Trivela
·30 de setembro de 2020
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·30 de setembro de 2020
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O Lyon anunciou nesta quarta-feira (30) a contratação de Lucas Paquetá, que estava no Milan, por € 20 milhões, com um vínculo de cinco anos. Na equipe francesa, o brasileiro terá uma excelente oportunidade de recuperar a sua carreira na Europa enquanto ela ainda está no início, e um caso particular dentro do próprio clube lyonnais serve de referência para isso.
A exemplo de Paquetá, Memphis Depay apareceu de forma muito promissora em seu clube formador, o PSV Eindhoven, e se transferiu direto para um gigante do futebol mundial, o Manchester United. Apesar de toda a expectativa, chegando e assumindo a lendária camisa sete do clube inglês, o neerlandês acabou fracassando na Inglaterra. Depois de apenas duas temporadas, deixou o clube no que foi uma regressão – mas logo ficaria claro que era um daqueles casos de dar um passo atrás para dar dois à frente.
Ainda em uma das principais ligas da Europa, mas com um nível de concorrência menor do que havia vivido na Premier League, Depay trouxe impacto ao Lyon, uma equipe tradicional e com visibilidade na Europa. Seu bom desempenho na Ligue 1, além das participações em competições europeias, garantiu que o atacante seguisse sendo chamado para a sua seleção e, por fim, depois de três anos de destaque, evoluísse e entrasse novamente no radar de grandes clubes como um potencial reforço.
Em um cenário diferente, sem pandemia de coronavírus e seu consequente impacto financeiro, Depay provavelmente já estaria defendendo a camisa do Barcelona. O interesse do clube catalão em seu futebol é claro, mas dificuldades financeiras impediram, até agora, um acerto entre o Barça e o Lyon.
Ir para a França foi uma maneira encontrada por Depay para reconquistar minutos em campo, confiança e, por fim, a boa impressão que havia deixado em seus primeiros anos de PSV Eindhoven. Paquetá poderá agora ter a mesma chance.
Depois de se destacar pelo Flamengo, Paquetá foi contratado pelo Milan por € 38 milhões e encheu de esperança a torcida rossonera em seus primeiros jogos na Itália. Habilidoso e com bastante personalidade, parecia não sentir a pressão da mudança para um gigante europeu, e a impressão que se tinha é que estávamos diante de um futuro craque.
No entanto, a inconsistência logo veio, em meio a um momento em que o próprio clube tinha dificuldades em encaixar boas atuações em sequência. Oportunidades não lhe faltaram, mas pouco a pouco Paquetá foi perdendo seu espaço, e a questão não foi treinador, já que nestes quase dois anos o brasileiro foi comandado por Gattuso, Marco Giampolo e Stefano Pioli.
A impressão que deixa na Itália é de que, por mais que fosse habilidoso, Paquetá era mais plástico que efetivo, por vezes mais individualista do que alguém que se entrega ao projeto de jogo da equipe. O problema nunca foi falta de técnica, e seu enorme potencial ainda está lá. Com 23 anos, tem tempo de sobra para buscar atingi-lo.
Assim como fez Memphis Depay, que mais tarde reconheceu ter sido ele próprio o culpado por seu fracasso no Manchester United, Paquetá precisa observar esta passagem no Milan buscando entender o que deu errado, olhando para o que fez e deixou de fazer em vez de culpar outros indivíduos ou mesmo as circunstâncias.
“Eu me perdi em Manchester. Este foi o verdadeiro cerne da questão. Demorei alguns anos para perceber isso. Durante meu tempo em Manchester, eu culpei todo mundo: Van Gaal, Mourinho, senti que o mundo todo estava contra mim. Mas não culpei a mim mesmo. Não é assim que a vida funciona”, relatou Depay em seu livro, Heart of a Lion.
Caso tenha esse tipo olhar, Paquetá terá no Lyon uma boa plataforma para se redimir e colocar sua carreira de novo no rumo certo.
Tudo indica que o brasileiro chega ao OL para ser a reposição de Houssem Aouar, que interessa a Juventus e Arsenal e ainda pode sair nesta janela. No clube, atuaria como o jogador mais avançado e ofensivo em um trio formado ainda por Maxence Caqueret e Bruno Guimarães, atletas de grande técnica, qualidade de passe e posicionamento.
Na frente, a menos que alguma negociação de última hora mude isso, estará servindo atacantes habilidosos como Moussa Dembélé e o jovem Rayan Cherki. Na França, portanto, ele estará sem dúvidas cercado de talento, podendo potencializá-los e, ao mesmo tempo, tirar proveito de sua parceria.
A única incógnita de momento é se Rudi Garcia é mesmo o nome a liderar o Lyon nesta fase de transformação. O treinador vem sendo bastante questionado por sua incapacidade de dar ao clube uma identidade de jogo e consistência de resultados. Em cinco rodadas neste início de Ligue 1, o Lyon venceu apenas a partida de estreia, e a imprensa francesa afirma que Garcia não faz parte dos planos do presidente Jean-Michel Aulas a longo prazo. Segundo o L’Équipe, a intenção seria não renovar seu vínculo após o fim da temporada, mas mesmo a curto prazo seu cargo estaria em risco, dependendo dos próximos resultados.
Tudo isso, no entanto, deveria ser encarado por Paquetá como apenas ruído externo. Ele tem agora uma missão clara: abaixar a cabeça, trabalhar, conquistar seu espaço e mostrar com regularidade a qualidade que todos sabem que têm. Foi assim que Depay reverteu sua tendência de queda, e é assim que o brasileiro pode fazer o mesmo. Ao fim de tudo isso, a recompensa estará lá.