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·04 de agosto de 2025
Goleiro artilheiro do Goiás, Tadeu reforça inspiração em Ceni e traça objetivos com o Esmeraldino

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Ainda que a função principal de um goleiro seja manter o gol intocável, evitando gols ou sustos desnecessários, há jogadores que desafiam esse paradigma diariamente e se destacam em campo por outros aspectos — sem jamais negligenciar a sua tarefa debaixo das traves.
Alguns desses aspectos são igualmente importantes, como saber "jogar com os pés" - uma característica que tem ganhado cada vez mais relevância no futebol moderno. Outros, porém, são mais incomuns - como a habilidade, inata ou adquirida com treino, de marcar gols.
São raros, mas existem goleiros que possuem uma veia artilheira. A maioria desses matadores incomuns já se despediu dos gramados, mas há um caso que vem deixando sua marca no futebol brasileiro, mais precisamente na Série B: Tadeu, goleiro do Goiás.
Discípulo de Rogério Ceni, José Luis Chilavert, René Higuita, Jorge Campos e tantos outros, o experiente goleiro de 33 anos marcou seu primeiro gol em 2018, quando defendia a Ferroviária, e só voltou a balançar as redes na temporada passada, retomando seu lado goleador. Agora, é o artilheiro do Goiás na atual temporada — empatado com o atacante Anselmo Ramón — com sete gols marcados.
Em entrevista exclusiva, a reportagem de Zerozero, site irmão de oGol em Portugal, conversou com o goleiro do Goiás para entender como essa característica inusitada surgiu na vida de Tadeu — um goleiro acostumado a proteger suas redes, mas também a balançar as adversárias.
Habilidade típica de atacantes com faro de gol, a arte de marcar esteve presente na vida de Tadeu desde cedo. O goleiro contou que sempre foi “forte com a bola nos pés” e que manteve, de forma consistente, um “treinamento dedicado às cobranças de bola parada”, com foco especial nos pênaltis.
O primeiro gol da sua carreira aconteceu em 2018, quando Tadeu tinha apenas 24 anos e ainda uma longa trajetória pela frente. Foi defendendo a Ferroviária que o goleiro marcou o último gol da partida, em cobrança de pênalti, após já ter se destacado em um momento anterior do duelo.
“Marquei meu primeiro gol de pênalti no jogo contra o time B do Red Bull Bragantino. Eu era um dos batedores, foi a segunda penalidade que tivemos a nosso favor, e o treinador decidiu me dar essa chance. Curiosamente, também defendi um pênalti nesse mesmo jogo”, relembrou.
O segundo gol da sua carreira veio apenas em 2024, após um intervalo de quase seis anos. Em contrapartida, Tadeu teve a chance de brilhar em dose dupla: na 20ª rodada da Série B, contra o Ceará, o Esmeraldino garantiu a vitória graças a um doblete (aos 34 do primeiro tempo e nos acréscimos da etapa final) do seu goleiro artilheiro.
"No Goiás, essa chance surgiu com a chegada do professor Vagner Mancini. Quando marquei meu primeiro gol, tivemos dois pênaltis a nosso favor e eu tive a oportunidade de cobrar os dois. E o curioso é que eu ainda não havia convertido nenhuma penalidade no tempo regulamentar, então talvez os torcedores tenham se surpreendido com aquela situação. É um momento que gera tensão — ainda mais vindo de um goleiro", relembrou Tadeu.
"Acredito que eles fiquem nervosos, é natural. Ao longo da temporada, à medida que fui marcando, fui conquistando a confiança da torcida para ser o responsável por caminhar até a marca da cal e cobrar os pênaltis que nos foram concedidos", afirmou.
No mundo do futebol, a principal inspiração de Tadeu - como o caro leitor talvez já tenha imaginado - é Rogério Ceni. O ex-goleiro, atualmente com 52 anos, disputou 1125 partidas ao longo de sua carreira e marcou nada menos que 129 gols. Um número extraordinário, considerando a posição que ocupava em campo.
Especialista em bolas paradas — não apenas da marca do pênalti, mas também em cobranças de falta com extrema precisão — a lenda do São Paulo se aposentou dos gramados em 2015. Ainda assim, sua história permanece viva, inspirando muitos apaixonados pela arte dos goleiros artilheiros. Tadeu é um deles.
"Quando se pensa em goleiro, Rogério Ceni é uma das grandes referências mundiais. É um dos grandes nomes da minha geração, tive o prazer de vê-lo jogar. Um goleiro excepcional, com um jogo com os pés acima da média. Chegou a ser utilizado, muitas vezes, como jogador de linha", revelou Tadeu.
"É impossível não citar o Ceni como especialista em cobranças de faltas, pênaltis... um verdadeiro goleiro artilheiro. Para mim, e para todos os goleiros que se interessam pela arte do gol e das penalidades, ele é a maior inspiração", completou.
Apesar da ousadia associada aos gols que marcou, o goleiro do Goiás não se destaca apenas pela precisão nas cobranças de pênaltis. Na verdade, o lançamento longo — seja com os pés ou com as mãos — é outra característica marcante de Tadeu, que considera esse “trabalho contínuo” uma verdadeira “arma secreta” para o time.
“Outra característica do meu estilo de jogo é o chute longo na reposição de bola. Com os pés ou até mesmo nos arremessos com as mãos, gosto de lançar à longa distância. Trabalho isso desde muito novo, desde a base, onde já buscava aprimorar esses fundamentos.”
“Hoje, sempre que tenho a oportunidade, tento colocar isso em prática durante os jogos. É uma arma que pode ser muito útil para o nosso time”, revelou.
Além dos 11 gols que marcou desde 2024, o goleiro brasileiro também alcançou um feito inédito contra o Cuiabá, no dia 19 de julho, ao registrar duas assistências na mesma partida — algo que nem Ederson, nem Rogério Ceni conseguiram (considerando apenas jogos oficiais).
“Foi uma sensação única. Me destaco pelos passes longos e, quando dá certo, fico muito satisfeito por poder deixar um companheiro na cara do gol, pronto para concluir a jogada. Quando recoloco a bola em jogo, meu principal objetivo é dar a assistência”, contou.
“Esse jogo vai ficar marcado para sempre na minha memória por ter sido o primeiro goleiro a dar duas assistências numa mesma partida oficial. É um feito enorme”, destaca.
Com 353 jogos disputados ao longo de sete temporadas, Tadeu já pode ser considerado uma figura histórica no Goiás. Questionado sobre a possibilidade de buscar novos desafios nesta etapa da carreira, o goleiro foi direto na resposta.
“O que me motiva a continuar no Goiás é o desejo de construir uma carreira longa em um grande clube. Com o passar dos anos, a gente cria sentimentos de amor e carinho pelo time, pelas pessoas que trabalham aqui, pela torcida. É essa paixão que me move e me faz querer prolongar minha trajetória no Goiás. Quero construir uma história bonita aqui dentro”, afirmou.
Ainda assim, o experiente goleiro não descarta uma possível convocação para a seleção brasileira — algo que seria “um verdadeiro sonho”: “Se acontecer, será uma grande realização, tanto profissional quanto pessoal. Esse é o sonho de todos os atletas. Quem nunca vestiu a camisa da seleção sonha com isso, e quem já passou por lá, sonha em voltar.”
Por enquanto, Tadeu segue aproveitando o dia a dia defendendo as cores dos Esmeraldas da Serrinha, que atualmente lideram a Série B com 37 pontos em 19 rodadas. Para ele, o objetivo é claro: ajudar o clube a retornar à elite do futebol brasileiro — e, quem sabe, marcar um gol na Série A.
“Voltar à Série A e ter a chance de marcar seria um feito enorme. Eu sonho com esse dia com frequência”, concluiu.
Curiosamente, Tadeu desperdiçou duas cobranças de pênalti nos dois jogos seguintes — a entrevista ao zerozero aconteceu dias antes. Esperamos que isso não represente o fim da aventura ofensiva desse goleiro artilheiro.