Esporte News Mundo
·02 de julho de 2025
Mundial de Clubes: hipocrisia europeia ou críticas justificadas?

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·02 de julho de 2025
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O novo Mundial de Clubes criado pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, virou sucesso instantâneo na edição de 2025. A ideia da entidade, inclusive, é fazer uma segunda competição em 2029, mas ainda não existe uma confirmação oficial. A sede escolhida para a atual disputa foi os Estados Unidos, que será o palco central da Copa do Mundo de Seleções em 2026. Apesar da primeira análise positiva, o torneio também vem sendo carregado por críticas, principalmente oriundas de clubes europeus, devido às altas temperaturas durante as partidas e ao período de realização selecionado pela entidade internacional.
O que chama atenção, no entanto, é que a Copa do Mundo é disputada tradicionalmente durante a “pós-temporada” europeia, entre junho e julho. O período marca o pico do verão europeu, e o continente já sediou 11 edições do mundial de seleções desde 1934, quando foi sediado na Itália. Outro ponto de destaque é que o Intercontinental (antigo Mundial de Clubes) é jogado entre novembro e dezembro, quando os clubes sul-americanos já se encaminham para o término da temporada esportiva. Se a queixa fosse realmente sobre o calendário, deveria se justificar um posicionamento semelhante a europeus e sul-americanos em cada torneio internacional, algo que não se confirma.
Não há lógica, portanto, que se aplauda a realização de um torneio nos últimos meses do ano, época em que os clubes europeus vivem o ápice técnico e físico, mas que se condene a decisão da FIFA de incluir uma luta por título em julho. Os jogadores que atuam por times espanhóis, ingleses e italianos, por exemplo, não costumam reclamar de jogar o Intercontinental, mas estão se mostrando contrários ao novo Mundial. É evidente que esse duplo padrão gera desconforto e levanta dúvidas sobre a real motivação das críticas.
Um argumento válido, por outro lado, diz respeito ao horário em que as primeiras partidas estão sendo disputadas nos Estados Unidos. Em muitos casos, os jogos têm início às 12h no horário local dos estádios — um fator que ignora as altas temperaturas típicas do verão norte-americano, colocando atletas e torcedores sob condições climáticas extremamente desfavoráveis. Em cidades como Charlotte, por exemplo, as temperaturas chegaram a 40°C, com picos de 42°C em alguns momentos, exigindo cuidados médicos para jogadores, como o meio-campista Gianluca Prestianni, do Benfica, que precisou de atendimento durante uma partida. Para minimizar os efeitos do calor, equipes como Manchester City e Juventus realizaram treinos em horários semelhantes aos das partidas, enfrentando temperaturas superiores a 32°C.
Pensando na Copa do Mundo de 2026, a FIFA vive um dilema. Na primeira rodada do Mundial de Clubes de 2025, a organização escalou partidas em quatro horários distintos. Para o fuso-horário de Paris, por exemplo, a última partida de cada dia foi disputada às 4h da manhã, o que reduz o número de audiência. Ainda assim, as partidas iniciais registraram uma boa taxa de visualização, favorecida pelo horário mais acessível ao público europeus. A transmissão do jogo PSG x Atlético de Madrid pelo Canal+, na França, alcançou cerca de 8 milhões de telespectadores. As partidas envolvendo times ingleses atingiram médias superiores a 5 milhões no BT Sport e Sky Sports, refletindo o interesse continental mesmo diante dos horários desafiadores. Estas informações foram registradas nos portais Médiamétrie e Broadcasters’ Audience Research Board.
Há um grande número de fãs, técnicos e jogadores que defendem a realização das partidas em horários com menor exposição ao calor. No entanto, a FIFA tende a rejeitar essa proposta, argumentando que atrasos na programação poderiam impactar negativamente os índices de audiência na Europa — um dos principais mercados do futebol mundial. O atraso beneficiaria os
O calor nos Estados Unidos neste período do ano é uma questão a ser analisada. Por outro lado, a Eurocopa jogada no continente europeu nunca foi vítima de críticas. Evidentemente, a diferença entre as temperaturas na América do Norte e a Europa em julho é considerável.
A expectativa é que a maioria dos jogadores que estão jogando a Copa do Mundo de Clubes esteja presente no Mundial de Seleções do ano que vem. É difícil imaginar que algum atleta se recuse a participar do campeonato em 2026, apesar do calor. Por isso, é necessário que os clubes europeus deixem de atribuir exclusivamente ao calor a responsabilidade pelo desempenho abaixo do esperado. Embora as altas temperaturas sejam um fator relevante, outros aspectos como a qualidade de clubes de outras federações também contribuem para os resultados em campo. Fica claro que o desempenho dentro de campo é o que realmente define campeões, independentemente das condições externas.
A reclamação quanto ao período do ano, por sua vez, não se sustenta. Como mencionado anteriormente, tanto a Copa do Mundo de seleções quanto a Eurocopa são tradicionalmente disputadas nessa mesma época do ano e, historicamente, sempre foram recebidas com entusiasmo. Diante disso, surge o questionamento: as críticas à realização do torneio se devem, de fato, à combinação entre calor e calendário, ou estariam, na verdade, funcionando como uma justificativa para o desempenho aquém do esperado dos clubes europeus?
É hora de deixar a hipocrisia de lado e comprovar dentro de campo o tão alardeado favoritismo europeu — algo que, até aqui, tem sido colocado em xeque com as eliminações precoces de clubes como Manchester City no mata-mata, além de Porto, Atlético de Madrid e Salzburg ainda na fase de grupos. A FIFA tem seus erros, o calor é real, o peso do favoritismo continua no colo dos europeus — com ou sem sol.