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Fut das Minas

·23 de janeiro de 2025

Exclusiva! Ex-goleira do Santos descreve série de abusos que sofreu no clube: “As coisas saíram do controle”

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Há pouco menos de um ano, os bastidores da equipe feminina do Santos foram atribulados com o retorno de Kleiton Lima ao cargo de técnico após ter sido alvo de uma série de denúncias de assédio, realizada por um grupo de jogadoras.

Quase 10 meses após o episódio, o assunto volta à tona com o desabafo da goleira Kelly Chiavaro, que chegou ao clube em 2024 e teve seu contrato rescindido nesta semana. Em um post de despedida na rede social, a arqueira desabafou sobre ter sofrido e presenciado uma série de abusos enquanto esteve no clube. Veja na íntegra:


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Print da publicação do Instagram da @kellychiavaro

Em entrevista exclusiva ao Fut das Minas, Kelly descreve algumas das situações que vivenciou e as ações que ela e algumas jogadoras tomaram para tentar melhorar o ambiente no clube.

Abusos, constrangimento e xenofobia

Nascida no Canadá, Kelly Chiavaro chegou ao Santos no início de 2024. Antes do clube paulista, a goleira passou por Botafogo e Flamengo, primeiras equipes brasileiras em que atuou.

Porém, foi nas Sereias da Vila em que ela viveu e presenciou diversas situações de assédio moral e psicológico. Algumas delas ocorriam no vestiário, ao final de partidas em que a equipe tinha sofrido derrotas. “Após um dos jogos que perdemos, especificamente contra a Ferroviária e o Taubaté, as coisas saíram do controle. No vestiário foi dito que o time todo não prestava, que somos sem vergonhas e que o presidente já havia dado a ordem de mandar todo o time embora, que não prestamos e que não achavam que éramos jogadoras de elite”, relata.

Ainda de acordo com Kelly, os episódios de constrangimento público não se limitavam apenas a situações dentro do campo. Em outro momento, ela descreve que até o fato de ser uma jogadora estrangeira já foi alvo de críticas e perseguição.

“Muitas vezes fui interrompida no meio de uma frase e me disseram: não está na hora de você falar português? Na verdade, eu falo cinco idiomas e, às vezes, misturo algumas palavras em espanhol. Falo português o dia todo, não importa aonde eu vá, e não tenho nenhum problema em ser compreendida. Além disso, havia muitas jogadoras internacionais na equipe que não falavam uma palavra de português e nunca foram repreendidas por isso”, explica.

Outro ponto que incomodou a atleta foi o planejamento das atividades desde que chegou ao clube. Tanto Kelly, quanto a sua companheira e atacante do Santos, Sole Jaimes, foram deslocadas para realizar atividades separadas do elenco principal sem nenhuma explicação.

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Santos Reprodução

“Eu e a Sole fomos completamente separadas da equipe. Fomos removidas do grupo do WhatsApp antes mesmo de chegar ao clube, no dia 9 de janeiro. Disseram-nos que não poderíamos nos apresentar com o time. Não pudemos ir à primeira reunião da equipe. Fomos enviadas para fazer nossos exames de sangue e cardiológicos uma semana depois do elenco. Fizemos tudo separadamente, além de treinarmos separadamente no campo e na academia em horários diferentes do grupo”, revela.

Sobre a sua rescisão de contrato, Kelly conta que recebeu a notícia através do seu empresário. Nem o clube ou a diretora do departamento de futebol feminino, que estava constantemente presente no dia a dia da equipe, falaram diretamente com ela sobre o assunto. “Fui ao treinamento poucos dias depois de ser informada por meu agente sobre a rescisão. A diretora estava presente e não falou nada sobre meu contrato. Quando cheguei em casa depois do treino, fui informada novamente pelo meu agente que meu contrato seria rescindido naquela mesma noite. Se isso não é abuso psicológico, não sei o que é,” desabafa.

Denúncias sem soluções

Quando ocorreu o retorno do Kleiton Lima à equipe, episódio citado no início desta matéria, o então presidente do Santos, Marcelo Teixeira, chegou a afirmar em entrevista coletiva que todas as denúncias seriam minimamente apuradas. “Temos que ir às últimas consequências, para que se preserve a menina, a mulher, quem estiver envolvido”.

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Presidente Marcelo Teixeira durante coletiva de imprensa em abril de 2024 | runo Gutierrez

Entretanto, diferente do prometido, Kelly relata que tanto ela quanto outras atletas chegaram a procurar o clube, inclusive na pessoa do presidente, e não tiveram nenhum retorno. “Houve vários casos em que as jogadoras foram diretamente ao presidente para expressar suas preocupações e nada foi feito, nenhuma mudança, só terminou prejudicando as meninas. O clube também tem um local para fazer denúncias anônimas e houve vários casos em que as jogadoras ou membros da comissão fizeram denúncias, mas nada foi feito também”, lamenta.

Sem encontrar soluções internas e culminando com sua rescisão no clube, Kelly expôs o que passou no clube publicamente como forma de chamar a atenção para as situações que ela e outras companheiras vivenciaram. Um meio de dizer basta a episódios como esses.

“Acho que muitas jogadoras já estão fartas das coisas que vivenciamos no futebol feminino. Sabemos que nossa voz e nossos testemunhos têm poder e o fato de termos um lugar e uma plataforma para defendermos umas às outras demonstra muita força e esperança para o futuro do futebol feminino. Ao longo dos anos, vimos muitas mulheres defenderem direitos melhores e melhorias.”

O que diz o Santos?

Procuramos a assessoria do Santos FC para questionar sobre o conteúdo exposto pela ex-atleta do clube tanto em suas redes sociais como na entrevista exclusiva feita para a nossa equipe.

Em resposta, o clube se limitou a negar as afirmações de Kelly Chiavaro, dizendo o seguinte: “Os comentários feitos pela ex-atleta Kelly Chiavaro são rigorosamente improcedentes. O Santos FC tomará as medidas cabíveis.”

Para trazer mais clareza e contexto aos leitores, deixamos abaixo os questionamentos enviados à assessoria do clube.

– De acordo com o relato da então ex-goleira do Santos, Kelly Chiavarro, ela e algumas companheiras passaram por episódios de abuso moral, psicológico e de poder dentro do clube. De acordo com a mesma, as situações são de conhecimento das pessoas envolvidas e da instituição. Segundo ela, as atletas procuraram o presidente para relatar e os canais oficiais do clube, mas nenhuma solução foi tomada. Queria saber se o Santos de fato teve conhecimento de situações desse tipo e se há alguma ação que foi tomada internamente sobre as queixas da atleta ou de outras.

– A atleta cita diretamente a coordenadora do clube, alegando que sua demissão a transformou em um “dano colateral” por algo que ela não estava envolvida. Que as decisões foram tomadas por questões pessoais e não houve profissionalismo no trato da renovação ou rescisão de contrato. O que o clube pode falar sobre essa condução com a atleta?

– Em apuração com  atleta, identificamos também que a mesma estava treinando há tempos separada do clube, assim também como sua rotina de atividades já estava sendo feita separada do elenco, sem motivo aparente. Isso realmente aconteceu? Se sim, por qual razão o clube mantém esse tipo de atividade separada?

– É sabido publicamente que há denúncias de diversos tipos de abuso nos bastidores da equipe feminina desde anos anteriores. Já veiculamos aqui inclusive, relatos de outras atletas sobre o que ocorria na época de Kleiton Lima. O presidente Marcelo Teixeira tinha dito em coletiva que iria a fundo para apurar os fatos e tomar soluções. O que foi feito até então? O que já foi apurado do caso Kleiton Lima pela entidade? Quais medidas foram tomadas desde a coletiva em 17/04/2024? E o que está sendo feito para solucionar os problemas e denúncias citadas agora?

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