelos visitantes no começo da etapa final.

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A defesa búlgara rechaça um ataque do Liverpool em Sófia

O CSKA voltaria melhor e perderia sua grande chance na partida logo nos primeiros minutos: um excelente passe de Dzhevizov colocou Mladenov cara a cara com Grobbelaar, mas o chute saiu alto, sem direção. Depois daquele lance, o Liverpool aos poucos retomou o controle da partida e chegou ao gol na marca dos 20 minutos. O meia-esquerda irlandês Ronnie Whelan recebeu passe na área e bateu cruzado, de pé direito. Deu sorte: a bola desviou por entre as pernas de Iliev e tirou o tempo do goleiro Velinov.

O placar de 1 a 0 de Anfield seria uma vantagem magra demais a ser defendida pelos ingleses em Sófia, ainda que o Liverpool começasse impondo seu ritmo também no jogo de volta, no dia 17 de março. Os Reds reclamaram de uma bola de Ian Rush que teria entrado após tocar o travessão e quicar no gramado. Mas o árbitro austríaco Franz Wohrer mandou o lance seguir. Empurrado por sua torcida, que lotava os 80 mil lugares do estádio Vassil Levski, o CSKA gradualmente tomou o comando e passou a ameaçar.

Mas o gol só veio aos 34 minutos da etapa final, depois de Asparuh Nikodimov colocar Velkov em campo, no lugar de Zdravkov. O meia desceu pela esquerda e cruzou alto. Grobbelaar ficou no meio do caminho ao tentar uma saída equivocada, e a bola chegou ao outro lado da área para Mladenov subir por trás de Phil Thompson e cabecear para o gol vazio. O Liverpool, que dias antes conquistara a Copa da Liga na prorrogação em final agônica contra o Tottenham em Wembley, teria outro tempo extra pela frente.

Naqueles 30 minutos adicionais os britânicos tiveram muitas chances: Ronnie Whelan acertou o travessão e Mark Lawrenson, a trave. A finalização de Phil Neal passou muito perto. E a de Craig Johnston parou em mais uma ótima intervenção de Velinov. O CSKA, por sua vez, foi letal: aos 12 minutos do primeiro tempo da prorrogação, Velkov recebeu escanteio curto pelo lado direito do ataque e alçou para a área. A bola chegou de novo a Mladenov, que ajeitou e, mesmo caído, finalizou na raça: 2 a 0 e vaga assegurada.

Contra o Bayern, do sonho à desilusão

Depois de 15 anos, o clube chegava novamente a uma semifinal europeia e teria pela frente o Bayern de Munique, seu algoz nas quartas de final da mesma Copa dos Campeões em 1973/74. Daquela vez, a partida de ida seria no Olympiastadion com vitória dos bávaros por 4 a 1 num jogo em que os búlgaros chegaram a empatar em 1 a 1 no primeiro tempo. Já na volta o CSKA venceu por 2 a 1, mas apesar de ter significado um grande feito, não foi o bastante para avançar diante dos futuros campeões do torneio.

De cada lado havia apenas um remanescente daqueles confrontos. Mas se Paul Breitner – autor do gol de pênalti do Bayern na derrota por 2 a 1 em Sófia – seguia dentro das quatro linhas oito anos depois, Asparuh Nikodimov havia trocado o campo pelo banco, de onde agora comandava o time búlgaro. E naquele 7 de abril de 1982 no estádio Vassil Levski, sua equipe começaria assustando, sem se intimidar com a presença, do outro lado, de nomes como Breitner, Wolfgang Dremmler e Karl-Heinz Rummenigge.

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Asparuh Nikodimov, o Treinador de Ouro

Logo aos sete minutos houve um escanteio para o CSKA. A bola cruzou toda a extensão da área e foi recolhida na ponta direita por Stoicho Mladenov, que ajeitou e cruzou novamente. O capitão Georgi Dimitrov acreditou na jogada e mergulhou para abrir o placar. Aos 13, uma falta marcada no bico da área pelo lado esquerdo foi cobrada com maestria por Yonchev. Cinco minutos depois, Mladenov foi derrubado na área, e o árbitro francês Daniel Lambert marcou pênalti, que Zdravkov bateu sem chances para Manfred Müller.

O delírio no estádio foi completo. Com menos de 20 minutos de partida o CSKA abria 3 a 0 sobre o gigante Bayern de Munique e, aparentemente, colocava um pé na final inédita. Havia, porém, muito jogo pela frente – e a famosa resiliência alemã do outro lado. Os bávaros se recompuseram e descontaram duas vezes antes do intervalo. Primeiro Bernd Dürnberger apanhou uma bola mal rebatida pela zaga e bateu com estilo. Depois Udo Horsmann arrancou da defesa, entrou na área e cruzou rasteiro para Dieter Hoeness desviar.

Logo após a volta do intervalo, o CSKA voltou a aumentar sua vantagem. Mladenov recuperou uma bola no campo de ataque e fez um passe na diagonal em direção à ponta direita. A defesa do Bayern cochilou e Yonchev apareceu como um raio para tocar rasteiro, por baixo de Manfred Müller, e fazer 4 a 2 para os búlgaros aos quatro minutos da etapa final. A oito minutos do fim, no entanto, Breitner desceu pela esquerda, tabelou com Rummenigge e desferiu um chute forte e rasteiro, bem no canto de Velinov.

A vitória búlgara por 4 a 3 deixava, em tese, a decisão em aberto. Mas a sensação era a de que o CSKA deixara passar uma ótima chance de fazer um resultado bem mais folgado para defender em Munique. Ainda mais porque os três gols marcados em Sófia davam muitas opções de vitórias por um gol de diferença na partida de volta aos bávaros. A boa notícia é que na partida de volta a equipe contaria com o retorno de Dzhevizov, ausente no primeiro jogo. Mas a preocupação maior seria como conter o ataque bávaro.

E o time resistiu por quase todo o primeiro tempo. Até um contra-ataque fulminante do Bayern aos 43 minutos, no qual Rummenigge desceu pela esquerda e cruzou da linha de fundo para a cabeçada de Breitner, abrindo o placar. Para piorar, toda a intenção dos búlgaros de buscar a reação e o empate na volta do intervalo se viu minada por um pênalti um tanto duvidoso marcado em favor dos bávaros pelo árbitro escocês David Syme logo aos dois minutos da etapa final. Breitner, de novo, bateu e converteu.

Com o desanimo dos búlgaros, o Bayern não teve trabalho para arrematar a classificação com outros dois gols de Rummenigge, fechando a contagem em 4 a 0. Numa amarga ironia, o mesmo placar pelo qual a seleção da Alemanha Ocidental (incluindo o trio bávaro Breitner, Dremmler e o próprio Rummenigge) havia derrotado a da Bulgária (que alinhava seis jogadores do CSKA) em novembro do ano anterior, em Düsseldorf, num jogo decisivo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo da Espanha. Outra vez o mesmo algoz.

Com o fim do sonho europeu, o CSKA retomou o foco nas competições nacionais. Em 5 de junho, o clube levantou o tri da liga na última rodada ao bater o Lokomotiv Sofia por 4 a 2, superando por um ponto o arquirrival Levski – que se vingaria 11 dias depois ao golear os vermelhos por 4 a 0 na decisão da Copa da Bulgária. No fim daquele ano, o “Treinador de Ouro” Asparuh Nikodimov deixaria o clube, que, apesar de viver momento instável no comando, alcançaria o tetra nacional e a dobradinha doméstica em 1982/83.

Os anos seguintes

Outro momento marcante na história do clube – e da rivalidade com o Levski – viria em junho de 1985, na turbulenta decisão da Copa da Bulgária vencida pelo CSKA por 2 a 1, mas marcada por verdadeiras batalhas em campo e nas arquibancadas. A confusão provocou medidas draconianas por parte do Comitê Central do Partido Comunista Búlgaro que, entre outras punições, dissolveu os dois clubes, refundando-os mais tarde com outros nomes, e impingiu pesadas suspensões a vários dos jogadores envolvidos.

O CSKA passou a se chamar CFKA Sredets (“os Vermelhos”), enquanto o rival Levski – fundado por estudantes em 1914, mas controlado pelo Ministério do Interior durante o período comunista – foi rebatizado como Vitosha, em homenagem ao maciço montanhoso vizinho a Sófia. Ainda em 1985, mesmo com os momentos de tensão no futebol do país, a seleção búlgara conseguiu se classificar para uma Copa do Mundo após 12 anos. No Mundial do México, quatro nomes do CSKA semifinalista europeu integravam o time.

O zagueiro Georgi Dimitrov, capitão também na seleção, era um deles, juntamente com Plamen Markov, Radoslav Zdravkov (que jogou deslocado à lateral-direita) e Stoicho Mladenov. Naquela Copa, a Bulgária surpreendeu ao empatar com a Itália campeã mundial Itália em 1 a 1 na partida de abertura do torneio e, mesmo sem vencer nenhum jogo, conseguiu pela primeira vez superar a barreira da primeira fase como um dos repescados, antes de cair nas oitavas de final diante dos anfitriões mexicanos num Estádio Azteca lotado.

No fim da década, o CSKA alcançaria pela terceira e última vez uma semifinal europeia, na Recopa em 1988/89. Depois de superar a Inter Bratislava, o Panathinaikos e o Roda (este nos pênaltis), a equipe caiu diante do Barcelona dirigido por Johan Cruyff. Mas aquele time renovado incluía uma safra excepcionalmente talentosa, ponteada pelo zagueiro Trifon Ivanov e pelo trio de atacantes formado por Emil Kostadinov, Luboslav Penev e – o maior de todos – Hristo Stoichkov, um dos punidos (e depois perdoados) em 1985.

Também em 1989, já no apagar das luzes do regime comunista na Bulgária, o clube resgataria o nome CSKA. Mas nas décadas que se seguiram, encontrou dificuldades para manter a hegemonia no cenário nacional. Nas 31 edições da liga realizadas a partir da temporada 1990/91, o clube levantou o título apenas cinco vezes. De 2008 para cá, enfrentou inúmeras crises financeiras e administrativas. Por dívidas, chegou a ser rebaixado à terceira divisão pela federação búlgara e teve sua falência decretada em 2016.

A partir de então, o futebol búlgaro viu nascer uma ferrenha disputa pelo legado do CSKA entre dois novos clubes, explicada com mais detalhes neste post. Enquanto isso, o Ludogorets assumiu o posto de clube hegemônico no período recente, com um incrível e inédito decacampeonato na liga. Sem conquistar, no entanto, os mesmos resultados (e o mesmo respeito) que os Vermelhos obtiveram por décadas no cenário continental. O velho CSKA segue sendo a expressão máxima do país nas copas europeias.

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