Portal dos Dragões
·17 de junho de 2025
Ex-dirigentes negam pressão na revisão dos estatutos do FC Porto

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Fernando Gomes, antigo vice-presidente do FC Porto e ex-administrador da SAD, afirmou que a revisão estatutária “nunca foi discutida nas reuniões da direção” do clube, e revelou que o presidente Pinto da Costa era, inclusive, contra alguns dos artigos.
De acordo com Gomes, “a administração da SAD considerava que a revisão era um assunto do clube” e, “nas reuniões da direção do clube, o tema nunca foi abordado. Era um assunto do Conselho Superior e da Assembleia Geral”. Em um breve testemunho, a testemunha indicada por Fernando Madureira afirmou que nunca foi consultada, nem “nunca interveio, em rigorosamente nada” no processo de revisão.
O ex-dirigente revelou que só começou a examinar as propostas de revisão após a imprensa noticiar a oposição que surgiu. Ficou com a impressão de que “o anterior presidente Pinto da Costa era contra algumas dessas alterações”.
“Nunca fui pressionado”
Um dos responsáveis pela revisão estatutária afirmou que a direção nunca interveio no processo. “Nunca fui pressionado por ninguém em relação à elaboração de qualquer um dos artigos”, garantiu Miguel Brás da Cunha, que fez parte da comissão de revisão dos estatutos. O membro do Conselho Superior, eleito por uma lista independente, notou que alguns sócios expressaram descontentamento com a proposta, pois “consideravam que os novos estatutos beneficiavam a anterior direção”.
Brás da Cunha destacou os artigos mais controversos: a alteração da data das eleições, o aumento do número mínimo de anos exigidos para o voto dos associados, uma alegada facilitação de negócios entre os membros da direção e o clube, e a possibilidade de voto por outros meios que não apenas presencial. O dirigente portista esclareceu que a intenção da comissão era, de facto, dificultar a realização de negócios, adicionando um requisito substancial aos já existentes.
O dirigente revelou que a proposta da comissão de revisão para o Conselho Superior estipulava que os estatutos só entrariam em vigor após as próximas eleições. No entanto, Brás da Cunha confirmou que a proposta que foi votada não era essa, e já se considerava a aplicação dos estatutos no ato eleitoral seguinte.
Presidente da mesa da AG quis alterar artigo
Jorge Guimarães, ex-presidente do Conselho Fiscal e membro da comissão de revisão estatutária, esclareceu que o artigo em questão foi modificado em uma reunião do Conselho Superior, em julho, após uma intervenção de Lourenço Pinto, o então presidente da mesa da Assembleia-Geral. “Fez uma intervenção criticando, com palavras muito pouco apropriadas, para não dizer mais, alegando que não fazia sentido nem tinha sustentação jurídica que apenas pudesse entrar em vigor após as eleições”, relatou.
Foi então aprovada a alteração do artigo, permitindo a sua aplicação já nas próximas eleições, contrariando o que foi decidido pelo grupo de revisão de que “nunca pretendiam interferir nas eleições”. No entanto, o ex-presidente do Conselho Fiscal garantiu que nunca foi pressionado, sugerido ou influenciado por ninguém na elaboração da proposta.
Jorge Guimarães confirmou que, a 13 de novembro de 2023, decidiu abordar Lourenço Pinto em relação aos acontecimentos no Arena. Após a discussão de Henrique Ramos com sócios da bancada e os confrontos físicos – “inadmissível, mas foram três” – que se seguiram, “as coisas descambaram”.
Lourenço Pinto “teimou” em prosseguir AG
“A única pessoa que persistia era Lourenço Pinto. Vi o presidente muito desalentado. Não pedi autorização a ninguém. Coloquei a minha cabeça entre a de Lourenço Pinto e Cerejeira Namora e disse o que tinha a dizer. Não sei porque não tinha já suspendido a reunião no auditório”, relatou Jorge Guimarães, garantindo que não foi Pinto da Costa quem lhe pediu para intervir na mesa.
Após esse episódio, “Lourenço Pinto estava quase em estado de choque e foi falar com Pinto da Costa para dizer que eu tinha sugerido o fim da reunião e perguntou o que ele achava, e ele disse: acabe”, revelou o ex-dirigente.
“Não se ia conseguir discutir nada”
Antes, Hugo Santos, que fez parte do Conselho Superior e discutiu a proposta de revisão estatutária, também afirmou que nunca foi alvo de qualquer tipo de pressão ou constrangimento. “Nunca, em tempo algum, de quem fosse”, reforçou. A 13 de novembro de 2023, o ex-dirigente, que fez parte da claque, recorda-se de “um burburinho” no auditório, mas não ouviu qualquer tipo de ameaça ou confronto naquele local.
Já no pavilhão, o sócio saiu para verificar se ainda havia muita fila no exterior. Quando regressou, soube que havia ocorrido uma altercação na bancada norte. “Depois, encontrei o juiz Matos Fernandes, que disse que ia embora porque queria falar e já não ia conseguir. Isso irritou-me e senti-me frustrado porque não se ia conseguir discutir nada. Não se ouvia nada. Após tanto tempo dedicado a isso, decidi ir-me embora. Quando cheguei a casa, a minha mulher ficou muito admirada por me ver chegar”, recordou.
Hugo Santos conhece bem a realidade da principal claque do FC Porto. “Desde 1998, só consigo contar pelos dedos da minha mão o número de jogos do FC Porto que não vi em Portugal Continental”, afirmou. Reconheceu que já teve algumas desavenças com Fernando Madureira, de quem é amigo, mas elogiou a sua postura à frente da claque. “A evolução muito se deve ao comportamento do Fernando, ao seu papel agregador entre os sócios, à sua presença nos jogos e à sua coragem em usar os adereços do FC Porto”.
Sobre o comportamento do ex-líder da claque em situações de conflito, citou uma frase de Fernando Madureira: “‘Não interessa se somos brancos, pretos, amarelos ou rosa, somos todos do Porto’. Mais do que qualquer coisa, era isso. Sempre que havia um foco de conflito, eram as próprias forças de segurança que o procuravam na tentativa de o acalmar. Muitas vezes, ele já o fazia de forma preventiva”, explicou, garantindo que não o via como uma pessoa violenta. “Vejo-o como alguém que sempre defendeu os seus. Naturalmente, era um fator de agregação. No entanto, não era o líder de todos”, concluiu.
“Um dos melhores exemplos que um pai pode dar a um filho”
O cantor Alberto Índio elogiou as qualidades humanas de Fernando Madureira e dos Super Dragões. O artista explicou que, após a filha ter sido diagnosticada com uma doença oncológica, recorreu à claque e a vídeos de jogadores do Porto que foram direcionados para a sua filha. “Semanalmente, faziam questão de a visitar e oferecer algumas coisas para que se sentisse, perante todas as adversidades, feliz”, reforçou.
Após essa aproximação, “cimentou, com muita admiração, uma amizade com eles”. E contou que testemunhou inúmeras ações de solidariedade por parte da claque, e a filha dizia: “olha os nossos amigos, o que eles estão a fazer. É talvez um dos melhores exemplos que um pai pode dar a um filho”, elogiou.