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·31 de maio de 2021

Libertadores de 1989: um título do Atlético Nacional ou do narcotráfico?

Imagem do artigo:Libertadores de 1989: um título do Atlético Nacional ou do narcotráfico?

A campanha do Atlético Nacional na Libertadores de 1989 quebrou tabus e gerou polêmicas. O Alviverde foi o primeiro time da Colômbia a vencer uma Copa Libertadores da América. No fatídico ano, o triunfo no maior torneio do continente orgulhava muito os colombianos. Porém, muitos torcedores do clube e rivais, junto com boa parte da mídia local, consideram tal feito como uma página obscura da história dos Verdolagos e do futebol do país. Afinal, o clube tinha ligação com o narcotráfico. Este é o tema desta semana da coluna Colômbia Dourada.

ELENCO DO ATLÉTICO NACIONAL DE 1989

O time base era treinado por Francisco Maturana, que se tornaria futuramente o técnico da Seleção Colombiana. Tinha como titular o lendário goleiro René Higuita, que posteriormente viria a se tornar o herói do título daquela edição da Libertadores e jogar uma Copa do Mundo. Na defesa: Luis Fernando Herrera, Luis Carlos Perea, Andrés Escobar e Gildardo Gómez, aliás, os quatro jogadores também estiveram presentes no torneio mundial. No meio-campo: Felipe Pérez, Leonel Álvarez e Alexis García.


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Por fim, no ataque: Jaime Arango, Arboleda e Tréllez. Além disso, no clube também existiam ótimos suplentes como John Carmona, Francisco Cassiani, León Villa, que também atuava na seleção, Albeiro Usuriaga, artilheiro do elenco na Libertadores com sete gols, e Luis Alfonso Fajardo.

Em suma, o elenco alviverde de 1989 era muito qualificado. Aliás, jogadores como o goleiro René Higuita e os defensores Luis Fernando Herrera, Luis Carlos Perea, Andrés Escobar, Gildardo Gómez e León Villa atuaram na Copa do Mundo de 1990 pela seleção da Colômbia. Vale ressaltar que o arqueiro Verdolago é considerado um dos maiores da história do futebol sul-americano.

RENÉ HIGUITA

O goleiro, embora famoso por causa da chamada Defesa do Escorpião e pelos dribles executados, também fazia gols em lances de bola parada. Com o Atlético Nacional na Libertadores de 1989, Higuita marcou dois gols. Além disso, foi o grande destaque dos Verdolagos no último jogo do torneio. Na ocasião, René defendeu quatro pênaltis e ainda converteu um. É considerado um ídolo no clube alviverde e também na seleção da Colômbia.

Na Copa do Mundo de 1990, o arqueiro jogou muito bem na fase de grupos. Porém, nas oitavas de final, El loco, como era popularmente conhecido, tentou driblar Roger Milla, da seleção de Camarões, e acabou perdendo a bola, assim dando o gol da vitória e a classificação para os camaroneses.

Era um dos jogadores do Atlético Nacional que tinha uma relação próxima de Pablo Escobar. Apesar do status de ídolo, o goleiro tinha a fama de indisciplinado. Já foi suspenso por conta do uso de cocaína e também chegou a ficar de foca da Copa do Mundo de 1994 por ter sido acusado de participar de um sequestro, em 1993. Enquanto Escobar esteve preso em sua cadeia, Higuita foi visitá-lo, assim como Valderrama, Óscar Pareja e até Maradona.

ANDRÉS ESCOBAR

Esteve presente na campanha do Atlético Nacional na Libertadores de 1989 e nas Copas do Mundo de 1990 e 1994. Viu de perto a falha de Higuita, seu companheiro de time e de seleção, em 1990. Porém, anos mais tarde, na copa de 1994, Escobar também viria a cometer um erro. Mas a gafe acabou lhe custando a vida, no dia 2 de julho de 1994.

O zagueiro foi cercado por três homens e uma mulher, que estavam falando sobre o gol contra marcado por Andrés, que culminou na eliminação precoce da Colômbia no torneio mundial. Após reclamar e pedir por respeito, o defensor levou 12 tiros e foi encaminhado ao hospital, mas acabou morrendo 45 minutos após o encaminhamento. Na carreira, defendeu apenas o clube alviverde, estreando no ano de 1988.

A CAMPANHA PELA AMÉRICA

A princípio, vale ressaltar que, em 1989, a Copa Libertadores da América implantou um novo sistema de disputa. Consistia em cinco grupos com quatro equipes cada, avançando os três primeiros para a próxima fase. O campeão do ano anterior, que foi o Nacional-URU, avançou diretamente para as oitavas de final. Ao todo, 21 clubes participaram desta edição.

O Atlético Nacional estava no grupo três, junto com Millonarios-COL, Emelec-EQU e Deportivo Quito-EQU. O clube alviverde enfrentou os adversários, nesta ordem, como visitante nas três partidas e empatou todas em 1 x 1. Contudo, após essa sequência, o time iria decidir os três jogos seguintes como mandante. Perdeu para o compatriota Millonarios pelo placar de 0 x 2, derrotou o Deportivo Quito por 2 x 1 e, por fim, bateu o Emelec fazendo 3 x 1.

OITAVAS DE FINAL

Na fase das oitavas de final, os Verdolagos tinham o Racing-ARG como adversário. O primeiro jogo ocorreu na cidade de Medelín, na Colômbia. O Atlético Nacional venceu pelo placar de 2 x 0, com gols de Vázquez e León Villa. Contudo, na segunda partida, em Avellaneda, na Argentina, os mandantes ganharam por 2 x 1. Porém, apesar da derrota, o gol solitário dos visitantes, marcado por Felipe Pérez, classificou o Alviverde, pois o placar no agregado era de 3 x 2.

QUARTAS DE FINAL

Chegando às quartas de final, o Atlético Nacional iria encontrar de novo o Millonarios-COL. A princípio, na primeira partida, os Verdolagos jogariam como mandantes. Os donos da casa venceram pelo placar de 1 x 0, com gol de Usuriaga. Já na cidade de Bogotá, no jogo da volta, houve um empate em 1 x 1. O resultado classificou o Alviverde. Tréllez marcou o gol dos visitantes no 2º tempo.

SEMIFINAL

O confronto da semifinal foi contra o Danúbio-URU. No jogo de ida, em Montevidéu, no Uruguai, houve um empate sem gols. Por outro lado, na partida da volta, realizada em Medelín, na Colômbia, o Atlético Nacional massacrou o time uruguaio. Os Alviverdes venceram pelo placar de 6 x 0, com quatro gols de Usuriaga, um de Alexis García e outro de Arboleda.

FINAL

Enfim, na grande final, o adversário da vez era o Olimpia-PAR. Na primeira partida, em Assunção, no Paraguai, os mandantes venceram o clube alviverde pelo placar de 2 x 0, com gols de Bobadilla e Sanabria. No jogo da volta, realizado na cidade de Bogotá por conta das ameaças feitas pelo Cartel de Medellín, o Atlético Nacional devolveu os 2 x 0 do primeiro embate entre as duas equipes. Fidel Mino (contra) e Usuriaga decretaram a igualdade.

Devido ao resultado igual no agregado, a decisão foi para os pênaltis. Por fim, com o placar de 5 x 4, os Verdolagos sagraram-se campeões do torneio, tendo como destaque o goleiro René Higuita, que defendeu quatro cobranças de pênalti e converteu uma, sendo, assim, o grande herói da equipe colombiana.

A RELAÇÃO DO ATLÉTICO NACIONAL COM O NARCOTRÁFICO

Anteriormente, nas décadas de 1980 e 1990, muitos clubes do futebol da Colômbia tinham ligação com o narcotráfico. Os cartéis ajudavam os clubes, tanto para atender as suas necessidades como por paixão pelo esporte. Temos como exemplo, além do clube alviverde, o América de Cali, o Unión Magdalena, o Santa Fe, o Independiente Medellín e o Millonarios.

Aliás, muitos dos jogadores da chamada “Geração de Ouro” colombiana jogavam no Atlético Nacional. O dinheiro do narcotráfico injetado nos clubes ajudou os mesmos a se desenvolverem. Porém, devido a origem do dinheiro, os Verdolagos ficaram com o nome sujo em todo o mundo. Na época, o treinador Francisco Maturana negou a relação do time com o Cartel de Medellín. Mas o técnico pertence a uma minoria de pessoas que duvidam desta ligação. O goleiro René Higuita, por exemplo, era amigo de Pablo Escobar.

A princípio, o segundo jogo da final da Libertadores de 1989 seria em Medellín. Porém, por conta das ameaças aos árbitros, o local da partida foi trocado para Bogotá. Além disso, o nome de Pablo Escobar esteve envolto em outras polêmicas naquele ano. A morte do árbitro Álvaro Ortega culminou na suspensão da Categoría Primera A.

Então, em 1989, não haveria um campeão nacional na Colômbia. Em virtude de tal fato, o narcotraficante foi apontado como o principal responsável pelo crime. Assim sendo, por não haver uma definição no torneio, a Libertadores no ano seguinte não teria a presença de um time colombiano. Por fim, o nome “sujo” dos atleticanos desde a Libertadores de 1989 só veio a ser “limpo” em 2016, após o desastre da Chapecoense, quando cederam o título da Copa Sul-Americana à equipe brasileira como ato de solidariedade.

Foto Destaque: Reprodução/ Imortais do Futebol

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