Calciopédia
·08 de março de 2022
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Na temporada de 1997-98, uma companhia norte-americana de chicletes lançou seu próprio álbum de figurinhas na Itália. A Topps, famosa por seus colecionáveis nos tradicionais esportes ianques, buscava rivalizar com a tradicional Panini. Para isso, um novo modelo foi introduzido: gomas de mascar eram acompanhadas por figurinhas de jogadores. Para os que completassem a coleção, uma camisa oficial do time favorito.
Curiosamente, duas figurinhas faltaram em boa parte dos álbuns. E, assim, foi iniciada uma grande busca pelas caras de Sergio Volpi, então jovem jogador do Bari, e Paolo Poggi, atacante da Udinese. O caso foi parar no Mi Manda Raitre, programa italiano que funciona como uma “patrulha do consumidor”, já que havia muita gente que suspeitava que os cromos dos atletas não haviam sido liberados. A companhia respondeu, então, que aquelas figurinhas foram fabricadas em lotes pequenos. O caso foi encerrado, mas o episódio ficou marcado para sempre na memória das crianças da época.
Volpi, um dos protagonistas dessa história, foi muito mais que um raro adesivo, porém – embora tenha sido figurinha carimbada nos trabalhos do técnico Walter Novellino. Nascido em Orzinuovi, na Lombardia, o jovem desde pequeno apaixonado por futebol traçou o caminho mais óbvio: começou na base do principal clube da província, o Brescia. Em 1993, aos 19 anos, subiu para o time profissional, mas logo foi emprestado para a Carrarese, onde jogou apenas por uma temporada, na Serie C1.
No retorno ao Brescia, Volpi foi preferido pelos técnicos Mircea Lucescu e Edoardo Reja em relação ao ainda mais jovem Andrea Pirlo, regista como o lombardo. Mesmo assim, não recebeu tantas chances na fraca campanha de 1995-96 pelos biancazzurri e, após 22 aparições, foi comprado pelo Bari. Com os galletti, Sergio viveria o primeiro grande momento da carreira dentro de campo – além, claro, do episódio emblemático já narrado.
Pelo Venezia, Volpi iniciou uma duradoura parceria com Novellino (Allsport)
Na última rodada da Serie B 1996-97, o Bari precisava de uma vitória contra o Castel di Sangro para ascender à elite. Volpi, com um golaço de fora da área, se valendo da sua melhor qualidade – o chute de longa distância –, confirmou o triunfo dos biancorossi, que já venciam por 2 a 0. Carimbando bolas no meio-campo, Sergio alcançou a salvezza com a equipe na temporada seguinte, repetindo os quatro gols marcados na segunda divisão. Em julho de 1998, depois de 70 partidas pelo time apuliano, mudou-se para Veneza, onde encontraria, pela primeira vez, Walter Novellino, seu grande mentor.
Vestindo a camisa 8 no Venezia, que também disputava a Serie A, Volpi marcou o seu primeiro gol, de fora da área, na épica vitória contra a Inter, ocasião em que a equipe venceu por 3 a 1. Em 1999, Novellino, que conquistara a salvezza como técnico dos arancioneroverdi, rumou para o Napoli, na segundona. Com a partida, Luciano Spalletti assumiu o comando dos lagunari, foi demitido e logo depois retornou. Mesmo com os esforços de Sergio e de seus colegas meio-campistas Hiroshi Nanami e Dejan Petkovic, os leões alados fizeram um péssimo campeonato e acabaram rebaixados.
Apesar de ter conquistado a promoção à Serie A com os napolitanos, Novellino não teve seu vínculo anual renovado com o time partenopeo, que atravessava um confuso momento nos bastidores. Walter acabou contratado, pelo Piacenza, da segundona, e um de seus movimentos iniciais foi buscar Volpi, em troca com Arturo Di Napoli. Novamente juntos, o técnico campano e o maestro lombardo alcançaram o acesso à elite graças ao vice-campeonato da categoria. Na volta à primeira divisão, o regista ganhou a faixa de capitão. Guiados por Sergio, os lupi ficaram com a 12ª posição, conseguindo a permanência nas rodadas finais.
No verão de 2002, Riccardo Garrone, que acabara de assumir a presidência da Sampdoria, ameaçada de falência e na segundona, foi buscar Novellino no Piacenza e o treinador tratou de levar Volpi, seu homem de confiança, consigo. Aos 28 anos e já tarimbado como jogador eficiente em times pequenos, Sergio teria a sua primeira experiência numa equipe de maior expressão: estrearia, afinal, numa agremiação que já havia conquistado um scudetto. O lombardo não decepcionou.
Líder do elenco da Sampdoria, Volpi foi o dono do meio-campo da equipe por mais da metade de uma década (imago/IPA)
Com a camisa blucerchiata, o regista conquistou sua terceira promoção à Serie A de imediato, já em 2002-03. Exercendo uma função mais ofensiva e chegando mais ao ataque, Volpi fez oito gols e teve a temporada mais prolífica de sua carreira. O 4-4-2 de Novellino colocava Sergio ao lado de Angelo Palombo, alguns anos mais novo. Ambos eram conhecidos pelas cobranças de falta, pelos chutes de longe e pela boa capacidade de articulação, mas as semelhanças param por aí. Enquanto o lombardo era mais estático e coordenava o jogo como um diretor de orquestra, o seu colega atuava de forma mais dinâmica, dando o equilíbrio ideal à formação doriana.
Após a volta à elite, a Samp de Novellino e Volpi se tornou uma das equipes mais cascas grossas da categoria e jamais brigou contra o rebaixamento. Em 2003-04, os blucerchiati fizeram uma campanha de afirmação na Serie A e, na temporada seguinte, conseguiram o quinto lugar e uma vaga na Copa Uefa. Os dorianos não foram além da fase de grupos, mas deram o recado: estavam de volta. Nesse mesmo período, Sergio, de 30 anos, estreou na seleção italiana, sendo convocado por Giovanni Trapattoni para dois amistosos.
Presença constante no time da Sampdoria e tido como um dos meio-campistas mais regulares do futebol italiano, Volpi quase se tornou “galáctico”. Em 2004, Arrigo Sacchi, então diretor técnico do Real Madrid, demonstrou interesse na contratação de seu compatriota. Na época, o regista não soube de nada, mas depois descobriu que Garrone recusou a proposta por considerá-lo essencial ao projeto doriano. Segundo o próprio camisa 4, o interesse dos espanhóis não era muito grande e, por isso, a negociação não foi para frente. Também volante, Thomas Gravesen foi o escolhido pelos merengues naquela janela.
Em 2007, logo depois de a Samp ser semifinalista da Coppa Italia, Novellino deixou o Marassi: Garrone ambicionava mais do que o futebol pragmático do técnico, que mantinha a equipe sempre no meio da tabela na Serie A. Dessa vez, Volpi não acompanhou o seu mentor e permaneceu na Ligúria – mas só por uma temporada.
O regista defendeu o Bologna por apenas um ano, mas teve participação fundamental numa campanha de salvação do descenso (imago/Gribaudi)
O técnico Walter Mazzarri, com seu 3-5-2, deu uma nova cara ao time, e Sergio, com 33 anos, passou a frequentar mais o banco de reservas, ainda que continuasse a ser um dos líderes do elenco da Sampdoria. Ao fim do campeonato de 2007-08, no qual os blucerchiati terminaram com a quinta posição, o contrato do ídolo não foi renovado. Assim, após 229 partidas e 24 gols ao longo de seis temporadas pelos genoveses, Volpi mudou de ares.
Contratado sem custos pelo Bologna, recém-promovido à primeira divisão, o regista, apesar da idade avançada, foi um dos principais jogadores dos rossoblù na temporada 2008-09. O veterano marcou um decisivo gol contra o Lecce, na antepenúltima rodada da Serie A, quando a equipe lutava ponto a ponto pela salvezza. No fim das contas, Volpi anotou quatro tentos e foi um dos principais artífices da permanência do time emiliano.
Volpi tinha tudo para permanecer no Bologna, mas ouviu o canto da sereia – ou melhor, de Novellino. Aos 35, ainda arrumou tempo para mais uma aventura ao lado do treinador, que dirigia a Reggina, então rebaixada à Serie B. O regista atendeu ao chamado do mestre, mas viu a sua parceria com ele se desintegrar em poucos meses, quando Walter foi demitido pela diretoria amaranto em outubro de 2009. Separado do mentor, com quem acumulou oito anos e meio de colaboração, Sergio optou por deixar a Calábria (e a segundona) no mercado de inverno.
O lombardo ainda tinha mercado na elite e rumou para a Atalanta, equipe de sua região – com base em Bérgamo, a menos de 50 km de Orzinuovi. No entanto, Volpi não encontrou a felicidade perto de casa. O veterano atuou pela Dea em apenas cinco oportunidades e não conseguiu evitar o seu retumbante rebaixamento: os nerazzurri tiveram sete pontos a menos do que o Bologna, primeiro time fora da zona de descenso.
Volpi teve duas passagens pelo Piacenza, mas só na primeira conseguiu grandes feitos com a camisa alvirrubra (imago/Gribaudi/IPA)
Em 2010, Volpi voltou ao Piacenza, para a disputa da segunda divisão. Aos 37 anos, mais uma vez não conseguiu evitar o rebaixamento de sua equipe: a agremiação biancorossa se viu envolvida num escândalo de manipulação de resultados através de apostas ilegais e ainda perdeu o playout para o AlbinoLeffe.
Depois da infelicidade, em 2011, Volpi se aposentou. De imediato, assumiu, temporariamente, o posto de técnico dos biancorossi, em crise. No entanto, a primeira concreta aventura do lombardo como treinador foi na base do próprio Piacenza, em 2011-12. Em seguida, teve um trabalho mais consistente no time sub-15 do Brescia, que comandou de 2012 a 2016.
Fora dos gramados, a carreira de Volpi ainda não decolou. Sergio, contudo, já conseguiu uma histórica promoção à Serie D com a Adrense, pequeno time de sua província – que foi rebatizado como Franciacorta ainda durante sua passagem de três anos. Atualmente, é técnico do Cilliverghe, militante do campeonato regional da Lombardia.
Sergio Tranquillo Volpi Nascimento: 2 de fevereiro de 1974, em Orzinuovi, Itália Posição: meio-campista Clubes: Brescia (1993-94 e 1995-96), Carrarese (1994-95), Bari (1996-98), Venezia (1998-2000), Piacenza (2000-02 e 2010-11), Sampdoria (2002-08), Bologna (2008-09), Reggina (2009-10) e Atalanta (2010) Carreira como treinador: Adrense (2016-19), Franciacorta (2019) e Ciliverghe (2021-atual) Títulos como treinador: Eccellenza (2018) e Coppa Italia de Amadores da Lombardia (2022) Seleção italiana: 2 jogos