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·02 de março de 2019
No Ajax, Cruyff disse 'não' ao Real antes de revolucionar o Barcelona

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·02 de março de 2019
Johan Cruyff talvez seja o personagem mais influente na história moderna do futebol europeu. Dentro de campo foi o craque que mudou Ajax e seleção holandesa de patamar, antes de chegar a Barcelona para resgatar a autoestima do principal time da cidade. Fora das quatro linhas, após se aposentar, manteve a ligação umbilical com os clubes de Amsterdã e Catalunha, escrevendo novos auges, desta vez como treinador, e sedimentando definitivamente o DNA futebolístico destas instituições.
Desde os tempos de Ajax, o Real Madrid era um adversário especial para Cruyff. Em 1968, a apresentação oficial entre ambos foi no enfrentamento de Copa dos Campeões da Europa vencido pelos espanhóis na primeira rodada. Seis anos depois, os holandeses bateriam os madridistas nas semifinais do certame europeu antes de conquistarem o Tri consecutivo. Mas é inquestionável que foi pelo Barcelona onde o atacante criou toda uma história de rivalidade com os Blancos. A ironia do destino é que por pouco Johan Cruyff não foi jogador madridista ao invés de transformar-se no salvador da Catalunha.
Logo após a conquista do Tri europeu, Cruyff optou por deixar o Ajax. E o clube holandês chegou a um acordo com o Real Madrid para a transferência de seu maior astro. Fosse o envolvido qualquer jogador, muito provavelmente não haveria nenhum problema. Afinal de contas, era o Real Madrid! Mas Johan Cruyff estava longe de ser um jogador qualquer. Era absolutamente o oposto disso, um espelho de uma época de mudanças dentro e fora do campo. Na Europa, foi o primeiro futebolista a pensar além a bola: foi o primeiro jogador a exigir dinheiro para vestir a camisa de sua seleção, e depois que assinou com Puma recusou-se a usar as três listras da Adidas na camisa e em suas chuteiras.
Somente Cruyff poderia escrever o seu destino e escolher para onde iria. Foi este o aparentemente simples motivo pelo qual não vestiu a camisa madridista. E para desafiar o Ajax, ai sim, foi além: o único clube para o qual seria transferido era o Barcelona. O clube catalão havia sido treinado por Vic Buckingham, inglês que lhe deu as primeiras oportunidades como jogador profissional, e tinha em Rinus Michels, técnico no primeiro título europeu do Ajax, na área técnica. Além do mais, o Barça tinha dinheiro e desespero para sair de uma situação desesperadora. Sem conquistar a Liga Espanhola há 14 anos, os Culés não pensaram duas vezes e o contrataram por cinco temporadas.
Em seu primeiro ano, tirou o Barcelona do jejum de títulos. Uma temporada marcada, também, por uma goleada inesquecível: uma vitória por 5 a 0 dentro do Santiago Bernabéu. Jogando o fino e comandando todas as ações ofensivas, Cruyff esteve em todos os lugares do campo de ataque no seu primeiro Clássico e fez o segundo gol. Foi o cérebro por trás do resultado que muitos consideram como o início do modelo de jogo que o Barcelona abraçou: pressão alta sobre o adversário, rápidas trocas de passe e efetividade.
“Naquela noite foi quando eu entendi a rivalidade” disse o holandês. O jornal ‘The New York Times’ chegou até mesmo a afirmar que aquele jogo fez mais pela causa catalã, ainda em meio à ditadura do general Franco, do que qualquer político ou figura de resistência. A goleada aconteceu um dia após Johan ter o seu filho, batizado como Jordi – como é chamado o ‘São Jorge’, padroeiro da Catalunha. Embora hoje seja um nome comum, inclusive com um Jordi (Alba) no elenco atual do Barcelona, na época ainda era pouco usual. Cruyff se entregou de corpo, mente e alma ao barcelonismo.
... mas por pouco ele não deixou o Ajax diretamente para o Real Madrid.