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·02 de dezembro de 2020

Flamengo: as brigas políticas de um clube dividido

Imagem do artigo:Flamengo: as brigas políticas de um clube dividido

A eliminação do Flamengo para o Racing nas oitavas de final da Copa Libertadores da América é apenas mais um capítulo de um time que não tem absolutamente nada a ver com aquele que conquistou o mesmo torneio e o Brasileirão em 2019. Mas se dentro de campo as coisas estão diferentes, fora dele, o clima nos bastidores piora a cada dia.

Lideranças importantes da atual diretoria não falam a mesma língua. A passagem de Domènec Torrent, treinador contratado para substituir Jorge Jesus, foi um dos episódios que intensificou a briga interna. O catalão era uma escolha do vice-presidente de futebol, Marcos Braz, que ganhou a queda de braço pelos até então bons resultados no futebol.


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Uma outra ala da diretoria ligada a Luiz Eduardo Baptista, o BAP, tinha escolhido o espanhol Miguel Angel Ramírez, treinador do Independiente Del Valle. Longe de ser unanimidade, Dome conheceu o inferno no Ninho do Urubu. O catalão conviveu com inúmeras pressões e teve o trabalho minado desde o início.

Os vazamentos de treinos e escalações completas se tornaram mais recorrentes, a riqueza dos detalhes fizeram com que, internamente, o Flamengo começasse uma busca firme pelos responsáveis. Dentro do clube, "dois lados" se acusam de "traidores da pátria" e o clima para os funcionários que trabalham no dia a dia do Ninho do Urubu é péssimo. Todos desconfiam de todos.

Mas os problemas de Domènec no clube passaram longe de serem apenas esse, o Ninho do Urubu se transformou num ambiente de grupinhos e cheios de "disse me disse", separados entre os que apoiavam as decisões (Domènec) do vice-presidente de futebol e aqueles que defendem uma outra ala da diretoria. Depois da derrota para o Del Valle, por exemplo, um grupo político ligado a atual gestão veio a público exigir a saída do catalão e a de Braz.

Através do Twitter, o FlaFut, que tem Dekko Roisman, como representante no conselho de futebol, publicou uma carta exigindo a saída do treinador e alfinetando Marcos Braz. Na ocasião, o vice-presidente foi questionado sobre o caso e disse entender que diante desta situação, ou o representante deixava a diretoria ou se desligava do grupo. No final das contas, tudo continou na mesma.

Com tantos problemas internos, a saída de Domènec parecia uma questão de tempo e aconteceu depois da derrota por 4 a 0 para o Atlético-MG, dois dias antes do primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil contra o São Paulo. Diante do resultado, Braz não conseguiu segurar mais Dome e foi atrás de Rogério Ceni, nome escolhido principalmente por BAP. Mas nem mesmo a chegada do novo treinador, que era bem avaliado por todos os grupos políticos, foi capaz de unir a diretoria.

Ao desembarcar no Flamengo, Ceni tocou num ponto importantíssimo para a disputa dos dois lados: Diego Alves. O atual treinador deseja a permanência do goleiro, mas a renovação do camisa 1 é mais um capítulo do clube dividido. Depois do departamento de futebol oferecer um novo contrato com o arqueiro, o financeiro, com aval do presidente Rodolfo Landim, travou a negociação deixando Marcos Braz irritadíssimo.

DISPUTAS ANTIGAS

Desde o início da gestão, inclusive, Diego Alves é um ponto de desentendimento entre os "dois lados" da diretoria. Quando Landim assumiu, o camisa 1 estava afastado e Marcos Braz foi o primeiro a defender a continuidade do jogador. Outra ala da diretoria, no entanto, desejava investir em Tiago Volpi, hoje no São Paulo. O vice de futebol conseguiu ganhar a queda de braço e perdeu a primeira logo em seguida, na contratação de Abel Braga, treinador escolhido por BAP.

(Foto: Flamengo / Divulgação)

A janela de transerências sempre causou atrito entre os dois lados, mais na frente seria Filipe Luiz o pivô de mais uma disputa. Se Marcos Braz queria o lateral, BAP deseja investir em Guilherme Arana, hoje no Atlético-MG. No entanto, o vice-presidente de futebol, depois de um longo período de negociação, ganhou a disputa.

Depois de ganhar quase tudo em 2019, esperava-se mais tranquilidade nos bastidores, mas o ano já começa complicado com a saída de Paulo Pelaipe. O gerente de futebol, que já havia acordado com Braz e Spindel a renovação de contrato, foi mandado embora pelo presidente Rodolfo Landim. Ele era um nome forte no dia a dia, tanto com o elenco como com o treinador Jorge Jesus.

ELEIÇÕES E PROBLEMAS NO DEPARTAMENTO MÉDICO

As pressões em cima de Marcos Braz aumentaram após o dirigente optar por disputar as eleições no Rio de Janeiro como vereador. Braz recebeu o aval de Rodolfo Landim, mas encontrou muita resistência internamente. Há quem acredite que a "permissão" foi dada com o intuito de enfraquecer o vice-presidente de futebol, que pode ser um adversário complicado em dezembro de 2021, caso decida por trocar de lado.

Os problemas com o departamento médico, que ficou cheio nos últimos meses (o Flamengo teve em média 7 desfalques por jogo num período de dois meses), foram colocados na conta de Marcos Braz. O setor passou por uma reformulação e os novos contratados são muito questionados por uma ala da diretoria, principalmente pela ligação com alguns atletas e o próprio vice-presidente de futebol.

Em recente entrevista coletiva, Márcio Tannure, chefe do departamento médico, assumiu publicamente toda a responsabilidade pelas contratações, o que não agradou uma parte dos dirigentes.

ANO PASSOU LONGE DOS SONHOS

No início do ano, a diretoria planejava um ano de hegemônia, chegando em todos os campeonatos. No planehamento financeiro, por exemplo, o desenhado era chegar ao menos na Final da Copa do Brasil e nas semis da Copa Libertadores. O Flamengo caiu antes nas duas competições. Agora, mais do que se reestruturar financeiramente, o clube precisa também de um novo norte politicamente.