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·07 de dezembro de 2022

Liga? Pra que te quero Liga?

Imagem do artigo:Liga? Pra que te quero Liga?

Por Max Pereira

Os principais clubes brasileiros estão atualmente divididos em dois blocos que têm como objetivo comum a criação de uma liga única para organizar as Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Mas, as divergências entre estes dois grupos são profundas e conduzem a um cenário de incertezas e de muitas disputas. O futuro do futebol brasileiro está nas mãos de dois grupos: a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e a Liga Forte Futebol do Brasil (LFF).


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O Atlético se prepara para sofrer a mais radical e importante transformação de sua história. E é natural e inteligente que o clube, seus dirigentes, sua torcida e seus conselheiros tenham pleno domínio não só sobre o que acontece intramuros do clube e a real situação administrativo-financeira do Glorioso, como também do que ocorre nos bastidores do futebol brasileiro e, em particular, em relação a uma determinada batalha pelo poder e controle do esporte bretão no Brasil.

Antes de nos aprofundarmos sobre as divergências que separam aqueles dois grupos (Libra e LFF), vale falar sobre como foram constituídos e por quem cada um deles foi formado, porquanto há uma coincidência curiosa que não só chama a atenção, mas clama por uma explicação. A Libra, por exemplo, foi fundada em maio deste ano por sete clubes: Red Bull Bragantino, Cruzeiro, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Santos e São Paulo. O bloco aumentou nos últimos meses e conta atualmente com 16 equipes. Eles não formam maioria entre os times de Série A e B, mas estão na frente no que se refere ao poderio econômico e à concentração de torcida.

Em busca de diminuir a diferença numérica para a LFF, a Libra fechou com dois clubes recém-promovidos para a Série B: Vitória e Mirassol. O Botafogo-SP deve seguir o mesmo caminho nas próximas semanas. Compõem ainda a Libra, além destes e dos clubes fundadores Grêmio, Guarani, Ituano, Novorizontino, Ponte Preta e o Vasco da Gama.

A Liga Forte Futebol do Brasil (LFF) surgiu em razão de uma divergência hoje ainda intransponível em relação às propostas da Libra. A LFF é formada por 25 clubes, mas pode ver esse número diminuir porque quatro de seus integrantes foram rebaixados para a Série C de 2023.

Apesar do menor poderio econômico, a LFF conta a partir de agora com um fator bastante positivo em relação à Libra. Ao todo, cinco times que fazem parte do grupo irão disputar a Libertadores 2023 (Inter, Fluminense, Athletico-PR, Atlético-MG e Fortaleza), enquanto apenas três clubes da Libra (Palmeiras, Corinthians e Flamengo) estão na maior competição do continente. Não deixa de ser uma vitória.

Os 25 clubes da LFF são, por ordem alfabética: América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Brusque*, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, CSA*, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico*, Operário*, Sampaio Corrêa, Sport, Tombense e Vila Nova. Os clubes destacados com um asterisco foram rebaixados para a terceira divisão e, por isso, podem deixar a LFF.

O que impediu o consenso e fez os clubes se dividirem nestes dois grupos é a divisão de receitas. Os que estão na Libra aceitam uma diferença maior entre o que mais recebe e o que menos recebe, enquanto os da LFF pregam uma divisão mais igualitária, eliminando as disparidades atuais. O estatuto inicial da Libra previa a divisão de 40% da receita dividida igualmente entre todos os participantes da competição, 30% de variável por desempenho e 30% por engajamento.

O Futebol Forte se espelha em ligas europeias e quer uma divisão diferente: 45% divididos de forma igualitária, 30% sobre performance e 25% por apelo comercial. O grupo entende que a diferença máxima de receita entre os clubes não deve ultrapassar 3,5x. Enfim, a forma de repartição de receitas proposta pela Libra no frigir dos ovos busca manter os privilégios atuais daqueles clubes que historicamente vêm liderando este ranking no futebol brasileiro.

Há conversas em andamento para alcançar um consenso sobre o tema e reuniões técnicas ocorreram nos últimos meses. Enquanto não chegam a um acordo, os dois blocos procuram separadamente por investidores. As empresas responsáveis pelas negociações da Libra com o mercado são a Codajás Kapital Sports e o BTG Pactual.

A LFF é representada por três empresas: XP Investimentos, Alvarez & Marsal e LiveMode. A Libra, por sua vez, avançou nas negociações com o Mubadala Capital, fundo ligado ao governo dos Emirados Árabes Unidos (EAU). A LFF, por sua vez, divulgou nota oficial nesta semana negando que recebeu proposta do fundo árabe. O bloco garante, porém, que tem outros investidores interessados e vai avaliar todas as propostas.

O entendimento e o consenso entre os dois blocos está longe de acontecer. Já escrevi mais de uma vez que o futebol se tornou um negócio multimilionário e sistêmico, onde vários agentes interagem e influenciam em graus de poder e de decisão distintos. A guerra ora travada mexe com múltiplos interesses e, portanto, é extremamente complexa. A CBF, as federações e a televisão, por exemplo, e dentre outros, irão lutar até o fim para que os seus privilégios e receitas sejam de preferência integralmente preservados.

Hoje o Atlético faz parte da LFF, onde é uma das principais lideranças. Curiosamente, Botafogo, Vasco e o rival azul, hoje transformados em SAF e o Red Bull Bragantino transformado em clube-empresa segundo outra legislação, aderiram à Libra, cuja repartição de receitas em princípio não lhes deveria interessar. Algumas perguntas não querem calar:

O que levaria estes e outros clubes a aderirem a uma Liga que propõe uma repartição de receitas leonina e longe de ser igualitária? Enfim, o que teria atraído e seduzido estes clubes? É verdade que em ambas as ligas existe a proposta de se criar para determinados clubes cadeiras cativas na série A, mantendo-os permanentemente na divisão de elite do futebol, brasileiro, independentemente do seu desempenho? E que tal proposta se justificaria em razão do apelo comercial, publicitário e midiático destes clubes? Se positivo, como defender a credibilidade da liga?

O que garante que a partir do momento em que a SAF alvinegra estiver sob controle de algum investidor o clube não mude de lado e não passe a perfilar ao lado das outras SAF’s e do clube-empresa Red Bull Bragantino? Qual é a chance dos interesses hoje defendidos pelo clube serem conflitantes com aqueles que o investidor defenderá a partir do momento em que adquirir a SAF atleticana? Quais são os limites entre os interesses do clube originário e do investidor, dono da SAF?

Liga? Prá que te quero Liga? São muitas as perguntas que os atleticanos, dirigentes, conselheiros e torcedores devem se fazer e buscar as respostas incansavelmente antes de decidir o que quer que seja. Se liga Atlético, antes que seja demasiado tarde.

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