Ícone de Gana, Asamoah Gyan chegou à Europa através da rede de olheiros da Udinese | OneFootball

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·23 de agosto de 2023

Ícone de Gana, Asamoah Gyan chegou à Europa através da rede de olheiros da Udinese

Imagem do artigo:Ícone de Gana, Asamoah Gyan chegou à Europa através da rede de olheiros da Udinese

O atacante Asamoah Gyan construiu uma sólida carreira e deixou um legado inestimável para as futuras gerações do esporte de Gana. Maior artilheiro africano das Copas do Mundo e considerado como um dos maiores jogadores da história de seu país, ele iniciou sua trajetória no futebol europeu devido ao bom sistema de observação de talentos da Udinese, que o descobriu com apenas 18 anos.

Gyan nasceu em Acra, capital de Gana. Na cidade tomada pelas heranças do colonialismo inglês, Asamoah aliou o ingresso no futebol ao fim de sua trajetória estudantil quando, em 2002, aos 16 anos, passou a defender o Liberty Professionals nas categorias de base. Sua única temporada pelo time profissional azul e branco foi expressiva: marcou 10 gols em 16 partidas pela primeira divisão local, sendo o terceiro principal artilheiro da liga.


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No mesmo ano em que estreou no futebol de clubes ganês, Gyan também debutou na seleção – e antes mesmo de completar a maioridade. Em seu primeiro jogo, em novembro de 2003, o atacante se sagrou o mais jovem a marcar com a camisa dos Estrelas Negras ao balançar as redes da Somália, em vitória por 5 a 0.

Àquela altura, o atacante já tinha encaminhado a sua transferência à Udinese, que tinha parceria com o Liberty Professionals. Atenta ao futebol de Gana desde a década de 1990, a equipe italiana também buscara no clube azul e branco o meia Sulley Muntari, em 2001. Tais movimentos faziam parte da filosofia dos friulanos desde o início da gestão do presidente Giampaolo Pozzo, em 1986: o investimento em olheiros capazes de identificar talentos em mercados periféricos, no intuito de adquiri-los a baixo custo e obter grandes margens de lucro com sua venda, após valorizá-los, virou marca registrada da agremiação.

Inicialmente, Asamoah foi integrado às categorias de base dos friulanos e até foi convocado por Luciano Spalletti para completar o banco de reservas da Udinese em algumas ocasiões. Na última rodada da Serie A 2003-04, quando os bianconeri já haviam garantido vaga na Copa Uefa, Gyan foi a campo nos minutos finais e estreou no futebol profissional italiano. Contudo, o seu debute foi ofuscado pela derrota por 4 a 3 para o Parma, numa peleja em que um jovem Alberto Gilardino balançou as redes quatro vezes.

Antes do início da temporada seguinte, o atacante, que já costumava ser convocado para a seleção principal de Gana, representou o seu país na Olimpíada de Atenas, na Grécia. De volta à Itália, foi emprestado ao Modena, da segundona, para ganhar experiência e minutagem – o que aconteceu.

O Modena havia caído para a Serie B e, por isso, teve de se reconstruir. Um jovem Stefano Pioli assumiu o time nessa missão, e teve de lidar com a perda de peças importantes, como Stefano Mauri, Omar Milanetto, Nicola Amoruso e Diomansy Kamara. Em contrapartida, chegaram, para o comando do ataque, o veterano Maurizio Ganz e o garoto Gyan. O que nos leva a abrir parênteses para uma curiosidade.

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Emprestado pela Udinese, Gyan chegou aos canarini para ganhar minutagem e teve bons momentos na Serie B (Arquivo/Modena FC)

Naqueles tempos, o Modena desenvolveu uma espécie de curiosa tradição: contar com um atacante com numeração de camisa geralmente atribuída a defensores. Foi assim com Giuseppe Sculli (2), em 2002-03, e com Ganz, que repetiu o colega em 2004-05. Na Emília-Romanha, contudo, Gyan ficou com a 14 e não vestiu a sua habitual 3, que envergara na Udinese e que utilizava desde a sua estreia na seleção de Gana. A sua escolha, a propósito, tinha um motivo. Ou melhor, três: representava a tríade formada por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

Reservando a sua marca registrada à seleção, Asamoah teve um ano positivo pelo Modena. Alto e veloz, com bom poder de finalização e criatividade para se mover e confundir defesas adversárias, fez sete gols e foi o artilheiro do time gialloblù, sétimo colocado. Na época seguinte, o ganês – que ainda não havia desenvolvido tanta frieza frente aos arqueiros rivais – exerceu papel de coadjuvante do centroavante Cristian Bucchi, que foi artilheiro disparado da Serie B, com o mesmo número de tentos que exibia em sua camisa – 29. Apesar disso, teve sua importância.

Os canarini tiveram seus altos e baixos ao longo do ano, mas foram capazes de se inserirem na briga pelo acesso à elite na reta final da Serie B. Autor de oito gols na campanha, Gyan foi fundamental por, nesse período de ascensão, anotar uma doppietta na vitória sobre o Brescia treinado por Zdenek Zeman e por garantir, aos 88 minutos, um triunfo sobre o Torino – ambos os rivais eram concorrentes diretos pela promoção.

Após a quinta posição na temporada regular, o Modena acabou caindo nos playoffs. E vale destacar que Asamoah não pode contribuir com seu talento para furar defesas fechadas porque fora convocado para representar Gana na Copa do Mundo – e a fase decisiva da Serie B ocorria após a data limite imposta pela Fifa para a liberação dos atletas para as seleções participantes. Sem a ajuda de Gyan, o grandalhão Bucchi nada pode fazer perante a forte retaguarda do Mantova.

Gyan totalizou 15 gols em 54 aparições pelo Modena. Números relativamente modestos para um centroavante, sobretudo se lembrarmos que ele atuava na segunda divisão italiana. Mas Asamoah, então com 20 anos, já liderava o ataque de Gana. O camisa 3 foi peça importantíssima na campanha dos Estrelas Negras nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006, contribuindo com quatro tentos em sete partidas – ou seja, sendo decisivo para classificar a seleção para o seu primeiro Mundial.

Titular da seleção, Asamoah estreou na Copa de 2006 justamente contra a Itália. Porém, tal qual em seu debute na Serie A, viu Gilardino, do outro lado do campo, levar a melhor: vitória azzurra por 2 a 0, que deu início à campanha do tetracampeonato da Nazionale. Gyan deu a volta por cima logo na partida seguinte.

Em Colônia, marcou o primeiro gol de Gana em Mundiais: aos 68 segundos da peleja contra a Chéquia, anotou o tento mais rápido daquela edição do torneio e encaminhou o triunfo ganês por 2 a 0. No entanto, ainda imaturo, o atacante colecionava cartões e, por conta do acúmulo de amarelos, não atuaria contra os Estados Unidos, por suspensão. Gyan ainda perdeu um pênalti naquela partida – algo que, posteriormente, lhe assombraria outras vezes.

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Ainda garoto, Gyan ajudou o Modena a brigar pelo acesso à Serie A e, depois, disputou a sua primeira Copa do Mundo (imago/IPA)

Gana passou de fase, mas acabou caindo para o Brasil nas oitavas de final, num jogo em que Gyan foi expulso. O segundo cartão que o atacante recebeu foi por uma tola simulação, quando os africanos já perdiam por 2 a 0 – Zé Roberto fecharia a conta depois.

Entre altos e baixos, Gyan era considerado um talento a ser amadurecido. E o bom futebol que mostrou no Mundial chamou a atenção do Lokomotiv Moscou, da Rússia. O clube russo estava disposto a pagar mais de 10 milhões de dólares pelo atacante, mas a Udinese não facilitou sua saída. Até havia disposição da diretoria bianconera em fazer negócio, só que não foi encontrado um substituto para suprir a sua saída e, por isso, o garoto permaneceu no Friuli. Vestiria, dessa vez, a camisa 18.

Capaz de executar várias funções no setor ofensivo, Gyan era considerado uma alternativa interessante pelo ofensivo técnico Giovanni Galeone. O veterano da prancheta utilizou o ganês em ambas as pontas e também no comando do ataque, promovendo diversas combinações com Antonio Di Natale e Vincenzo Iaquinta.

A Udinese, contudo, não conseguia repetir os bons resultados produzidos anteriormente, na gestão de Spalletti. Apesar de momentos de bom futebol, uma queda de rendimento no fim do primeiro turno levou à demissão do treinador. Alberto Malesani, seu substituto, mostrou menos apreço por Gyan, que virou opção a Di Natale e Iaquinta: dali em diante, quase sempre começou jogando apenas quando um dos dois colegas estava indisponível.

No fim das contas, a Udinese ficou apenas no meio da tabela da Serie A. Asamoah, como de praxe, teve seus altos e baixos. Marcou gols importantes, em vitórias sobre Fiorentina e Milan, além de ter feito um e fornecido uma assistência na goleada por 4 a 0 sobre o Livorno, em clássico toscano. O ganês ainda encontrou as redes em derrotas para Roma e Atalanta – neste caso, duas vezes. Foram oito tentos, no total.

Pensando em voltar a disputar competições europeias, a equipe do Friuli mudou de comando na temporada seguinte e buscou o ofensivo técnico Pasquale Marino, que havia feito o Catania se tornar uma sensação no futebol italiano. Ao mesmo tempo, Iaquinta foi vendido e deu lugar a Fabio Quagliarella, que vinha de ano positivo na Sampdoria.

Para Gyan, que passou a vestir a sua icônica camisa 3, as chegadas eram positivas, visto que ele teria lugar no propositivo 4-3-3 do novo treinador, que gostava de atacantes capazes de se movimentar e trocar de posição, ao mesmo tempo que não teria sobre seus ombros a responsabilidade de liderar o setor em gols. O início de trabalho foi tão bom que, por conta de boas exibições na pré-temporada, o ganês teve contrato renovado.

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O atacante ganês voltou para a Udinese após a Copa de 2006, mas acumulou altos e baixos pela equipe friulana (Getty)

Gyan começou a temporada 2007-08 com bastante fôlego e somou três gols em 13 partidas, que o motivaram para a disputa da Copa Africana de Nações, em janeiro de 2008. Gana sediava a competição e sonhava com o título, o que levou o atacante a querer disputar o torneio mesmo com uma lesão na virilha. Era óbvio que não daria certo. E não deu.

Asamoah marcou apenas na estreia da competição, contra Guiné, e ameaçou deixar a delegação juntamente com o irmão Baffour, também atacante, após críticas ao baixo desempenho da seleção no triunfo contra a Namíbia. Para piorar, viu o seu problema muscular lhe tirar não só das semifinais como também do restante da temporada. Os Estrelas Negras amargaram o terceiro posto e o camisa 3 não voltou mais a atuar pela Udinese. Dessa forma, encerraria a sua passagem pelo Friuli com 11 gols em 40 aparições.

No verão europeu de 2008, os friulanos aceitaram vender Gyan ao Rennes, por uma quantia de 8 milhões de euros. Após seus claudicantes passos iniciais na Itália – onde colecionou, somando todas as competições, 94 partidas e 26 gols por Modena e Udinese –, o atacante demorou para fazer sucesso. Ainda vítima de recidivas da lesão muscular que lhe acometeu, pouco atuou em 2008-09 e só se recuperou na temporada seguinte, quando balançou as redes 13 vezes e levou os rubro-negros ao meio da tabela da Ligue 1.

Em 2010, Asamoah representou Gana na Copa do Mundo da África do Sul – a primeira disputada em seu continente. Marcou três gols: de pênalti, contra Sérvia e Austrália, na fase de grupos, e com a bola rolando, na prorrogação das oitavas de final, decidindo a peleja contra os Estados Unidos. Mas, nas quartas, diante do Uruguai, as penalidades lhe levariam aos habituais altos e baixos.

Gana era a terceira seleção africana a se classificar para as quartas da Copa do Mundo, repetindo o feito de Camarões, em 1990, e Senegal, em 2002. E, por muito pouco, não foi a primeira semifinalista do continente. E, em grande medida, Gyan teve responsabilidade por isso.

Nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação, Luis Suárez deu uma de goleiro e usou a mão para, em cima da linha, evitar o gol decisivo dos Estrelas Negras, cometendo pênalti e sendo expulso. Gyan teve a vaga nos pés e acertou a trave. Com o empate por 1 a 1, a decisão voltou à marca da cal e, embora o próprio Asamoah tenha convertido a sua cobrança dessa vez, a cavadinha de Sebastián “El Loco” Abreu deu a vaga aos sul-americanos, que avançaram graças ao 4 a 2.

Muito embora pudesse ter ficado marcado para sempre por essa sucessão de eventos e, quem sabe, assistir a sua carreira entrar numa espiral descendente, Asamoah se recuperou. O ganês começou a temporada 2010-11 no Rennes, mas foi vendido ao Sunderland antes do encerramento da janela de transferências. Gyan fez 11 gols numa campanha de meio de tabela dos Black Cats na Premier League e teve sua permanência assegurada para o ano seguinte. Até que surgiu uma oferta que lhe fez rever suas prioridades.

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Um gol marcado em vitória da Udinese sobre o Milan, em San Siro, representou o ponto alto da passagem de Gyan pela Itália (AP)

Em setembro de 2011, o ganês, então prestes a completar 26 anos, recebeu uma gorda proposta do Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos. Ele topou ganhar os petrodólares e, muito cedo, deixou os grandes palcos europeus. Com nível muito superior ao do habitual no futebol emiradense, Gyan empilhou gols no clube do Oriente Médio: foram 112 em 105 partidas, que lhe permitiram estabelecer média superior a um por jogo. Também foi tricampeão nacional pelo time de Abu Dhabi.

Dali em diante, até sua aposentadoria, em 2021, Gyan não teve grande desempenho no futebol de clubes. O atacante ainda chegou a acumular mais cifrões ao acertar pelo Shanghai SIPG, da China, e se tornar um dos jogadores mais bem pagos do mundo à época, graças aos 9 milhões de euros anuais.

Depois, o africano também representou o Shabab Al-Ahli, time em que voltou a ganhar títulos no futebol emiradense, e o NorthEast United, da Índia. Asamoah ainda ensaiou retorno à Europa, mas entregou raros gols e aparições num biênio pelo medíocre Kayserispor, frequentador do meio da tabela da Süper Lig turca. No fim das contas, acabaria tendo sua última experiência no Legon Cities, de seu país natal, em 2021. O anúncio da aposentadoria só chegaria em junho de 2023, quando já tinha 37 anos.

Apesar de sua melancólica peregrinação por times de pouca expressão e que não lhe ofereciam um projeto esportivo interessante – ainda que engordassem a sua conta bancária –, Gyan manteve a sua importância na equipe nacional de Gana. E, de fato, foi um típico “jogador de seleção”, visto que seus feitos pelos Estrelas Negras sempre foram muito superiores aos que obteve em clubes.

Gyan é o maior artilheiro da seleção de Gana, com 51 bolas nas redes, e o segundo com mais presenças pelos Estrelas Negras – 109, atrás apenas de André Ayew. Além disso, na Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil, o icônico camisa 3 superou o recorde do camaronês Roger Milla: com seis gols, se consolidou como o jogador africano com mais tentos em Mundiais. No total, Asamoah atuou em três Copas, uma Olimpíada e sete Copas Africanas de Nações. No torneio continental, somou dois vices e ainda alcançou as semifinais em outras quatro ocasiões.

Fora dos campos, Gyan também repetiu a sua história de altos e baixos. Em Gana, tem visado revelar talentos que possam ter as mesmas oportunidades que recebeu. Porém, quando buscou outras searas, fracassou. Asamoah tentou promover outros esportes, como o boxe e o tênis, mas sem sucesso algum. Também recebeu autorização do governo de seu país para abrir uma companhia aérea e não tirou um avião sequer do solo. Tal qual com a bola dos pés, quando foi capaz de aliar recordes no futebol de seleções e caminhos tortuosos em clubes, revelou duas faces de uma mesma moeda.

Asamoah Gyan Nascimento: 22 de novembro de 1985, em Acra, Gana Posição: atacante Clubes: Liberty Professionals (2003), Udinese (2004 e 2006-08), Modena (2004-06), Rennes (2008-10), Sunderland (2010-11), Al Ain (2011-15), Shangai SIPG (2015-16), Shabab Al-Ahli (2016-17), Kayserispor (2017-19), NorthEast United (2019-20) e Legon Cities (2020-21) Títulos: Campeonato Emiradense (2012, 2013 e 2015), Supercopa dos Emirados Árabes Unidos (2012 e 2016), Copa do Presidente dos Emirados Árabes Unidos (2016) e Copa da Liga dos Emirados Árabes Unidos (2017) Seleção ganesa: 109 jogos e 51 gols

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