Motor do Japão, Endo não se intimidou contra o meio-campo da Croácia e confirmou a excelência que mostra na Bundesliga | OneFootball

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Trivela

·05 de dezembro de 2022

Motor do Japão, Endo não se intimidou contra o meio-campo da Croácia e confirmou a excelência que mostra na Bundesliga

Imagem do artigo:Motor do Japão, Endo não se intimidou contra o meio-campo da Croácia e confirmou a excelência que mostra na Bundesliga

O Japão não conseguiu superar a barreira das oitavas de final. Os Samurais Azuis repetem sua campanha mais longa em Copas do Mundo, mas a ineficiência nos pênaltis custou o passo além. Apesar da queda, a campanha no Catar certamente servirá de marco ao futebol japonês. Derrotar Espanha e Alemanha na fase de grupos, deixando ainda os alemães pelo caminho, garante um lugar especial ao time de Hajime Moriyasu nos livros dos Mundiais. E se os homens do ataque ganham destaque pelos gols decisivos, quem também merece menção especial é Wataru Endo. O meio-campista fez uma excelente Copa do Mundo, inclusive neste empate contra a Croácia. Encarar a célebre meia-cancha axadrezada não é fácil e, mesmo assim, o camisa 6 foi o melhor do setor.

Aquela geração da Copa de 2002 influenciou Endo desde pequeno. O garoto nascido em 1993 é natural de Yokohama. Torcedor do F. Marinos, frequentou desde cedo as arquibancadas do Estádio Internacional de Yokohama, palco da final do Mundial que consagrou o pentacampeonato do Brasil. O destaque no futebol estudantil, porém, não garantiu uma vaga para o adolescente em seu time de coração. Sua carreira engrenaria em outro clube da região de Kanagawa, o Shonan Bellmare, onde deu seus primeiros passos como profissional. A estreia na J-League aconteceu em 2010.


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De início, Wataru Endo atuava como zagueiro ou lateral direito. Sabia usar o corpo e lia os espaços com inteligência, mesmo sem ser tão alto. Além disso, se sobressaía como um defensor de técnica acima da média, a ponto de se transformar no cobrador de pênaltis do Bellmare. Foram seis temporadas no clube que vivia como ioiô entre a primeira e a segunda divisão, conquistando acesso duas vezes nesse período. Em 2015, o talento do jovem acabou reconhecido com a transferência para o Urawa Red Diamonds, uma das forças nacionais. Por lá conquistou o seu primeiro título de elite, a Copa da J-League, inclusive batendo o pênalti decisivo na final contra o Gamba Osaka.

Membro das seleções de base desde o sub-19, ao mesmo tempo Wataru Endo viveu sua eclosão com os Samurais Azuis. A primeira chance na equipe principal aconteceu em 2015. Já no ano seguinte, ele disputou os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Não seria uma campanha tão longa dos japoneses, apesar dos quatro pontos conquistados. A equipe estreou com uma derrota insana por 5 a 4 diante da Nigéria, antes de empatar com a Colômbia e vencer a Suécia. Apesar da luta, acabou ficando pelo caminho. Ainda assim, a experiência marcou tanto Endo, dono da braçadeira de capitão, que ele batizou seu filho com o nome de Rio.

Outro passo importante na carreira de Endo aconteceu em 2017. O Urawa Red Diamonds conquistou a Champions Asiática. O camisa 6 foi dono da lateral direita, presente nos dois jogos da final contra o Al-Hilal. Disputou o Mundial de Clubes e acabou convocado à Copa de 2018 pela seleção japonesa. Entretanto, não saiu do banco ao longo da campanha na Rússia. Aos 25 anos, precisou se concentrar na sua evolução. E ganhou uma oportunidade de se provar na Europa. O Campeonato Belga, bastante receptivo aos jogadores nipônicos nos últimos anos, concedeu uma chance através do Sint-Truiden.

Uma temporada na Bélgica bastou para que Wataru Endo se fizesse conhecido. O Sint-Truiden nem teve uma campanha tão significativa, mas o japonês ganhou destaque. Neste momento, se adaptava como um volante de ótima leitura de jogo, função que já desempenhava também na seleção. E seria nome relevante na Copa da Ásia de 2019. Entrou em campo em cinco das sete partidas. Reserva exatamente na final perdida contra o Catar, acabou fazendo falta. De qualquer maneira, outro passo seria dado em sua carreira nos meses seguintes. Chegou por empréstimo ao Stuttgart em 2019/20, para tentar auxiliar em busca do acesso na segunda divisão.

Reserva no início da segundona, Endo ganhou a posição no Stuttgart no meio do primeiro turno, a pedido do veterano Mario Gómez. Deu muito mais estabilidade ao meio-campo, virou um dos destaques do time e terminou eleito um dos melhores do campeonato, com o acesso conquistado. O sucesso valeria a contratação definitiva por €1,7 milhão. Desde então, o volante confirmou-se como um dos grandes ídolos dos suábios. A partir de 2020/21, Endo só não disputou três dos 83 compromissos do Stuttgart na Bundesliga. Mais do que isso, passou a usar a braçadeira de capitão em 2021/22. Nas três campanhas pela primeira divisão, esteve entre os três jogadores dos alvirrubros com melhor nota na tradicional avaliação da revista Kicker. E protagonizaria um momento inesquecível em maio de 2022, quando marcou o gol da vitória sobre o Colônia aos 47 do segundo tempo, para livrar seu time do risco de rebaixamento na última rodada.

A grandeza de Wataru Endo na Bundesliga se refletiu na seleção japonesa. Mesmo com a rotação constante do técnico Hajime Moriyasu, o meio-campista se tornou titularíssimo na campanha das Eliminatórias e inclusive passou a usar a braçadeira de capitão na ausência de Maya Yoshida. Chegou à Copa do Mundo como nome imprescindível ao sucesso dos Samurais Azuis, pelo equilíbrio que confere na meia-cancha e também pela capacidade de organização que auxilia os demais companheiros. São qualidades que se notaram em repetidas partidas durante o Mundial.

A estreia contra a Alemanha guardou um encontro com velhos conhecidos para Endo. E o meio-campista foi um dos melhores da equipe. Buscou reforçar a marcação pelo lado direito do campo e seria bastante importante por sua combatividade. Já no segundo tempo, com seus lançamentos, impulsionou a pressão que rendeu a virada. A derrota contra a Costa Rica caiu mal para o Japão, numa tarde em que Endo não auxiliou os Samurais Azuis. Já diante da Espanha, entrou na rotação do técnico Hajime Moriyasu. Ficou no banco e apareceu em campo apenas no final, numa partida em que os companheiros Hidemasa Morita e Ao Tanaka deram conta do recado.

Um dos méritos do Japão nesta Copa do Mundo, aliás, esteve na qualidade dos três principais volantes à disposição. Endo, Morita e Tanaka se revezaram ao longo da fase de grupos e, quando necessário, Daichi Kamada também recuou um pouco mais para o setor. Já diante da Croácia, Moriyasu apostou naqueles que eram mesmo os mais cotados antes da competição – Endo e Morita. Os dois fizeram uma excelente apresentação, especialmente o camisa 6. O desafio diante de Luka Modric, Marcelo Brozovic e Mateo Kovacic não o intimidou.

O Japão teve 60 minutos iniciais em altíssimo nível contra a Croácia. Foi intenso na marcação, rompeu a posse de bola dos adversários, tinha escape pelos lados do campo. Wataru Endo serviu como um motor nessa função. O camisa 6 chegou ao final dos 90 minutos com apenas um passe errado nos 46 que tentou. E não que fizesse um trabalho burocrático: serviu os companheiros em quatro finalizações, inclusive num lance que Kamada perdoou no fim da primeira etapa. Endo trancava a cabeça de área ao preencher muito bem os espaços, mas tinha liberdade para se mandar à frente. Não à toa, logo após o empate croata, quase retomou a vantagem num chute de longe que deu trabalho ao goleiro Dominik Livakovic.

Desta vez, o Japão não conseguiu subir de produção com suas substituições – pelo contrário. O time perdeu intensidade e Endo não seria tão efetivo na prorrogação. De qualquer maneira, as chances de classificação seguiram vivas até a disputa por pênaltis. Faltou precisão na marca da cal. E chamou atenção o fato de o camisa 6, competente nas batidas, não aparecer nos 11 metros. Talvez fosse ele exatamente o responsável pelo quinto tiro. Os Samurais Azuis não chegaram a tanto.

Não é a despedida que Endo esperava, mas o coloca entre os melhores volantes da Copa. Aos 29 anos, o meio-campista não ficou devendo em nada no embate direto com Luka Modric. Mostrou por que é uma referência enorme no Stuttgart e justifica o status como um dos principais asiáticos em atividade na Europa atualmente. A idade não confere tantas perspectivas de desenvolvimento para o camisa 6 nem o torna tão atrativo para o mercado de transferências. Mesmo assim, continua com tempo suficiente para seguir fazendo bonito nos Samurais Azuis e para ampliar sua estatura na Bundesliga. Sua Copa do Mundo foi bem grande.

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