Guilherme Paladino: Palmeiras, Maquiavel e quando o barato sai caro | OneFootball

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·10 de junho de 2021

Guilherme Paladino: Palmeiras, Maquiavel e quando o barato sai caro

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Leia a coluna de Guilherme Paladino para o Nosso Palestra: Palmeiras, Maquiavel e quando o barato sai caro

Prefiro que uma negociação não aconteça do que extrapolar um determinado limite que a gente tenha definido com nosso departamento financeiro (…) Nos últimos anos, falamos da necessidade de equilíbrio administrativo e competir. E o Palmeiras está chegando nas finais. Às vezes não conquista por uma série de detalhes, mas chegamos em basicamente todas as competições.”


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Esta declaração de Anderson Barros ao ‘Seleção SporTV’, há pouco mais de uma semana, resume a postura administrativa do Palmeiras desde o início de 2020.

É louvável que a administração de um time de futebol não se curve ao populismo e não ignore a responsabilidade financeira para fazer contratações bombásticas que, no futuro, comprometeriam o caixa da instituição. Ainda mais em uma pandemia, é imprescindível redobrar o cuidado neste aspecto. Contudo, é preocupante que uma gestão de um clube de primeiro escalão confunda as coisas e não entenda que a passividade em excesso pode custar ainda mais caro do que um investimento propriamente dito.

A velha máxima “time que está ganhando não se mexe” não tinha validade nem em 1513, quando Maquiavel já alertava: “Se um príncipe se conduz com prudência e paciência, e os tempos e as coisas contribuem para que seu governo seja bom, será bem-sucedido. Mas, se mudarem os tempos e as coisas, e ele não mudar o seu modo de proceder, então se arruinará.

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O futebol, dentro e fora de campo, não é estático. Em campo, um time pode evoluir, cair de produção, contar com a “sorte”, oscilar, ter sucesso, fracasso, entre outras infinitas variáveis. Fora de campo, os concorrentes podem se organizar, contratar reforços, contratar treinadores capacitados, entre mais outras infinitas variáveis. Fato é que, com o avanço do tempo, nada permanece como está.

E, apesar de o Palmeiras ter conquistado três competições na temporada de 2020, isso ficou na temporada de 2020. De lá para cá, como diz Maquiavel, “os tempos e as coisas mudaram”, e a concorrência (tanto no Brasil quanto na América do Sul) se movimentou, fez contratações relevantes, fez mudanças no comando técnico e está se aprimorando a cada dia.

O campeão da Libertadores, que não aprendeu nada com o filósofo florentino, contentou-se em “chegar a todas as finais” desde então, mesmo tendo sido derrotado na Recopa, Supercopa e Paulistão, até o momento da declaração do diretor de futebol. Agora, o atual campeão da Copa do Brasil também está eliminado da edição de 2021 deste importante torneio nacional. A queda veio no primeiro confronto da equipe, diante do CRB, da segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Com isso, o clube, que esperava arrecadar, no mínimo, cerca de R$ 10,3 milhões nesta competição, pois planejava chegar às quartas de final, arrecadou menos da metade: R$ 4,2 milhões, por ter caído na terceira fase. Caso chegasse às semifinais, embolsaria R$ 17,65 milhões, ao todo. Se repetisse a conquista da temporada passada, algo factível justamente por ter acontecido há menos de quatro meses, arrecadaria R$ 73 milhões (sempre contando com as premiações por fase avançada).

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Para sonhar alto, é preciso qualificar o elenco. Já ter conquistado tudo em um ano não garante que isso vá acontecer de novo, pois, para tal, a diretoria alviverde precisaria contar com a inércia da concorrência, o que é impensável, mesmo em uma pandemia. E, para qualificar o elenco, investimentos são necessários. A louvável preocupação com o equilíbrio financeiro não pode desconsiderar a necessidade técnica, que também traz retornos para o caixa.

Em 2020, o Palmeiras assinou com Rony, a segunda contratação mais cara da história do clube: 6 milhões de euros (cerca de R$ 28,4 milhões) por 50% dos direitos econômicos do atleta. Fundamental nas conquistas da Libertadores e Copa do Brasil, com participação direta nos resultados das fases finais de ambas as competições, o atacante no mínimo já retornou seu investimento. Afinal, somente os dois títulos somaram, ao todo, R$ 213 milhões (é isso mesmo) aos cofres alviverdes. E, sendo um ativo do clube, ele pode render ainda mais dinheiro em uma futura negociação.

O mesmo vale para Matías Viña, que foi titular e crucial ao longo de ambas as campanhas, e Breno Lopes, autor do gol do título continental. Todos os citados foram contratados na mesma temporada. O retorno vem com investimento.

“Mas o Rony, Viña e Breno Lopes não ganharam sozinhos, e o prêmio também ajuda a sustentar o restante do elenco, que é qualificado e caro!” De fato. Mas sem Rony, Viña e Breno Lopes, os títulos teriam sido conquistados e as premiações teriam ajudado a sustentar o qualificado e caro elenco? Ou teria sido mais um ano em que o qualificado e caro elenco bateu na trave e não conseguiu se justificar? Novamente, o retorno vem com investimento.

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E é evidente que estes exemplos não devem ser usados para justificar irresponsabilidades ou excessos. Mas a ‘responsabilidade’ também não pode ser muleta para omissão. A equipe com o maior patrocínio do país não conseguiu se programar para contratar um reserva para a posição de centroavante, que já foi pedido publicamente por Abel Ferreira e é uma necessidade que existe desde o início de 2020, quando Borja e Deyverson foram emprestados?

Já era de conhecimento geral que as Eliminatórias da Copa do Mundo, a Copa América e as Olimpíadas desfalcariam o Palmeiras por mais de um mês. O time que arrecadou mais de R$ 250 milhões em premiações não tinha dinheiro para preparar substitutos qualificados para as laterais?

E, em meio a tudo isso, discutir renovações com atletas de idade avançada, que ocupam espaço no elenco e na folha salarial, que não darão retorno financeiro e entregam cada vez menos retorno técnico, condiz com a postura responsável?

Voltando à realidade, o clube já está eliminado da Copa do Brasil e já fracassou em todos os objetivos da temporada até o momento. Desta forma, ou a diretoria terá que rezar muito para que “os tempos e as coisas” contribuam e que o ano ainda seja salvo por um grande título, ou, paradoxalmente, o barato vai sair caro, e a economia vai resultar em um prejuízo que poderia ter sido evitado.

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