Calciopédia
·22 de janeiro de 2020
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Ocupar uma posição de destaque numa grande equipe é para poucos. Desempenhá-la por mais de uma década é para ainda menos gente. O lateral-esquerdo Manuel Pasqual vivenciou tais sensações em sua vida: com passagens em clubes modestos, chegou à Fiorentina para tomar conta do flanco canhoto e virar tanto capitão quanto bandeira do time.
Pasqual é natural de San Donà di Piave, cidadezinha localizada na província de Veneza, no Vêneto. Foi lá que o lateral deu seus primeiros passos, sempre passando por times amadores da região. Em 1996, quando tinha 14 anos, Manuel foi notado por olheiros da Reggina e rumou ao sul do país para realizar sua formação nas categorias de base dos amaranto. Contudo, sua estreia entre os profissionais não ocorreu por lá.
Aos 17, o jogador foi vendido ao Derthona, do Piemonte, e fez 15 partidas no Campeonato Nazionale Dilettanti, correspondente à quarta divisão italiana. Pasqual acabou sendo negociado com o Pordenone, que também disputava a categoria, e se tornou titular absoluto dos neroverde. A ponto de, já em 2001, ir parar no Treviso, da terceirona. O lateral não repetiu o bom futebol e, após vestir a camisa celeste em apenas quatro ocasiões, foi negociado com o Arezzo em janeiro de 2002. A transferência para a Toscana selaria uma mudança definitiva em sua vida.
O lateral-esquerdo rapidamente ganhou a titularidade e deslanchou com a camisa amaranto. Tanto é que, em 2003-04, Pasqual já era um dos pilares do Arezzo que foi campeão da Serie C1 e da Supercopa da Serie C. Lapidado pelo técnico Mario Somma, Manuel continuou crescendo sob as ordens de Pasquale Marino e Marco Tardelli, e ajudou os toscanos a permanecerem na Serie B, em 2004-05. Valorizado, o canhoto acabaria contratado pela Fiorentina, que pagou 2,5 milhões de euros por metade de seu passe.
Como a distância de Arezzo para Florença é de cerca de 70 km, não é tão difícil mudar de uma cidade para a outra. Pasqual mostrou que, para ele, também não era complicado saltar da terceira divisão para a elite do futebol nacional em pouco mais de um ano. Imune à pressão de envergar a malha violeta florentina, Manuel ganhou a titularidade por confiança do técnico Cesare Prandelli e se destacou com suas principais características: força no apoio, em virtude da qualidade em passes e cruzamentos, e razoável capacidade de chutar de longa distância.
O mágico ano de debute de Pasqual na Serie A terminou com 39 aparições pela Fiorentina, que ficou com a quarta posição no campeonato – depois, em virtude do envolvimento de diretores no escândalo Calciopoli, o time foi punido com a perda de 30 pontos e caiu para a nona colocação. Em março de 2006, às vésperas de completar 24 anos, o lateral ainda recebeu sua primeira chance na seleção italiana e jogou os minutos finais de um amistoso contra a Alemanha, vencido pela Itália por 4 a 1. Porém, como Fabio Grosso e Gianluca Zambrotta já estavam nas graças de Marcello Lippi, Pasqual não foi convocado para a Copa do Mundo daquele ano.
Nos anos seguintes, a Fiorentina fortaleceu seu plantel com as chegadas de Massimo Gobbi, em 2006, e de Juan Manuel Vargas, em 2008. O italiano, que vinha do Cagliari e também foi testado na seleção, não ameaçou a titularidade de Pasqual, que se manteve em alto nível e ajudou a Viola a se classificar para a Copa Uefa, em 2007, e para a Liga dos Campeões, no ano seguinte. A aquisição do peruano, ex-Catania, porém, complicou os planos do defensor vêneto.
Entre 2008 e 2010, Pasqual perdeu espaço no time de Prandelli, que via em Vargas um jogador bastante agudo para a lateral-esquerda. De vez em quando o peruano atuava mais avançado e, aí, Manuel e Gobbi disputavam a titularidade no setor. Depois de realizar 22 jogos em 2008-09 e 29 em 2009-10 – contribuindo para nova classificação dos gigliati para a UCL –, o vêneto voltou a ter vaga cativa entre os onze em 2010-11, depois que Prandelli foi para a seleção e Sinisa Mihajlovic o substituiu. O sérvio começou a testar Vargas no meio-campo e, então, devolveu a lateral a Manuel.
Os dois anos seguintes não foram positivos para a Fiorentina, que não conseguiu superar o meio da tabela e nem de longe mostrou o futebol que tinha com Prandelli. Em 2012-13, porém, Vincenzo Montella assumiu o comando técnico e a equipe voltou a encantar a Bota – e justo na temporada em que Pasqual se tornou capitão do time, em virtude das saídas de Alessandro Gamberini e Riccardo Montolivo.
Sob as ordens do novo técnico, o atleta do Vêneto reencontrou seus melhores momentos e contribuiu enormemente para que a Viola abocanhasse por três vezes seguidas a quarta colocação na Serie A e, consequentemente, vagas na Liga Europa. Pasqual também foi semifinalista da competição europeia, em 2015, e vice-campeão da Coppa Italia, no ano anterior. Na final, a Fiorentina foi derrotada pelo Napoli.
O ótimo momento no clube fez com que Pasqual voltasse a ser considerado pela seleção. Manuel não havia sido convocado nenhuma vez entre junho de 2007 e setembro de 2013, quando, aos 31 anos, recebeu o primeiro chamado de Prandelli. O vêneto já jogava como ala no 3-5-2 da Fiorentina, mas isso não impediu que o seu ex-treinador lhe testasse na Nazionale.
As atuações pela Squadra Azzurra não foram suficientes para que o canhoto fosse à Copa do Mundo – figurou na lista de pré-convocados, mas foi cortado da relação final –, mas o mantiveram no grupo pós-Mundial. Antonio Conte o convocou até meados de 2015, quando Marcos Alonso ganhou projeção na Fiorentina e tomou-lhe espaço.
Em 2016, após classificar a Fiorentina para uma competição europeia pela sétima vez em 11 temporadas, chegou a hora de dar adeus ao clube. Manuel Pasqual, capitão por quatro anos, teve algumas rusgas com o técnico Paulo Sousa e preferiu não renovar o contrato. Deixou Florença pela porta da frente e não como “mais um”. É, até hoje, o sexto com mais jogos pela Viola (356, no total), e figura à frente de outros nomes históricos da agremiação, como Giancarlo De Sisti, Francesco Toldo, Gabriel Batistuta, Rui Costa e Giuliano Sarti.
Poucos dias depois de anunciar a saída da Fiorentina, Pasqual acertou com o Empoli. O jogador se manteve na Toscana e pouco alterou sua rotina, já que as sedes dos clubes estão cerca de 30 km distantes uma da outra. O lateral foi destaque do seu time na Serie A e ainda se vingou de Paulo Sousa: na 32ª rodada, converteu pênalti em pleno Artemio Franchi, aos 93 minutos, e garantiu a vitória no clássico para os azzurri. O triunfo por 2 a 1 atrapalhou os planos violetas, mas acabou não evitando o rebaixamento do Empoli.
Manuel continuou no clube para a disputa da Serie B e, já como capitão, contribuiu para que os azzurri conquistassem seu segundo título da categoria. Pasqual fez 38 partidas na campanha avassaladora e também foi titular na disputa da máxima divisão, em 2018-19 – ainda que, em virtude da idade, fosse menos utilizado. Assim como em 2016-17, o Empoli teve grandes momentos na elite, mas foi novamente rebaixado. O lateral acabou não renovando seu contrato após a queda, mas só viria a anunciar sua aposentadoria meses depois, em janeiro de 2020.
Antes mesmo de pendurar as chuteiras, Pasqual já havia iniciado em sua nova carreira. No segundo semestre de 2019, o vêneto começou a participar das transmissões do 90º Minuto, histórica mesa-redonda da Rai. Atualmente, o ex-lateral comenta partidas pela emissora italiana.
Manuel Pasqual Nascimento: 13 de março de 1982, em San Donà di Piave, Itália Posição: lateral-esquerdo Clubes: Derthona (1999-2000), Pordenone (2000-01), Treviso (2001-02), Arezzo (2002-05), Fiorentina (2005-16) e Empoli (2016-19) Títulos conquistados: Serie C1 (2004), Supercopa da Liga da Serie C (2004) e Serie B (2018) Seleção italiana: 11 jogos
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