Trivela
·20 de agosto de 2020
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·20 de agosto de 2020
Quando o Lyon perdeu a final da Copa da Liga Francesa para o Paris Saint-Germain, foi decretado que o clube não disputaria competições europeias na próxima temporada, o que ainda não estava 100% confirmado. Caso conquistasse a Champions League, se classificaria como o atual campeão, mas era difícil imaginar um cenário em que isso aconteceria. Agora, é um pouco mais fácil imaginá-lo. O Lyon não será campeão europeu e não disputará competições europeias na próxima temporada, mas chegou mais perto do que todos esperavam.
Mesmo nesta quarta-feira, causou mais problemas ao Bayern de Munique do que os adversários dos bávaros nas fases anteriores – Chelsea e Barcelona – e precisa lamentar a falta de capricho para converter as oportunidades que criou, especialmente no começo do primeiro tempo, que poderiam ter mudado a história do jogo ou, pelo menos, mantido vivo o suspense sobre a possibilidade de o clube francês repetir o que vinha fazendo até agora: derrubar gigantes.
Quando começou a temporada, o Lyon estava animado pelo início de um novo projeto comandado por brasileiros, com o ídolo Juninho Pernambucano na direção de futebol e Sylvinho como técnico. O ex-auxiliar de Tite chegou a vencer bem as duas primeiras rodadas da Ligue 1, por 3 a 0 sobre o Monaco e 6 a 0 sobre o Angers, mas embarcou em uma sequência de sete partidas sem vitória pela liga que culminou na sua demissão, após derrota no clássico contra o Saint-Étienne.
Na Champions League, a situação era até boa, com um empate em casa contra o Zenit e uma vitória importante na estrada diante do RB Leipzig. Juninho trouxe Rudi Garcia para endireitar o barco, e ele conseguiu a classificação em segundo lugar, com um empate suado na rodada final, e esboçou certa recuperação na Ligue 1, embora com uma irregularidade ainda alta de resultados, antes de o torneio ser cancelado por causa da pandemia com o Lyon em sétimo lugar.
Essa decisão teve duas importantes implicações ao Lyon. A primeira era que a única chance de jogar pelo menos a Liga Europa seria com o título da Copa da Liga Francesa, cuja final seria disputada contra o Paris Saint-Germain, em julho, ou da Champions League. A segunda é que seus jogadores passariam cinco meses sem partidas oficiais, longo período que poderia custar em ritmo de jogo, mas que serviria para uma boa preparação.
Garcia é experiente. Foi campeão com o Lille e, com altos e baixos, treinou Roma e Olympique Marseille. O Lyon tinha pela frente uma mini-maratona contra equipes muito mais ricas e poderosas e precisava de uma estratégia específica para essa situação. Testou-a com sucesso contra o PSG na final da Copa da Liga, quando segurou as investidas dos parisienses, praticamente sem cometer erros ou vacilos, até a disputa de pênaltis, na qual a perda de uma das cobranças custou o caneco.
O plano colocado em prática foi bem claro: travar o adversário e aproveitar a velocidade dos seus atacantes, sempre com uma postura de franco-atirador. Contra a Juventus, apenas a primeira parte era necessária por causa da vantagem no jogo de ida. Os pênaltis movimentaram o placar e Cristiano Ronaldo tirou um coelho da cartola de fora da área para o qual era impossível se preparar. Graças ao gol marcado fora de casa, o Lyon passou às quartas de final.
É surpreendente sempre que Cristiano Ronaldo sai tão cedo da Champions League, mas era uma zebra um pouco anunciada pela vantagem que o Lyon trazia da primeira partida e pelo mau futebol que o time de Sarri vinha praticando na reta final da Serie A. Fazer o mesmo contra o Manchester City de Guardiola, que impressionara nas últimas rodadas da Premier League, seria outra história, por mais que pudessem tirar confiança dos duelos contra o City na fase de grupos de 2018/19 – uma vitória e um empate.
Guardiola escalou um time titular estranho, modificado para espelhar os três zagueiros de Garcia, e manteve muito talento no banco de reservas por tempo demais. Também deu um azar danado nos gols perdidos por Gabriel Jesus e Sterling, mas o Lyon conseguiu limitar muito bem a produção adversária por aproximadamente uma hora e atacou a fragilidade defensiva do City com a velocidade de Cornet e Dembélé. Independentemente de como tenham surgido as chances, teve o que faltou contra o Bayern de Munique: precisão.
Um pouco mais dessa commoditie poderia ter feito a diferença contra um Bayern que, apesar de ter passado o trator em seus adversários, se mostrou ligeiramente vulnerável nesta quarta-feira e também antes de a porteira abrir contra o Barcelona. O Lyon foi superior no começo e teve chances com Depay e Ekambi para fazer 1 a 0. Não o fez e uma jogada sensacional de Gnabry abriu o caminho para o Bayern. O ponta alemão ainda fez o segundo e mesmo perdendo por 2 a 0 o Lyon lutou com todas as forças para voltar à partida.
A campanha fantástica na Champions League igualou a semifinal de 2009/10, e, junto com uma final nacional, marca este time como o mais importante do clube depois do heptacampeão. A melhor notícia é que ainda se trata de um elenco jovem. Entre os principais jogadores, apenas Rafael (30), Marçal (31) e Marcelo (33) têm mais de 30 anos.
E por mais que o sucesso deva a atrair interessados, a ótima base do Lyon não cansa de produzir potenciais reposições. Por exemplo, Ndombélé foi vendido ao Tottenham, e Maxence Caqueret apareceu como um ótimo complemente ao meio-campo, ao lado de Bruno Guimarães. Hassem Aouar, o terceiro elemento do setor, fez a torcida sentir menos falta de Nabil Fekir.
O Lyon pode ter se aproveitado das circunstâncias para chegar longe na Champions League, mas não foi uma campanha meramente casual. Existe um bom time nas mãos de Rudi Garcia e ainda potencial inexplorado que pode fazê-lo crescer e dar ainda mais orgulho ao seu torcedor.
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