“Intruso” no futebol espanhol, o Andorra (do dono Piqué) conquista o inédito acesso à segundona | OneFootball

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Trivela

·24 de maio de 2022

“Intruso” no futebol espanhol, o Andorra (do dono Piqué) conquista o inédito acesso à segundona

Imagem do artigo:“Intruso” no futebol espanhol, o Andorra (do dono Piqué) conquista o inédito acesso à segundona

A partir da próxima temporada, a segunda divisão do Campeonato Espanhol terá um clube de fora do país. O FC Andorra, como o próprio nome diz, está sediado no território vizinho e integra as estruturas da federação espanhola desde a fundação do clube, em 1942. Ao longo dessas oito décadas, os andorranos não fizeram muita coisa na Liga e nunca tinham passado da terceira divisão – longe de ser um “Monaco da Espanha”. No entanto, comprados por Gerard Piqué em 2018, os tricolores ganharam novos investimentos e aumentaram sua força política nos bastidores – independentemente do conflito de interesses que gira ao redor do zagueiro. Desde então, saltaram três divisões e poderão fazer sua estreia na segundona em 2022/23. O acesso desta temporada foi comemorado no final de semana, com a conquista de seu grupo regional na terceira divisão. Piqué estava nas arquibancadas para celebrar.


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O Andorra é o clube mais antigo do futebol andorrano. Estudantes locais fundaram a agremiação em 1942, cinco décadas antes do surgimento do Campeonato Andorrano e também da federação local. Assim, o único caminho competitivo para os tricolores era se filiar à federação catalã e participar das divisões de acesso do Campeonato Espanhol – como fazem os galeses do Campeonato Inglês, por exemplo. Apesar da brecha, o Andorra nunca teve muita relevância em La Liga. Permaneceu nas divisões regionais até os anos 1970. Já a partir de 1980, a equipe teria uma passagem longa pela terceirona que durou 17 anos de maneira praticamente ininterrupta. No máximo, seria vice-campeão de seu grupo regional em 1988/89 e ficou a cinco pontos do acesso.

Durante a década de 1990, ainda na terceira divisão, o Andorra viveria seus maiores feitos no século. O clube conquistou a Copa da Catalunha em 1994 e chegaria aos 16-avos de final da Copa do Rei em 1995/96. Todavia, o declínio começou com o rebaixamento na terceirona em 1997/98. Os tricolores emendariam outros três descensos em curto intervalo e foram parar na sétima divisão em 2004/05. À beira da quebra, a agremiação foi salva por um grupo de empresários locais e, a partir da última década, variou entre a quinta e a sexta divisão. Isso até a chegada de Piqué em 2018.

Piqué adquiriu 90% das ações do FC Andorra, através de sua empresa, a Kosmos Sports. O jogador do Barcelona prometia um projeto grandioso, para colocar o Andorra não só na primeira divisão de La Liga. “As pessoas que me conhecem sabem que sou ambicioso e sou dos que dizem que o hino da Champions precisa tocar em Andorra. Mas, para chegar a este objetivo, que hoje parece uma utopia, é necessário ir passo a passo”, diria Piqué. Entre as promessas estava o investimento no futebol de base andorrano e a construção de um novo estádio. “Este clube representa a esperança de todo um país. Nosso compromisso é criar um projeto de país e que a cada fim de semana Andorra acompanhe os resultados de sua equipe”, complementaria.

Um dos primeiros passos de Piqué foi conseguir novos apoiadores, com o patrocínio de um banco local. Foi suficiente para que o Andorra conquistasse o acesso na quinta divisão de imediato, em 2018/19. Então, veio a influência política: em vez de jogar a quarta divisão, os tricolores saltaram diretamente à terceirona em 2019/20. O Reus sofreu um rebaixamento por questões administrativas e a vaga passou a ser ocupada pelo Andorra. A federação espanhola exigia o cumprimento de alguns quesitos financeiros, assim como a filiação à associação local da Catalunha. Andorra e L’Hospitalet cumpriam tais requisitos, mas apenas os andorranos se predispuseram a pagar  €450 mil em dívidas deixadas pelo Reus. A relação estreita entre Piqué e Luis Rubiales, presidente da federação, também influenciou os trâmites. O “atalho”, obviamente, gerou críticas na época.

O Andorra levou um tempo para se estabelecer na terceira divisão. Foi o nono de seu grupo regional em 2019/20, o que pelo menos valeu o retorno à Copa do Rei depois de 24 anos, e depois ficou em terceiro na campanha de 2020/21, que marcou a reformulação das divisões de acesso. Apesar dos pedidos de Piqué para Rubiales, os tricolores não deixaram de integrar o grupo regional dos catalães na terceirona após essa transformação do campeonato. E mesmo assim conseguiram subir em 2021/22, tendo a concorrência de equipes como o Barcelona B, o Real Madrid Castilla, o Albacete e o Alcoyano.

Na temporada regular da terceira divisão do Campeonato Espanhol, apenas o campeão de cada um dos dois grupos regionais subiam. O Racing de Santander tinha conseguido isso no Grupo 1. Agora, o Andorra prevaleceu no Grupo 2 e foi promovido com uma rodada de antecedência, ao abrir quatro pontos de vantagem sobre Villarreal B e Albacete. O time conquistou 21 vitórias em 37 compromissos. Terá a chance também de levar o título da terceirona, em final contra o Racing marcada para 3 de junho.

O atual treinador do Andorra chegou a trabalhar com Piqué no Barcelona: é Eder Sarabia, antigo assistente de Quique Setién nos blaugranas. Ex-jogador do Barça, Gabri também passou pela casamata de 2018 a 2020. Já o elenco atual inclui o zagueiro Roger Riera, formado em La Masía e que defendeu o Barça B na temporada passada. Ele divide a zaga com Adrià Vilanova, filho de TIto Vilanova. Entre os veteranos também está Marc Pedraza, que fez parte da famosa geração de 1987 barcelonista, embora tenha se profissionalizado no Espanyol, e Martí Riverola, que chegou a jogar 11 minutos na Champions de 2011/12 pelo Barcelona. Nem todos os destaques, porém, tem passado blaugrana. O artilheiro da equipe foi o ponta Marc Fernández, formado no Zaragoza. Outro a fazer diferença foi o veterano centroavante Carlos Martínez, vindo do Hércules.

Fato é que a relação de Piqué com o clube vai ser um diferencial para o Andorra. É um personagem que pode aproximar jogadores e também abrir portas nos corredores da federação, dado o seu trânsito nesse aspecto, como organizador de competições. Por seu projeto, os tricolores querem ser mais lembrados pelo fato de representarem um país distinto e terem também um caráter especial ao seu redor por esse contexto. Mas não é a nação de 80 mil habitantes que vai necessariamente garantir todas as condições para o Andorra saltar à Champions. Não à toa, a agremiação não tinha passado da terceirona até a chegada de seu famoso proprietário.

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