Hoffmann Túlio fala sobre competições com poucos clubes: “Acho isso um desperdício para o futebol feminino” | OneFootball

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·03 de outubro de 2022

Hoffmann Túlio fala sobre competições com poucos clubes: “Acho isso um desperdício para o futebol feminino”

Imagem do artigo:Hoffmann Túlio fala sobre competições com poucos clubes: “Acho isso um desperdício para o futebol feminino”

Tendo seu primeiro contato com o futebol feminino em 2013 pelo Santa Cruz, equipe tradicional de Belo Horizonte (MG), Hoffmann Túlio se reencontrou com a modalidade em 2018, após convite de Bárbara Fonseca, ex-atleta do Santa e então diretora do América-MG, para ser o treinador da equipe. Desde então, a carreira do técnico de 35 anos segue em crescente constante. Campeão mineiro com o Coelho em 2018, vice-campeão brasileiro em 2019, com acesso garantido à primeira divisão, e novamente campeão mineiro com o Cruzeiro, terceiro título mineiro em 2020, agora com o Atlético-MG, e mais um vice brasileiro com direito a acesso à A1 em 2021, e uma passagem extremamente positiva pelo Palmeiras, deixando a equipe no topo da tabela do Campeonato Brasileiro.

No comando do Fluminense desde o início de agosto deste ano, Hoffmann conta sobre a sua chegada ao clube através do convite de Amanda Storck, Gerente de Futebol Feminino do Fluminense, e a importância de um projeto bem alinhado entre comissão e diretoria, buscando melhorias dentro e fora de campo:


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— Eu vim para o Fluminense no para causar mudanças no dia a dia, na captação de atletas. Nós temos muito potencial, eu vejo isso estando aqui hoje, e eu venho justamente para explorar esse potencial e  mostrar isso ao mercado. Nós (Fluminense) ficamos muito tempo sem projeção para o mercado, e hoje nós temos buscado reuniões, temos procurado atletas, temos mostrado ao mercado que vale a pena estar aqui no Fluminense. Eu estou animado com esse projeto porque ele tem valor, tem qualidade e tem uma parceria muito grande. Eu tenho o apoio da nossa diretora para fazer o trabalho, e o nosso trabalho é para subir. […] Eu vivi isso duas vezes, no Cruzeiro e no Atlético-MG, sei a importância de uma camisa grande subir. Isso me chamou muito, e é por isso que eu estou aqui.

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O projeto é segmentado em três partes: manutenção de atletas, aproveitamento das categorias de base e contratação de jogadoras mais experientes: “Nós temos atletas com muito potencial, de Seleção Brasileira, de campeãs do Brasileirão Sub-18, […] e a parte que eu tenho agregado bastante ao projeto, é a parte de captação de atletas, atletas mais experientes, atletas com nível para subir o Fluminense, e em breve o público vai poder ver esse potencial se traduzir em bons nomes”.

— Hoje nós temos um grupo bom, mas é um grupo que ainda não subiu o Fluminense. Essa é uma verdade que eu falo no nosso trabalho, no nosso dia a dia, que a gente precisa de algumas peças que nos ajudem a subir de nível, subir de divisão. A ideia do contato os empresários é para que eles entendam a grandeza do projeto, entendam a grandeza do Fluminense, entendam o nosso desejo de subir o Fluminense, e que eles acreditem no meu trabalho, no trabalho da diretoria, que eles coloquem atletas aqui […] porque o projeto é de excelência, de visão, e que a atleta vai crescer junto com o Fluminense — disse Hoffmann Túlio.

Com passagens extremamente positivas em clubes tradicionais do futebol brasileiro, o treinador fala ainda sobre a responsabilidade de trabalhar com uma modalidade que ainda busca maior espaço no cenário esportivo nacional. Para Hoffmann, o treinador deve ter como prioridade estar em jogos grandes, disputando fases finais, para que o torcedor possa estar próximo do futebol feminino do seu clube: “O Fluminense está chegando nas fases finais (do carioca), e eu espero que a gente vá bem para que a torcida se apaixone, ou se apaixone ainda mais pelo futebol feminino, e aí a gente possa começar a contar com a torcida”. Além disso, o treinador ressalta que é importante compreender a realidade vivida pelos clubes e como ela impacta diretamente nos objetivos do mesmo.

—  Os desafios que eu vivi no Cruzeiro, no Atlético-MG e vivo no Fluminense são iguais, até porque eles disputam um estadual de nível mais baixo que o paulista. Trabalhei nesses clubes em uma situação em que o sonho era subir para a A1, e é ali que começam os investimentos, então as realidades eram bem parecidas. Quanto mais você sobe, mais você dá resultado, mais procura e investimento vai ter, e com investimento eu não me refiro só ao clube, mas também à procura de patrocínio, de marcas interessadas, e tudo acontece quando você está na A1. No Palmeiras era uma situação extremamente diferente, era um time que era o atual vice campeão (brasileiro), que vai começar a jogar a Libertadores, um time que a meta era terminar em primeiro colocado na primeira fase, e isso era muito claro para mim. Quando eu cheguei ao clube, em uma reunião com o Alberto (Simão, diretor de futebol feminino do Palmeiras) eu perguntei qual era a meta a ele disse “a liderança”, e quando eu perguntei qual seria a segunda meta ele repetiu “a liderança” — aponta o atual treinador do Fluminense.

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Porém, para além das dificuldades enfrentadas internamente pelos clubes, Hoffmann destaca a necessidade de apoio e investimento por parte das entidades de futebol. Ressaltando o grande desequilíbrio no nível de competitividade entre as federações, o treinador comenta que “fazer um projeto de campeonato brasileiro maior” poderia ser uma forma de elevar os níveis da competição, dando mais oportunidade e espaço para outros clubes e, consequentemente, atraindo mais público e patrocínio.

— Entrando na A1 a busca por patrocínio é mais fácil, porque você tem transmissões em televisão aberta e fechada, enquanto a A2 é vista pela própria CBF como uma competição amadora. Então como você vai buscar recursos? Só colocam a culpa no clube, e quem detém o direito de fazer os campeonatos e nos ajudar acaba pecando nisso. O Athletico-PR subiu, o Ceará subiu, o Fortaleza vive hoje um grande projeto […]. Hoje um time da A2 joga seis jogos e acabou. Como você vai conseguir vender um produto jogando seis jogos ao ano? Você tem o Fluminense, o Botafogo, o Vasco, o América-MG… Eu citei aqui sete times. Se tentar colocar isso na A1, não cabe. Pensar nessa mudança seria importante até para que as marcas buscassem mais condições de trabalho e de recursos. O Palmeiras conquistou seu patrocínio de futebol feminino sendo vice brasileiro, chegando neste ano em mais uma semifinal, indo para a Libertadores. […] Em um campeonato de 16 clubes alguém de camisa grande vai ficar de fora, e eu acho isso um desperdício para o futebol feminino — declarou Hoffmann.

O treinador comentou ainda sobre seu estilo de jogo e sua obsessão pelo máximo desempenho. Segundo Hoffmann, o fato de “nunca ter sido o melhor” fez com que ele se tornasse um treinador melhor. Para ele, saber como os atletas se sentem em momentos de baixa e má fase faz com que ele trabalhe melhor a sua relação com a equipe:

— Eu acho que a minha obsessão pelo desenvolvimento físico, pelo desenvolvimento técnico-tático, vem justamente por ter sido o cara do “inverso”. […] É como se agora eu tivesse me encontrado, e agora eu quero fazer uma coisa muito diferente, que eu me identifico. Eu tenho uma frase que eu sempre falo nos times que eu passo, que é “nosso time pode até ser ‘ruim’, mas nós vamos correr mais que todo mundo”. Essa é a primeira regra, a gente precisa correr mais que todo mundo, de forma individual e coletiva, e aprender que você só vai correr mais que todo mundo se você aprender a se esforçar, e você só vai aprender a se esforçar se todos os dias você criar o hábito. Então eu, como treinador, prezo muito por isso.

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Por fim, quando questionado sobre os objetivos e as metas para o futuro da carreira, Hoffmann é direto ao dizer que se sente realizado com o que construiu até aqui. Segundo o treinador, “a meta é sempre a de hoje, e eu estou doido pra ganhar o carioca esse ano, se possível, e subir o Fluminense para a primeira divisão”.

— Eu me sinto, de verdade, muito realizado, então não fico sonhando com “coisas que faltam”. Uma vez eu já falei sobre (ter vontade de treinar) a Seleção, mas confesso que a cada dia que passa esse sonho de Seleção Brasileira não tem me pegado, porque trabalhar na Seleção Brasileira é muito difícil. Além disso não é ser treinador, é quase um entregador de camisa, exceto em Copa do Mundo, Copa América, competições em que você treina (por períodos maiores), mas em amistosos a pessoa chega na segunda, joga na sexta, na terça, e em seguida vai embora. […] Hoje o meu sonho é subir o Fluminense e viver. Cada dia que passa a gente vai ficando mais velho e tendo uma paz de espírito que vai chegando, e eu estou me sentindo muito bem — concluiu Hoffmann.

Classificados para as quartas de final do Campeonato Carioca de Futebol Feminino, datadas para o próximo sábado (08), as Guerreiras de Xerém comandadas por Hoffmann Túlio voltam aos gramados contra o Pérolas Negras, às 15h (horário de Brasília) em Laranjeiras.

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