MundoBola Flamengo
·29 de maio de 2025
Ninguém disse que seria fácil mas não havia a menor necessidade de ser tão complicado

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·29 de maio de 2025
Existem várias maneiras profundamente diferentes de chegar absolutamente no mesmo lugar, seja em termos de velocidade, custo ou conforto. O trecho feito num transatlântico pode ser feito num supersônico, se chega nos mesmos lugares de táxi ou bicicleta e você pode ir deitadinho gostoso num ônibus leito ou apertado com mais dois irmãos num banco de trás, o mais novo avisou que está “meio enjoado”.
Diante disso, é possível dizer com muita convicção: o Flamengo, que poderia ter chegado até o mata-mata da Libertadores dirigindo a própria Ferrari, optou, sem nenhuma explicação razoável, por fazer o mesmo trajeto numa van ilegal sem bancos e com pneus carecas, cujo motorista, armado, estava gritando com o cobrador, que segurava um porrete e estava cheirando loló.
Porque apesar das cinco primeiras partidas da fase de grupos em que, a despeito de diferenças absurdas na parte financeira, técnica e de preparação, o Flamengo lutou com unhas e dentes por uma vaga na Sul-Americana ou até mesmo por férias precoces dos torneios continentais, ainda assim ele se viu diante de um cenário muito tranquilo para se classificar na última rodada.
A missão era simples, vencer, dentro de casa, o último colocado do seu grupo, uma equipe que não apenas havia perdido todas as suas partidas no torneio como tinha, somando todos os seus atletas, um valor de mercado inferior ao do atacante Michael, um jogador que não tem machucado tanto as defesas adversárias, mas tem causado à psique do torcedor rubro-negros dandos que ciência moderna ainda não tem ferramentas para mensurar.
E como não há distância pequena ou via segura o bastante pra um veículo que saiu da garagem querendo capotar, mesmo assim o Flamengo quase conseguiu falhar na missão. Foram minutos e mais minutos de lances infrutíferos, foram jogadas e jogadas sem o menor risco de gol, foi uma apresentação que, no geral, justificaria uma viagem no tempo pra pegar na porrada os seis remadores antes mesmo que eles ficassem amigos.
Mas aos 20 minutos do segundo tempo, quando o fantasma de Cabañas já subia nas costas de Léo Moura com fone de ouvido para formar um Megazord da desgraça continental rubro-negra, enfim aconteceu. Numa cobrança de falta de Luiz Araújo, Léo Pereira apareceu sozinho para fazer o gol, dar fim ao sofrimento rubro-negro e decepcionar milhares de cardiologistas que já planejavam reforma na casa e viagem pro exterior apenas com todos os novos pacientes que chegariam entre quarta a noite e quinta de manhã.
Foi assim que uma das equipes favoritas e de mais alto investimento dessa Libertadores passou de fase: com extrema dificuldade, praticando um futebol decepcionante, inventando o conceito de classificação culposa (quanto não há a intenção de se classificar) e graças a uma partida onde, com Arrascaeta, Pedro e Gérson em campo, quem parecia ter mais vontade de chutar a gol era Allan, um homem cotado para dublar o sentimento de “anemia” no desenho “Divertidamente 3”.
Obviamente não foi bom, com toda certeza não pegou legal, e ainda que o mais importante seja, é claro, a classificação, é preciso que um livro inteiro de lições, daqueles de mais 500 páginas, seja tirado da vitória magra desta quarta-feira. Porque sim, o dever de casa foi feito, mas junho está chegando e é muito, mas muito complicado, acreditar que quem sofre pra ganhar do Táchira vai dar um show contra o Chelsea. Ainda que esse mesmo time tenha sim perdido pro Córdoba e vencido o Palmeiras. E é assim que a gente vai acabar ficando maluco.