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·24 de novembro de 2020

Família Scolari: a jornada da Seleção Brasileira em 2002

Imagem do artigo:Família Scolari: a jornada da Seleção Brasileira em 2002

30 de junho de 2002. Uma data para a posteridade com os dois gols que consagraram Ronaldo Fenômeno e o Brasil como pentacampeões mundiais. Daquele jogo contra a Alemanha, a cena eternizada foi o “eu te amo” de Cafú ao subir no púlpito e erguer a taça. No entanto, aquela partida foi a apoteose de uma geração que chegou bastante desacreditada à Coréia do Sul e Japão e com união e harmonia, sem vaidades, conquistou o mundo. Desde então e para todo sempre, aquele grupo passou a ser conhecido como a Família Scolari. Dessa forma, nesta terça-feira (24), a coluna Nostalgia Brasileira relembra os sete jogos até o topo mundial.

No entanto, a história que todos conhecem, dos gols memoráveis e das vitórias históricas que renderam o penta não era nem perto de se imaginar para 2002. Isso porque, a montagem do elenco para a Copa da Coréia do Sul e do Japão passou também por um processo de superação de fantasmas e de um dos piores ciclos para os mundiais que já tivemos. Algo, talvez, somente pior que os quatro anos após o 7 x 1 do Mineirão.


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Assim, depois do vexame no Stade de France, na final de 1998 contra a França, a Seleção Brasileira passaria por uma reformulação. Logo, Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo que até conquistaria a Copa América, em 1999, mas em seguida, oscilaria. Além disso, veio a lesão de Ronaldo Fenômeno que ficaria sem jogar por mais de dois anos. Após o fracasso nas Olímpiadas de Sidney, na Austrália, em 2000, Luxa perdeu vaga para Emerson Leão. No entanto, uma nova derrocada na Copa das Confederações, em 2001, custou o cargo do treinador.

Após passar por três nomes desde então, a Seleção Brasileira chegaria ao quarto treinador em quatro anos, Luiz Felipe Scolari foi o nome convocado. Assim, à época, era um dos técnicos de maior destaque na cena brasileira com as conquistas recentes da Copa do Brasil, Libertadores e Copa Mercosul pelo Palmeiras, além de mais duas Copas do Brasil pelo Grêmio e Criciúma. No entanto, começou mal sendo eliminado na Copa América, em 2001, pela fraca Honduras.

Apesar disso, se manteve no cargo até o fim das Eliminatórias para a Copa, onde o Brasil fazia uma campanha abaixo de sua história com riscos de disputar a repescagem. Mas, com o brilho da estrela de Luizão, Felipão conseguiu evitar o vexame de não classificar para o Mundial. Assim, o passaporte estava carimbado, a Seleção Brasileira iria para a Ásia, mas com que elenco? Com que estilo de jogo? Ronaldo ou Romário? Será que valia a pena bancar o Fenômeno após mais uma grave lesão no joelho?

A FAMÍLIA SCOLARI

Com carta branca para montar o elenco para a Copa do Mundo, Felipão começou a reconstruir o time da sua forma. Assim, deu oportunidades para Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká, montando o embrião da Família Scolari. Mas nada conquistaria sem seus craques, nas laterais Cafú e Roberto Carlos e na zaga, Lúcio, Roque Júnior e Edmilson. Já na frente, Juninho Paulista, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo. Logo, com jogadores de sua confiança, tinha em Marcos o goleiro que lhe levou às maiores conquistas no Palmeiras.

No processo até o Mundial, Felipão enfrentou críticas da torcida e da imprensa por não convocar Romário e manter a esperança no recém-recuperado Fenômeno. A teimosia se mostraria sábia meses depois. No entanto, na véspera da estreia contra a Turquia. o capitão Emerson deslocou o ombro e foi cortado. Em seu lugar, chegaria às pressas, o volante Ricardinho, então do Corinthians. Estava definido os 23 jogadores que iriam para Ásia.

FASE DE GRUPOS PERFEITA

Logo, no sorteio dos grupos, o Brasil teve sorte e caiu na chave C, juntamente com Turquia, China e Costa Rica, seleções de pouca tradição no futebol. No entanto, os turcos chegaram ao Mundial com uma de suas melhores gerações de todos os tempos, 48 anos depois da então única participação. Assim, deram trabalho, saíram na frente com Hasan Sas, ainda na etapa inicial. No entanto, na volta do intervalo, brilharia as estrelas dos dois principais nomes daquela campanha: Ronaldo, oportunista como sempre, e Rivaldo, de pênalti.

Em seguida, superado o nervosismo da estreia, a Seleção Brasileira começaria ali a Família Scolari que levaria até a final. Pois, soltos dentro de campo, veio a goleada contra a China, por 4 x 0, com gols de Roberto Carlos, numa bomba histórica de falta, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, mais uma vez. Assim, com a vaga para as oitavas de final assegurada, o Brasil deu show novamente diante da Costa Rica, por 5 x 2, em mais uma grande exibição da dupla de R's, e confirmou a liderança.

O CAMINHAR ATÉ A FINAL…

Com três vitórias na fase de grupos, com 11 gols marcados e apenas três sofridos, o Brasil já não era o desacreditado de antes. Assim, superou a Bélgica nas oitavas de final com gols de Rivaldo e Ronaldo. Em seguida, enfrentaria a Inglaterra dos craques David Beckham e Michael Owen. Saindo atrás, talvez na melhor exibição de Ronaldinho Gaúcho em copas, foi dele o passe para o gol de empate do Camisa 10, em grande arrancada pelo meio. Em seguida, o Bruxo fez um gol antológico de falta, enganando Seaman que acreditava em um cruzamento.

Classificação garantida para a semifinal contra o antigo conhecido: a Turquia. À essa altura, a confiança do grupo formado por Felipão já estava nas alturas, cinco vitórias seguidas e passaporte para a semifinal. No entanto, Ronaldo havia deixado o campo contra a Inglaterra sentindo dores no adutor da coxa, preocupante pelas lesões então recentes no joelho. No entanto, com a dose de superação peculiar do Fenômeno, de biquinho contra os Turcos, foi selada a classificação para a final.

“QUE OLIVER KAHN QUE NADA!”

Após seis jogos, o Brasil voltava a mais uma final de Copa do Mundo, a terceira seguida depois de 1994 e 1998. Em campo, ainda não se tinha a rivalidade de hoje com os alemãs, o que estava em jogo era o resgate da alma brasileira diante do fracasso quatro anos antes. Nos bastidores, a tensão por uma nova convulsão de Ronaldo… mas que nada, no jogo, o Fenômeno provou que estava de volta. Pois, com mais dois gols espantou a cara feia do goleiro Oliver Kahn, injustamente eleito o craque da copa, e trouxe na mala o penta e a artilharia do mundial com oito tentos.

Desse torneio, pode-se tirar fatos marcantes: primeiro mundial na Ásia, primeira copa dividida em dois países, o choque cultural das nações. Além disso, a superação de Ronaldo que ressurgiu para o futebol, mas o grande alicerce do penta foi a harmonia, a união, o prazer de estarem juntos de uma geração sem vaidades, capitaneada pelo paizão Felipão. Uma conquista imortalizada por um elenco que esteve acima de qualquer estrelismo, tanto que todos apareceram na foto da final, todos os 23 serão para sempre a FAMÍLIA SCOLARI.

Foto Destaque: Reprodução/Juca Varella/Folhapress

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