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·18 de outubro de 2023

Ex-Palmeiras em Israel relata drama com família, desespero do filho e treino com segurança armado

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Revelado nas categorias de base do Palmeiras, o atacante Felipe Santos, de 26 anos, esteve na cidade de Haifa, em Israel, em meio às tensões entre o país com o Hamas, grupo extremista palestino. O jogador , que atualmente defende o Hapoel Haifa-ISR, retornou ao Brasil em um avião da Força Aérea Brasileira nesta quarta-feira (18), após passar por fila de espera para garantir vaga em voo da FAB para ser repatriado. Ele, a esposa, o filho de três anos e a avó foram um dos últimos brasileiros a permanecerem na cidade durante conflito.

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Em conversa com o NOSSO PALESTRA, o atleta, relatou os momentos de tensão vividos no país do Oriente Médio e contou a rotina de quem seguiu no local durante a tensão política que culminou na morte de milhares de pessoas nas últimas semanas.

– Momento muito difícil que Israel e os estrangeiros aqui estão passando. É um momento onde você dorme pouco, fica com medo, com tensão, ainda mais para quem tem família e filho, é um momento delicado. Estou há cerca de uma hora e meia da Faixa de Gaza, um pouco distante, mas ainda assim nós recebemos alerta de bombas lançadas de lá para cá. Estamos perto da fronteira do Líbano, onde há outro grupo atacando. É um momento muito difícil. (…) Nesses últimos dias aqui a gente não descansou, enquanto um dorme outro fica acordado. Para o meu filho também, isso causa abalo psicológico – contou em conversa por vídeo com a equipe do NP.

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O jogador, que mora na cidade desde julho, relatou o medo do filho e o estado de alerta caso o alarme de ataque toque, indicando que os moradores deve se proteger em um bunker, uma sala com uma pequena janela, cuja utilidade fuga em caso algum invasor tentar entrar no local. Mesmo sem que o alerta sonoro seja ligada, a orientação é ficar sempre dentro de casa e não abrir a porta para nenhum estranho.

– Às vezes toca o alarme e temos um minuto e meio para se esconder em um bunker. A todo o momento é ficar em alerta, esperando. Temos que ficar dentro de casa, não pode abrir a porta para ninguém. Temos que tentar acalmar o coração do meu filho, da minha avó, que estão com muito medo. Meu filho quando ouve aviões de caça ele fica assustado, ele fala: “Papai, guerra, bomba, bunker”. Coisas que o brasileiro não está acostumado – relatou.

O futebol, neste momento de guerra, fica em segundo plano. Há duas semanas a Liga Nacional está suspensa e os atletas estrangeiros foram liberados para retornar aos países de origem. Sem parecer da Fifa para a continuidade do esporte em Israel, os treinamentos retornaram no início desta semana, com seguranças armados protegendo os atletas dentro de campo. Ainda não há previsão de retorno da competição nacional.

– Iríamos jogar pelo campeonato na capital, e recebemos uma mensagem dizendo que os jogos e treinos estavam cancelados pela situação de Israel. Todos os jogos foram cancelados, o campeonato cancelou, os times israelitas pediram para não jogar competições continentais, a Seleção de Israel também teve jogos adiados na Data Fifa. O futebol fica em segundo plano, mas é a nossa carreira. Esperamos que isso acabe. Ainda não saiu uma previsão de retorno, estamos aguardando a Fifa, a Liga e o clube se manifestarem. Dois dias atrás voltaram os treinamentos, com segurança armada na beira do campo. Nunca se sabe se vai entrar uma pessoa querendo fazer maldade contra você – acrescentou.

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Felipe Santoa em ação pelo Hapoel Haifa, de Israel (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

ENTENDA A TENSÃO ENTRE ISRAEL E HAMAS

No penúltimo sábado, dia 7 de outubro, Israel viveu o maior ataque realizado pelo Hamas contra o país, que deixou 1,2 mil pessoas mortas e cerca de 2,6 mil feridas. Israel reagiu com bombardeios que já mataram mais de 2.700 civis. As tensões na região Oriente Médio duram cerca de 70 anos e vivenciam o agravamento do conflito neste ano.

– É difícil (para manter o físico e o mental em dia). Ainda mais quando você tem um filho de três anos que quer brincar, que quer pular. As escolas estão fechadas, é preciso dar atenção para filho e para a família. Antes de voltar os treinamentos eu levava meu filho em um parque em frente de casa, sempre com o olho atento. Às vezes toca o alarme e temos um minuto e meio para se esconder no bunker. A todo momento é ficar em alarme, esperando. A parte psicológica é importante. Peço para Deus que nos dê paz em meio à guerra. Estamos bem, estamos tranquilos. Nesses dias tentei dar uma corrida, sempre próximo de casa e de bunkers públicos, caso aconteça alguma coisa – contou Felipe.

Em nota, a ONU afirmou que a retaliação de Israel pode causar “consequências humanitárias devastadoras” e também classificou o ataque do Hamas do último dia 7 de outubro como “crime de guerra”. Em Levantamento do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, a partir de dados do ministério da Saúde palestino, apontou que, o número acumulado de vítimas desde o início da guerra entre o Israel e o Hamas deixou pelo menos 5.339 feridos na Faixa de Gaza.

O escritório divulgou ainda um balanço das mortes anuais em confrontos diretos desde 2008. O dado aponta para cerca de sete mil vidas perdidas nos últimos 15 anos.  Em 2023, foram 277 palestinos mortos, contra 29 israelenses no mesmo recorte.

RELAÇÃO COM O PALMEIRAS

Apesar de fazer toda sua carreira profissional no futebol do Leste Europeu, conquistando títulos nacionais na Eslovênia e Azerbaijão, Felipe passou pelas categorias de base do Palmeiras, Paulista de Jundiaí e Vasco, e relembrou história inusitada em sua chegada ao Verdão, em 2015.

– Toda vez que eu passava em frente do CT das categorias de base do Palmeiras eu falava para o meu pai que tinha o sonho de jogar lá. Eu estava sem clube, entreguei um currículo na porta da Academia de Futebol e falaram que eu era bom, mas que seria impossível eu jogar no clube, pois tinham jogadores de qualidade na equipe, atletas de Seleção. Mas eu falei que jogaria lá. Passado um ano eu fui para o Paulista de Jundiaí, estreei profissionalmente contra o Palmeiras, joguei a Copa São Paulo de Futebol Junior pelo Paulista e depois disso recebi a proposta do Palmeiras.

– Quando eu cheguei ao clube encontrei o segurança que recebeu o meu currículo e ele falou que me conhecia. Eu relembrei que ele havia dito que seria impossível jogar lá dentro. Falei ‘olha onde eu estou’ e ele me abraçou – relembrou Felipe.

Na Academia de Futebol entre 2015 e 2017, com passagens por empréstimo ao Paulista-SP e Vasco durante o período, o jogador ainda mencionou a gratidão que sente pelo clube, além da oportunidade de atuar ao lado de Gabriel Jesus, atualmente no Arsenal-ING e Seleção Brasileira, e Artur, atacante titular da equipe de Abel Ferreira e contemporâneo do atacante na época de base. Ele revela acompanhar a equipe mesmo estando do outro lado do Mundo.

– Foi um momento muito legal que vive no Palmeiras. Joguei com o Artur, hoje no profissional do Palmeiras, peguei um pouco do Gabriel Jesus, mas ele subiu para o profissional. Sou muito grato ao João Paulo Sampaio, que me trouxe ao clube. Foi um momento muito legal, uma experiência muito boa, eu guardo sempre no meu coração e quem sabe um dia eu possa voltar. Eu sempre acompanho o Palmeiras e torço para que conquiste muitos títulos – concluiu.

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