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·24 de setembro de 2020

Gre-No-Li: o tri de ouro em Londres-1948 que levou a Suécia às alturas

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Esta coluna é uma parceria da Trivela com o OlimpCast, que trará toda semana um texto relembrando algum fato marcante dos torneios olímpicos de futebol. Leia mais colunas aqui e ouça o podcast Olimpcast.

Gre-No-Li. A sigla que parece um nome de uma cidadezinha perdida no interior da França na verdade resume uma das maiores linhas de ataque a se apresentar num torneio olímpico de futebol, responsável pela maior conquista da Suécia nesse esporte, a medalha de ouro nos Jogos de Londres-1948, e por um caminhão de gols e boas histórias que atravessaram as décadas e as fronteiras.


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O futebol ainda não era profissional na Suécia naquele ano de 1948, o que permitiu ao técnico inglês George Raynor escalar a melhor seleção possível para buscar uma medalha. E ele não poderia escolher outro centroavante que não fosse Gunnar Nordahl, um pirulão de 26 anos e 1,85 m que havia liderado o IFK Norrköping na conquista do tetracampeonato nacional entre 1945 e 1948, sendo artilheiro em três das conquistas.

A seu lado, Raynor apostou no entrosamento e escalou o cerebral Nils Liedholm, 25 anos, companheiro de Nordahl desde 1946, ou seja, nas duas últimas conquistas daquele tetra. Um ponta-de-lança clássico, com excelente visão de jogo, disciplina tática e ótima chegada à área. Um pouco mais à direita, Gunnar Gren, 27 anos, também habilidoso, e então o principal jogador do IFK Gotëborg, que vinha tentando se firmar entre os grandes do país.

Os Jogos de Londres, disputados de 29 de julho a 14 de agosto de 1948, foram o primeiro grande evento internacional realizado após a Segunda Guerra Mundial. Eram uma tentativa de mostrar que as coisas poderiam aos poucos voltar ao normal, mas, obviamente, nas condições estabelecidas pelos vencedores do conflito. Assim, parte das obras foi realizada por prisioneiros de guerra alemães condenados a um regime de trabalhos forçados. Mas os atletas da Alemanha foram vetados, assim como os japoneses, numa espécie de punição.

Já a Itália, primeiro dos três países do Eixo a se render e num processo de reconstrução um pouco mais adiantado, não só teve sua participação permitida como ficou em quinto no quadro de medalhas, com 8 de ouro, 11 de prata e 8 de bronze. Do lado vencedor na guerra, a União Soviética preferiu não participar, enviando apenas emissários para assistir às competições. Para saber mais do que rolou, clique abaixo e confira o episódio 12 do OlimpCast.

O torneio de futebol não teve seletiva prévia e foi disputado por 18 seleções, em sistema de mata-mata simples. A Suécia estreou já nas oitavas com uma vitória tranquila contra a Áustria, 3 a 0, dois do homem-gol Nordahl e um do zagueiro Rosen, do Malmö. Um começo discreto se comparado aos 9 a 0 que a Itália aplicou nos Estados Unidos.

Na fase seguinte, porém, os suecos apresentaram seu cartão de visitas: uma goleada por 12 a 0 sobre a Coréia do Sul, com sete gols da trinca que ficaria famosa: quatro de Nordahl, dois de Liedholm, um de Gren. Carlsson, do AIK, fez mais três, e Rosen guardou os outros dois.

Nas semifinais, a equipe teve pela frente um clássico contra a Dinamarca, que vinha empolgada por uma vitória sofrida sobre a Itália por 5 a 3, definida apenas nos 10 minutos finais, depois de estar três vezes na frente e ceder o empate. Apesar de aparentemente estarem mais cansados, os dinamarqueses entraram ligados e abriram o placar aos 3 minutos, com Seebach. Mas, aos poucos, os suecos acalmaram o jogo e marcaram quatro gols ainda no primeiro tempo: dois de Carlsson e mais dois do zagueirão Rosen, que acabaria como vice-artilheiro dos Jogos, indo cinco vezes à rede. A Dinamarca ainda descontou na etapa final, com Hansen, mas não conseguiu ameaçar.

Na outra semifinal, surpresa: a seleção anfitriã da Grã-Bretanha, formada com o melhor possível entre os amadores num país já profissional há muito tempo, levou 3 a 1 da Iugoslávia, que calou os 40 mil torcedores presentes no estádio de Wembley. O baque foi tão grande que os britânicos ficaram até mesmo sem o bronze, derrotados por 5 a 3 pela Dinamarca.

A decisão foi equilibrada. Gren abriu o placar aos 27 com uma bomba da entrada da área, mas Bobek empatou aos 42. No começo da etapa final, Nordahl desempatou com um chute de fora da área, seu sétimo gol no torneio, e Gren liquidou a fatura de pênalti aos 22. O vídeo abaixo traz imagens dos gols suecos na decisão.

A medalha de ouro rendeu financeiramente para o trio Gre-No-Li. Em janeiro de 1949, Gunnar Nordahl trocou o IFK Norrköping pelo Milan, que voltou a Suécia meses depois, no começo da temporada seguinte, para buscar o resto do tridente. A saída para o exterior e a consequente profissionalização custaram aos três a presença na Seleção por alguns anos, o que os impediu de disputar a Copa do Mundo no Brasil, em 1950 – dos campeões olímpicos, destacaram-se Carlsson, Rosen e o goleiro Svensson.

Ao todo, os três fizeram juntos quatro temporadas inteiras pelos rossoneri, com o título de 1951 e os vices de 1950 e 1952. Gren foi o primeiro a sair, defendendo ainda o Genoa e a Fiorentina antes de voltar à Suécia para jogar por outros dois times de sua Gotemburgo natal: o Örgryte e o GAIS. Na Copa de 1958, como jogador mais velho do elenco anfitrião, aos 37 anos, foi titular em cinco das seis partidas e marcou um gol decisivo na vitória por 2 a 1 sobre a Alemanha Ocidental, nas semifinais. Morreu em 1991, aos 71 anos, e ganhou uma estátua na frente do estádio de Gotemburgo.

Nordahl seguiu rubro-negro até 1956, ganhou mais um scudetto, em 1955, e depois transferiu-se para jogar dois anos na Roma – na última temporada, disputou apenas quatro partidas e, fora de forma, já com 36 anos, acabou não sendo chamado para disputar a Copa do Mundo em casa e decidiu se aposentar. Dos três, foi o único a nunca mais defender a seleção. Até hoje é o terceiro maior artilheiro do Calcio, com 225 gols em 291 jogos, uma provavelmente inalcançável média de 0,77 gols por jogo. Sua marca de 35 gols numa temporada, 1949/50, só foi batida em 2015/16 por Higuaín. Nordahl seguiu vivendo na Itália até sua morte, em 1995, aos 73 anos.

Liedholm, o mais jovem, foi também o mais longevo, dentro e fora de campo. Voltou à seleção para jogar o Mundial de 1958 e abriu o placar contra o Brasil na decisão, provocando a famosa reação de Didi: “Vamos encher esses caras de gol, somos melhores”, registrou a lenda. Seguiu no Milan até a aposentadoria, em 1961, saindo do campo para virar auxiliar e depois técnico. Como professor, comandou vários times italianos, destacando-se também na Roma, pela qual foi campeão nacional em 1983 com o time liderado em campo por Bruno Conti e Falcão. Também permaneceu na Bota até sua morte, em 2007, aos 83 anos. Na memória e nos registros, contudo, o trio Gre-No-Li permanece vivo como símbolo de um futebol ofensivo, envolvente e, claro, vencedor.

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