Há 20 anos, o Paysandu conquistava a Copa dos Campeões e marcava o ápice de anos gloriosos na Curuzu | OneFootball

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Trivela

·04 de agosto de 2022

Há 20 anos, o Paysandu conquistava a Copa dos Campeões e marcava o ápice de anos gloriosos na Curuzu

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Por Caio Brandão, advogado, colaborador do Futebol Portenho e torcedor do Papão

* Texto publicado originalmente no saudoso Impedimento


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Há 20 anos, através do Paysandu, o Norte conquistava pela primeira vez o Brasil para além das divisões inferiores – onde o clube, por sinal, já era bicampeão. A última edição da Copa dos Campeões foi apenas um entre tantos feitos em série do momento mais expressivo do meu Papão, entre 2001 e 2003. Com o esquadrão (ou esquadrões) daquele tempo, pilhamos também dois Estaduais, uma Série B e uma Copa Norte, além de alguns dos mais tradicionais gramados do continente na única participação amazônica na Libertadores – campanha que catapultou o Lobo de um 416º lugar no ranking mundial de clubes da IFFHS para o 39º. O “Bombonerazo” é só a faceta mais conhecida de um caminho que não foi encerrado naquela apoteótica final contra o Cruzeiro.

Júlio César, Valentim, Gino, Sérgio e Marquinhos (Cláudio Gavião); Luís Carlos Trindade, Sandro (Ari), Lecheva e Rogerinho; Zé Augusto e Edil (Luizinho); treinados por Givanildo Oliveira. Esta foi uma escalação quase ausente do ápice internacional do Paysandu, em 2003. Mas nossa epopeia começou com estes onze, nos escombros da Copa Norte 2001, base que já havia sido quarta colocada no Módulo Amarelo da João Havelange (e campeã estadual) um ano antes.

Disputamos a final regional com o São Raimundo, em sua melhor época – os amazonenses eram bicampeões da Copa Norte. Com gol de pênalti de EDIL HIGHLANDER aos 43 do segundo tempo, ganhamos na Curuzu. Mas, também a dois minutos do fim, o Tufão devolveu o placar em Manaus e, por ter melhor campanha, levou a taça. O revés foi duro, eternizado no choro do Gino. Mas era nossa primeira final regional e não houve muitas caças às bruxas. Givanildo, nosso técnico desde o título estadual em 2000, continuou. Os únicos a saírem foram Marquinhos e, para o Náutico do Muricy, o próprio Edil. Uma semana depois começou o Parazão. Quem passou a fazer dupla com o Zé Augusto foi nosso sósia do D’Alessandro, ALBERTINHO.

Sem trabalho, vencemos invictos o primeiro turno com outras figuras carimbadas do ciclo, como o jovem volante Vanderson, bem lembrado no Vitória, e o meia Magnum, que passaria pelo Santos. Foi na estreia do segundo turno, um 2 a 0 em outro São Raimundo, o de Santarém, que apareceu como reforço um certo Vandick. Que bem antes de virar até (também um excelente) presidente, marcou um dos gols. Mas as coisas com ele não se deram imediatamente em uma Odisseia no Espaço (ou na Sudamérica): não marcou outra vez até o fim do Estadual, dez jogos depois; depois de sete, já não tinha titularidade.

O mais importante é que não éramos reféns de um único homem, ainda mais um de 36 anos. Na final, ao fim de junho, enfiamos 4 a 0 no Remo na casa deles, algo que amenizou a recente saída de RODOLFO (aquele, que reconheceu a Madonna ali parada no jardim) dos Raimundos. Albertinho fez dois, mas o vendido ao exterior foi o Zé Augusto (dono de um dos melhores apelidos do futebol, O TERÇADO VOADOR), ao Estrela Amadora. Assim, Vandick voltou à titularidade. E em agosto, no meio da crise do apagão e do Napster, de Presença de Anita, do novo Planeta dos Macacos, da morte do Jorge Amado e do sequestro da filha de Sílvio Santos, começou a Série B.

Nosso rival, que se classificara aos mata-matas da João Havelange no nosso lugar, quis ficar na elite e um torcedor seu – ninguém menos que o presidente do Senado – tentou influenciar isso. Não deu certo. Afinal, Jáder Barbalho tinha mais com o que se preocupar: seus escândalos o levariam em setembro a ser o primeiro a renunciar ao posto. Isso se deu um dia antes de, com dois expulsos, arrancarmos um empate com o América em Natal, graças ao gol raçudo de Valentim pela ponta-esquerda, aos 45 do segundo tempo.

Antes que outros panfletários “lembrem” que a mesma João Havelange nos tirou da Série C, para a qual caímos em 1999, já adianto que juros na dívida não faltaram quando ela foi paga, entre 2007 e 2012 – e novamente no centenário, em 2014. Um período repleto de vexames em casa quando o acesso parecia garantido, sina hoje tão colada ao Fortaleza. Todos os rebaixados de 1999 estavam de volta: União São João, Criciúma, Tuna Luso, América-RN e Desportiva.

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A segundona de 2001 dividiu 28 times em dois grupos: um com 13 do Norte-Nordeste, outro com 13 do Sul-Sudeste. O Estado de Goiás completou-os com a Anapolina no primeiro e o Vila Nova no segundo. Em turnos de ida e volta, os dois últimos de cada chave caíam, enquanto os dois penúltimos disputariam uma repescagem. Já os quatro primeiros de ambos fariam quartas-de-final e os sobreviventes duelariam por dois acessos em um quadrangular final. Tudo simples e genial para o INSHALLAHZÃO B, cuja campanha começou, veja só, contra aquele maldito São Raimundo. Em Manaus, arrancamos um 1 a 1 com dez em campo (Cláudio Gavião foi expulso a meia hora do fim, após revidar uma falta) e poderíamos até ter vencido se o Vandick, autor do gol, não perdesse outro na cara do IÚNA.

Se há um tempo o Paysandu não é de transmitir aquela segurança de outrora nem dentro de casa (despencamos quando perdemos esse trunfo), naquela época endurecíamos também fora, ainda que tenha nos faltado em todo o torneio conseguir três pontos longe de Belém. Já antes da segunda rodada, contra o CRB, havia a meta de subir. Vencemos com um suado 1 a 0, gol de pênalti do Lecheva. Entramos no Top 4 e não saímos mais. No quarto jogo, após vitória sobre o ABC, estávamos na segunda colocação. Foi ali que o Vandick, que marcara três gols em quatro jogos, começou a ser ídolo. Amostra do poderio, a primeira derrota só viria na penúltima rodada no primeiro turno, para a Anapolina, e aos 32 do segundo tempo.

Só perdemos outras duas vezes no resto da primeira fase do GORILLAZÃO B, sem vergonhas: 1 a 0 para o CRB em Maceió e 3 a 2 para o Sergipe em Aracaju. As vitórias vinham mesmo quando jogávamos mal, como nos 2 a 1 de virada sobre o Nacional. O forte daquele elenco era o conjunto entrosado e bem azeitado por Givanildo, com pulso firme anti-vaidades e com peças de reposição que, em rodízios testados pelo treinador ou na necessidade, davam conta do recado. Como o reserva do goleiro titular Júlio César, Marcão, que até pênalti do SÉRGIO ALVES pegou (e o rebote dele também) contra o Ceará, na última semana antes do Afeganistão ser invadido. Ou Magnum, que fez cinco gols (incluindo um de cobertura neste jogo com o Ceará, empatando a 15 minutos do fim) e alternava-se com Trindade no meio.

Vanderson se revezava com o veterano Rogerinho, único remanescente do Papão campeão da Série B exatos dez anos antes, e que vinha de 15 meses lesionado. Para melhorar, antigos ídolos voltaram: Jobson, que não é o botafoguense (também paraense) reapareceu a partir da segunda rodada após breve ida ao Santa Cruz para compor o meio ofensivo com Trindade, Magnum ou ainda Lecheva. Era nosso jogador desde 1997, época dura em que, vindo do Atlético Paranaense, treinou uma manhã no Remo, que vivia fase bem melhor, para à tarde nosso presidente Ricardo Rezende ser mais rápido e contratá-lo.

Imexíveis eram os componentes da zaga central, de Sérgio e Gino, e o volante Sandro (só depois viraria Sandro Goiano), um xerifaço que sabia articular boas jogadas e até marcar seus gols – tão fundamental que, foi só ele ir ao Grêmio, o Paysandu caiu em 2005. E, para se intercalar com Vandick e Albertinho no ataque, Zé Augusto retornou logo no Re-Pa: Jobson e Vandick abriram 2 a 0 antes dos 10 minutos e Júlio César pegou pênalti do time do técnico CUCA na antevéspera dos atentados. Arrisco a dizer que foi o último clássico do mundo pré-11 de Setembro. A vitória nos pôs na liderança isolada. No returno, o dérbi foi 1 a 1 no mesmo dia em que um Fla-Flu no basquete viu o Oscar superar Abdul-Jabbar como maior cestinha do mundo.

Terminamos a primeira fase do ANTHRAXÃO B (o consulado dos EUA em Belém chegou a ser atingido por um coquetel molotov) com a melhor campanha geral. A vaga veio na antepenúltima rodada, em outro clássico, um 2 a 0 na Tuna no estádio do Remo. Um dia marcado por Albertinho entrar no lugar do Jobson, balançar as redes e em seguida embelezar a estátua do Leão Azul com nosso manto – e por isso precisar de escolta policial por um tempo. Um dia depois, os remistas jogaram ali contra o ABC e usaram até soda cáustica para “limpar” (???) o felino, mas perderam por 2 a 1 para o lanterna e só escaparam da repescagem nos critérios de desempate. Sobrou para a própria Tuna, que chegou a ser quarto na metade do certame, quando HELINHO era o artilheiro, mas bambeou, ficou em antepenúltimo, levou a pior contra o MALUTROM e não voltou mais à Série B.

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Após dois 0 a 0 contra o União São João, fomos o único time do Norte-Nordeste no quadrangular, contra três do Sul. Estávamos mesmo no CIO, pois sempre deixamos três gols após cruzarmos o país, em jogos eletrizantes. Contra o Avaí na Ressacada, Vandick, que não marcava havia dez jogos, abriu 2 a 0. Deixamos eles virarem, mas Vandick fez os 3 a 3 aos 45 do segundo tempo. Contra o Figueirense no Scarpelli, o Zé Augusto fez 1 a 0 aos 30 do primeiro tempo, mas aos 40 já levávamos de 3 a 1 com dois do GILSON BATATA. Porém, novamente veio Vandick, com dois no segundo, o último a dez minutos do fim.

“Esse resultado tem que ser dedicado ao professor Givanildo, porque o que ele passou para a gente no vestiário não foi brincadeira”, disse o capitão Gino. Em seguida, vencemos o Figueira em Belém com um 3 a 0 construído nos últimos 15 minutos, com Albertinho, Vandick e Lecheva, e assumimos a liderança do quadrangular. A única decepção no CORRALITÃO B veio logo depois, contra o Caxias. Fizemos 3 a 0 e isso garantia o acesso antecipado, além se ser (enfim) nossa primeira vitória fora. Levamos um gol do GIL BAIANO ainda no fim do primeiro tempo e, com três de Fábio Araújo, conseguimos tomar a virada aos 46 do segundo, de um time que no jogo anterior fingiu duas contusões para ficar com seis em campo contra o Avaí e obrigar o juiz a encerrar o jogo.

Mas a fase era tão boa que a torcida tratou de receber euforicamente os jogadores, algo retratado até na Placar que abordou o título do Atlético-PR. Contra o Avaí, um empate em casa, onde não perdíamos, bastaria. GAUCHINHO, ex-tunante, ameaçou com um gol anulado logo no início. Mas, no duelo VANDICK x FANTICK, nosso goleador fez dois (um, quase uma pedrada), Gino fez outro de falta e o Zé Augusto fechou a conta para cantarmos ao ainda tenista número 1 do mundo: “Eu, eu, eu, o Guga se…”.

Em janeiro, começou a Copa Norte. Na primeira fase, chegamos a enfiar 7 a 1 no Independente do Amapá e só tivemos algum trabalho na segunda fase, mas vencemos o Remo outra vez no estádio deles. A classificação veio com um 3 a 1 no River, enquanto o Hugo Chávez revertia tentativa de golpe. Nosso rival ainda nos deu o gosto de ser derrotado também no STJD, por um 4 a 0 em tentativa de virada de mesa por termos arrancado seu melhor jogador, VÉLBER, usado na campanha justo a partir do clássico e devidamente registrado. Mal sabiam que seu goleador, BALÃO, também preferiria juntar-se a nós tempos depois, anunciado já no meio da Copa dos Campeões.

Na final, tiramos a espinha do São Raimundo: 1 a 0 no Vivaldão e 3 a 0 na Curuzu. Lecheva jogou demais: fez dois em um jogo, sofreu o pênalti no outro e ainda acertou o travessão. Em seguida, o Parazão foi vencido sem sustos, com 14 vitórias e 4 empates em 18 jogos, com um 3 a 1 e um 3 a 0 nas finais contra a Tuna. A decisão aconteceu no recém-reinaugurado Mangueirão, transformado em Estádio Olímpico, polemicamente reformado com uma pista de atletismo até hoje nas cores azul e branca. Após pausa para ver o filme do Homem-Aranha, o Penta, ouvir no Winamp o último disco bom do Oasis e os acompanhar trágicos fins de Tim Lopes, DEE DEE RAMONE e Claudinho do Buchecha, veio a Copa dos Campeões. Quem analisa a campanha direito há de perder a corneta por termos “jogado em casa”.

Só jogaríamos sempre em Belém se terminássemos líderes do nosso grupo. E ele tinha aquele eficiente Corinthians do Parreira e o Fluminense campeão estadual. Não por acaso, não os vencemos: 1 a 1 (Vampeta, que no dia anterior fez aquelas piruetas no Palácio do Planalto, não jogou e Albertinho nos salvou ao empatar) e 0 a 0. Estivemos até perto da eliminação contra o Náutico do Muricy: KUKI abriu o placar, mas viramos para 3 a 1, fundamentais para, pela maior quantidade de gols, terminarmos em primeiro. O Flu venceu o Corinthians só por 1 a 0, após todos terem previamente empatados com todos.

O jogo mais trabalhoso foi com o Bahia do nosso futuro ídolo Robgol. Reforço para o torneio, JAJÁ só brilhou naquele domingo em que o Schumacher alcançou Fangio. Fez um gol e cavou o pênalti da vitória que o Jobson converteu já nos descontos – o próprio Robgol havia empatado. Assim, a confiança pelo título veio mesmo após despacharmos o Palmeiras do Luxemburgo, em bela e paciente virada com Vandick e os reservas Luís Carlos Trindade e Albertinho, após o Nenê ter feito 1 a 0. Marcos não levava gol havia 400 minutos. Já o nosso Marcos, o goleiro Marcão, evitou outros, como em lance nos pés do MUÑOZ no início do segundo tempo. Luxa frisou: “eles ganharam por merecimento. Essa história de fazer campo é conversa fiada. O Givanildo tem um elenco que atua junto há dois anos, bastante entrosado e isso faz a diferença”.

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Para arrematar as cornetas, perdemos no próprio Mangueirão no jogo de ida da final. O Cruzeiro nos tirou uma invencibilidade de 26 partidas e uma muito maior pendente desde fevereiro do ano anterior, quando havíamos sido derrotados pela última vez em Belém por um time de fora – para o Nacional, na estreia da Copa Norte. A Raposa neutralizou bem nosso lado direito de Marcos e Jobson e deixou também o Sandro sem espaços. Fábio Júnior e JOÃOZINHO, na época tratado como mais promissor que os colegas Luisão, Maicon, Jorge Wagner e o hoje goleiro botafoguense Jefferson, fizeram os gols.

Podíamos ter empatado no fim. Sandro havia marcado nosso gol, pegando rebote em falta do Vélber, mas o Albertinho chutou para fora um pênalti – naquela mesma noite em que o São Caetano perdia dois e a Libertadores para o Olimpia. Mesmo assim, os alvicelestes saíram aplaudidos, especialmente Marcão, que impediu placar maior. Falando em Olimpia, nossa paraguaia cavalgada teria que ser impedida em Fortaleza. E logo no início o Fábio Júnior marcou, em rebote daquele endiabrado Joãozinho. Mas, contra um time tecnicamente melhor (eles driblaram e finalizaram mais e erraram menos passes), o espírito de luta e fome de glória do Papão eram imensos, e a excelência da fase também.

Vandick, que realmente crescia em decisões, virou para 2 a 1 e fez seu terceiro um minuto depois do Cris ter empatado. Tudo isso no primeiro tempo. Fábio Júnior buscou esfriar o jogo logo no início da segunda etapa, mas aí em cinco minutos o Jobson, de 1,73 m de altura, subiu mais para decretar de cabeça a vitória épica por 4 a 3. Givanildo logo reforçou nossa marcação, colocando o Vanderson no lugar do apagado Jajá, para cozinhar o restante do tempo. O abalo anímico ficou evidente nos pênaltis. Acertamos todos, eles não: Ricardinho e VÂNDER não superaram o “Uh, vai errar” dos bicolores reforçados por cearenses e chutaram na trave. E o mineiro (e atleticano) Marcão pegou com os pés a tentativa do JUSSIÊ.

Após Jobson e Vélber acertarem tranquilos chutes rasteiros no canto esquerdo, ganhamos já na terceira cobrança, com Luiz Fernando (aplicado lateral daquele Avaí que derrotamos na Série B) em chutaço no meio do gol, concluindo bela atuação: fizera o cruzamento ao cabeceio do Vandick no segundo gol e deu o passe de cabeça ao Jobson no quarto.

Mas houveram três detalhes que teriam deixado tudo bem diferente: ainda antes do fim da Série B, fomos cogitados a jogar a Copa do Nordeste e não a Copa Norte em 2002. Depois, na ressaca do título na B, ficamos tentados a disputar um torneio caça-níquel no Equador em vez da Copa Norte. E a princípio não havíamos renovado o contrato do Vandick. Efeito Borboleta pouco é bobagem e começamos agosto mais revolucionários que a Rio+10.

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Aquela fase não durou no nosso retorno à elite. Começamos muito mal no TRIBALISTÃO, com seis derrotas em oito jogos, e o Givanildo perdeu o emprego após outra delas, para o próprio Cruzeiro no Mineirão. Hélio dos Anjos conseguiu assegurar o time na Série A e, aos trancos e barrancos, nos recuperamos, a ponto do rebaixamento ficar impossibilitado já na penúltima rodada, mas o técnico preferiu sair. Mais recordado que o 5 a 2 no Atlético-MG e tomas-lá-dá-cá contra Ponte (4 a 3), Bahia e Fluminense (3 a 2) foi quando, uma semana antes do Caso Von Richthofen, quem foi mandado à FEBEM foram Leão e os Meninos da Vila, inconformados após perderem com um gol legal do Vandick no finzinho; e o CONTURBADO jogo em que pairam suspeitas se foi entregue ou não para o Internacional não cair.

Se o Império Romano teve dois TRIUNVIRATOS, a linha ofensiva da época aos poucos passou pelo mesmo. Vandick, Zé Augusto e Albertinho, protagonistas de 2001-02, abriram alas para Vélber e dois reforços para 2003: Robgol e um tal Iarley. A nova tríade faria junta dois gols e meio por jogo. Mudanças também no restante: Alexandre Fávaro e depois Ronaldo ficaram no lugar de Marcão entre as traves. A zaga agora era com Jorginho-irmão-do-Júnior-Baiano e o ex-Vasco Tinho. Vanderson e Sandro remanesciam no esquema do técnico Darío Pereyra.

Quase um ano antes de pegar o Milan em Tóquio, o Iarley começou 2003 também contra um rubro-negro: com gol dele, 7 a 3 no SPORT BELÉM na estreia estadual. Já na da Libertadores, Robgol e Sandro (golaço), em lances quase seguidos no início do segundo tempo, nos deram a vitória em Lima sobre o Sporting Cristal pouco horas antes da ovelha Dolly ser sacrificada. Embalados, terminamos a primeira fase do estadual líderes, com um 6 a 2 no São Raimundo santareno e um 4 a 1 no Águia. Que, contudo, nos venceu três dias depois na Curuzu, já pela segunda fase, começando a mudar a postura de tranquilo freguês – o revés, adiante, nos custaria vaga na final. Quarenta e oito horas depois, empatamos no Mangueirão com um 0 a 0 contra o Cerro Porteño, onde acertamos três vezes a trave.

Em março, a Universidad Católica fez 1 a 0, mas teve que procurar entender os gritos de “Lanterna! Lanterna!” após Robgol empatar no final do primeiro tempo (também faria o terceiro) e o Vélber virar no início do segundo. Festa na Libertadores, escorregadas no Parazão enquanto Dóris maltratava os avós: três dias depois, empatamos em 1 a 1 com a Tuna. Mais três dias, 2 a 1 no Sporting Cristal e classificação garantida (a primeira entre os brasileiros) faltando ainda duas rodadas. O Re-Pa, provavelmente o último clássico pré-11 de Setembro, deve ter sido também o primeiro depois que o Bush invadiu o Iraque: dois dias após isso, vencemos por 2 a 0, mas nos faltou um gol: o troll do Águia deixou a Tuna ganhar por 3 a 0 e ir à final em vez de nós.

O que Vélber, Iarley e Robgol fizeram quatro dias depois dessa decepção? Dois gols cada um no 6 a 2 sobre o Cerro Porteño, no Paraguai. Liderança assegurada. Isso era importante, pois queríamos fugir do Boca, que imaginávamos que ficaria em primeiro na sua chave. Fora do Parazão, passamos a alternar La Copa com o Brasileirão, iniciado já naquelas semanas. Enquanto o mundo via a estátua do Saddam ser derrubada, Vélber marcou os dois gols da virada no Santos e chegou a ser sugerido pelo JORGE KAJURU para a Seleção. Brigava pela artilharia e pela Bola de Prata.

A facilidade em assimilar golpes era enorme. Quatro dias após levarmos de 6 a 1 do Corinthians no SABRINASATÃO, arrancamos um 1 a 1 no finalzinho contra a Católica em Santiago, garantindo a invencibilidade exterior. E, quatro dias antes do Bombonerazo, o espírito de luta ficou evidente em um 4 a 4 arrancado com a Ponte em Campinas, onde perdíamos por 4 a 2 até os 32 do segundo tempo. Já em Buenos Aires, perdemos cedo Robgol (então vice-artilheiro da Libertadores), expulso assim como Vanderson. Ronaldo catou bem as tentativas de Delgado, Schelotto e Chango Moreno. O que Iarley fez todos sabem.

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Poucos lembram que o auge não morreu ali ainda: três dias depois, com outro dele e um de Lecheva, enfiamos um 5 a 2 no São Paulo – que poderia ter sido 5 a 1, pois Luís Fabiano só descontou aos 41 do segundo tempo. Robgol mostrou como aquele cartão vermelho na Bombonera seria determinante: ainda no primeiro tempo, fez três gols em Rogério Ceni entre os 25 e os 33 minutos (o segundo foi na saída de bola depois do primeiro) e nos deixou na zona de classificação à Sul-Americana, algo forte demais a um torcedor de 74 anos, que enfartou e morreu nas arquibancadas.

Depois dali, perdemos do São Caetano no ABC e Robgol nos arrancou um 2 a 2 com o Fluminense no Maracanã. Suspenso para o jogo de volta contra o Boca, o atacante teve sua vaga ocupada por um Vandick já fora de forma e que anunciou a aposentadoria após aquela noite em que, mesmo com greve de ônibus, 65 mil foram atrás de história. Algo que parecia alcançável quando um chutaço do Lecheva empatou em 1 a 1. Nossa defesa não era nosso ponto mais forte, mas vinha comprometendo além da conta ultimamente, com 13 gols em cinco jogos. Naquele, falhou em pelo menos três.

O fim foi dramático. Aos 40 do segundo tempo, três do Schelotto em sua melhor apresentação (segundo o próprio) e outro de Delgado, em grande noite também do garoto Tévez. Já nos venciam por 4 a 1. Muitos torcedores saíam quando precisaram inverter o caminho, após o Burdisso fazer gol contra – não havia critério de gols fora de casa. Se marcássemos de novo, ao menos teríamos a sobrevida dos pênaltis. O que nunca não veio. O abalo se traduziu bem nas três outras derrotas que sofremos seguidamente ao Mangueirazo. Mas, ao fim de junho, parecíamos juntar os cacos. Estávamos a três pontos da zona de classificação à Sul-Americana. Robgol chegou a marcar dois nos 3 a 0 naquele Super Cruzeiro, no que foi sua derrota mais elástica no seu ano de Tríplice Coroa.

Em julho, porém, vieram as rasteiras pelas saídas de Robson ao Japão e de Iarley ao verdugo Boca – que não nos pagou nada, pois o contrato do cearense tinha uma cláusula para transferências internacionais. Ainda assim, ao fim de setembro a diferença para o último classificado à Sul-Americana continuava nos três pontos. Mas a assinatura do suspenso presidente Artur Tourinho nos contratos dos substitutos de Iarley e Robgol (ALDROVANI e JÚNIOR AMORIM, além do lateral BORGES NETO) bastou para que Corinthians, Fluminense, Ponte Preta e São Caetano se amparassem em Zveiter & cia. O STJD nos arrancou oito pontos, mesmo com os três contratos aceitos previamente pelo recém-criado BID da CBF. As esperanças de novo torneio internacional foram para o brejo junto com a audiência pós-PCC do GUGU. Antes dos brasileiros aderirem ao ORKUT, já assistiam novamente à retomada da nossa velha sina do rebaixamento. Que enfim nos levou em 2005, mesmo com um regressado Robgol sendo vice-artilheiro, por sinal, de novo Zveitão – o Norte se lembra. E o Sul também…

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