Jogadores do Gimnasia protestam após tragédia: “Não foram incidentes, foi repressão. Não morreu, ele foi morto” | OneFootball

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Trivela

·07 de outubro de 2022

Jogadores do Gimnasia protestam após tragédia: “Não foram incidentes, foi repressão. Não morreu, ele foi morto”

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A tragédia ocorrida no Gimnasia de La Plata x Boca Juniors, que deixou uma vítima fatal e dezenas de feridos, demanda uma investigação séria das autoridades argentinas. Há vários indícios de abuso da força policial na ocasião, assim como problemas de organização. E os jogadores do Lobo não quiseram ficar calados. Em suas redes sociais, diferentes atletas fizeram duras acusações contra a repressão policial ocorrida nos arredores do Estádio del Bosque.

O goleiro Rodrigo Rey postou a definição de polícia da Wikipedia, sublinhando o trecho que diz que o papel é a “segurança dos cidadãos”. Então se posicionou: “Até a Wikipedia entende melhor o conceito de polícia que a própria polícia. O futebol está manchado”. Rey complementou: “Assustam as crianças, desmontam famílias, rompem todos os valores do esporte. E quem vai ser o responsável? Tudo vai acabar em nada, mais uma vez. Porque amanhã a bola volta a rolar e em dois dias tudo será assunto esquecido. Até quando? Até onde temos que chegar?”.


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Outros companheiros de time foram igualmente contundentes, sem se silenciar. “Não foram incidentes, foi repressão. Não morreu, ele foi morto. Força família tripera. Sempre fortes, sempre unidos”, escreveu o lateral esquerdo Matías Melluso. A mesma mensagem seria postada pelo meio-campista Agustín Cardozo.

Tanto jogadores do Gimnasia quanto do Boca Juniors tentaram auxiliar os torcedores que se sentiam mal com o gás lacrimogêneo que invadia as arquibancadas. Rodrigo Rey estava entre os mais engajados. Viralizou a imagem do veterano Marcos Rojo, atualmente no Boca, que lançou garrafas de água para as arquibancadas, na tentativa de diminuir os efeitos do gás.

O zagueiro Leonardo Morales relatou a situação: “De repente, começou a vir o gás, as pessoas começaram a correr e não entendíamos nada. Até que a fumaça chegou e foi um desespero total. Tenho um bebê de dois anos e seis meses e ele não conseguia respirar. Quando eu o levei aos vestiários, me quebrei. Porque vê-lo tão mal me doeu, e imagino o que as outras pessoas sentiram”.

Já o atacante Franco Soldano contou: “Levei 45 minutos para encontrar a minha família. Foram os 45 minutos mais longos da minha vida. Quando eu os procurava, via o desespero das pessoas, que estavam passando realmente muito mal. Subi às arquibancadas, depois saí ao campo, até que eu os encontrei. Foi um alívio enorme”.

Uma heroína da noite foi Ivana Rodríguez, locutora do Estádio del Bosque. Ela ajudou crianças perdidas a acharem suas famílias: “Em meus 30 anos rodando o país e os países vizinhos vendo o Gimnasia, jamais vivi uma coisa igual. Estive até meia-noite cuidando e buscando as famílias de menores perdidos. Não consigo sair do choque. Não há antecedentes, estou processando tudo e tomo dimensão do que se passou. Nós nos sentimos inseguros em nossa própria casa”. Segundo Rodríguez, seu filho de quatro anos chegou desmaiado na cabine e, ao acordar, perguntou se “iam morrer”. A locutora disse também que a polícia orientou a dizer que os portões do estádio estavam abertos, mas viu depois que haviam fechado – no que poderia ter causado um desastre ainda maior por esmagamento e pisoteamento.

Cabe ponderar que as críticas não recaem apenas contra a polícia. O Gimnasia também é acusado de vender mais ingressos que os lugares disponíveis. Nesse sentido, uma torcedora confrontou face a face Gabriel Pellegrino, presidente do Lobo. A sócia acusou o cartola de se omitir e de superlotar o Estádio del Bosque.

“Em que parte do campo você estava? Pergunto como sócia: onde? No camarote você não tem que estar! Você tinha que estar aqui embaixo, pedindo para que não nos fodam com gases lacrimogêneos e nem com tiros. Você queria vender ingressos! A quem você queria vender ingressos, para quê? Não se podia vender nenhuma entrada. Você não tem vergonha, Gabriel. Você precisa antecipar as eleições e sair. Porque você não está à altura das circunstâncias”, vociferou diante de Pellegrino, que se esquivava, protegido por seguranças.

O ministro de Segurança da província de Buenos Aires, Sergio Berni, também fez críticas à atuação da polícia. Porém, apontou que o Gimnasia também falhou na questão dos ingressos. Segundo ele, havia “20 ingressos de cortesia” para cada um que a Federação Argentina de Futebol vendia. “O controle das entradas não é feito pela polícia, mas pelo clube (Gimnasia), que fez vista grossa”, disse. Acrescentou que os torcedores que foram barrados “se inflamaram e quiseram entrar”. O ministro também tentou colocar a culpa nas barras, embora os relatos de jornalistas presentes no estádio indiquem que a repressão ocorreu sem conflitos, por causa da força extremamente excessiva. A barra do Boca não foi ao jogo e a do Gimnasia já estava dentro do estádio.

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