Fut das Minas
·21 de outubro de 2024
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A Libertadores feminina terminou sua 16ª edição no último sábado (19), com mais um triunfo do Corinthians, que levantou o troféu de campeão pela quinta vez. Mas, nem só de comemoração vive o time das Brabas. Logo após o apito final, as jogadoras divulgaram simultaneamente em suas redes sociais um vídeo onde denunciam a desvalorização da competição pela própria Conmebol.
Confira na íntegra:
Leia na íntegra:
“Ganhamos mas nem tudo é festa.
Mudança de sede de última hora, falta de divulgação, campos ruins, risco de lesões, apenas 20 atletas inscritas, jogos de 3 em 3 dias, estádios vazios, proibido aquecer no campo de jogo, estruturas precárias. Isso é uma falta de respeito. Inadmissível. Não só com o Corinthians. Mas com todas as atletas. Todos os clubes. Todos os países. Queremos respeito para crescermos juntas”.
Não foi a primeira vez que a equipe brasileira denunciou as condições precárias do campeonato. A atacante Gabi Zanotti, em entrevista pós jogo contra o Olímpia, já tinha dirigido críticas à organização, em especial, citou a qualidade do gramado e os estádios utilizados durante a competição.
Dois dias depois, divulgou em sua rede social um vídeo onde mostra as condições deploráveis dos ônibus disponibilizados para os jogos das quartas de final, com ar condicionado quebrado e assentos destruídos.
Obviamente, não é esse o tratamento esperado do que era pra ser a maior competição de clubes do continente. A desorganização começa com a mudança da sede dois meses antes do início do campeonato. O torneio aconteceria no Uruguai, no mês de outubro. Porém, no final de agosto, a Conmebol divulgou que a competição passaria para o Paraguai.
Todas as 16 edições do torneio aconteceram em sede única – o que já vem sendo motivo de críticas há alguns anos, em especial, considerando o desenvolvimento dos campeonatos nacionais dos países que participam da competição continental.
Apesar de – na teoria – facilitar a logística das equipes, a sede única prejudica não só o engajamento dos torcedores, mas também as condições dos gramados, como enfatizado pelas atletas participantes em mais de uma oportunidade [vídeo da goleira do Boca Juniors].
Na edição de 2024, foram utilizados 4 estádios: Arsenio Erico e CARFEM receberam 14 partidas (fase de grupos e quartas de final), o Estádio da CONMEBOL recebeu 3 (semifinais e 3º lugar), e a final foi no Defensores Del Chaco. Vale relembrar que a competição dura apenas 16 dias.
Até as quartas de final, os estádios receberam partidas em dois horários seguidos por dois dias seguidos, tendo apenas um dia de intervalo para começar a próxima rodada. Não precisa de muito para entender que se nem os estádios com mais estrutura e tecnologia são capazes de manter a qualidade nessas condições, quem dirá os estádios utilizados na Libertadores feminina.
Além de diminuir a qualidade do jogo – o que, consequentemente, prejudica a qualidade do produto – o risco de lesões é potencialmente aumentado. Isso não se torna um agravante só para a carreira das atletas, mas também para as equipes participantes, que só podem inscrever 20 jogadoras na competição.
Os Regulamentos Específicos da Libertadores masculina e da Sulamericana, também organizadas pela Conmebol, permitem até 50 jogadores na lista inicial da fase de grupos.
Um exemplo claro do prejuízo causado por um número tão baixo de inscritas aconteceu na partida entre Corinthians e Boca Juniors, pela semifinal da competição. A equipe brasileira foi surpreendida com a suspensão da goleira Lelê após a partida contra o Olímpia. Se a goleira Nicole se machucasse e não pudesse continuar no jogo, foi cogitado que a atacante Vic Albuquerque a substituísse, pois a equipe não contava com uma terceira goleira na lista.
Apesar do aumento do número de veículos que transmitiram a competição no Brasil, os jogos foram marcados pela baixa presença de público, com estádios vazios e silenciosos. Em contraponto, há um mês, a Neo Química Arena recebia a final do Brasileirão Feminino Neoenergia com público recorde da modalidade: 44.529 espectadores. Para fechar (ou não), o árbitro de vídeo (VAR) foi utilizado apenas na final da competição.
Como a própria Gabi Zanotti, artilheira da edição de 2024 falou, as atletas se preparam e esperam muito, mas não tem qualquer reciprocidade de quem organiza o torneio.
O ponto positivo que fica da Libertadores feminina é a certeza de que o aumento da premiação não compra o silêncio das protagonistas, que seguirão exigindo respeito e melhores condições para fazerem o que mais gostam de fazer: jogar futebol.