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·24 de agosto de 2020

Nessa edição insana da segundona espanhola, o único desfecho possível era o acesso agônico do Elche

Imagem do artigo:Nessa edição insana da segundona espanhola, o único desfecho possível era o acesso agônico do Elche

A quem esperava um pouco mais de insanidade, os playoffs da segunda divisão de La Liga terminaram com o único campeão imaginável depois de toda a confusão gerada pelo caso Fuenlabrada: o Elche. Os franjiverdes quase ficaram de fora da disputa do acesso neste rolo, mas ganharam o direito de disputar os mata-matas depois que o Deportivo de La Coruña arrancou uma virada incrível na partida adiada contra o Fuenla. E a trajetória dos valencianos não seria menos surreal nos playoffs. Despacharam o favorito Zaragoza nas semifinais e, na decisão realizada neste domingo, garantiram a promoção com um gol aos 51 do segundo tempo. O clube volta à elite do Campeonato Espanhol depois de cinco anos, incluindo uma rápida estadia na terceirona em 2017/18.

Ao término da rodada final na temporada regular da segunda divisão espanhola, o Elche ocupava a sexta colocação na tabela. A posição, entretanto, ainda não garantia sua presença nos playoffs de acesso. A partida entre Deportivo de La Coruña e Fuenlabrada foi adiada por causa dos casos de coronavírus no elenco madrileno. O imbróglio se arrastou por semanas e La Liga chegou a cogitar a classificação automática dos valencianos aos playoffs. Mas, no fim das contas, mesmo cheio de jogadores da base, o Fuenla entrou em campo para enfrentar um Depor que voltou das férias. Um empate bastaria para colocar os madrilenos nos playoffs e tirar o Elche. Só que o futebol não corre por caminhos óbvios e uma virada arrancada nos acréscimos do segundo tempo, que não valia mais nada ao rebaixado Deportivo, frustrou os planos do Fuenlabrada.


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O Elche agradeceria os caminhos tortos dentro de campo. E isso começou com a classificação nas semifinais dos playoffs, diante do Zaragoza – terceiro colocado na segundona e favorito na fase final. Após o empate sem gols no Estádio Manuel Martínez Valero, os franjiverdes buscaram a vitória por 1 a 0 dentro de La Romareda, com um gol aos 36 do segundo tempo. Já na decisão, o Girona também prometia ser um adversário duro, recém-rebaixado na primeira divisão. De novo o Elche empatou sem gols em casa. E de novo buscou o resultado fora, com o agonizante triunfo que selou a subida à elite.

Artilheiro da segundona e referência na luta pelo acesso, Cristhian Stuani seria personagem da noite na Catalunha. O uruguaio perdeu a grande chance do primeiro tempo, mandando por cima do travessão uma bola de frente para o gol. Já no segundo tempo, o veterano recebeu o amarelo por um pisão num adversário. Após revisão do VAR, o árbitro resolveu mostrar o vermelho. Mesmo em vantagem numérica por mais de meia hora, o Elche precisou de persistência. O gol saiu no fim dos acréscimos, a partir de uma ótima jogada individual de Fidel Chaves pela esquerda. O espanhol cruzou ao segundo pau e, mesmo com pouco ângulo, Pere Milla completou para dentro – também com a colaboração do goleiro Asier Riesgo.

Em uma edição bastante equilibrada da segunda divisão, o Elche passou o primeiro turno praticamente inteiro fora da zona dos playoffs. Somente na metade final é que se firmou na briga, transitando entre a quinta e a sétima colocação. No penúltima rodada, uma derrota para o Fuenlabrada quase colocou tudo a perder. Mas a recuperação diante do Oviedo no último compromisso, bem como a vitória do Deportivo de La Coruña, premiaram os franjiverdes. E eles trataram de confirmar a loucura do futebol nestes playoffs.

Mantido à frente do Elche desde fevereiro de 2018, quando o clube ainda estava na terceira divisão, Pacheta provou que a diretoria estava certa em apostar em seus predicados como treinador, garantindo variações táticas e explorando a polivalência dos jogadores. Os valencianos mantiveram uma boa defesa e se destacaram principalmente pelos resultados fora da casa, em aproveitamento quase tão bom quanto em seus domínios. Ao término da competição, isso fez ainda mais diferença. Além disso, mesmo com uma das folhas salariais mais baixas do campeonato e com a perda de jogadores importantes em janeiro, o comandante segurou as rédeas.

Já dentro de campo, a grande figura é o atacante Nino. Aos 39 anos, ele começou a carreira no clube e saiu em 2006, atuando depois por Levante, Tenerife e Osasuna. Retornou em 2016 e contribuiu para recolocar o time de seus amores na primeira prateleira. Foram oito gols e cinco assistências do capitão na temporada, com 46 presenças no total. E seu contrato prevê mais um ano na ativa com a promoção. “Sofri muitas vezes por não subirmos. Ascendi com outros clubes, mas fazer isso em sua casa é muito especial. Era agora ou nunca. Consegui recordes, mas a única meta em minha cabeça era a promoção. Imaginava que ia ser bonito. É um momento único. Minha família e eu precisávamos deste acesso. Minha filha passou a semana falando disso, que não deveria nem voltar para casa se não conseguisse. Você se arrepia, são momentos que estão acima do futebol”, declarou ao Marca.

Além do velho ídolo, os pontas Fidel Chaves e Ivan Sánchez desequilibraram em diversos momentos. Fidel foi o artilheiro do time na temporada, ao lado de Pere Milla. Mais atrás, o zagueiro Gonzalo Verdú e o lateral esquerdo Juan Cruz também participaram ativamente da conquista, embora o grande nome tenha sido o goleiro Edgar Badia – recordista em defesas no campeonato. E o Elche ainda contou com o rodado atacante Jonathas. Sem clube, o brasileiro foi trazido em janeiro e balançou as redes sete vezes em 16 partidas. Mas, apesar dos destaques, o trabalho é longo para se pensar na manutenção em La Liga – até pelo calendário acidentado, considerando a pandemia e a espera aos playoffs, bem como pelas limitações econômicas ao incrementar o elenco.

Histórico figurante de La Liga nos anos 1960 e 1970, o Elche chegou a ser quinto colocado no campeonato e finalista da Copa do Rei no período. As condições dos valencianos são bem diferentes neste século, com uma curta passagem de duas temporadas pela elite (rebaixados não em campo, mas por questões econômicas) e até uma queda à terceira divisão em 2017/18. A escalada rápida de volta ao primeiro nível soa como um prêmio, um tanto quanto inesperado pela situação dos franjiverdes. A tarefa de restabelecer as finanças é do argentino Christian Bragarnik, que se tornou proprietário em dezembro e pretende manter um perfil baixo de investimento, até porque o acesso antecipa seu planejamento. O dinheiro que entrará servirá mais para sanear as contas e firmar as bases da instituição. Em meio à toda insanidade que circundou a segundona ao longo das últimas semanas, a comemoração precisa ser grande pelo feito deste domingo.

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