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·18 de dezembro de 2021

Ignazio Abate, mesmo contestado, teve longa trajetória com a camisa do Milan

Imagem do artigo:Ignazio Abate, mesmo contestado, teve longa trajetória com a camisa do Milan

Jogadores que tenham a carreira entrelaçada a somente um clube são raros hoje em dia – afinal, falamos da era das transações milionárias e das manobras contábeis para adequação das contas às exigências do Fair Play Financeiro, no caso dos times europeus. Ignazio Abate contrariou um pouco essa lógica: embora tenha representado seis equipes, o lateral-direito italiano se formou no Milan e, depois de rodar por seu país em empréstimos, voltou ao rossonero para defendê-lo em 10 temporadas seguidas.

Ignazio nasceu em 1986, na comuna de Sant’Agata de’ Goti, localizada na província de Benevento, “coração” da região da Campânia. A influência do futebol em sua vida vem de berço: ele é filho do ex-goleiro Beniamino Abate, que jogou por diversos clubes do país e obteve maior notoriedade por Udinese e Inter.


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Antes de chegar às categorias de base do Milan, Abate iniciou sua trajetória no futebol na divisão infantil do modesto Rescaldina, um clube amador da região da Lombardia. Ignazio chegou ao time antes de completar 11 anos e ficou lá até 1999, quando, com quase 13, migrou para as categorias de base do Diavolo. Escreveria, assim, a primeira página de uma longa história com os rossoneri.

Sua estreia na equipe profissional foi bem precoce. Com 17 anos recém-completados, Abate entrou, no minuto 69, em partida das oitavas de final da Coppa Italia de 2003-04 – vitória por 1 a 0 diante da Sampdoria. A primeira impressão foi boa e ele logo fez sua estreia em território europeu. Pela fase de grupos da Liga dos Campeões da mesma temporada, ele atuou contra o Celta de Vigo e se tornou o jogador mais jovem do Milan, com 17 anos e 27 dias, a disputar uma peleja de Champions League. Em 2011, a marca foi batida por Bryan Cristante.

Contudo, a partir desse momento, o livro da carreira de Abate foi preenchido com alguns capítulos de sucessivos empréstimos por diversos clubes italianos. O objetivo dos dirigentes do Milan era proporcionar que o jovem pudesse ganhar experiência e estivesse preparado para assumir a titularidade dos rossoneri quando estivesse maduro. Ao todo, foram cinco anos de viagens pela Bota, começando em Nápoles.

Na temporada 2004-05, Abate foi emprestado ao Napoli para a disputa da Serie C1. Era a primeira campanha dos napolitanos após decretarem falência e terem sido refundados por Aurelio De Laurentiis. O jovem fez parte de uma montagem rápida do elenco, visando um acesso que não aconteceu. Apesar da presença maciça da torcida com jogos com mais de 51 mil torcedores, o time partenopeo perdeu para o Avellino nos playoffs de promoção e acabou amargando mais uma época no limbo.

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Abate surgiu como ponta e rodou a Itália por alguns clubes, como o Torino, antes de se fixar no Milan (New Press/Getty)

Com apenas 17 anos, Abate não atuava ainda como lateral-direito. Em sua formação, Ignazio se desenvolveu em posição mais avançada, seja no meio ou no ataque, mas quase sempre pelo flanco destro – às vezes, um pouco mais centralizado, era escalado como segundo atacante. Dessa forma, o campano disputou 33 jogos e marcou dois gols pelos azzurri.

De volta do empréstimo, no verão de 2005, houve um acordo para que o lateral vestisse a camisa da Sampdoria e, assim, fizesse a sua estreia na Serie A. Na altura, Abate foi o terceiro nome rossonero que desembarcou no Luigi Ferraris. Junto dele, chegaram o atacante Marco Borriello e o meia Samuele Dalla Bona. Entretanto, antes mesmo de estrear pela Samp, o jovem foi chamado de volta à Milão para que fosse emprestado para o Piacenza.

Pelos lobos, Abate disputou 13 jogos na sua primeira temporada na Serie B, mas amargou um 12º lugar no campeonato. Já na campanha seguinte, 2006-07, trocou as cores no segundo escalão e foi para o Modena. Com a camisa dos canários, teve mais rodagem, ao disputar 41 partidas, mas não conseguir ajudar muito o time, que ficou apenas na 16ª colocação.

Depois de atuar com regularidade no Modena, Abate migrou para o Empoli, em um acordo de copropriedade entre os azzurri e o Milan. Esse método de transferência era usual na Itália e deixava o jogador vinculado a dois clubes, embora apenas um tivesse o direito de utilizá-lo por um ano. Ao fim da temporada, o acordo poderia ter três destinos: ser renovado, definido em favor de uma das agremiações ou, em caso de disputa entre elas, ir a leilão, com oferta às cegas.

No Empoli, ele finalmente fez a sua estreia na Serie A, numa derrota para a Inter. Já utilizado mais frequentemente como lateral-direito, Abate, de 21 anos, não chegou a ganhar o posto de titular sob as ordens de Luigi Cagni e Alberto Malesani, mas deu sua contribuição aos azzurri. Como ao marcar o seu primeiro gol na elite italiana. Não foi qualquer tento, mas sim o que deu a vitória por 1 a 0 diante do Genoa, no Luigi Ferraris, pela 35ª rodada do certame de 2007-08, e manteve o time firme na briga contra o descenso. No fim das contas, o seu feito seria inútil, pois os toscanos terminaram o campeonato rebaixados.

Ao fim da temporada, no verão de 2008, Abate foi um dos nomes do título da Itália no Torneio de Toulon. Comandado por Pierluigi Casiraghi, e ao lado de nomes como Sebastian Giovinco e Pablo Daniel Osvaldo, Ignazio disputou quatro partidas e marcou um gol na campanha dos azzurrini, sendo uma das referências técnicas do título italiano. Com o destaque na base da seleção e no clube, o lateral-direito teve os direitos readquiridos pelo Milan e foi empestado ao Torino, que, assim como o Empoli, brigava para permanecer na Serie A.

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Pouco depois de se tornar titular do Milan, time que o formou, Abate levantou um scudetto (Getty)

Em Turim, Ignazio fez 27 partidas, 22 delas como titular, alternando sempre entre lateral e meia pela direita. O jovem marcou um gol, em empate contra a Lazio, e forneceu três assistências. Porém, o destino foi o mesmo de 2007-08: um rebaixamento. Apesar de duas quedas em sequência, Abate somava boas exibições, que o levaram a integrar o plantel da Itália que esteve em Pequim, para a disputa dos Jogos Olímpicos de 2008, e também atuar na fase final do Europeu Sub-21, em 2009. No torneio continental, os azzurrini ficaram com o terceiro posto.

Por isso, depois da epopeia pela Itália, Abate finalmente teve a tão aguardada chance no Diavolo. Considerado uma promessa do futebol nacional, o jovem foi repatriado pelo Milan em 2009-10, que seria a primeira de uma incrível sequência de dez temporadas seguidas – ainda que, em parte desse período, ele tenha sido contestado pela torcida.

Apesar de ter evoluído em eu périplo pela Velha Bota, Abate sofreu no início. O então treinador Leonardo o escalou definitivamente como lateral-direito numa linha de quatro defensores: as atribuições de retaguarda no ofensivo time comandado pelo brasileiro demandavam tempo de maturação para a compreensão do seu papel em campo. Aliás, essa primeira temporada serviu de adaptação para ele e para o clube, que concluiu a campanha na terceira posição da Serie A e amargurou eliminações precoces nas oitavas da Coppa Italia e da Champions League.

Na temporada seguinte, Massimiliano Allegri assumiu o comando do Milan e manteve o status de Abate como titular. Com um trabalho diário com o auxiliar Mauro Tassotti, Ignazio passou a ser um dos pilares defensivos, transmitindo a sua liderança aos companheiros – uma características que o acompanhou ao longo da carreira. Além de Tassotti ter contribuído taticamente, a mudança foi mental: afinal, o assistente integrou uma das maiores linhas defensivas do clube e da história do futebol, ao lado de Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini.

Abate começou a ler o jogo de forma mais inteligente e avançar ao ataque de forma mais calculada. Ele entendeu a melhor forma de cobrir eventuais erros ou espaços do zagueiro que atuava ao seu lado, ou seja, uma das principais atribuições defensivas de um lateral. Já ofensivamente, mesmo não sendo um primor técnico, suas características, como o passe e a velocidade, começaram a se destacar. Chegar à linha de fundo para cruzar não era o seu forte, embora tenha nascido como ponta.

A temporada 2010-11, a de estreia de Allegri, culminou na superação da hegemonia da Inter, sua rival, e na conquista do 18º scudetto milanista. O trabalho defensivo, para o qual Abate foi fundamental, deu aos rossoneri a melhor defesa da competição, com apenas 24 gols sofridos nas 38 partidas – ou seja, uma média de 0,6 tento por jogo. A campanha foi quase perfeita no aspecto nacional, já que o Milan perdeu a semifinal da Coppa Italia para o Palermo.

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Mesmo com limitações técnicas, o loiro se tornou titular do Milan e encarou os mais temidos adversários (Getty)

A época seguinte começou da melhor forma possível: um título da Supercopa Italiana em cima da Inter, em Pequim. Após a conquista do segundo troféu pelo Milan, Ignazio já estava adaptado à função mais defensiva e levou Adriano Galliani, CEO do clube, a bancar a sua continuidade entre os titulares. O diretor elogiou a aposta do Diavolo em dar rodagem ao atleta e destacou a sua evolução ao longo da temporada. “Não compraremos um novo lateral-direito. Abate continuará nessa função na próxima campanha”, disse o cartola, na época.

Nos anos seguintes, o Milan se veria imerso em uma montanha-russa de sentimentos. Com os problemas financeiros que passaram a acometer o clube, o desempenho caiu bastante: o trabalho de Allegri perdurou até 2013 e, depois, ídolos e técnicos promissores foram sendo fritados. Clarence Seedorf, Filippo Inzaghi, Sinisa Mihajlovic e Cristian Brocchi entregaram resultados negativos, muito inferiores àqueles com os quais a torcida do gigante estava acostumada. O momento mais baixo foi a 10ª colocação de 2014-15, sob o comando de Pippo.

Consolidado, o já experiente Abate chegou a utilizar a faixa de capitão da equipe algumas vezes, na ausência de Massimo Ambrosini e/ou Riccardo Montolivo. Era um grande reconhecimento para quem dedicou a vida ao clube, mas também um para-raio de críticas, já que o time vivia um dos piores momentos de sua história e Ignazio, com sua limitação técnica, acabava sendo visto como um retrato nu e cru desse período.

Apesar disso, o loirinho tinha seu espaço até na seleção italiana: entre 2011 e 2015, a representou em 22 oportunidades, com um gol marcado em amistoso com a Alemanha, em San Siro. Pela Squadra Azzurra, Abate foi vice-campeão da Eurocopa de 2012, terceiro colocado na Copa das Confederações de 2013 e também esteve no plantel da frustrante campanha da Nazionale na Copa do Mundo do Brasil.

O Milan começou a ter uma leve melhora a partir de 2016, quando foi finalista da Coppa Italia e, devido à dobradinha nacional da Juventus, teve o direito de disputar a Supercopa. Desta vez, a final foi em Doha, no Catar, e os milanistas levaram a melhor nos pênaltis. O Diavolo, que disputou a Europa League nos dois anos seguintes, após ausência de torneios continentais, ainda foi vice da copa e da Supercopa italianas no biênio posterior.

Na sequência da carreira, em março de 2017, Abate sofreu uma grave lesão no olho esquerdo, após ter recebido uma bolada no rosto em uma partida contra o Sassuolo, pela Serie A, e e teve que ficar afastado dos gramados até o fim da temporada. O lateral era uma figura de liderança dentro do elenco, mas, havia alguns anos, não era figurinha garantida no time titular.

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Com moral dentro do clube, Abate chegou a ser capitão do Milan em algumas ocasiões (Getty)

Já como opção de banco do Diavolo, Abate se reinventou mais uma vez com a camisa rossonera na temporada de 2018-19. Naquela campanha, o ex-ponta chegou a atuar como zagueiro, depois de uma sequência de lesões dos jogadores da posição. Gennaro Gattuso, seu antigo companheiro de elenco e então treinador do time, elogiou suas atuações e o seu comprometimento.

Em 2019, Ignazio encerrou a sua décima e última temporada em Milão. A despedida do San Siro não poderia ter outro resultado que não fosse a vitória. Com gols de Krzysztof Piatek e Suso, o Milan venceu o Frosinone por 2 a 0, e Abate deu adeus à sua casa com um sorriso no rosto. No decorrer do jogo, as homenagens vinham de todos os lados. Os ultras do Curva Sud, por exemplo, levaram uma faixa com a mensagem: “Dez anos de compromisso e humildade. Você conquistou o respeito dos ultras. Obrigado, Ignazio”.

A sua derradeira partida pelo clube acabou sendo também a última de sua carreira. No estádio Paolo Mazza, em Ferrara, o Milan obteve uma vitória por 3 a 2 sobre a Spal, e Abate foi substituído aos 63 minutos, recebendo os aplausos dos presentes. Com o triunfo, o Diavolo garantiu a quinta colocação, mas foi punido por violação das regras do Fair Play Financeiro da Uefa e fez um acordo com a entidade: em troca de amortização do gancho, não participaria da Liga Europa.

Abate totalizou 306 jogos oficiais com a camisa rossonera e, perto de completar 33 anos, ficou sem clube. No entanto, o lateral-direito só anunciou a sua aposentadoria do futebol em novembro de 2020, dias após completar 34 primaveras. Ignazio iniciou a sua formação como treinador e, em julho seguinte, foi escolhido como novo técnico do time sub-16 do Milan.

Como jogador, Abate se destacou pela sua versatilidade e entrega dentro de campo. Um verdadeiro operário da bola, que estava sempre à disposição para ajudar a equipe no que fosse preciso: verdadeiro “pau para toda obra”, que compensava as limitações técnicas com a sua dedicação. No Milan, encontrou o ápice na conquista do scudetto e viveu a “banter era”, período em que um elenco contestado sucumbia ao ostracismo, no meio da tabela da Serie A. Apesar de tudo, foi um dos líderes do time em um dos momentos que os rossoneri não brilharam tanto.

Ignazio Abate Nascimento: 12 de novembro de 1986, em Sant’Agata de’ Goti, Itália Posição: lateral-direito Clubes: Milan (2003-04 e 2009-19), Napoli (2004-05), Sampdoria (2005), Piacenza (2005-06), Modena (2006-07), Empoli (2007-08) e Torino (2008-09) Títulos: Torneio de Toulon (2008), Serie A (2011) e Supercopa Italiana (2011 e 2016) Seleção italiana: 22 jogos e 1 gol

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