
Central do Timão
·22 de abril de 2025
Ingressos esgotados, Fazendinha vazia: o que explica situação vivida nos jogos do Corinthians Feminino?

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·22 de abril de 2025
No último sábado, 19, o Corinthians Feminino se recuperou da sequência de três jogos sem vitória, goleando o Instituto 3B por 8 x 0 pelo Campeonato Brasileiro. E na partida, disputada no Parque São Jorge, voltou a se repetir uma situação que já se tornou tradicional em partidas da modalidade: públicos presentes baixos, mesmo com ingressos esgotados na plataforma Fiel Torcedor.
Ao todo, 6.503 ingressos foram vendidos para a partida, gerando renda bruta de R$ 132.929,50. No entanto, apenas 531 corinthianos (8,2% do total de pagantes) estiveram no local para apoiar as Brabas. Em maior ou menor intensidade, esse comportamento vem se repetindo nos jogos sediados na Fazendinha, pelo menos, desde 2022, conforme levantamento da Central do Timão.
Foto: Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians
Nos últimos quatro anos, o Corinthians mandou 34 jogos no Parque São Jorge, sendo que em 25 destas há dados de público pagante e presente, além de renda bruta*. Ao todo, o clube vendeu exatos 105.004 ingressos para estes 25 jogos, mas apenas 27.751 torcedores compareceram aos jogos (26,4% do total).
Cenário piorou recentemente
A situação era menos flagrante inicialmente. Dentro do recorte de jogos pesquisados, há seis jogos disputados em 2022, nos quais o time vendeu 14.228 ingressos, mas contou com 4.948 torcedores (34,8% do total). No ano seguinte, foram dez jogos pesquisados, nos quais 39.668 tickets foram comercializados e 15.426 corinthianos se fizeram presentes (38,9% do total).
No entanto, a partir de 2024, o índice de presença da torcida despencou, ao mesmo tempo em que a quantidade de ingressos vendidos por jogo aumentou. No ano passado, foram seis jogos novamente, com 30.349 ingressos vendidos e apenas 4.906 torcedores presentes (16,2% do total).
Já este ano, em três jogos na Fazendinha, o time já comercializou 20.759 tickets, mas apenas 2.471 corinthianos compareceram ao estádio (11,9% do total). Ainda há o agravante de a enorme maioria destes torcedores presentes se concentrarem em um destes jogos, o Derby contra o Palmeiras, assistido por 1.657 torcedores, ou 2/3 do total.
Motivações diversas
Os motivos para a baixa frequência de público nos jogos do Corinthians Feminino na Fazendinha são diversos, e passam, inclusive, pelo calendário do futebol brasileiro. FPF e CBF, muitas vezes em acordos com as detentoras dos direitos de transmissão dos torneios, agendam partidas da modalidade para horários pouco acessíveis para a maioria da população, especialmente em uma metrópole como São Paulo.
A estreia das Brabas no Brasileirão, por exemplo, contra o Juventude, foi marcada pela CBF para 27 de março, uma quinta-feira, às 16h – horário comercial. Já o segundo jogo em casa, contra o Palmeiras, aconteceu no último dia 12, uma segunda-feira, às 11h. Mesmo o terceiro jogo como mandante, contra o Instituto 3B, no último dia 19, um sábado, foi marcado para 21h, forçando os torcedores a voltarem para casa após as 23h.
No entanto, mesmo com as dificuldades impostas pela logística do calendário, existe demanda por parte de um público bastante fiel não apenas ao futebol feminino, mas especialmente ao Corinthians Feminino. E é aí que entra a segunda dificuldade, que tem sido cada vez maior: a compra de ingressos por torcedores que desejam apenas pontuar no programa Fiel Torcedor, sem interesse real em comparecer aos jogos.
Devido à capacidade reduzida da Fazendinha (não chega a oito mil lugares), tem sido normal a carga oferecida na plataforma esgotar minutos após as vendas se iniciarem. Isso ocorre pois muitos torcedores enxergam no feminino a chance de pontuar no FT, visando atingir faixas maiores de prioridade na compra de ingressos para o masculino, sem gastar muito – os tickets para jogos das Brabas são comercializados entre R$ 18 e R$ 28.
Uma parte destes torcedores, visando recuperar o valor gasto, repassam os ingressos comprados a entusiastas da modalidade, que não conseguiram comprar sua entrada por não haver mais ingressos na plataforma oficial. No entanto, conforme os números do levantamento mostram, a maioria dos corinthianos tem preferido “morrer” com os ingressos nas mãos, não repassando a ninguém e deixando o Parque São Jorge esvaziado durante os jogos do futebol feminino.
Torcida teoriza soluções
A situação descrita acima provoca muitas reações indignadas de corinthianos nas redes sociais, que tem sido impedidos de acompanhar as Brabas no estádio por simplesmente não conseguirem comprar ingressos, seja pelo Fiel Torcedor, seja por meio de repasse informal fora da plataforma.
Em meio à revolta, são levantadas possíveis soluções para o problema. Uma delas seria instituir no sistema do Fiel Torcedor um mecanismo de transferência do ingresso, do CPF do comprador original para o CPF de outro torcedor. Segundo os defensores dessa medida, isso traria segurança ao negócio e incentivaria que mais repasses fossem feitos pelos torcedores que só compram o ingresso para aumentar seu score.
Outra medida especulada é a de validar o ponto no FT apenas para os torcedores que comparecessem efetivamente aos jogos, a partir de seu check-in no estádio – o que incentivaria que apenas interessados reais comprassem as entradas. Aliada a esta, alguns sugerem que os jogos do feminino valessem pontos em dobro, um incentivo à presença que já ocorre, por exemplo, nas partidas do Cruzeiro Feminino.
Por fim, outros também defendem que os jogos do feminino se desvinculem do Fiel Torcedor, passando a integrar um programa próprio de sócio-torcedor, com regras próprias de pontuação. Os apoiadores dessa medida apontam o programa Nação Guerreira, da Ferroviária, como uma possível inspiração para o Corinthians.
Corinthians avalia cenário
A Central do Timão procurou o Corinthians para saber como o clube avalia a situação envolvendo os jogos do time feminino na Fazendinha, com ingressos esgotados mas baixa frequência. Em resposta, a assessoria informou que trata-se de uma questão que depende de definições internas antes de qualquer medida ser tomada, mas o clube está avaliando a situação, sem ainda ter definida alguma nova política a respeito.
* Nota da redação: dos nove jogos ausentes no levantamento, quatro não tem boletins financeiros publicados nos sites da FPF e CBF; e para todos eles, não foi encontrada a informação sobre público presente, que é informado apenas pelo sistema de som do Parque São Jorge durante as partidas
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