O adeus a Arsenio Iglesias, o pai do Super Depor e o homem que personificou o Deportivo de La Coruña por toda a vida | OneFootball

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Trivela

·06 de maio de 2023

O adeus a Arsenio Iglesias, o pai do Super Depor e o homem que personificou o Deportivo de La Coruña por toda a vida

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O Bruxo. O Sábio. A Raposa. O Velho. Muitos eram os apelidos dados a Arsenio Iglesias durante seus últimos anos de carreira, justo eles os mais gloriosos. Quando já era um sexagenário, o treinador teve a dádiva de criar um time inesquecível. Sua trajetória na casamata era comum, perambulando por equipes modestas de La Liga ou, no máximo, conquistando acessos na segunda divisão. Grande parte de sua vida, porém, havia sido dedicada ao clube de seu coração: o Deportivo de La Coruña. Foi por lá que Iglesias começou como jogador e também como técnico. Foi por lá que experimentou o amargor de dois descensos e, em anos tortuosos na década de 1980, lutou contra a queda para a terceirona. Mas também foi por lá que o Bruxo de Arteixo iniciou um renascimento, rumo à explosão do Super Depor nos anos 1990. Arsenio Iglesias é o pai de um esquadrão e também a personificação dos branquiazuis. Foram 714 partidas com os galegos, 568 como treinador. O clube de sua vida, numa história que vai além dela, no dia em que o veterano se despede aos 92 anos.

Arsenio Iglesias era um personagem carismático como poucos no futebol. Tinha ares de filósofo em suas coletivas, mas com sacadas simples, de quem não esquecera as raízes campesinas. Não precisava se colocar como melhor do que os outros – pelo contrário, reduzia o seu papel, mas sem deixar de ser astuto. Era prudente em tudo o que fazia, algo que o identificava mais com os próprios galegos, que ele simbolizava como poucos. E levava tudo isso para o dia a dia do clube. Os jogadores ele tratava feito filhos, muito cuidadoso. Em campo, permitia que eles se expressassem. Sua ideia de futebol era básica: ordem e talento. “Quando há talento, tudo é mais fácil. Mas mesmo com qualidade faz falta ter ordem. Isso é fundamental no futebol”, refletia. Seu Super Depor era extremamente ordenado na defesa, para fazer os muitos talentos à disposição sobressaírem.


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O currículo de Arsenio Iglesias, em termos de títulos, é curto. Conquistou uma Copa do Rei pelo Deportivo de La Coruña, exatamente em seu último jogo à frente da agremiação. As histórias, contudo, costumam ser muito mais ricas do que isso. E os troféus são bem mais comuns por aí do que o orgulho de se dizer a maior figura de um clube, algo para raríssimos. Iglesias era esse cara no Riazor. Continuou muito querido após encerrar a carreira no auge, e não só pelos branquiazuis. Costumava ser paparicado até pelos torcedores do rival Celta quando ia ver algum jogo em Balaídos. É essa a estatura de um personagem que transcendeu, porque alimentou o mais genuíno do futebol: a paixão, a amizade, o sonho. Quem viu aquele Depor pôde sonhar muito. Um conto de fadas que continuará preservando o nome de Iglesias por muito tempo, além de sua morte.

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Arsenio Iglesias nasceu em Arteixo, então uma cidadezinha agrícola nos arredores de A Corunha, que décadas depois se transformaria num polo têxtil mundial. Filho mais novo entre nove irmãos, cresceu numa família de campesinos, mas descobriu na bola um caminho. E o Deportivo não demorou a se tornar seu destino. Passou pelas equipes juvenis do clube, até fazer sua estreia pelo time principal em 1950/51, aos 20 anos, contra o Barcelona. Os blaugranas ganharam por 6 a 1 no Estádio de Les Corts, mas o gol de honra foi marcado por Iglesias.

Aquele era um período importante do Deportivo de La Coruña, que tinha sido vice-campeão espanhol em 1949/50. Porém, com o passar dos anos, os galegos passaram a lidar com o marasmo do meio da tabela e não repetiriam mais aquela colocação histórica. Os torcedores ganharam ao menos um novo xodó, pelo potencial que Iglesias demonstrava, numa época em que também foi revelado Luis Suárez Miramontes – futuro Bola de Ouro. Como ponta habilidoso, Iglesias foi uma das referências dos branquiazuis ao longo do período e chegou a ser convocado para a seleção em 1955, embora tenha permanecido no banco durante o amistoso contra a França. Aproximou-se das 150 partidas em seis temporadas como profissional e anotou 33 gols. Sua despedida aconteceu em 1957, quando não evitou o rebaixamento do Depor após nove temporadas do time na elite.

Naquele momento, Arsenio Iglesias era reconhecido como um atacante de primeira divisão e teve outras experiências. Chegou a ser pretendido pelo poderoso Real Madrid, mas se juntou ao Sevilla vice-campeão espanhol. Jogou pouco no Nervión, mas esteve presente no time que disputou a Copa dos Campeões em 1957/58. Depois defendeu o Granada por mais seis temporadas, alternando-se entre a primeira divisão e a segundona, com direito a um vice diante do Barcelona na Copa do Rei. Neste intervalo, teve ainda uma rápida estadia pelo Albacete, que auxiliou no acesso à segunda divisão em 1961. O retorno à elite aconteceu em 1963, contratado pelo Oviedo. Disputou mais duas temporadas, até que sofresse novo rebaixamento e resolvesse pendurar as chuteiras, aos 34 anos. Ainda voltou rapidamente ao Albacete, até parar de vez. O futebol corria por seu sangue e Iglesias se preparava a viver uma nova etapa como treinador.

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Também foi o Deportivo de La Coruña que abriu as portas para Iglesias neste recomeço. Dirigiu primeiro as categorias de base e esteve à frente do Fabril, a filial dos galegos. Sua promoção para o time de cima aconteceu em 1970/71, no meio da temporada. O jovem técnico assumia um clube ioiô, que não se estabelecia na primeira divisão e passava pela segundona. Iglesias já daria o seu toque mágico neste princípio, ao conseguir levar o Depor de imediato à elite. O comandante de 40 anos substituiu o argentino Roque Olsen no fim do primeiro turno e, apesar de algumas oscilações, conquistou o acesso na rodada final.

Seriam duas temporadas do Deportivo com Arsenio Iglesias na primeira divisão. O treinador evitou a queda imediata, com o 14° lugar em 1971/72. Porém, o descenso se consumou em 1972/73. O comandante saiu de cena ao final daquela temporada e foi ter experiências em outros cantos. Começou no Hércules, com quem subiu de cara na temporada 1973/74, após sete anos fora da primeira divisão. Iglesias esteve à frente de anos áureos do clube, que terminou na quinta posição de La Liga em 1974/75 e na sexta em 1975/76. Foram quatro temporadas na equipe, até que começasse a rodar mais. Em 1977/78, chegou no Zaragoza para conquistar logo de cara mais um acesso e também o título da segunda divisão. Não ficou mais do que uma temporada, antes de passagens curtas por Burgos na elite e Elche na segundona. Em 1980/81, em seu pior momento, pegou o Almería na primeira e sequer terminou a campanha que culminou na queda para a segunda divisão.

Seria a deixa para que Arsenio Iglesias voltasse à sua casa e reassumisse o Deportivo de La Coruña em 1982. Não era um período inspirador dos galegos, que estavam longe da elite desde aquela queda em 1973 e passaram inclusive duas temporadas na terceira divisão. Quase deu para subir logo de cara. O Depor terminou a segundona de 1982/83 na quarta colocação, com os mesmos 46 pontos do Mallorca, mas atrás no confronto direto. A derrota dentro de casa para o Rayo Vallecano na rodada final custou caro demais, até porque os maiorquinos também perderam para o Real Madrid Castilla na capital. Iglesias conduziria o time ao nono lugar em 1983/84 e ao 13° em 1984/85, quando deixou o Riazor novamente.

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Depois de uma breve experiência no Compostela, então na terceira divisão, Arsenio Iglesias iniciou sua terceira passagem como técnico do Deportivo em 1987/88. Era um momento de séria crise do clube, com grandes dívidas e o risco de rebaixamento para a terceirona. O novo velho técnico pegou o Depor na penúltima colocação e acumulou empates, mas conseguiu cumprir a missão de evitar o descenso, com uma vitória decisiva sobre o Racing de Santander na última rodada, com um gol no último minuto. Graças a isso, os galegos evitaram a queda por ficarem à frente do Bilbao Athletic (a filial basca) nos critérios de desempate.

O verão de 1988 seria importante ao Deportivo de La Coruña, com a chegada de uma nova diretoria encabeçada por Augusto Cézar Lendoiro. Seriam os responsáveis por botar ordem na casa. Auxiliava também a segurança que Iglesias passava à beira do campo. O treinador alavancou os resultados aos poucos, com a décima colocação em 1988/89 e a quarta em 1989/90, com os galegos superados pelo Tenerife nos playoffs de promoção. Também registraram uma caminhada até as semifinais da Copa do Rei, naquela que já era a melhor campanha dos branquiazuis na história da competição, com uma polêmica eliminação diante do Valladolid na prorrogação. De qualquer maneira, ficava claro como o patamar do Depor se elevava.

E seria Arsenio Iglesias quem recolocaria o Deportivo de La Coruña na primeira divisão, em 1990/91, depois de 18 anos de espera desde a queda que ele mesmo havia amargado. Seria também com emoção: a rodada final guardou um confronto direto com o Murcia, em que a vitória era necessária para os galegos não dependerem de mais nada e ultrapassarem os oponentes nos critérios de desempate. Foi o que aconteceu, com o triunfo por 2 a 0 no Riazor, dois gols do iugoslavo Zoran Stojadinovic. O Depor novamente era de primeira. E não vinha para brincadeira. Uniria os valores que já surgiam no clube, em especial o garoto Fran, com uma série de reforços estelares. Os galegos passaram a montar times para sonhar alto demais.

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Curiosamente, Arsenio Iglesias preferiu sair de cena depois do acesso. Era como se a missão do veterano estivesse cumprida após recolocar o clube na elite e ele quisesse fugir da pressão. Virava braço direito do presidente, presente só nos bastidores. Entretanto, logo na primeira temporada em La Liga, o Deportivo precisou de seu mestre na casamata. O time patinava nas últimas colocações e corria o risco de cair, quando Iglesias foi chamado para apagar o incêndio. Teve sucesso, ao segurar os galegos pelo menos nos playoffs contra o descenso e vencer o Betis nos confrontos decisivos. De quebra, o veterano teve mais uma semifinal de Copa do Rei para disputar, mas não passou pelo Atlético de Madrid.

Arsenio Iglesias já tinha 61 anos quando o Super Depor, de fato, começou a se formar. O treinador seguiu à frente do projeto depois de garantir a permanência na primeira divisão. Passaria a trabalhar com cada vez mais estrelas internacionais, ao passo que fincava as raízes dos branquiazuis na Galícia. Era um conhecedor profundo do ambiente do Riazor, do modo de vida dos galegos, da realidade do futebol espanhol. Servia como um verdadeiro paizão aos seus jogadores, conhecido por ser muito próximo de todos eles e também muito protetor. Mas sem deixar de primar por seu trabalho com a prancheta.

A partir do simples, Arsenio Iglesias montou uma máquina de jogar futebol. Passou a estruturar times extremamente organizados na defesa, por vezes chamados de retranqueiros, que sabiam se posicionar sem a bola. A base era uma zaga tantas vezes com cinco homens atrás, além de um meio-campo que misturava vigor físico e qualidade técnica. Isso para que seus talentos de verdade na frente ganhassem liberdade para exibir a qualidade individual. Fran florescia com a camisa 10, e ganhava companhias. Mauro Silva chegava como um talento em franca ascensão no futebol brasileiro, pronto a se tornar o pilar do meio-campo. Já Bebeto era um craque mais rodado e consagrado, digno da primeira prateleira de destaques do Campeonato Espanhol. Dois astros que, enquanto estavam no Riazor, foram titulares da Seleção no tetra.

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“Ele se dedicava desde o primeiro minuto a todos os jogadores, especialmente com os que vinham de outro país. Foi decisivo à minha adaptação em A Corunha e ao futebol espanhol. Quando íamos a outra cidade, passeava com a gente, pegava em nossos braços e nos ia ensinando. Ele se interessava por nossa família, se a gente se adaptava bem ou não… Foi uma das chaves para que eu jogasse 13 temporadas no Deportivo”, recordaria Mauro Silva, ao jornal La Voz de Galícia, diante da morte. “Por isso tudo e muito mais, passados os anos, voltar a ver um amigo tão querido foi uma prioridade para mim quando voltei pontualmente a A Corunha. Considero uma honra ter aprendido tanto com ele”.

O Deportivo de La Coruña já foi Super em La Liga 1992/93. O time que escapara por pouco do rebaixamento deu um salto enorme para terminar na terceira colocação, só atrás de Barcelona e Real Madrid. Os branquiazuis foram a sensação do primeiro turno, ocupando a liderança nas primeiras rodadas, e também voltaram ao topo brevemente no início do returno. Não houve fôlego até o final, mas Barça e Real perderam no Riazor. Além de se classificar pela primeira vez na história às competições europeias, com uma vaga na Copa da Uefa, o Depor também emplacou o artilheiro do campeonato – Bebeto, autor de 29 gols. Iglesias foi eleito o melhor treinador de La Liga pela revista Don Balón.

“Arsenio não foi apenas mais um treinador para mim. Foi como um pai. Se eu consegui fazer o que fiz no Deportivo, foi em parte muito importante graças a ele. Desde que aterrissei em A Corunha ele me acolheu como se fosse um filho. Ele me deu conselhos, me tratou com carinho, me indicou o melhor caminho a seguir em cada momento. Mesmo nos momentos difíceis, ele esteve sempre ao meu lado”, escreveria Bebeto, também ao jornal La Voz de Galícia. “Aquele Super Depor que nos uniu não seria possível sem Arsenio. Nós jogávamos, mas ele era o que dava liga ao time. Como disse, era mais que um treinador para todos. Sabia levar o vestiário. Quando tinha que ser sério, era. Mas tal era a ascendência que tinha sobre todos que não precisava levantar muito a voz para que entendêssemos a seriedade que ele queria transmitir. Cada olhar era um gesto de cumplicidade. Cada palavra era uma lição. Cada frase, um legado para gerações futuras. Era um livro aberto, não só sobre futebol, mas sobre a vida”.

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Arsenio Iglesias conseguiu arredondar um pouco mais o time para a temporada seguinte, com a manutenção de Bebeto e Mauro Silva, além de outros nomes notáveis como Francisco Liaño, Miroslav Djukic, Nando, Luis María López Rekarte e Fran. Donato e Voro eram as novidades do mercado. E o Deportivo de La Coruña, de fato, conseguiu ser mais consistente em 1993/94. Enfiou 4 a 0 sobre o Real Madrid no Riazor e também bateu o Barcelona na Galícia. A liderança na tabela ficou nas mãos a partir do fim do primeiro turno, com a perseguição do Dream Team dirigido por Johan Cruyff. Os barcelonistas não davam trégua, mas os branquiazuis caminhavam a passos firmes para conquistar a taça. Até que o anticlímax viesse na última rodada.

A história é conhecida. O Deportivo só precisava fazer sua parte contra o Valencia no Riazor. Empatou por 0 a 0 e perdeu o título, num jogo em que teve um pênalti aos 44 do segundo tempo. Bebeto não quis bater, Djukic assumiu e parou no goleiro José Luis González – que comemorou vigorosamente, também pela “mala branca” que receberia do Barcelona, algo admitido de forma pública meses depois. O Dream Team foi tetracampeão ao vencer o Sevilla no duelo paralelo, com uma frustração inenarrável do Super Depor, que só tinha sofrido míseros 18 gols em 38 rodadas. A torcida no Riazor ainda ficou nas arquibancadas meia hora depois do apito final, para apoiar os jogadores, em prantos. Mas era de Iglesias a missão de consolar nos vestiários.

“Eu já tinha chorado em casa. Tenho muito a dizer e pouco a contar”, cravou, num tom lacônico, depois da queda – em declaração que rememorava sua filosofia simples e a prudência que o acompanhava até para evitar se empolgar. “Creio que faltou um pouco de concentração a Djukic no pênalti. Ele posicionou a bola muito rapidamente e chutou em seguida. Estava chorando desconsoladamente no vestiário. Bebeto estava meio mareado, estirado na cama. Era angustiante, mas não pôde acontecer. Queríamos ganhar o título para a torcida”.

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Arsenio Iglesias viveria sua última temporada à frente do Deportivo de La Coruña em 1994/95. O encantamento em La Liga se seguiu, com outro vice-campeonato, mas agora abaixo do Real Madrid durante a maior parte da campanha. O técnico seria de novo eleito o melhor do campeonato. E o maior consolo viria com o primeiro título de elite do clube, a Copa do Rei. O destino, tão irônico, colocou o Valencia no caminho dos galegos. A filosofia voltava às vésperas do encontro: “A derrota é o mais humano. Às vezes você ouve esses clichês de que ‘gostam de ganhar até os treinos'. Quem gosta de perder é tonto. Mas, em toda disputa, há ganhadores e perdedores. O mundo não se governa unicamente pelos sentimentos dos que se dizem ganhadores natos”.

Desta vez, Iglesias venceu. O Deportivo saiu do Estádio Santiago Bernabéu com o triunfo por 2 a 1, sem pênalti que pudesse frustrar os branquiazuis. O Super Depor agora também era campeão e seu mentor desejava um descanso à mente. Aquela foi sua última partida à frente dos galegos. Aos 64 anos, Iglesias voltou a anunciar sua aposentadoria. O que, mais uma vez, não durou tanto tempo assim.

Em janeiro de 1996, Arsenio Iglesias foi convidado para assumir o Real Madrid. Não recusaria uma chance deste tamanho. Os merengues vinham em crise, com a demissão de Jorge Valdano. Não que o substituto tenha melhorado muito as coisas. A equipe fechou La Liga na sexta colocação, fora até da Copa da Uefa. A velha raposa galega parecia não combinar com o ambiente do Bernabéu, e ele mesmo reconhecia isso. Chegara então a hora de descansar de vez. Apreciar nas arquibancadas o que seu Super Depor seria capaz de fazer. Só voltou a trabalhar por um breve período entre 2005 e 2008, mas com compromissos esporádicos à frente da seleção da Galícia, formada somente para amistosos.

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A sonhada conquista de La Liga foi alcançada pelo Deportivo em 1999/00. Já em 2001/02, os branquiazuis conquistaram sua lendária Copa do Rei no centenário do Real Madrid dentro do Bernabéu. O time faria também grandes campanhas na Champions e se manteria nas cabeças de La Liga por um tempo. Era o legado do que Arsenio Iglesias construíra a duras penas. Contudo, o projeto megalomaníaco de Lendoiro posteriormente também teria seu preço. O Super Depor sofreu uma queda abrupta em pouco tempo, com dívidas exorbitantes e dificuldades de se reerguer. Os times estrelados e bem treinados viraram coisa do passado. O retorno à segundona aconteceu em 2011 e, depois da gangorra nos anos seguintes, o Depor reapareceu na terceirona em 2020. Desde então, sofre em sua recuperação.

Os tempos dolorosos mais recentes serviram para reconhecer o que Arsenio Iglesias tinha feito em diferentes períodos, sobretudo na virada das décadas de 1980 e 1990. As homenagens foram costumeiras no Riazor. A maior delas aconteceu em 2016. Iglesias recebeu o título de “Lenda Branquiazul” e também uma insígnia especial. O estádio inteiro se emocionaria com o tributo, especialmente pelo afeto demonstrado pelos jogadores do passado. O idoso, nesta época, lidava com o Parkinson que o afetou no fim da vida. Já em 2020, na ocasião dos 90 anos do treinador, A Corunha ofereceu ao Velho de Arteixo o título de “filho adotivo” da cidade. Era mais que um “cidadão honorário”, pela atribuição de carinho.

Nesta sexta-feira, o Deportivo de La Coruña voltou a abrir as portas do Riazor para Arsenio Iglesias. É por lá que acontece o seu velório. Não tinha outro lugar para que a despedida se desse, porque são todos os torcedores branquiazuis que carregam o pesar dentro do peito. Foi-se embora uma parte importantíssima do clube. Mas fica vivo o legado de Iglesias no próprio Depor. A beleza da história dos galegos só é tão especial porque o Sábio de Arteixo fez seus ensinamentos se enraizarem e darem frutos.

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