Calciopédia
·01 de abril de 2020
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Nos anos 1990, a Lazio montada pelo presidente Sergio Cragnotti demorou a engrenar, mas deu muitas alegrias ao torcedor celeste no fim da década. O cartola adquiriu o clube em 1992 e contratou jogadores que se tornariam peças vitais em conquistas futuras. Uma prova viva disso é Giuseppe Favalli. Em 12 anos na Cidade Eterna, o lateral-esquerdo virou bandeira e o recordista de jogos da agremiação romana. Mais tarde, o defensor também desfrutaria de glórias com Inter e Milan.
Nascido na comuna de Orzinuovi, em Brescia, Lombardia, Favalli deu seus primeiros passos no futebol vestindo as cores da Cremonese. Após passar pelas categorias de base do time lombardo, o garoto ascendeu ao profissional e fez sua estreia na Serie B de 1988-89, contra a Sambenedettese, em casa. A Cremo saiu vencedora do playoff de acesso à elite e, portanto, subiu para a Serie A, onde Favalli mostraria todo seu potencial.
Se em 1988-89 Beppe havia disputado apenas dois jogos – em ambos vindo do banco de reservas –, em 1989-90 ganharia a titularidade da equipe. A Cremonese não aguentou o pique da primeira divisão e concluiu o campeonato na penúltima colocação. No entanto, Favalli se destacou no certame e despertou a atenção de Cesare Maldini, então treinador da seleção italiana sub-21, que o convocou para representar os azzurrini em dezembro de 1989. No início daquele ano, aliás, o lateral havia sido chamado para defender a Itália sub-18.
Enquanto a Cremonese se mostrava uma equipe ioiô entre a primeira e segunda divisão, o lombardo progredia tática e tecnicamente a cada jogo, ativando o interesse de alguns clubes mais constantes na Serie A. Com isso, em 1992, o atleta deixou o time grigiorosso, após 102 jogos, e assinou com a Lazio. Favalli foi a primeira contratação de Cragnotti, dirigente que acabara de adquirir o controle acionário do clube.
O mandatário pagou 5 bilhões de velhas liras para contar com o defensor de 20 anos, que no campeonato de 1991-92 havia jogado como zagueiro e lateral-esquerdo. Além de Beppe, o cartola contratou outras duas promessas da Cremonese: Mauro Bonomi e Dario Marcolin, que – tal qual Favalli – também faziam parte da seleção italiana sub-21. Mas as contratações mais badaladas mesmo foram as de Giuseppe Signori, Aron Winter e Paul Gascoigne (este já estava acordado antes da chegada de Cragnotti, diga-se).
Jovem e tímido, Favalli não se adaptou logo de cara à Lazio, um clube cuja que exigia muito mais de um jogador do que a Cremonese seu antigo time. Aos poucos, porém, ele ganhou a confiança do treinador biancoceleste, Dino Zoff, e iniciou sua trajetória rumo aos estrelato laziale. Enquanto isso, o lateral obtinha ainda mais espaço nas seleções de base.
No mesmo ano em que se juntou à equipe da capital, ele venceu o Campeonato Europeu Sub-21 com a seleção da categoria e também participou da Olimpíada de Barcelona, na qual a Itália caiu para a Espanha. A eliminação veio nas quartas de final, graças a uma derrota por 1 a 0. Devido ao bom futebol apresentado na Lazio, Favalli não demorou muito para alcançar a seleção italiana principal. Aos 22 anos, fez sua estreia pela Squadra Azzurra, à época comanda por Arrigo Sacchi.
Ao passo que a carreira individual de Favalli decolava, a Lazio não conseguia transformar em títulos o alto investimento que Cragnotti fizera desde sua chegada à agremiação, em 1992. Sob o comando de Zoff e do insinuante Zdenek Zeman, o time fez boas campanhas e começou a figurar entre os primeiros colocados da Serie A, mas sequer chegou a vencer uma Coppa Italia. Entretanto, tudo mudou após a contratação do treinador Sven-Göran Eriksson, em 1997.
Com Favalli fechando o flanco esquerdo da defesa, a Lazio se apresentou como uma das melhores equipes italianas do final da década de 1990. Não por acaso os biancocelestes paparam um scudetto (2000), duas Coppas Italia (1998 e 2000), duas Supercopas Italianas (1998 e 2000), uma Recopa Europeia (1999) e uma Supercopa Europeia (1999). Vale ressaltar que os comandados de Eriksson alcançaram a final da Copa Uefa na temporada 1997-98, mas perderam da Inter por 3 a 0, em Paris. Sem dúvidas, foi o período mais vitorioso da história laziale.
Homem de confiança dos técnicos, Favalli não se caracterizava como um lateral apoiador. Isso explica a sua baixa produtividade ofensiva durante esse período vitorioso da Lazio de Eriksson: não marcou gols nem forneceu assistências entre 1998 e 2000 em jogos pelo time da capital. Outro fato que ajuda a explicar a ausência em participações de gols do lateral-esquerdo foram as recorrentes lesões. Com exceção de 1992-93, Beppe nunca conseguiu superar a marca de 30 partidas na Serie A pela Lazio – ele, inclusive, perdeu quase o segundo turno inteiro de 1999-2000 devido a contusões.
Em 2002, a Lazio optou vender Alessandro Nesta ao Milan para equilibrar as contas do clube. Sem o zagueiro, o técnico Roberto Mancini deu a faixa de capitão a Favalli. Já com status de ídolo, o camisa 19 ajudou a Lazio a conquistar a Coppa Italia de 2003-04, o que seria seu último título com a camisa celeste. Aliás, foi o primeiro troféu que o defensor levantou depois que assumiu a faixa de capitão do time.
Após o triunfar na copa nacional, o defensor foi ovacionado pelos torcedores em sua despedida do Olímpico. Em 12 anos pelos aquilotti, foram 401 jogos, seis gols, três assistências e oito títulos. Por uma partida, ele superou o grande líbero Pino Wilson como maior recordista de jogos da Lazio.
Livre no mercado, Favalli seguiu os passos de Mancini, seu ex-companheiro de equipe e ex-treinador da Lazio, e acertou contrato de dois anos com a Inter, no dia 1º de junho de 2004. Assim, Beppe, à época com 32 anos, retornava à Lombardia, sua região natal, depois de pouco mais de uma década no Lácio. No entanto, antes de estrear pela Beneamata, o lateral-esquerdo foi convocado por Giovanni Trapattoni para servir a seleção italiana na Eurocopa de 2004.
Em um grupo com Bulgária, Dinamarca e Suécia, a Nazionale não passou da primeira fase, e Beppe entrou em campo apenas no empate por 1 a 1 com os suecos, pela segunda rodada do Grupo C. Após aquela partida, o lombardo só realizaria mais dois jogos pela seleção italiana – contra Islândia (amistoso) e Noruega (Eliminatórias à Copa do Mundo de 2006), ambas em 2004. Ao todo, o lateral disputou oito partidas com a camisa azzurra, não foi às redes e não ganhou títulos.
Sob a bênção de Mancini, Favalli se encaixou na lateral esquerda da Inter logo de cara, embora fosse considerado pelos torcedores como o ponto fraco da defesa. O outro flanco da linha de retaguarda nerazzurra era ocupado pelo capitão Javier Zanetti. Já a zaga tinha Marco Materazzi como xerife – posto ocupado posteriormente por Walter Samuel – e havia um revezamento entre Iván Córdoba, Sinisa Mihajlovic e Nicolás Burdisso para ser o companheiro do camisa 23. Com essa base defensiva, a Inter de Mancini conquistou vários títulos em solo italiano.
Favalli cumpriu seu contrato com a Inter até o fim e acrescentou quatro títulos ao seu currículo: uma Serie A (2006), duas Coppas Italia (2005 e 2006) e uma Supercopa Italiana (2005). O lombardo foi tricampeão consecutivo da copa nacional, uma vez que ele havia vencido a edição de 2003-04 com a Lazio. O camisa 16 deixou a Beneamata ao fim da temporada 2005-06, depois de duas temporadas ocupando a lateral esquerda da equipe – também chegou a atuar na zaga em alguns duelos. Foram 68 jogos e seis assistências em dois anos de Inter.
Disponível no mercado, Favalli não precisou ir muito longe para encontrar um novo clube. No verão europeu de 2006, o defensor entrou para o grupo dos “corações ingratos” que saíram da Inter direto para o Milan. Se nos times anteriores Beppe não encontrou forte concorrência, a situação mudou completamente no Diavolo. Afinal, naquele momento seus adversários por um posto de titular eram Paolo Maldini, Marek Jankulovski e Kakha Kaladze.
No entanto, Favalli seria utilizado no time de Carlo Ancelotti mais como zagueiro do que na lateral. Dois motivos explicam essa escolha do então treinador milanista. Primeiro, o lombardo tinha 34 anos e, portanto, não era mais nenhum garoto, com disposição para defender e atacar na mesma intensidade dos anos anteriores. Em segundo lugar, Nesta e Kaladze perdiam vários jogos devido a lesões, então Ancelotti acabava recorrendo a Beppe como beque central.
Em sua primeira temporada no Milan, Favalli foi campeão da Liga dos Campeões. Na campanha que culminou no título de 2007, ele entrou no finalzinho do jogo de volta da semifinal contra o Manchester United, em San Siro, quando os rossoneri já estava assegurados na decisão. Diante do Liverpool, na final do torneio, ele foi a campo faltando um minuto para acabar o embate.
Antes da glória europeia, um fato curioso ocorreu com Favalli: ele marcou em dois jogos consecutivos, nas vitórias sobre Empoli e Messina (ambas por 3 a 1). No segundo semestre de 2007, mais dois títulos para a conta do camisa 19: a Supercopa Europeia, obtida em cima do Sevilla, e o Mundial de Clubes, com direito a goleada sobre o Boca Juniors. Aliás, o defensor foi inscrito de última hora na competição intercontinental, pois Ronaldo não havia se recuperado de uma lesão a tempo para a disputa.
Em suas duas últimas temporadas no Milan, Favalli passou a ser utilizado por Ancelotti como zagueiro, em virtude das contusões que diminuíam as opções defensivas do técnico. Lento, o camisa 19 era o alvo principal dos atacantes, que geralmente não encontravam muita dificuldade para passar por ele. Assim, aos 38 anos, Beppe optou por pendurar as chuteiras.
A despedida de Favalli dos gramados ocorreu numa vitória por 3 a 0 sobre a Juventus, em San Siro, com direito a show de Ronaldinho Gaúcho, em maio de 2010. A torcida rossonera o aplaudiu, ele deixou o gramado e deu um abraço apertado em Leonardo, técnico do Milan à época. E foi só. Uma despedida tímida para um jogador com grande legado no futebol italiano: afinal, Beppe fez 486 jogos na primeira divisão e está na lista dos 20 atletas que mais entraram em campo pelo campeonato.
Giuseppe Favalli Nascimento: 8 de janeiro de 1972, em Orzinuovi, Itália Posição: lateral-esquerdo e zagueiro Clubes: Cremonese (1987-92), Lazio (1992-2004), Inter (2004-06) e Milan (2006-10) Títulos: Europeu Sub-21 (1992), Coppa Italia (1998, 2000, 2004, 2005 e 2006), Supercopa Italiana (1998, 2000 e 2005), Supercopa Uefa (1999 e 2007), Recopa Uefa (1999), Serie A (2000 e 2006), Liga dos Campeões (2007) e Mundial de Clubes da Fifa (2007) Seleção italiana: 8 jogos
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