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·12 de novembro de 2020
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Olá, gurizinhos e gurizinhas do Brasil. Vamos voltar no tempo em O Gajo Conta? No final do século XIX, o futebol já começava a dar seus primeiros passos no velho continente. Entretanto, apenas o lado nobre da sociedade praticava o esporte. Contudo, poucos anos depois, o ludopédio já fazia sucesso entre grande parte dos terráqueos. Assim, em Portugal não foi diferente. Desse modo, áreas mais humildes, como as periferias de Lisboa, popularmente conhecidas como Linha de Sintra, passaram a revelar importantes nomes do futebol português, como meu companheiro de Manchester United e Seleção, Nani.
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Linha de Sintra é o conjunto entre a periferia noroeste de Lisboa (freguesia de Benfica), Amadora, Sintra e o norte do concelho de Oeiras (Tercena e Barcarena). Além disso, ela é uma zona bem conhecida pelo seu alto número de imigrantes e descendentes de imigrantes africanos. Em suma, dos países africanos que também falam a língua portuguesa, como Angola e Cabo Verde. E o sucesso da seleção portuguesa tem ligação com os atletas vindos dessas áreas mais humildes da minha querida Portugal.
Dos atletas convocados por Luiz Felipe Scolari para a Copa do Mundo de 2006, apenas Miguel e Marco Caneira, com um iniciando sua carreira no Estrela da Amadora e outro nascido em Sintra, respectivamente, têm ligações com jogadores que sugiram na Linha de Sintra daquele elenco. Entretanto, 10 anos mais tarde, no inédito título da Eurocopa 2016, a lista dos comandados pelo mister Fernando Santos contara com quatro jogadores, além de outros dois ao somarmos o título da Liga das Nações em 2019.
Imigrante de Luanda, na Angola, William Carvalho atuou no Algueirão e no Mira Sintra, dois times de Sintra. Chegou às categorias de base dos Leões de Lisboa em 2005, até se tornar profissional em 2011. Atualmente no Real Bétis, da Espanha, William é um dos melhores volantes defensivos do mundo. Desse modo, esteve presente na Eurocopa e Liga das Nações conquistadas pelos patrícios.
Em janeiro de 2020, ou seja, antes da pandemia do novo coronavírus atingir o futebol, segundo o portal Transfermarkt, Danilo Pereira era o 4º jogador mais valioso (30 milhões de euros) formado na Linha de Sintra. Ademais, nascido em Bissau, Guiné-Bissau, o atleta deu seus primeiros chutes no Arsenal 72, em Sintra. Seu sucesso o levou ao Estoril e, na sequência, aos juniores do Benfica. Contudo, sem espaço nas Águias de Jorge Jesus, em 2010, Danilo se transferiu para o Parma, da Itália. Atualmente no PSG, da França, o meia foi peça fundamental no Porto entre os anos de 2015 e 2020, além de estar presente nas conquistas da nossa seleção portuguesa em 2016 e 2019.
O jovem xerife lusitano nasceu em Amadora e o Estrela foi sua primeira equipe. Entretanto, como atacante. Porém, em uma partida diante do Charneca da Caparica, ainda pelos juniores, seu treinador o colocou como zagueiro e, desde então, não mudou mais sua posição. Assim, chegou ao Benfica em 2008 com apenas 11 anos de idade. Apesar disso, mostrou personalidade desde o primeiro momento. Com isso, já soma quase 100 jogos com a camisa da seleção portuguesa, somando categorias de base e profissional, além de ter conquistado a Liga das Nações. Por fim, Rúben era o 3º da lista de mais valiosos de Sintra, em janeiro, com o valor de 38 milhões de euros. Hoje, o zagueiro atua com a camisa do Manchester City.
Semedo tem raízes em Cabo Verde. Porém, nasceu em Mira-Sintra e começou a jogar futebol no Sintrense. Seu bom futebol o fez chegar no Benfica. Contudo, antes disso, as Águias o emprestaram para o Fátima, da II divisão B. Assim, o lateral foi treinado por Luís Loureiro, grande nome de Portugal que também surgiu no Sintrense. Seu sucesso em Lisboa despertou o olhar do Barcelona. Paralelo ao Barça, Semedo conquistou a Liga das Nações por Portugal. Atualmente, defende as cores do Wolverhampton, da Inglaterra. Além disso, em janeiro, o atleta também estava na lista de 10 mais valiosos entre os que surgiram em Sintra, ocupando o 2º lugar, com o valor de 40 milhões de euros, antes de chegar à terra da Rainha.
Afrodescendente e nascido em Amadora, Renato Sanches surgiu para o futebol mundial através do Benfica como grande esperança portuguesa. Entretanto, após receber o prêmio Golden Boy, dado ao melhor atleta sub-21 do mundo, em 2016, Renato deixou Lisboa rumo à Munique, na Alemanha, para defender o Bayern. Contudo, uma queda de rendimento fez o jovem jogador perder espaço entre os grandes nomes. Apesar disso, esteve presente na Euro 2016. Hoje, o meia defende o Lille, da França.
Amadora também foi berço de Luís Carlos Almeida, vulgo Nani ou Fã Número Um de Papai Cris. Brincadeiras à parte com o meu ex-companheiro de Red Devils e seleção lusitana, Nani, filho de cabo-verdianos, surgiu no Real Sport Clube. Após isso, assim como eu, o extremo foi contratado pelo Sporting, até que chegou ao Manchester United, aonde vencemos diversos títulos, como a Liga dos Campeões. Além disso, o eterno camisa 17 está marcado em minha história e de todo o povo português, como o responsável por carregar a braçadeira de capitão após minha lesão na final de 2016.
Antes desses seis nomes citados de jogadores campeões da Eurocopa 2016 e Liga das Nações 2018/19, atletas como os ídolos Rui Costa, Artur Correia, Jorge Andrade (ficou fora da Copa de 2006 por estar se recuperando de uma lesão no joelho), Abel Xavier e Luís Loureiro também tiveram suas carreiras iniciadas na Linha de Sintra. Além deles, outros nomes da atualidade fazem sucesso no futebol mundial, como Rúben Semedo, do Olympiacos, da Grécia, e Ricardo Pereira, do Leicester, da Inglaterra.
Ou seja, muitos jogadores de futebol saem dos lugares mais pobres, mesmo o esporte tendo surgido entre os ricos. Inclusive, os melhores jogadores da história não nasceram em berço de ouro. Ou seja, as “Linhas de Sintra” do mundo inteiro precisam continuar ativas no ludopédio.
Foto destaque: Divulgação / Goal