Trivela
·09 de janeiro de 2022
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A Tunísia possui uma equipe respaldada, mas não necessariamente tão estrelada. Vai ter a concorrência pela liderança de Mali, que no papel até parece melhor. Gâmbia reúne a melhor geração de sua história e, com muitos jovens, pode deixar sua marca em sua estreia na CAN. Já a Mauritânia se estabiliza com frequência no torneio, mesmo sem tantos jogadores de renome.
A Tunísia passou a disputar a Copa Africana nos anos 1960, com três participações e um vice. Nada tão retumbante, até o país se ausentar das eliminatórias nos anos 1970. Voltou com a campanha em 1978 e também em 1982, antes de um hiato de 12 anos fora do torneio. O período mais relevante, então, viria com o retorno a partir de 1994, na virada do século. As Águias de Cartago chegaram ao vice em 1996, antes do título em 2004 dentro de casa. A partir de então, o melhor desempenho seria a semifinal em 2019. Porém, os tunisianos sustentam a maior sequência de participações em CAN’s: são 15 edições consecutivas, algo que outras equipes mais vitoriosas não conseguiram.
A Tunísia realizou uma campanha bastante tranquila nas eliminatórias da Copa Africana. As Águias de Cartago conquistaram 16 pontos na chave com Guiné Equatorial, Tanzânia e Líbia. Tal nível de desempenho não se repetiu nas Eliminatórias para a Copa, com o time criticado no país. A derrota para Guiné Equatorial fez com que a classificação só fosse assegurada na última rodada. Ao menos, o time teve um desempenho muito bom em casa, com 100% de aproveitamento e nove gols marcados. Mais recentemente, a Tunísia enviou sua equipe para a Copa Árabe com diversos titulares – o time mais completo entre os representantes do norte da África, em relação ao elenco principal. Os tunisianos eliminaram o Egito, mas acabaram com o vice diante da Argélia.
Uma das referências técnicas da Tunísia é o rodado lateral esquerdo Ali Maâloul, ídolo do Al-Ahly. São 74 partidas na equipe nacional e qualidade no apoio. O meio se vale da construção de Ellyes Skhiri, jogador com boa rodagem na Europa, atualmente com a camisa do Colônia. Já as estrelas estão na linha de frente. Wahbi Khazri anda sofrendo com o Saint-Étienne, mas tem um ambiente muito mais seguro ao seu redor na seleção. Usa braçadeira de capitão e continua marcando gols com muita frequência. Já Youssef Msakni não tem muito cartaz na Europa, mas é ídolo no futebol árabe e fez uma grande Copa Árabe. O ponta foi uma ausência sentida na última Copa do Mundo, lesionado, mas vai para sua sétima edição da CAN. Também tem peso o meia Naïm Sliti, que por muito tempo jogou na Europa e hoje atua na Arábia Saudita com o Al-Ettifaq.
A Tunísia tem vários nomes que podem eclodir em alto nível. O que mais gera expectativas é Hannibal Mejbri, meia de apenas 18 anos. O garoto só disputou um jogo com o Manchester United na Premier League, mas seu destaque com a base abriu as portas muito cedo na seleção. Durante a Copa Árabe, ele foi titular em todas as partidas. Outro garoto em atividade na Inglaterra é Omar Rekik, zagueiro de 20 anos do Arsenal, que igualmente vira opção para a seleção antes de despontar no clube. Mais importante no nível principal, Anis Slimane foi essencial no título dinamarquês do Brondby. Aos 20 anos, o meio-campista é dono da posição na seleção. Outro volante a se firmar ali, aos 25 anos, é Aïssa Laïdouni – em sua segunda grande temporada com o Ferencváros. Do futebol local, um nome bem elogiado é Mohamed Ali Ben Romdhane, meio-campista de 22 anos do Espérance.
Mondher Kebaier é um treinador com rodagem nos próprios clubes tunisianos. O comandante dirigiu os principais times do país- Étoile du Sahel, Espérance e Club Africain. O reconhecimento local impulsionou seu nome para substituir em 2019 o francês Alain Giresse, após a campanha até as semifinais da Copa Africana. Kebaier já é o terceiro técnico desde a campanha na Copa do Mundo de 2018, quando Nabil Maâloul deixou o cargo. Este intervalo mais recente também incluiu a quarta passagem de Faouzi Benzarti, um dos mais reconhecidos técnicos do país.
Das seleções africanas que nunca jogaram uma Copa do Mundo, Mali é talvez a mais forte candidata para chegar a um Mundial. O cartel na Copa Africana serve de referência. Os malineses só disputaram uma edição de 1957 a 1992, mas foram vices nesta exceção, em 1972. Quando voltaram, em 1994, chegaram à semifinal. A presença mais frequente começa a partir de 2002, quando as Águias jogaram nove de dez edições. Mais quatro vezes foram semifinalistas, em retrospecto bastante honroso. Não é o time que geralmente conta com as maiores estrelas, mas angariou seu respeito.
Mali se classificou à Copa Africana de Nações no mesmo grupo de Guiné, Namíbia e Chade. Os resultados contra os adversários mais fracos valeram a liderança, mas os malineses empataram em casa com os guineenses e depois perderam na visita a Conakry. O que referenda as Águias é a campanha nas Eliminatórias para a Copa, com um desempenho praticamente impecável. Foram 16 pontos, com 11 gols marcados e nenhum sofrido. A chave tinha Uganda, Quênia e Ruanda, com o único tropeço na visita aos ugandeses. A classificação veio por antecipação.
Mali tem um meio-campo de primeira linha. O talento mais comentado é Amadou Haidara, que aos 23 anos tem boa experiência e se firma no RB Leipzig. Vai para a sua segunda CAN. Outro na Alemanha é Diadié Samassékou, volante titularíssimo no Hoffenheim. Já da Premier League vem Yves Bissouma. O desempenho do meio-campista do Brighton é muito bem cotado na Inglaterra e se reflete com os malineses. A Premier League também fornece Moussa Djenepo, ponta de alguns bons momentos com o Southampton, mas que rendeu bem mais nas Eliminatórias. Na outra ponta, quem chega cheio de moral é Adama Traoré. O jogador do Sheriff Tiraspol fez uma grande fase de grupos na Champions e brilha na seleção bem antes de ganhar fama no torneio. Por fim, na lateral direita, Hamari Traoré tem uma carreira respeitável no Rennes. É um dos principais jogadores na ascensão recente dos rubro-negros, com a braçadeira de capitão.
A sensação das Eliminatórias foi Ibrahima Koné. O centroavante do Sarpsborg, da Noruega, empilhou gols na reta final da campanha. Chega para ganhar vitrine na CAN, aos 22 anos. Apesar da forte concorrência no meio, Mohamed Camara se respalda pela ascensão no Red Bull Salzburg, seguindo os passos de Samassékou e Haidara no clube. Aliou Dieng é central no sucesso do Al Ahly nas competições africanas e, aos 24 anos, é outro para entrar na corrida pelo meio-campo. E o goleiro Ismael Diawara já tem 27 anos, mas estreou recentemente pela seleção e também disputou a atual edição da Champions, com o Malmö.
Mohamed Magassouba trabalhou em diversos clubes africanos, mas o malinês primeiro ganhou fama no antigo Zaire, chegando inclusive ao comando da seleção. Em seu país natal, o treinador dirigiu o importante Stade Malien e, na seleção, desempenhou por cinco anos o papel de diretor técnico. Seria nomeado como interino, após a saída de Alain Giresse em 2017, até ser efetivado no cargo. Magassouba inclusive dirigiu a equipe na Copa Africana de 2019, quando o time parou nas oitavas.
Gâmbia é outra estreante na Copa Africana de 2022. Os Escorpiões começaram a disputar as eliminatórias nos anos 1970, em tempos de Biri-Biri, maior lenda do futebol local – e ícone do Sevilla. Ainda assim, a classificação nunca veio. Durante os anos 1990, os conflitos civis no país atrapalharam o futebol. O ressurgimento aconteceu a partir do início do século, quando a seleção se renovou com grandes campanhas nos torneios de base e até ameaçou uma aparição na CAN 2010. De qualquer maneira, a afirmação é mais recente. No qualificatório para a CAN 2019, os gambianos chegaram a empatar com a futura campeã Argélia, mas não fizeram pontuação suficiente. O que conseguiram para 2022.
Gâmbia foi uma surpreendente líder nas eliminatórias da CAN. A equipe vinha no Pote 4 e superou adversários bem mais badalados – Gabão, DR Congo e Angola. O ponto alto foram as duas vitórias sobre os angolanos, inclusive fora de casa. Também bateram os gaboneses. Só que as Eliminatórias para a Copa acabaram cedo. Ainda na primeira fase, os Escorpiões foram superados exatamente no confronto direto com Angola. Assim, os últimos meses ficaram contidos a amistosos, não muito frutíferos, com derrotas para adversários de outros continentes como Kosovo e Nova Zelândia.
Num elenco muito jovem de Gâmbia, dois medalhões se encontram na zaga. Omar Colley lidera o grupo de talentos que joga na Itália. O zagueiro é titular da Sampdoria há quatro temporadas, depois de jogar por Genk e Djurgardens. Já a braçadeira de capitão é do lateral Pa Madou, que despontou em gerações que disputaram os Mundiais de base e estreou pelos Escorpiões ainda em 2006, com 16 anos. O veterano rodou por vários clubes tradicionais do Campeonato Suíço, embora atualmente jogue nas divisões de acesso. Na própria Suíça, quem vem marcando muitos gols é o centroavante Assan Ceesay. O jogador do Zurique persegue Arthur Cabral na artilharia e, pela seleção, marcou vários gols importantes. Por fim, o lateral Saidy Janko atua pelo Valladolid, mas despontou na base do Manchester United e passou por vários clubes tradicionais aos 26 anos.
Uma geração de estrelas gambianas se forja na Serie A. O principal deles é Musa Barrow, de 23 anos. O ponta jogou na Atalanta, mas sua melhor fase veio mesmo com o Bologna. Já são três temporadas com ótimos números pelos rossoblù. Dois anos mais jovem, Ebrima Colley é outro jovem lançado na base da Atalanta. Passou por Verona e na atual temporada está emprestado ao Spezia. No meio-campo, Ebrima Darboe tem 20 anos e surgiu na base da Roma. O garoto ainda está ganhando as primeiras chances no time principal, aparecendo um pouco mais nessa temporada pela Conference.
Tom Saintflet fez uma carreira modesta como jogador e seu início como treinador também não era tão badalado, com rodagem por clubes pequenos da Europa. Chegou a dirigir o Al-Gharafa e a seleção sub-17 do Catar, até que as portas se abrissem na África em 2008. Desde então, dirigiu diversas seleções locais: Namíbia, Zimbábue, Etiópia, Malaui e Togo. Seu passaporte ainda incluiu trabalhos nas equipes nacionais de Iêmen, Bangladesh, Malta e Trinidad e Tobago. Em 2018, desembarcou em Gâmbia. Ajudou a melhorar os resultados e passou a aproveitar melhor a boa fornada de talentos.
Mauritânia é uma equipe de ascensão recente na África. Os Leões de Chinguetti começaram a disputar as eliminatórias da Copa Africana nos anos 1980, mas nem sempre estiveram em todas as edições e não ganhavam uma sequência para se tornarem competitivos. Um pouco mais de estabilidade no time veio a partir da virada do século. E a estreia na CAN aconteceu em 2019. A equipe não venceu um jogo sequer, mas arrancou empates contra Angola e Tunísia.
A Mauritânia perdeu um jogo só em sua classificação para a CAN 2022. A vaga dependeu das duas vitórias sobre a República Centro-Africana, mas também foram um diferencial os dois empates contra o favorito Marrocos. Só que, nas Eliminatórias para a Copa, os mauritanos não foram muito competitivos. Saíram sem vencer um jogo sequer no grupo com Zâmbia, Guiné Equatorial e Tunísia. Ao menos arrancaram o empate em casa contra os tunisianos. O país ainda jogou a Copa Árabe, com direito a uma vitória surpreendente sobre a Síria, mas com derrotas para Tunísia e Emirados Árabes.
O centroavante Aboubakar Kamara disputou apenas sete jogos pela seleção, mas é um jogador com boa experiência na Europa. Surgiu bem com o Angers e defendeu por muito tempo o Fulham, até chegar ao Aris nesta edição do Campeonato Grego. Outro que pode atuar por ali é Souleymane Doukara, ex-Leeds, que nos últimos anos faz seus gols na Turquia. Aly Abeid tem 24 anos, mas uma boa experiência na seleção. Joga com o Valenciennes na segundona francesa. Já o volante Ibréhima Coulibaly, outro bastante conhecido nas divisões de acesso da França, é o capitão do Le Mans. O capitão da seleção é o zagueiro Abdoul Ba, que já defendeu Lens e Auxerre, mas atualmente veste a camisa do Al-Ahly de Trípoli. Chama atenção por sua altura, com 2,03 m.
A Mauritânia tem o jogador mais novo dessa CAN: Beyatt Lekoueiry, de apenas 16 anos, que defende o Douanes no futebol local. Se o adolescente deve ir só pela experiência, a faixa central certamente contará com Abdallahi Mahmoud. O volante pertence ao Alavés, mas é titular do Istra no Campeonato Croata. Mais à frente, o atacante Hemeya Tanjy ainda atua no futebol local, pelo Nouadhibou. Aos 23 anos, faz uma boa temporada também na Champions Africana.
O francês Didier Gomes da Rosa começou sua carreira em times das divisões de acesso em seu país, até se mudar à África na década passada. Rodou por diferentes países, e quase sempre dirigindo clubes tradicionais. Foi campeão em Ruanda, Camarões, Guiné, Sudão e Tanzânia. Com isso, conseguiu o convite para sua primeira seleção nacional através da Mauritânia. Chegou apenas em 2021, assumindo um longo legado do compatriota Corentin Martins, que esteve à frente dos Leões de Chinguetti por sete anos.