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Alexandre Fernandes·20 de novembro de 2021

Jogadores que são símbolos na luta contra o racismo no futebol

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O Dia da Consciência Negra, lembrado neste 20 de novembro, nos faz recordar de quem precisa lidar com o racismo na sociedade e em seu local de trabalho: os campos de futebol no Brasil e pelo mundo.

O racismo no futebol é algo tão grave e recorrente que, segundo os dados do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, ocorreram 63 casos de discriminação e/ou preconceito no esporte mais popular do planeta somente em 2020. Isso significa 83% do total de casos em relação a outros esportes.


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A situação é tão covarde que até crianças negras sofrem com o racismo no futebol. Em 2020, o menino Luiz Eduardo, de apenas 11 anos, saiu de campo chorando após ouvir diversas vezes o treinador do time adversário se referir a ele como “preto”.

“Ele falava assim toda hora: ‘Fecha o preto, fecha o preto, fecha o preto aí’. Eu guardei para falar no final. Ele falou um monte de vezes”, disse Luiz Eduardo, chorando, em vídeo gravado após a partida do Uberlândia Academy.

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O caso mais recente de racismo no futebol aconteceu com Celsinho, do Londrina, que ouviu de Júlio Antônio Petermann, dirigente do Brusque, para “cortar esse cabelo de cachopa de abelha”, pela Série B do Brasileirão. O clube catarinense, inclusive, recuperou no STJD os três pontos perdidos por conta da ofensa racista.

O STJD puniu o Brasil de Pelotas com multa de R$ 30 mil por causa de injúria racial praticada por um torcedor contra o zagueiro Sandro, do próprio Brusque, em partida realizada em 29 de setembro.

Ou seja, este artigo não tem a pretensão de lembrar de todos os casos de racismo no futebol, mas, sim, daqueles que ganharam maior repercussão e dos personagens que sofreram com o preconceito racial.

Se em outros tempos era “normal” ser chamado de “crioulo” (Pelé, inclusive), em 2005, a ofensa racial deu até prisão para o zagueiro argentino Leandro Desábato, do Quilmes, que chamou Grafite, do São Paulo, de “negro de merda”. O então atacante tricolor afirmou, após a partida no Morumbi: “Ele não ia me ofender na minha casa”.

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Foto: Lucas Uebel/Getty Images

Com o passar dos anos, o racismo no futebol ficou mais explícito e ganhou destaque na imprensa. Em 2014, o goleiro Aranha sofreu com xingamentos de torcedores gremistas, em partida válida pela Copa do Brasil.

“A outra vez que viemos aqui jogar a Copa do Brasil tinha campanha contra racismo, não é à toa. Xingar, pegar no pé é normal. Agora me chamaram de ‘preto fedido, seu preto, cambada de preto’. Estava me segurando. Quando começou o corinho com sons de macaco eu até pedi para o câmera filmar, eu fiquei p… .Quem joga aqui sabe, sempre tem racista no meio deles. Está dado o recado, agora é ficar esperto para a próxima”, desabafou Aranha à ESPN Brasil.

O Grêmio foi punido pelo STJD com a exclusão da Copa do Brasil. No mesmo ano, porém na Espanha, Daniel Alves viu uma banana ser arremessada por um torcedor em sua direção durante uma partida do Barcelona contra o Villarreal. Como resposta, o lateral brasileiro comeu a banana.

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Foto: Manuel Queimadelos Alonso/Getty Images

Ainda em 2014, o meia Tinga sofreu com as ofensas raciais na Libertadores. Na estreia do Cruzeiro no torneio, o brasileiro ouviu sons de macaco vindo dos torcedores do Real Garcilaso, do Peru.

“Eu queria, se pudesse, não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito. Trocava todos os meus títulos pela igualdade em todas as áreas”, disse Tinga, após a partida.

Hoje no Inter, Taison passou por situação igualmente lamentável quando jogava pelo Shakhtar Donetsk. No clássico ucraniano contra o Dínamo Kiev, o brasileiro ouviu sons de macaco quando tocava na bola. Como resposta, o atacante mostrou o dedo do meio aos torcedores rivais e acabou expulso.

“Amo minha raça, luto pela cor, o que quer que eu faça é por nós, por amor. Jamais irei me calar diante de um ato tão desumano e desprezível. Minhas lágrimas foram de indignação, de repúdio e de impotência. Impotência por não poder fazer nada naquele momento. Mas somos ensinados desde muito cedo a sermos fortes e a lutar. Lutar pelos nossos direitos e por igualdade. O meu papel é lutar, bater no peito, erguer a cabeça e seguir lutando sempre! Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas”, disse Taison, em mensagem postada nas redes sociais.

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Foto: Wolfgang Rattay/Pool via Getty Images

Até mesmo Neymar – maior nome do futebol brasileiro na última década – sofreu com o crime de racismo. Ano passado, o craque do PSG quase saiu no tapa com o espanhol Álvarez Gonzalez, do Olympique de Marselha, pela Ligue 1.

“Único arrependimento que tenho é por não ter dado na cara desse babaca.VAR pegar a minha ‘agressão’ é mole … agora eu quero ver pegar a imagem do racista me chamando de ‘MONO HIJO DE PUTA’ (macaco filha da puta)… isso eu quero ver! E aí? CARRETILHA vc me pune.. CASCUDO sou expulso… e eles? E aí?”, escreveu Neymar em suas redes sociais.

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Foto: Imago/IP3press

Infelizmente, o racismo não acontece somente contra brasileiros. Diversos jogadores de outras nacionalidades sofrem com as injúrias raciais. Marega, atacante malinês, ouviu e viu gestos de macaco vindo das arquibancadas quando o Porto enfrentou o Vitória de Guimarães, em 2020.

“Foi uma grande humilhação para mim. Nunca julguei que algo deste gênero pudesse acontecer. Joguei no Vitória de Guimarães e sempre respeitei os torcedores e o clube. Tenho uma grande relação com eles. É uma cidade que me deu muito e um clube que me deu muito (…) Eu gostaria que o jogo tivesse sido interrompido. Gostaria que o árbitro tivesse outra atitude”, disse Marega ao Diário de Notícias, de Portugal.

Outros “gringos” que não se calaram diante das ofensas racistas foram o belga Lukaku, o inglês Sterling e o italiano Mario Balotelli, que tiveram diferentes atitudes quando se viram diante do racismo no futebol.

“Os clubes devem se sentir responsáveis pelo que acontece, porque certos episódios ocorrem dentro de um espaço fechado ou de um estádio. E quando digo ‘responsável’, não quero dizer ‘culpado’. As pessoas devem dizer: ‘Somos responsáveis. O que podemos fazer?’. Se você admitir ser responsável, é um bom começo, porque não acontece novamente. Se, em vez disso, ninguém se sente responsável… nada muda”, disse o ex-jogador francês Lilian Thuram.

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Foto de destaque: Clive Rose/Getty Images