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·02 de maio de 2025
Felipe destaca ponto forte de Rossi e celebra boa fase em Luxemburgo

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Aos 41 anos, Felipe, ex-Flamengo, atua no FC Déifferdeng 03 de Luxemburgo. Pelo clube, o goleiro conquistou a liga com cinco rodadas de antecedência e se tornou o 15º da posição com mais tempo sem ser vazado na história do futebol.
Nesta segunda-feira (29), o "Paredão" concedeu entrevista exclusiva ao MundoBola Flamengo. Felipe Ventura falou sobre o atual momento na Europa, passagem pelo Rubro-Negro, Filipe Luís, Rossi e muito mais. Confira:
Como tem sido a sua experiência no Déifferdeng 03 na atual temporada europeia? Principalmente com o título conquistado com antecedência.
"A experiência está sendo boa. Não imaginava mais, até por causa da idade, de vir jogar fora. Mas apareceu essa oportunidade de jogar uma pré-Champions e pré-Conference League. Já tinha jogado fora antes, em Portugal e na Hungria, mas nunca tinha sido campeão. Então é uma experiência muito boa, de poder jogar uma pré-Champions novamente e ser campeão com antecedência. Somos a defesa menos vazada da Europa, 20 jogos sem sofrer gols, 13 seguidos. E tendo a grande possibilidade também de ser campeão da Copa de Luxemburgo, estamos classificados para a semifinal. É um jogo só e é na nossa casa. Então a gente tem tudo também para ir para essa final", disse Felipe.
No momento, o time do goleiro já conquistou o título do Campeonato Luxemburguês. O Déifferdeng 03 possui 73 pontos, com 24 vitórias, um empate e uma derrota.
A equipe de Felipe possui o melhor ataque do torneio, com 64 gols marcados. Na defesa, é o único clube com apenas um dígito de gols sofridos, cinco, ou seja, também é o melhor sistema defensivo.
Felipe Ventura treinando pelo FC Déifferdeng 03 - Foto: Reprodução / Déifferdeng
Até o momento são 1.170 minutos sem ser vazado pelo clube, o que te torna o 15º goleiro na história do futebol com mais minutos sem sofrer um gol. Como tem sido o trabalho no dia a dia para poder manter e aumentar essa marca?
"É difícil, nos tempos de hoje, você conseguir uma marca tão expressiva como essa. Aqui eles não tinham essa mentalidade, porque o time foi campeão no ano passado, então desde o início dos jogos a gente sempre estava goleando, e aqui para eles é importante é vencer. Então você ganhava o jogo de 5 a 1 ou 4 a 1. E eu com a mentalidade um pouco diferente deles, de goleiro, com aquela cobrança de não tomar gol até em treino, eles meio que absorveram isso. No primeiro turno, batemos o recorde do campeonato de uns 100 anos, de sete jogos seguidos sem tomar gol. Eles gostaram, porque começou a sair matérias e tentei explicar para eles que quando o time ganha de 5 a 1 ninguém vai querer saber da defesa, vão querer saber do ataque", disse o goleiro.
Apesar do comprometimento em não ser vazado, Felipe afirma que a equipe joga para ganhar. Segundo o atleta, não tomar gol é consequência do trabalho feito no dia a dia.
"Então a gente começou a não sofrer gol, já está na cabeça dos caras. Chega nos 85 do segundo tempo e eles já viram para mim e ficam 'Filipe, no gol, no gol', porque eles viram que é bom. Ver várias matérias, estar em rankings e sites com o pessoal falando da defesa. Não tem esse peso de querer ficar mais um jogo sem sofrer gol, a gente joga para ganhar. Você não tomar gol é consequência do trabalho", relatou o ex-Flamengo.
Quais são seus planos a partir da próxima temporada? Permanência no Differdange, volta ao Brasil ou uma eventual aposentadoria?
"O plano é continuar aqui. A gente está próximo de conversar para a renovação. Para mim foi muito bom, não esperava que eu conseguisse ter uma temporada tão espetacular como eu estou tendo aqui. Sempre aparece algo do Brasil, mas a gente sabe que hoje é complicado, questão financeira, clubes atrasam. Quando você não vai para um time de prateleira, às vezes você passa bastante dificuldade. Hoje eu estou bem tranquilo aqui, é um país bom de se morar, estou adaptado", revelou o atleta.
Aos 41 anos, é inevitável que o tema aposentadoria fique em evidência para qualquer jogador de futebol. Contudo, Felipe entende que consegue esticar mais um pouco sua carreira embaixo das traves.
"Se eu estivesse no Brasil, poderia até estar pensando nisso. Eu sou um cara que nunca tive histórico de lesão, sempre me cuidei. Estou bem em forma e pude mostrar que ainda consigo jogar bastante tempo. Aqui na Europa eles não ligam tanto para a idade, eles ligam para o rendimento. No Brasil a gente tem a exceção do Fábio, que já está com 44 anos e parece que tem 20. Os goleiros já estão com 37 e já começam a sofrer bastante críticas. Então se eu estivesse no Brasil, certamente era algo quase iminente, mas aqui eu creio que consigo estender mais um pouquinho", afirmou o Paredão.
Quais são as diferenças entre o futebol de Luxemburgo com o futebol brasileiro?
"A diferença é que aqui o futebol não é 100% profissional. O futebol brasileiro é totalmente profissional, todas as divisões. Aqui não é, porque vários atletas dos clubes trabalham. Aqui no clube mesmo 70% dos jogadores trabalham de dia, a gente só treina à noite, às 18 horas. Eles não vivem só do futebol, tem médicos, professores. É algo que eles estão tentando implementar, aqui o clube trouxe quatro jogadores brasileiros que são atletas profissionais, faz uma diferença grande. Então é bem capaz que outros clubes agora também tenham jogadores profissionais, que não trabalham. Mas 100% dos clubes têm pelo menos alguns no seu elenco que não dependem só do futebol", explicou Felipe.
Olhando para sua trajetória no Flamengo, qual momento você guarda com mais carinho?
"Quando eu olho a minha trajetória no Flamengo, toda a minha carreira ali, foram quase 200 jogos que eu joguei, tudo teve seu momento especial. Ter jogado no meu clube de coração, conquistado títulos, jogado com grandes atletas como Ronaldinho Gaúcho, Vagner Love, Adriano, Thiago Neves, Renato e Léo Moura. Ter trabalhado com o Vanderlei, Mano, Dorival. Já são três treinadores que já passaram pela Seleção brasileira. Todo o meu momento ali no Flamengo foi especial", disse o atleta.
O goleiro relembrou alguns momentos com a camisa do Rubro-Negro, com destaque para a Copa do Brasil de 2013.
"Meu primeiro título do Campeonato Carioca, que foi logo depois da saída do Bruno, eu cheguei com desconfiança e pude pegar pênalti na semifinal e final. Acho que a Copa do Brasil também, por a gente não ter um elenco qualificado ali em 2013. Mas a gente eliminou o Cruzeiro, Botafogo, Athlético Paranaense e Goiás, todos os times que terminaram entre as cinco primeiras colocações. Então esses dois momentos para mim, desde a chegada, foram muito especiais" confidenciou o jogador.
Felipe com a camisa do Flamengo em 2014 - Foto: Reprodução / Portal WSCOM
Você ainda acompanha o Flamengo? Se sim, o que vem achando do atual desempenho do clube?
"Acompanho, não tem como não acompanhar, mesmo de longe. Além de ser torcedor do Flamengo eu sou amante do futebol. Se é jogo eu estou assistindo e se é do Flamengo eu assisto mais ainda. O desempenho dos caras é fantástico, o que o Filipe Luís está fazendo é o que todo torcedor espera. Um time jogar com DNA de Flamengo, sempre para frente. Tem tudo para conquistar grandes feitos nesta temporada. Na minha visão é um dos melhores elencos do país, mas só isso não te dá garantia. Porque esse elenco é praticamente igual ao do ano passado, um dos melhores, mas ficou fora do Brasileirão (da disputa) e da Libertadores", afirmou o ex-Flamengo.
Felipe opinou sobre o que falta na equipe do Mais Querido. A visão do goleiro é similar com a da Nação Rubro-Negra, que constantemente pede a contratação de um jogador para disputar posição com Arrrascaeta.
"Este ano para mim o Filipe Luís está sendo o grande diferencial. Acho que ainda falta uma ou outra peça, tem alguns jogadores machucados, mas se conseguir mais um jogador, principalmente um meia para quando o Arrascaeta não jogar. Quando ele sai você vê que o estilo do jogo muda completamente. Acho que o Flamengo, aí sim, vai estar pronto para ganhar todos os títulos no ano", cravou Felipe.
Filipe Luís e Arrascaeta conversando após partida - Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
Como você avalia o desempenho de Rossi com a camisa rubro-negra?
"Acho que o desempenho do Rossi está sendo bom. Quando você tem um elenco cheio de estrelas, é normal o goleiro não ser o protagonista. Ele chegou com muita desconfiança, com muitas críticas. Acho que as críticas que ele recebe é só porque ele não é um cara que tem o status de um Arrascaeta e Gerson, um nível assim. Mas embaixo da trave ele é um goleiro fantástico, toma poucos gols. Dificilmente você vê o Rossi errando. Acho que o mais importante para um goleiro é fazer bons jogos e ter uma média boa", opinou o goleiro.
Felipe entende que o argentino é um jogador com boa regularidade debaixo das traves, o que na visão do mesmo é o ponto forte para qualquer atleta da posição.
"Você não vê o Flamengo tomando muitos gols e o Rossi jogando um jogo bem e outro mal. Ele tem uma sequência boa, consegue manter uma sequência de bons jogos. Acho que o ponto forte de um goleiro é quando você consegue se manter bem. 'Ah, fez um grande jogo hoje, mas no final de semana foi mal. Na quarta-feira joga bem e no final de semana vai mal'. Não, ele mantém uma constância muito boa. Eu gosto muito do Rossi e acho que ele está fazendo um excelente papel no Flamengo", disse o Paredão.
Rossi durante treinamento no CT Ninho do Urubu - Foto: Gilvan de Souza / Flamengo
Saindo um pouco do futebol, como foi a adaptação em Luxemburgo? Quais foram as maiores dificuldades desde a chegada ao clube no ano passado?
"Em relação à adaptação, eu achei que ia ser até mais difícil, porque eu morei na Hungria e foi muito difícil. Eu consegui ainda jogar quase dois anos lá, mas depois não dava pelo frio, por tudo. Aqui também é muito frio, chega em outubro e já começa a esfriar, mas dezembro e janeiro aqui é triste. O campeonato para por causa do frio, escurece três horas da tarde, acho que essa é a pior parte", relatou o atleta.
Apesar do frio intenso, o fato de a região possuir muitos falantes da língua portuguesa — como brasileiros, lusitanos e cabo-verdianos — facilita a adaptação em Luxemburgo.
"Aqui tem muito brasileiro e português, lá no clube tem sete ou oito jogadores portugueses, comissão técnica e diretores também. Tem muito cabo-verdiano também. Então você acaba se sentindo em casa, você vai em muitos restaurantes e a maioria dos cafés aqui é rodízio de comida brasileira, então você se sente em casa. Lógico que tem aquela parte da fala. Eu faço alguns cursos aqui de francês, para tentar o básico, pelo menos entender algumas coisas. Eu já consigo, mas falar é mais complicado. Então como você está num lugar que tem bastante brasileiro e português, você acaba se sentindo no Brasil. Tem pagode dia de domingo, tem arroz, feijão, farofa, picanha, linguiça, tem tudo", contou Felipe.
Por fim, Felipe avalia positivamente a experiencia no país. Além disso, projetou a disputa do próximo Playoff da Uefa Champions League.
"Esse ano aqui deu para tirar de letra, deu para aproveitar bastante essa experiência. Como eu falei no início, eu não esperava novamente jogar fora, ser campeão e daqui a dois meses, praticamente, estar jogando uma pré-Champions. Vamos fazer de tudo, para, pelo menos, tentar entrar em alguma fase de grupos", finalizou o ex-jogador do Flamengo.
Felipe comemorando título da Copa do Brasil de 2013 - Foto: Buda Mendes / Getty Images
Com a camisa do Mais Querido, Felipe disputou 183 partidas, com 200 gols sofridos e 11 pênaltis defendidos. Entre 2011 e 2014, o goleiro conquistou dois Campeonatos Cariocas (2011 e 2014) e uma Copa do Brasil (2013).
Após a passagem pelo Mengão, o jogador rodou por 12 clubes, como Figueirense, Bragantino, Kisvárda-HUN e Botafogo-PB. Em julho de 2024, o goleiro foi contratado pelo FC Déifferdeng 03.