Laranja Americana: os craques da Holanda de 1974 que se aventuraram na NASL | OneFootball

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Trivela

·03 de dezembro de 2022

Laranja Americana: os craques da Holanda de 1974 que se aventuraram na NASL

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Liga que reuniu inúmeros jogadores de grande prestígio do futebol mundial nos anos 1970 e início dos 1980, a North American Soccer League também atraiu para os Estados Unidos naquela virada das décadas um expressivo contingente de holandeses, entre eles oito titulares da Oranje vice-campeã mundial na Copa de 1974. O desempenho foi misto: alguns tiveram passagem rápida, de só uma temporada. Mas outros se tornaram emblemáticos de uma época singular na história do futebol norte-americano.

A relação da Holanda com as incipientes ligas profissionais de futebol dos Estados Unidos, porém, já datava de muito antes: em 1967, o ADO Den Haag foi um dos clubes que participaram da edição inaugural da curiosa United Soccer Association (USA), “camuflado” como o San Francisco Golden Gate Gales. E a partir de meados da década seguinte, alguns jogadores menos conhecidos do país começaram a migrar para a North American Soccer League, originada de uma fusão da própria USA com National Professional Soccer League (NPSL).


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Mas o influxo dos nomes mais consagrados só aconteceu mais para o fim da década. Quase todos, à exceção de Johan Cruyff e Wim van Hanegem, vinham de disputar sua segunda Copa do Mundo na Argentina em 1978 (na qual novamente se sagraram vice-campeões) e davam por encerrada sua carreira na seleção, o que os permitiu cruzar o Atlântico sem maiores dilemas a partir do ano seguinte. Para o registro, vale lembrar que, além deles, outros nomes célebres do futebol holandês também passaram pela NASL naquele mesmo período.

Um deles era o futuro técnico da seleção Guus Hiddink, que esteve no Washington Diplomats em 1978 e no San José Earthquakes dois anos depois. O goleiro Jan van Beveren – que participou do ciclo mundialista de 1974, mas foi afastado da Oranje às vésperas da Copa por uma polêmica com Cruyff – atuou com destaque no Fort Lauderdale Strikers, entre 1980 e 1983. Já o meia Frans Thijssen, um dos pilares do Ipswich campeão da Copa da Uefa de 1981, defendeu o Vancouver Whitecaps em 1983 e 1984, no apagar das luzes da liga.

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Johan Cruyff

Los Angeles Aztecs (1979), Washington Diplomats (1980-81)

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Cruyff em campo pelo Washington Diplomats

A relação de Cruyff com a NASL começou com o convite para disputar amistosos pelo New York Cosmos nos Estados Unidos e Europa em agosto e setembro de 1978. O holandês, que encerrara seu vínculo com o Barcelona na metade daquele ano, foi persuadido a abandonar uma curta aposentadoria para atuar pelo time norte-americano. Mas quem acabaria contratando o meia-atacante em definitivo seria o Los Angeles Aztecs, ao acenar com uma proposta financeira muito atraente, além da oportunidade de um novo desafio.

Havia ainda dois velhos conhecidos nos Aztecs: o técnico Rinus Michels e o lateral Wim Suurbier, que também chegara para aquela temporada 1979. Cruyff estreou em meados de maio e marcou dois gols na vitória por 3 a 0 sobre o Rochester Lancers. Dali em diante não sairia mais do time, anotando outros 11 gols em 22 jogos pela fase regular. A equipe californiana avançou aos playoffs como vice-líder da Divisão Oeste da Conferência Nacional e eliminou o Washington Diplomats no primeiro mata-mata, mas caiu para o Vancouver Whitecaps no segundo.

Apesar de eleito o MVP da temporada e de ser incluído no primeiro time de astros da competição, Cruyff decidiu não seguir em Los Angeles para o ano seguinte. Chegou a considerar uma incrível oferta do pequeno Dumbarton, da Escócia, mas o Washington Diplomats, mesmo em complicada situação financeira, acabou segurando o holandês na NASL. Com Cruyff marcando dez gols em 25 jogos na fase regular, os Diplomats cumpriram campanha oscilante, mas seguiram aos playoffs em segundo na Divisão Leste da Conferência Nacional.

Logo no primeiro playoff, porém, o meia holandês reencontrou seu ex-clube e levou a pior pelo intrincado formato do torneio: os Diplomats venceram o primeiro jogo por 1 a 0 e no segundo houve empate em 1 a 1, o que, pela regra local, levaria à decisão nos “shoot-outs” para definir o vencedor – e os Aztecs venceram por 5 a 4. A igualdade no número de vitórias nas séries forçou o chamado “minigame”, espécie de prorrogação de 30 minutos, que também acabou em vitória dos californianos por 2 a 0. E estes se classificaram.

No início de 1981, Cruyff voltou à Holanda para disputar amistosos pelo pequeno Dordrecht. Em seguida, foi sondado no Leicester e chegou a defender brevemente o Levante na segunda divisão espanhola, além de ter atuado pelo Milan como convidado no Mundialito de Clubes de Milão no meio do ano. Mas, mesmo tendo horror aos gramados sintéticos utilizados em larga escala na liga norte-americana, acabou aceitando retornar aos Diplomats para mais uma temporada, na qual atuou apenas cinco vezes, marcando dois gols.

Naquela malsucedida campanha, que levaria ao encerramento das atividades da franquia, o time sequer conseguiu se classificar para os playoffs. E o holandês decidiu que era enfim o momento de voltar ao Ajax depois de oito anos rodando o mundo.

Wim Suurbier

Los Angeles Aztecs (1979-81), San José Earthquakes (1982)

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Suurbier em campo pelo Los Angeles Aztecs

Lateral-direito titular da Holanda na Copa de 1974, mas que perdeu a posição ao fim da primeira fase em 1978, Suurbier chegou ao futebol norte-americano após duas breves passagens de uma temporada por Schalke e Metz, suas primeiras experiências no exterior após 13 anos atuando no Ajax, clube que o revelou. Ao aportar nos Aztecs, iniciaria um período de cerca de uma década de atividade nos Estados Unidos como jogador e mais tarde treinador tanto no futebol de campo (ainda que sintético) quanto no chamado “indoor”.

Na sua primeira temporada, em que foi dirigido por seu compatriota Rinus Michels e logo depois reencontrou Johan Cruyff, Suurbier foi incluído na escalação das “menções honrosas” dentre os melhores da liga. Mas os Aztecs pararam nas semifinais da Conferência Nacional. No ano seguinte a equipe chegou mais longe, alcançando a final da conferência após deixar pelo caminho nos playoffs o Washington Diplomats e o Seattle Sounders. Porém acabaria derrotado duas vezes pelo New York Cosmos, que logo levaria o Soccer Bowl daquele ano.

Emprestado ao Sparta Rotterdam, Suurbier perdeu boa parte da primeira metade da fase regular do campeonato de 1981, mas retornou em meados de junho para levar o time mais uma vez aos playoffs, mas desta vez os californianos seriam eliminados logo na primeira série pelo Montreal Manic. Com o fechamento da franquia no fim do ano (em meio a uma crise que reduziu de 21 para 14 o número de equipes no torneio seguinte), o lateral trocaria de time, mas não sairia da Califórnia, passando a defender o San José Earthquakes.

Em sua única temporada defendendo a equipe de campo, Suurbier não conseguiu evitar um fraco desempenho dos Earthquakes, que nem conseguiram se classificar para os playoffs pela Divisão Oeste. Após uma rápida experiência no futebol de Hong Kong, ele retornaria, mas desta vez para atuar na equipe indoor do rebatizado Golden Bay Earthquakes, além de trabalhar como auxiliar técnico. Já em 1984, naquela que seria a derradeira edição da NASL, com apenas nove equipes participantes, ele dirigiria o Tulsa Roughnecks.

Seu vínculo com o futebol norte-americano, no entanto, continuaria ao longo daquela década nas outras ligas – entre elas a American Indoor Soccer Association, na qual chegou a atuar, já com mais de 40 anos de idade, pelo Tampa Bay Rowdies na temporada 1986/87. Ele ainda dirigiria o Los Angeles Heat, o Fort Lauderdale Strikers, o Miami Sharks e – tempos mais tarde, já em meados dos anos 1990 – o St. Petersburg Kickers.

Wim Rijsbergen

New York Cosmos (1979-83)

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Rijsbergen atuando pelo Cosmos

Outro titular da Holanda de 1974 que perdeu a titularidade durante a Copa de 1978, o zagueiro ex-Feyenoord deixou o futebol de seu país logo após seu segundo Mundial para defender o Bastia por uma temporada e em seguida cruzou o Atlântico recrutado pelo New York Cosmos, franquia mais famosa da NASL e pontilhada de astros internacionais, como os brasileiros Carlos Alberto Torres e Marinho Chagas, o alemão-ocidental Franz Beckenbauer, o italiano Giorgio Chinaglia, o inglês Dennis Tueart e o iraniano Andranik Eskandarian.

Ao todo, Rijsbergen defenderia o Cosmos por quatro anos e meio, ganhando com o tempo outras companhias ilustres, como seu compatriota Johan Neeskens, o brasileiro Oscar (que ficou pouco tempo), os paraguaios Romerito e Roberto Cabañas e o belga François Van Der Elst. Titular em suas três primeiras temporadas, ele figuraria no primeiro time de astros da liga em 1979 e no segundo time em 1980, ano em que participou da conquista do Soccer Bowl, quando o Cosmos derrotou o Fort Lauderdale Strikers por 3 a 0 em Washington D.C.

Naqueles playoffs, os novaiorquinos despacharam o Tulsa Roughnecks (com direito a goleada de 8 a 1 no jogo da volta no Giants Stadium), o Dallas Tornado e o Los Angeles Aztecs no caminho até a grande decisão disputada em 21 de setembro. Já no ano seguinte, quando Rijsbergen voltou a figurar no time principal de astros, o Cosmos marcou presença novamente no Soccer Bowl, após passar por Tampa Bay Rowdies e Fort Lauderdale Strikers, mas acabou batido nos “shoot-outs” pelo Chicago Sting na final jogada em Toronto.

Nas duas campanhas seguintes, o zagueiro atuaria bem menos: em 1982, ano de mais um título do Cosmos no Soccer Bowl, ele faria apenas cinco partidas somando fase regular e playoffs. Já em 1983, seriam 11 jogos disputados até meados de julho, quando Rijsbergen acertou sua volta ao futebol holandês, onde defenderia o pequeno Helmond Sport.

Ruud Krol

Vancouver Whitecaps (1980)

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Krol defendendo o Vancouver Whitecaps

Defensor versátil e criativo, Krol era o lateral-esquerdo da Oranje de 1974, mas no decorrer da década passou a jogar como líbero. Herdou ainda a braçadeira de capitão no Ajax após a Copa e na seleção com a retirada de Cruyff. Em 1980, teria passagem curta pelos Whitecaps – e aqui cabe uma licença poética, já que a equipe era canadense. Chegou pouco depois da metade da fase regular daquela temporada, no fim de junho, e ficou até o fim de agosto, quando a campanha se encerrou com a eliminação logo no primeiro playoff para o Seattle Sounders, com duas derrotas. Em seguida, ele voltaria à Europa acertando com o Napoli, pelo qual seria eleito o melhor jogador da Serie A em 1980/81.

Wim Jansen

Washington Diplomats (1980)

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Jansen apresentado pelo Washington Diplomats

Volante responsável pela cobertura do meio-campo da Laranja de 1974 (quatro anos depois, atuou também como lateral-direito), Jansen se transferiu para os Estados Unidos após 15 anos defendendo o Feyenoord, chegando aos Diplomats juntamente com Cruyff. Embora titular durante toda aquela campanha, não obteve grande destaque e retornou ao futebol holandês após uma única temporada na NASL. Ironicamente, foi para o velho arquirrival Ajax, estreando exatamente num clássico em dezembro de 1980.

Wim van Hanegem

Chicago Sting (1979)

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Van Hanegem jogou uma temporada pelo Chicago Sting

Símbolo do jogo mais físico do Feyenoord do início dos anos 1970, num contraponto ao estilo fluente do Ajax de Johan Cruyff, o meia já havia trocado o clube de Roterdã pelo AZ ’67 quando migrou para a NASL no fim da década, juntando-se à equipe do Chicago Sting que reunia outros nomes conhecidos do futebol holandês, como o volante (e futuro técnico) Dick Advocaat, o ponta Peter Ressel (que chegou a defender a Oranje em 1974, logo após o Mundial) e o líbero alemão-ocidental Horst Blankenburg, que fez história no Ajax.

Além deles, o Chicago Sting incluía no elenco outros jogadores de certo destaque, como o lateral italiano Luigi Martini (vencedor do scudetto de 1974 com a Lazio) e o atacante sueco Thomas Sjöberg (que disputou a Copa de 1978 e chegou a marcar contra o Brasil). Van Hanegem, por sua vez, parecia ter se convertido em goleador logo ao chegar: marcou na estreia, na derrota por 2 a 1 fora de casa para o Philadelphia Fury em 7 de abril, e balançou as redes quatro vezes nas quatro partidas seguintes. Mas logo a fonte secou.

O Chicago Sting também não decolou: terminou em segundo na Divisão Central da Conferência Americana e eliminou o Fort Lauderdale Strikers no primeiro playoff. Mas caiu com duas derrotas para o San Diego Sockers nas semifinais da conferência. Sem se destacar, Van Hanegem acabaria sendo o único vice-campeão mundial de 1974 a não figurar em nenhum dos times da seleção de astros da competição naquela temporada. Ao fim daquela única campanha com o Sting, o meia voltaria à Holanda para defender o Utrecht.

Johan Neeskens

New York Cosmos (1979-84)

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O elenco do Cosmos de 1983 com Neeskens e Rijsbergen

Meia dinâmico e versátil, capaz de marcar e criar, e dono de fôlego inesgotável, Neeskens foi peça fundamental para o movimento do Carrossel Holandês. E após despontar no Ajax e passar cinco anos no Barcelona, chegou à liga norte-americana já na metade da temporada 1979, estreando pelo Cosmos no fim de junho. E permaneceria até o encerramento das atividades da NASL, em 1984, tornando-se o jogador da Laranja Mecânica com mais temporadas disputadas no torneio. Suas participações ano a ano, porém, foram irregulares.

Embora tenha sido apontado para o time principal dos astros da competição em 1979 e 1984 e para o segundo time em 1980 e 1982, Neeskens entrou e saiu da equipe do Cosmos enquanto defendeu a franquia. E não esteve em campo em nenhuma das duas conquistas do Soccer Bowl pelos novaiorquinos, em 1980 e 1982 – só na que eles foram derrotados pelo Chicago Sting, em 1981, justamente na temporada em que o holandês menos atuou (ao todo, 11 partidas das 38 da campanha completa, somando fase regular e playoffs).

Ironicamente, as duas temporadas em que Neeskens entraria em campo com mais frequência seriam as duas últimas, 1983 e 1984, quando não só o clube como também a liga já amargavam declínio técnico, financeiro e de público. A derradeira campanha, aliás, marcou a primeira vez em que o Cosmos não conseguiu alcançar os playoffs desde 1975. A trajetória do holandês na equipe terminou em outubro de 1984, quando ele acertou a volta a seu país para defender o Groningen. Mas ele ainda voltaria a atuar no futebol norte-americano.

Em junho de 1985, assinou com o South Florida Sun, da efêmera United Soccer League. E dois meses depois, Neeskens se aventurou pelo futebol indoor atuando pelo Kansas City Comets. No ano seguinte, ele retornaria à Europa para defender clubes pequenos e amadores, até pendurar as chuteiras em 1991, logo ao completar 40 anos.

Rob Rensenbrink

Portland Timbers (1980)

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O jornal The Oregonian anuncia a contratação de Rensenbrink pelo Portland Timbers

Coadjuvante importante em 1974 que, na ausência de Cruyff, se tornou protagonista e destaque da Holanda na Copa de 1978, Rensenbrink fez carreira no futebol belga, onde atuou ao todo por 11 temporadas, defendendo Club Brugge (dois anos) e Anderlecht (nove anos). Mas em 1980 foi mais um nome de peso da Laranja a decidir mudar de ares e cruzar o Atlântico para tentar a sorte na NASL, defendendo o Portland Timbers, franquia que no ano anterior esteve ameaçada de fechar, mas mudou de dono e recebeu novos investimentos.

Mesmo assim, os Timbers fizeram campanha fraca, terminando na lanterna da Divisão Oeste da Conferência Nacional e não avançando aos playoffs. Rensenbrink, que havia estreado no fim de abril, com a competição já em andamento, não ficou até o fim: seu último jogo foi uma vitória de 1 a 0 sobre o San Diego Sockers em 12 de julho. Ao todo foram 18 partidas e seis gols, incluindo os dois no triunfo sobre o Washington Diplomats de Cruyff e Wim Jansen por 2 a 1, em uma de suas últimas atuações com a camisa da equipe de Portland.

Após deixar os Estados Unidos, o atacante ficou inativo pela temporada europeia de 1980/81 até acertar com o Toulouse, clube que defendia quando foi forçado a pendurar as chuteiras por lesão, durante a campanha do acesso à primeira divisão francesa.

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