“Nós sabíamos que seria uma porta que iria se abrir para nós”: zagueira Marisa relembra primeira Copa do Mundo Feminina

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Fut das Minas

·16 de junho de 2023

“Nós sabíamos que seria uma porta que iria se abrir para nós”: zagueira Marisa relembra primeira Copa do Mundo Feminina

Há 44 anos, em 1979, o futebol feminino foi legalizado no Brasil. Um ano depois, em 1980, Marisa Pires Nogueira começou a vestir a camisa do recém criado time de futebol feminino, Clube Atlético Bangu. Pouco mais de dez anos depois, a zagueira desembarcava na China para representar o Brasil na primeira Copa do Mundo Feminina. Hoje, aos 56 anos, ela torce para que as escolhidas de Pia Sundhage tragam a taça para casa.

A trajetória é longa. Oficialmente, Marisa iniciou no esporte em 1980, mas desde os dez anos de idade treinava futebol, de forma clandestina, no campo da Vila Hípica, em Bangu. “Ali o diretor do Castor de Andrade viu que estávamos fazendo um trabalho de excelência e chamou o treinador para conversar. Ele queria montar um time de futebol feminino do Bangu. Deixamos de ser um projeto para poder ser um clube”, lembra a jogadora.

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A atleta passou por vários clubes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas foi no Radar Esporte Clube que ela ganhou notoriedade. O time comandado por Eurico Gaspar, grande incentivador da modalidade, foi o grande campeão do futebol feminino brasileiro na década de 1980 e representou a Seleção Brasileira no Torneio Internacional Feminino, primeiro campeonato de futebol feminino organizado pela FIFA, em 1988.

Time feminino do Clube Atlético Bangu. / Foto: Acervo pessoal.

Marisa com o uniforme do Clube Atlético Bangu. / Foto: Acervo pessoal

Marisa estava entre as jogadoras que representaram o Brasil no torneio. Ela e outras atletas foram convocadas para a Copa do Mundo de 1991. “Nós éramos o time que representava o Brasil, nós ficamos para poder disputar a primeira Copa”, conta.

A Copa do Mundo Feminina de 1991

Do outro lado do mundo, diante de seleções de diversos países e de uma cultura completamente diferente, Marisa sabia que era só o começo. “Nós sabíamos que seria uma porta que iria se abrir para nós”, lembra Marisa. A atleta enxergava que a participação na primeira Copa do Mundo Feminina era só o início de uma grande jornada do futebol feminino no país.

“Desde aquele momento ficou gravado tudo o que nós passamos, para poder ter a visão do que nós iríamos enfrentar pela frente. Foi uma experiência muito boa para mim”, conta. Naquele ano, doze equipes estrearam no torneio. O Brasil era o único representante da América do Sul.

Poster da primeira Copa do Mundo Feminina, em 1991, na China. / Foto: Acervo Museu do Futebol

Três anos antes, no Torneio Internacional Feminino, o Brasil havia conquistado o terceiro lugar na competição. Para a Copa, as jogadoras estavam sonhando com a taça: “Nós fomos com toda a força, vontade e amor”, comenta Marisa. Mas o Brasil caiu no grupo B, o mais desafiador, ao lado de Estados Unidos, Suécia e Japão.

Ao conhecer as seleções dos países adversários, Marisa se impressionou com a altura das atletas, principalmente dos Estados Unidos. “Não pensava que elas eram tão grandes assim. Nossa Seleção com a estatura [média] de 1,57m, fiquei muito assustada, mas fomos para cima”, comenta.

O Brasil jogou uma partida contra cada time do grupo. Perdeu duas e ganhou uma. Ao fim da fase de grupos, ficou em terceiro lugar e não se classificou. Ainda assim, o primeiro gol da Seleção Feminina em uma Copa do Mundo ficou marcado.

Zagueira Marisa em treino com a Seleção Feminina, na China, em 1991. / Foto: Arquivo pessoal

Foi na partida contra o Japão, a única que o Brasil ganhou naquela Copa. O gol foi de Elane, zagueira. Ela recebeu um levantamento na área e chutou para o gol. E ali foi o início da trajetória das Guerreiras do Brasil.

Quem venceu aquela Copa foram os Estados Unidos, o vice-campeão foi a Noruega e, em terceiro, a Suécia. Aquele ano também marcou o início da predominância dos Estados Unidos — que se tornariam o maior campeão das Copas do Mundo Femininas.

A torcida pela nova geração

Depois de uma vida dedicada ao futebol feminino e de ser a primeira a pisar nos gramados de uma Copa do Mundo, Marisa vai assistir à Seleção Brasileira da televisão. “Vou torcer de coração para que elas joguem bem. Acho que elas estão treinando bem e quem treina bem, joga bem”, comenta.

Hoje, Marisa atua como árbitra das categorias de base, do sub-7 ao sub-13, do Flamengo. E enxerga nas jovens meninas, o futuro do futebol feminino: “Eu acho que vai melhorar muito mais, porque hoje as meninas tem um salário fixo, carteira assinada, nós nem contrato tínhamos. Quem hoje está na frente do futebol feminino tem uma mente mais evoluída”.

Daqui do Brasil, Marisa espera que a Seleção Brasileira vá à Oceania e volte com uma bagagem pesada. “Sou brasileira e vou torcer para que as meninas tragam esse caneco pra gente”, vibra.

A Copa do Mundo Feminina de 1991 em fotos

Jogadora Michelle Arkers, da Seleção Estadunidense na encara marcação chinesa na seminfina da Copa do Mundo de 1991. / Foto Tommy Cheng | Getty Images