OneFootball
Vitor Geron·09 de setembro de 2020
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Vitor Geron·09 de setembro de 2020
Problemas novos ou velhos sempre atrapalharam o desenvolvimento do futebol feminino. Mas com a consolidação do Campeonato Brasileiro, das equipes de base e o fortalecimento da Seleção, uma opinião domina o debate sobre o futuro da modalidade: “não vai mais andar para trás”.
Nem a pandemia vai mudar o cenário otimista do futuro na avaliação das ex-jogadoras e atuais comentaristas Alline Calandrini e Milene Domingues. Em entrevista exclusiva ao OneFootball, as duas mostraram confiança de que não vai haver mais retrocesso no futebol feminino do Brasil.
“Se tudo der errado, e não dará, não retrocede mais. É daqui pra frente. Houve altos e baixos no caminho. Comecei com 14, 15 anos, e jogava preliminares de Corinthians x Palmeiras com 60 mil pessoas no Pacaembu. Isso durou dois, três anos. Aí nos anos 2000 baixou. Houve paralisações. […] Voltou 2006 e 2008, mas em 2010 acabou. Isso não vai mais acontecer. É daqui pra mais. Retroceder, jamais”, disse Milene.
A opinião é semelhante à de Calandrini, apesar do inevitável impacto causado pela pandemia.
“Não vejo o futebol feminino andar pra trás. Vai desacelerar um pouco talvez, mas não andar pra trás. Temos o Brasileiro mais equilibrado da história, mas não estou esperando uma desempenho físico, técnico e tático tão alto. Era pra ter um 2020 maravilhoso, com esse Brasileiro e Olimpíada, mas a pandemia jogou um balde de água fria”, disse a jornalista da Band.
Até a “sobrevivência” em tempos de pandemia parece ser menos complicada para o contexto do futebol feminino, acostumado a poucos recursos, dificuldades e soluções criativas para seguir em frente.
“É um cenário que não é diferente do que o feminino sempre viveu. Sobreviver com pouco dinheiro sempre foi o cenário do futebol feminino. Agora ainda é diferente, as meninas têm carteira assinada, etc. Quem teve de se adaptar [à pandemia] foi o masculino”, destacou Milene.
E se o investimento dos clubes tradicionais é importante no atual cenário do futebol feminino, o objetivo é que a modalidade consiga se manter por conta própria no futuro.
“Os clubes tradicionais podem abrir as portas para o futebol feminino no país, mas o feminino tem de ser auto-sustentável. Pra isso tem de ter um projeto, com departamento de futebol feminino, em conjunto com o masculino, usando as redes sociais, por exemplo, para ter engajamento”, ressaltou Calandrini.
“O São Paulo melhorou, o Palmeiras também. Ninguém quer ficar pra trás [dos rivais Corinthians e Santos], e tem Flamengo, Inter, Cruzeiro. Só de ter o clube a gente já usufrui de uma boa estrutura. É muito mais fácil vender a marca para conseguir um patrocinador, um parceiro, um apoiador”, lembrou Milene.
Ela concorda que o próximo passo será as equipes femininas conseguirem manter as próprias estruturas com mais independência.
“Meu próximo sonho é ver o futebol feminino se auto-sustentar. Pra isso precisa de muitas pessoas trabalhando. Precisamos de patrocinadores, que por sua vez precisam que divulguem suas marcas, para isso precisa que a tv e outras mídias estejam interessadas. E todos trabalhando para oferecer um bom produto, uma boa infraestrutura para que as jogadoras possam fazer o melhor. São várias coisas para que num futuro próximo seja auto-sustentável”, declarou a embaixadora do futebol feminino do Corinthians.
Foto destaque: Reprodução/Twitter Brasileirão Feminino