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·16 de maio de 2019
Expulsão, carisma e morte mal explicada de intérprete: Tutuba está de volta

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·16 de maio de 2019
Eram os 80 anos do Clássico das Cores, como é conhecido o encontro entre Ferroviário e Fortaleza, mas nem a data redonda deve ter sido capaz de garantir a memória dos gols daquele jogo de primeiro turno de Campeonato Estadual. A cena do fim de tarde, começo de noite no Presidente Vargas foi protagonizada por Tutuba. No empate do Ferrão (que depois perderia por 3 a 1), o mascote tirou a camisa e dançou com a bandeira de escanteio. Ainda na comemoração, o tubarão seminu acabou expulso pelo árbitro.
"Excluí dos arredores do campo de jogo o mascote da equipe do Ferroviário AC, aos 33 minutos do segundo tempo, por adentrar o campo de jogo e comemorar o gol de sua equipe no quarto de círculo de escanteio", escreveu Léo Simão em sua súmula.
Dias depois, Tutuba aprontou de novo, mas desta vez na ida ao jogo contra o Ceará, também no PV. O tubarão simplesmente foi para o estádio dirigindo um carro. O jornal O Povo não perdoou e estampou a nota em seu site: 'Após expulsão em jogo, Tutuba é flagrado cometendo três infrações de trânsito'. E ainda listou: dirigir usando máscara, sem cinto de segurança, e transportando passageiros na traseira da caminhonete.
Mas a festa do Tutuba chegou ao fim em novembro do ano passado. Ronierbson Gomes, Tutuba a cada jogo do Ferrão desde 2015, morreu ao voltar da comemoração da Taça Fares Lopes, conquistada pelo clube no último 4 de novembro. Oficialmente, vítima de um acidente de carro, mas com uma história até hoje mal resolvida.
Só agora, seis meses depois, na segunda rodada da Série C, o Tutuba voltou, com identidade ainda em sigilo.
A morte
Roni bateu o carro contra um poste, teve um corte na cabeça e perdeu muito sangue, apontaram as notícias do dia seguinte. Passou a segunda-feira pós-título no hospital, e morreu à noite. Foi enterrado na quarta-feira, e diversos clubes se mobilizaram em homenagens aquele que era, para muitos, o mais carismático mascote do futebol brasileiro.
Mas poucos dias depois surgiram depoimentos de testemunhas que relataram que Roni foi agredido por policiais ao pedir ajuda numa pizzaria após a colisão. Uma pessoa que estava no estabelecimento relatou que os agressores não deram a mínima quando as pessoas pediram para que parassem de bater na vítima. Outra diz com todas as letras: não foi acidente. Elas também afirmaram que não havia sangue no carro, mas que Tutuba chegou ensanguentado no hospital onde foi atendido.
Em dezembro, o laudo médico do Instituto Dr. José Frota apontou morte por traumatismo craniano. A família seguiu os relatos das testemunhas e afirmou que Roni pediu um telefone para ligar para a esposa quando acabou arrastado pelos policiais, que questionavam a embriaguez do torcedor do Ferroviário. A tia ressalta que ele foi espancado até a porta de casa, onde os policiais o deixaram ao invés de ir ao hospital. A polícia informou na época a abertura de um inquérito para investigar o caso.
Em janeiro, o Ferroviário fez uma camisa com um selo especial prometendo reverter parte do valor para a família de Roni. E em março, numa reportagem do SBT local, a mãe do Tutuba, Elivanda Gomes, cobrou celeridade no caso.
A volta
Pois bem, chegou o Campeonato Brasileiro e o atual campeão da Série D estreou uma divisão acima empatando com o Botafogo na Paraíba. No segundo jogo, no último dia 5, venceu por 3 a 0 o Santa Cruz jogando em casa e promovendo o retorno do mascote famoso, com direito à vídeo nas redes sociais e grande anúncio. Mas, depois dos quatro anos de Roni vestindo Tutuba, a identidade do novo intérprete foi mantida em sigilo. A ideia do clube é de preservar o novo colaborador, até para que os olhos da torcida e da imprensa fiquem mais para o personagem que para o substituto de Roni. Foi escolhido um torcedor próximo dos funcionários do clube, irreverente como a fantasia exige e que logo deve ter uma fantasia nova e personalizada.
O ressurgimento teve grande repercussão nas redes, ainda mais com a boa campanha do clube que lidera a Série C numa caminhada invicta. Ao mesmo tempo, alguns torcedores aproveitaram as notícias para reverenciar a memória de Roni e também cobrar o desfecho da investigação sobre a morte - o perfil Resistência Coral no Twitter lançou uma petição pública para cobrar a Polícia Civil e o Ministério Público do Ceará.
Segunda-feira, às 20h, o Ferroviário fecha a quarta rodada recebendo o Globo no Castelão. Segundo jogo em casa e, portanto, segundo contato mais próximo do novo Tutuba com a torcida do Ferrão. Um mascote que, se pouco se sabe quem é, ainda motiva a lembrança daquele que fez da roupa de tubarão um dos mais marcantes mascotes do futebol brasileiro recente.