Gazeta Esportiva.com
·17 de dezembro de 2022
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Ernest Hemingway deixou um romance inacabado, Orson Welles um filme sem ter sido montado e Mozart várias composições inacabadas. No futebol, Lionel Messi ganhou tudo, mas falta um capítulo: a Copa do Mundo. O torneio mais importante, é o que lhe falta vencer. E agora o astro tem uma nova oportunidade. Provavelmente a última.
“Às vezes eu gostaria de passar despercebido”, disse recentemente Lionel Messi em entrevista ao ex-campeão mundial argentino Jorge Valdano, na televisão espanhola Movistar+. Mas é uma missão impossível: todos no mundo do futebol estão de olho nele. E estarão novamente neste domingo na final. Muitos querem que ele vença para que possa encerrar uma carreira fantástica.
Messi disputou cinco Copas do Mundo e em nenhuma conseguiu ser campeão. O Catar é o último trem.
Em Doha, sua presença gerou grande expectativa no último mês e ele não conseguiu cumprir, para o bem ou para o mal, esse desejo de passar despercebido. Uma utopia quando se trata de uma estrela mundial, possivelmente o melhor jogador desde Diego Maradona, e tem 376 milhões de seguidores no Instagram.
Também é difícil conciliar uma timidez quase congênita com ter que mostrar uma personalidade forte. Isso aconteceu nesta Copa do Mundo em partidas tensas como as quartas de final contra a Holanda, ou ver sua imagem em um outdoor cobrindo um prédio de seis andares posando em cuecas para uma conhecida marca de roupa italiana.
Ou quando spots com a sua imagem passam na televisão do mundo todo para vender hambúrgueres, refrigerantes, carros e até mesmo atrações turísticas na Arábia Saudita. Antes do Catar, uma campanha publicitária reuniu Messi com seu grande rival da última década, Cristiano Ronaldo, jogando xadrez sobre uma mala de uma marca de luxo francesa, em uma foto feita pela prestigiada fotógrafa americana Annie Leibovitz.
Os contratos lucrativos e a vida anônima com que sonha é um dilema insolúvel.
“Gostaria de ir ao supermercado, sem ter trezentos olhos olhando para mim. Principalmente quando estou com meus filhos, gostaria de passar despercebido”, insistiu ele no final de 2020 em entrevista à televisão espanhola La Sexta.
O passar dos anos e a exposição midiática fizeram com que pouco restasse daquele menino da cidade de Rosário que chegou a Barcelona aos 13 anos e se submeteu a um tratamento com hormônios de crescimento na Espanha, já que nem o seu clube Newell’s Old Boys nem outros da Argentina o custeavam. Na Catalunha e na emblemática escolinha de La Masía, La Pulga se tornou grande no Barça.
Longe de sua família e de seu ambiente, ele se fortaleceu, amadureceu antes do tempo e aprendeu desde cedo com Andrés Iniesta, Xavi Hernández, Samuel Eto’o e os demais jogadores do Barcelona daquela época.
Frank Rijkaard lhe deu as primeiras oportunidades, mas foi já com Josep Guardiola que deu o grande salto, fazendo parte de um dos momentos mais brilhantes da história do clube catalão.
No Barcelona, conquistou quatro Ligas dos Campeões, dez Ligas da Espanha e três Mundiais de Clubes. O Camp Nou foi a sua casa até que em 2021 iniciou uma aventura no Paris Saint-Germain, aonde chegou com ares de semi-deus e, apesar dos problemas de adaptação da primeira temporada, também foi campeão da liga francesa.
Chegou à Espanha tão jovem que até se especulava sobre uma possível escolha entre a seleção desse país e da Argentina, mas sempre foi claro: seu sonho era brilhar com a Albiceleste, país que sempre amou e do qual sempre se sentiu parte.
Em seu início de carreira obteve importantes vitórias, o título do Mundial Sub-20 em 2005 e a medalha de ouro olímpica em Pequim-2008. Mas a partir daí, na seleção principal, acumulou decepção após decepção, até que a maldição terminou no ano passado na Copa América.
Agora ele quer usar as asas que aquele torneio lhe deu para ganhar a Copa do Mundo. Em Paris, sua casa atual, sua esposa Antonela Roccuzzo, companheira de toda a vida, e seus três filhos, Thiago, Mateo e Ciro, são seu suporte e Lionel Messi quer conquistar o título diante deles.