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·23 de maio de 2020
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A Coluna Parabéns ao Craque homenageia Milton da Cunha Mendonça, mais conhecido apenas como Mendonça. Nesse sentido, se estivesse vivo, completaria neste sábado (23), 64 anos de vida. Um dos maiores ídolos do Botafogo, brilhou com a camisa do Alvinegro nas décadas de 1970 e 1980. Além disso, também teve passagens por clubes como Palmeiras, Santos e Grêmio.
Milton da Cunha Mendonça nasceu dia 23 de maio de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. A princípio, iniciou sua carreira no Dente de Leite do Bangu A.C. Aos 12 anos de idade, transferiu-se em seguida para o Botafogo de Futebol e Regatas, pelo qual sagrou-se campeão em 1973 do Torneio Mundial de Cadets em Croix na França.
Dessa forma, o menino fechava os olhos e sonhava. Viajava naquele sonho acordado de tantos meninos, sonho esse que era pintado com o verde da grama, embalado pelo som das torcidas, alimentado pela magia dos craques. Do mesmo modo, no sonho, o menino virava mais um. Escudo sobre o peito, onde pulsa mais forte a paixão. E qual é o menino que não sonha em defender o seu clube, jogar no Maraca, marcar um golaço e vencer o rival?
Mendonça sonhou tudo isso. Seja como for, transformou o sonho em realidade, para, com a camisa do Botafogo, alimentar o sonho de outros meninos. Alvinegro fanático, o meia se eternizou como o ídolo de uma geração. Era quem permitia aos botafoguenses o gosto de sonhar, em anos nos quais o time não ia muito além disso. O jogador não conquistou títulos com o clube, a única parte não cumprida de seu sonho de menino.
Todavia, da base aos profissionais, ficou por lá durante 14 dos 21 anos do jejum só rompido em 1989. Mas não dependeu de taças para encarnar como poucos o espírito do que significa ser Botafogo. Nesse sentido, o jogador é daqueles que não dependem do brilho dos troféus para ter luz própria. E como contestar tamanho resplendor?
A chegada de Mendonça ao Botafogo aconteceu em 1968, exatamente o ano do último título antes da seca no Carioca. O garoto ganhou suas primeiras chances no profissional em 1975, momento em que o jejum incomodava bastante. E na escassez cada vez maior de craques, seria ele o encarregado de assumir tal responsabilidade. Dessa forma, a camisa alvinegra lhe caía muito bem, especialmente pela nuance de encantamento que sua técnica provocava.
Ao passo que o jogador atuava como um profeta do Botafogo durante a longa travessia no deserto, sua habilidade era a luz que guiava os Alvinegros na caminhada. Suas grandes performances eram a esperança de dias melhores. Assim também, aquele menino, que desde cedo sonhara com a Estrela Solitária, afinal, sabia melhor do que ninguém o que a espera significava. Era, no entanto, mais um botafoguense em campo, o mais identificado. Contudo, a terra prometida não seria alcançada tão cedo, nem por Mendonça e nem pelo Botafogo.
E não pensem que o ídolo era amado a todo tempo e fazia apenas passes que o favoreciam. Haviam momentos em que precisava lidar com a fúria da torcida alvinegra. Nesse ínterim, em meados de 1980, perdeu a cabeça. Saiu fazendo gestos obscenos às arquibancadas e correu aos vestiários, descontrolado.
“No vestiário, entrei chorando, atirei a camisa com violência no chão, pisei em cima e comecei a gritar: ‘Não jogo mais nessa merda de clube! Não jogo mais pra essa torcida!”
Na época, contou à Placar que sempre fora caladão, de um jeito meio indiferente, mas por dentro estava sempre em estado de convulsão. Relatou também que horas depois do ocorrido, conseguiu entender a reação natural de uma torcida que não vencia desde 1968. E acrescentou:
“Só que se esquecem que eu também estou nessa, 12 anos sem título. Pensa que não sofro? Sofro mais que a maioria dos torcedores e conselheiros que se dizem botafoguenses. Porque eu, mesmo profissionalmente, sou Botafogo sem interesse apenas porque amo”
Ao longo de 342 partidas e 118 gols, o sonho de Mendonça quando pequeno também virou realidade, é claro! E nunca tão real quanto naquele 19 de abril de 1981. Era dia de Maracanã lotado, de clássico contra o Flamengo, de jogo decisivo. Os rivais se enfrentavam pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro, torneio do qual os Rubro-Negros eram os campeões vigentes. E se não buscaram o bicampeonato justo em seu ano mais imponente, a culpa é praticamente de Mendonça. Com dores musculares, o meia corria o risco de sequer entrar em campo. E não só entrou, como acabou com a partida.
O craque marcou tanto a história do Botafogo que continua sendo lembrado nas redes sociais do time a que pertenceu e que se dedicou por anos.
Infelizmente, após sua aposentadoria em 1996, Mendonça passou a incluir cada vez mais o álcool em sua rotina. Antes da reabilitação, o jogador precisou ficar 40 dias internado na UTI, pois corria riscos de morte. Foi do destaque de ser uma estrela para a tristeza do vício. O ídolo veio a falecer dia 5 de julho de 2019, aos 63 aos de idade, devido ao mau funcionamento do fígado e dos rins, entrando assim em choque séptico.
Em suma, Mendonça partiu sem conseguir levantar seu sonhado troféu. Entretanto, sua maior conquista seria mesmo o reconhecimento de tanta gente que o considera o maior ídolo daquele período tortuoso. Ao longo da vida, o meia representou o Botafogo também no amor incondicional e no sofrimento silencioso. E em razão disso, a falta de taças não o diminuiu, muito pelo contrário. Portanto, o Futebol na Veia tem orgulho em homenagear aquele que jogou movido pelo sentimento único de se doar por quem amava.
Foto Destaque: Divulgação / Pinterest / Botafogo