Kompany revolucionou o Burnley e o acesso à Premier League se consumou com uma campanha arrebatadora | OneFootball

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Trivela

·07 de abril de 2023

Kompany revolucionou o Burnley e o acesso à Premier League se consumou com uma campanha arrebatadora

Imagem do artigo:Kompany revolucionou o Burnley e o acesso à Premier League se consumou com uma campanha arrebatadora

A Championship teve algumas campanhas dominantes nos últimos anos. Apesar disso, o Burnley de 2022/23 consegue se destacar por sua supremacia ainda maior na segunda divisão do Campeonato Inglês. A equipe dirigida por Vincent Kompany doutrina o torneio, com sequências invictas que se estendem por meses e somente duas derrotas – nenhuma delas em Turf Moor. Há algumas semanas que a confirmação do acesso era apenas uma questão de tempo para os Clarets. E o momento de comemorar a promoção chegou nesta sexta-feira, mesmo com mais sete partidas restando para a equipe. O Burnley derrotou o Middlesbrough por 2 a 1 fora de casa e alcançou os 87 pontos. Com uma vantagem de 19 pontos dentro do G-2, não pode mais ser alcançado e se confirmou na Premier League 2023/24.

Não se nega que a última passagem do Burnley pela Premier League deixou suas marcas. O trabalho de Sean Dyche garantiu os Clarets por seis temporadas consecutivas na primeira divisão. O costume foi lutar contra o descenso, mas a equipe também teve bons resultados, com direito a uma fantástica sétima colocação em 2017/18 – que rendeu uma vaga nas preliminares da Liga Europa, apesar da eliminação logo de cara para o Olympiacos. Todavia, era uma equipe de características defensivas e que se valia de um futebol “à moda antiga”, com muitas ligações diretas. Algo que mudou radicalmente nos últimos meses, com um estilo mais propositivo e ofensivo.


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Sean Dyche não resistiu à campanha ruim na Premier League passada, demitido antes do fim do campeonato, e o interino Mike Jackson não evitou o rebaixamento. O descenso provocou também uma debandada entre os principais nomes do elenco dos Clarets – com as saídas de símbolos do período recente, como Nick Pope, Ben Mee e James Tarkowski, além das vendas de jovens como Nathan Collins e Dwight McNeil. Era hora de apostar num novo projeto. E o escolhido para assumir a prancheta em Turf Moor era um velho conhecido da torcida inglesa: Vincent Kompany. De certa maneira, o ex-zagueiro voltava “para casa”. Moraria novamente no noroeste da Inglaterra, onde conheceu a esposa e onde nasceram seus filhos, na vizinha Manchester.

Kompany tinha poucas credenciais como treinador, após duas temporadas completas no futebol belga, e não deixava de ser uma aposta de risco. O trabalho inicial do ex-zagueiro à frente do Anderlecht foi razoável. Não conseguiu levar títulos, mas se manteve entre os primeiros colocados do Campeonato Belga e foi finalista da Copa da Bélgica, em derrota para o Gent na decisão. A escolha dos grenás se dava muito mais pelo histórico do antigo capitão do Manchester City na Inglaterra e por sua mentalidade. Não foi só a reconhecida liderança que se destacava, mas também a ideia de oferecer um futebol mais agressivo, com velocidade e eficiência. Era uma revolução em comparação ao que se via com Sean Dyche.

Outro nome conhecido que participaria do sucesso do Burnley desde o início foi o ex-atacante Craig Bellamy. Companheiro de Kompany nos tempos de Manchester City, o galês trabalhou ao lado do belga no Anderlecht e o acompanhou a Turf Moor. É uma figura importante por sua tarimba na Championship, onde atuou por diferentes clubes, inclusive no fim da carreira com o Cardiff City. Virou mais um trunfo no processo de transformação atravessado pelos Clarets nos meses recentes.

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(Stu Forster/Getty Images/One Football)

Apesar de tantos anos na Premier League, o Burnley não tinha uma situação financeira tão estável para encarar a segunda divisão. Mesmo assim, alguns nomes mais experimentados permaneceram no elenco, com menções principais aos veteranos Jay Rodríguez, Jack Cork, Josh Brownhill e Ashley Barnes. Já no mercado de transferências, os Clarets optaram por negócios mais acessíveis. O investimento foi relativamente baixo, pela quantidade de nomes trazidos. Muitos jogadores acabaram garimpados sem tantos custos, com a possibilidade de estourar na segunda divisão. Foram gastos €24 milhões até o fechamento da janela de agosto, mas sem que ninguém custasse acima de €4 milhões.

Kompany inclusive participou ativamente da montagem do grupo, com diversas viagens à Europa continental para observar talentos e muitas indicações de futebolistas que já conhecia. Dos 16 jogadores que passaram dos mil minutos em campo nesta Championship, nove chegaram para a campanha. Ao todo, oito reforços foram pinçados no Campeonato Belga – incluindo o meia Josh Cullen, que era comandado por Kompany no Anderlecht e logo se transformou numa referência. Outros nomes importantes são Anass Zaroury e Manuel Benson, respectivamente trazidos de Charleroi e Royal Antuérpia, que deram mais qualidade às pontas e garantiram fluidez às ideias do técnico.

O Burnley ainda levou um tempo para engrenar. A equipe só venceu uma partida nas primeiras cinco rodadas, com uma derrota para o Watford no terceiro compromisso. O 15° lugar não era nada animador nesta largada, algo até natural por tantas novas peças. Contudo, no fim de agosto, os 5 a 1 sobre o Wigan marcaram o início da arrancada dos Clarets. A equipe emendou uma sequência invicta de 16 partidas. Chegou a vencer importantes confrontos diretos, em especial contra o Norwich, outro candidato ao acesso. A primeira colocação caiu no colo dos grenás já no meio de outubro. Não sairiam mais da ponta.

O único capaz de derrotar o Burnley desde então foi o Sheffield United, num 5 a 2 em Bramall Lane no começo de novembro. Não à toa, as Blades também devem ficar com o outro acesso direto nesta temporada. E a resposta dos Clarets foi a melhor possível depois disso: o time venceu oito partidas consecutivas, o que catapultou sua vantagem na zona de acesso direto. A partir de então, bastou administrar a folga, e sem que novas derrotas ocorressem. A atual série invicta dos grenás chega a 19 partidas, sendo 15 vitórias. E mesmo com um jogo a menos em relação à concorrência, a confirmação do acesso aconteceu nesta sexta. Ashley Barnes e Connor Roberts marcaram os gols decisivos contra o Middlesbrough.

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(Stu Forster/Getty Images/One Football)

Os números do Burnley impressionam. O time possui um aproveitamento de 80% dos pontos em casa, com 14 vitórias e seis empates em 20 partidas. A média de gols supera os dois por jogo e os tentos sofridos não passam de 0,65 por partida. Já fora de casa, mesmo um pouco abaixo, a equipe de Vincent Kompany ainda alcança um aproveitamento ótimo de 68%. No geral, é o dono da melhor defesa do campeonato e também do melhor ataque. Com 76 gols na campanha da segundona, o time atual já supera em 31 gols a temporada “mais artilheira” dos tempos recentes de primeira divisão. Diante de tantas marcas, não existia outro desfecho além do acesso. É a primeira vez desde a reformulação da Championship, em 2003/04, que um time se confirma na elite mesmo com 21 pontos a disputar.

O futebol ofensivo praticado pelo Burnley faz muitos jogadores se sobressaírem. Emprestado pelo Southampton, Nathan Tella é a principal fonte de gols. Ainda assim, a produção ofensiva se divide bastante. Figuras como Ashley Barnes, Jay Rodríguez, Anass Zaroury e Manuel Benson também renderam bastante no ataque, assim como Connor Roberts e Ian Maatsen auxiliam com escape nas laterais. Jack Cork, Josh Brownhill e Josh Cullen estão entre os pilares no meio.

Já a defesa se valeu dos serviços do goleiro Arijan Muric e do zagueiro Taylor Harwood-Bellis, ambos trazidos do Manchester City, assim como de Jordan Beyer, emprestado pelo Borussia Mönchengladbach. Os negócios junto aos Citizens estiveram entre os primeiros feitos por Kompany, para arraigar suas ideias no estilo de jogo do Burnley. Há até mesmo um brasileiro importante no sucesso: Vitinho, cria do Cruzeiro e trazido do Cercle Brugge, que somou 31 aparições entre jogos nas duas laterais e nas duas pontas. Kompany teve muitas opções no elenco, inclusive com reforços em janeiro, mas também soube dar continuidade aos seus destaques no 4-2-3-1 que consolidou sua forma de jogo.

A festa do acesso em Turf Moor acontecerá na próxima segunda, quando o Burnley encarará o Sheffield United e tentará dar o troco pela derrota no primeiro turno – o que ainda assim não atrapalharia tanto a vantagem de oito pontos das Blades na zona de acesso direto. Mais do que isso, os Clarets podem mirar a história da Championship. Com mais 21 pontos em disputa, os grenás tendem a superar a marca dos 100 pontos, o que não acontece desde o Leicester de 2013/14. Também ainda dá para quebrar o recorde de 106 pontos estabelecido pelo Reading em 2005/06, assim como dá para garantir a campanha totalmente invicta em casa, o que não ocorre desde o Newcastle de 2009/10.

Fica a expectativa sobre aquilo que o Burnley pode produzir na Premier League. Os 6 a 0 recentes do Manchester City na Copa da Inglaterra indicam que ainda há uma distância a superar. Nem sempre o time que nadou de braçada na Championship nos últimos anos se deu bem na elite, pela mudança no padrão de jogo que se pede. Equipes que atuam para frente na segundona nem sempre conseguem repetir o estilo na primeira divisão, com a tendência a uma postura mais reativa, como tanto deu certo com Sean Dyche. Contudo, também há exceções de times que emplacam com mais qualidade, vide o que ocorreu mais recentemente com Fulham ou Brentford. Será um teste ao elenco atual dos Clarets, que precisa receber mais reforços, e principalmente a Kompany. Para quem é cotado como futuro comandante do City, a expectativa na elite começa elevada, depois de tamanho impacto na segunda divisão.

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