Fut das Minas
·06 de julho de 2025
Futebol Feminino no Equador: da base ao protagonismo continental

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·06 de julho de 2025
Pela terceira vez, o Equador será o centro das atenções do futebol feminino sul-americano, ao sediar a 10ª edição Copa América Feminina, principal competição de seleções do continente, entre os dias 11 de julho e 2 de agosto. A equipe anfitriã quer aproveitar essa oportunidade para consolidar o crescimento da modalidade no país e, quem sabe, conseguir uma vaga inédita para os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.
O futebol feminino no Equador começou a ganhar forma em meados de 1995, quando a FEF (Federação Equatoriana de Futebol) organizou a seleção nacional para disputar o Campeonato Sul‑Americano Feminino. Ainda que o esporte enfrentasse sérios problemas estruturais – poucos clubes, baixa profissionalização e pouco apoio governamental – foi nesse cenário desafiador que se plantou a semente de uma trajetória marcada por luta, resistência e progresso.
Quase duas décadas depois, em 2014, o país viveria um de seus primeiros grandes marcos: ao sediar a Copa América Feminina daquele ano, a seleção principal conquistou uma vaga inédita na Copa do Mundo de 2015. A classificação veio com um gol emocionante na prorrogação da repescagem contra Trinidad & Tobago, e marcou uma virada simbólica na história do futebol feminino equatoriano. No Mundial do Canadá, mesmo enfrentando adversárias mais estruturadas e sofrendo goleadas, a equipe demonstrou evolução, resiliência e espírito competitivo.
Jogadoras da Seleção do Equador recebem o troféu da Copa do Mundo Feminina de 2015 em um tour organizado pela Fifa. Foto: Conmebol
Esse avanço não ficou restrito à seleção principal. Em 2019, o Equador deu mais um passo rumo à consolidação do futebol feminino ao lançar oficialmente a Superliga Feminina, a primeira competição de nível semi-profissional do país. A liga ganhou força ao unir clubes tradicionais da Série A masculina e abrir espaço para novos talentos. Hoje, com 12 equipes em disputa e nomes como Independiente del Valle e Deportivo Cuenca se destacando, a Superliga se tornou um celeiro promissor de jogadoras e referência para o desenvolvimento da modalidade.
A profissionalização da base também começou a render frutos. Em 2024, a equipe Sub‑17 fez história ao alcançar as quartas de final do Mundial da categoria. Mais do que um feito esportivo, esse resultado reflete a evolução das estruturas de base, o apoio da FIFA por meio de programas técnicos e o envolvimento das comunidades locais — onde mais de 1.500 meninas já participam de projetos amadores e de formação.
Por trás desse crescimento, há rostos e histórias que se tornaram símbolo da transformação. Um dos maiores nomes do futebol feminino equatoriano é Gigi Moreira, atual capitã da seleção. Ao lado da irmã Gisella, fundou em 2015 a primeira escola de futebol exclusivamente feminina do país — uma iniciativa pioneira que abriu caminhos para centenas de meninas. Gigi reforça seu compromisso com o futuro do esporte “Estamos presenciando uma mudança extraordinária… políticas para recrutar e desenvolver meninas desde pequenas”, afirma.
Gigi Moreira, capitã da Seleção Feminina Equatoriana. (Foto: Mateo Torres)
Seu papel vai além do campo: ela é referência, inspiração e articuladora de um novo capítulo para o futebol feminino no Equador.
Em 2025, o Equador terá uma oportunidade única de mostrar ao continente — e ao mundo — os avanços conquistados. Entre os dias 11 de julho e 2 de agosto, o país será sede da Copa América Feminina, recebendo 10 seleções divididas em dois grupos. Esta edição, no entanto, trará mudanças importantes: pela primeira vez, o torneio não distribuirá vagas para a Copa do Mundo, mas sim duas vagas diretas para os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028 e três para os Jogos Pan-Americanos de 2027.
O estádio IDV sediará o jogo de abertura da Copa América Feminina. (Foto: Conmebol)
Quito, a capital equatoriana, foi escolhida como sede única da competição. A cidade, localizada a quase 2.800 metros de altitude e com histórico como anfitriã das edições de 2010 e 2014, receberá os jogos em três estádios: Estádio IDV (inauguração recente), Gonzalo Pozo Ripalda e Rodrigo Paz Delgado. Juntas, essas arenas podem acolher cerca de 70 mil torcedores — um público que promete transformar a atmosfera da competição e dar um novo fôlego ao futebol feminino continental.
Mais do que organizar o torneio, o Equador encara essa edição como uma oportunidade estratégica. Jogando em casa, a seleção nacional contará com o apoio caloroso da torcida e com um ambiente familiar — fatores que podem fazer a diferença na briga por uma campanha histórica. A equipe chega embalada pelos avanços dos últimos anos, com um elenco renovado e mais preparado.
Seleção Equatoriana Feminina na Copa América de 2022. (Foto: Juan Barreto/AFP)
O evento também serve como vitrine para o país, que pretende mostrar ao mundo que o futebol feminino equatoriano já deixou de ser promessa e caminha, firme, rumo à consolidação.
Ao sediar a Copa América Feminina 2025, o Equador não apenas abre as portas para as grandes seleções da América do Sul, mas reafirma seu papel como agente de mudança no cenário esportivo feminino. O país vive um momento de efervescência: há investimento na base, crescimento da liga, nomes inspiradores em campo e, sobretudo, um desejo coletivo de fazer história.
Julho de 2025 não será apenas mais um mês no calendário. Será um divisor de águas. Um momento simbólico que consolida, de vez, a nova era do futebol feminino no Equador — e que pode, quem sabe, marcar o início de um ciclo vitorioso e duradouro para as guerreiras equatorianas.