
Gazeta Esportiva.com
·26 de maio de 2025
Entenda como será a votação do impeachment de Augusto Melo no Corinthians

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·26 de maio de 2025
Nesta segunda-feira, o Conselho Deliberativo do Corinthians irá retomar a votação do impeachment do presidente Augusto Melo. Neste sentido, a Gazeta Esportiva separou tudo que você precisa saber sobre o encontro que pode afastar temporariamente o mandatário corintiano.
Os conselheiros trienais e vitalícios do Timão se reunirão para votar o impeachment de Augusto nas dependências do Parque São Jorge, sede social do clube. A primeira chamada está prevista para às 18 horas (de Brasília), enquanto a segunda acontece às 19h.
A tendência é que a segurança nas redondezas do Parque São Jorge seja reforçada, como ocorreu nos encontros que acabaram suspensos.
A reunião estava prevista para acontecer no dia 2 de dezembro do último ano, mas foi suspensa devido a uma ordem judicial. Augusto obteve uma liminar no Tribunal de Justiça de São Paulo, que foi derrubada posteriormente.
Depois, a votação chegou a ser remarcada para o último dia 20 de janeiro. Na ocasião, antes de votar o impeachment de Augusto, os conselheiros deveriam participar de uma outra votação, para definir se o processo de destituição seria levado adiante. Foram, ao todo, 126 votos a favor e 114 contra, dando prosseguimento à votação de impeachment do mandatário. Contudo, devido ao horário, a reunião foi suspensa.
Agora, ela será retomada nesta segunda-feira por determinação do presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior. A continuação da votação para a destituição de Augusto Melo acontece após o encerramento do inquérito do Caso VaideBet, em que o presidente do Corinthians foi indiciado por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
A votação no Conselho vai funcionar no esquema de maioria simples e será secreta. Caso a maior parte dos conselheiros entenda que Augusto deve sofrer impeachment, o presidente será afastado imediatamente do cargo, que será assumido de forma temporária por Osmar Stabile, primeiro vice-presidente do clube.
Se o impeachment não passar no Conselho Deliberativo, o caso será encerrado e Augusto Melo continuará normalmente no cargo de presidente. Isso, no entanto, não exclui a possibilidade de um novo processo de afastamento ser votado no Conselho futuramente – até porque o presidente enfrenta outros três pedidos de destituição.
Se o Conselho Deliberativo der parecer positivo quanto ao impeachment de Augusto, Romeu Tuma Júnior terá de definir uma data para a Assembleia Geral, que é a última instância do processo de destituição e conta com a participação dos associados do clube.
Nesse cenário, Augusto permaneceria afastado de suas funções até a divulgação do resultado final da Assembleia Geral. Se os sócios endossarem que ele deve deixar o cargo, o mandatário será definitivamente destituído e novas eleições serão marcadas.
No dia 12 de agosto de 2024, a Comissão de Justiça do Corinthians entregou um relatório para o Conselho Deliberativo a respeito de investigações sobre alguns temas que envolvem a gestão de Augusto, como as negociações com a VaideBet (ex-patrocinadora máster) e a Gazin (empresa de colchões que tem espaço no uniforme de treino).
Posteriormente, Augusto e pessoas que são ou foram ligadas à gestão foram ouvidas pela Comissão de Ética. Além do presidente, Armando Mendonça (segundo vice-presidente), Rozallah Santoro (ex-diretor financeiro), Yun Ki Lee (ex-diretor jurídico), Fernando Perino (ex-integrante do departamento jurídico), Marcelo Mariano (diretor administrativo) e Rubens Gomes (ex-diretor de futebol) foram investigados internamente.
Augusto entregou sua defesa à Comissão de Ética no final de setembro. No dia 26 de agosto, de forma paralela à investigação, um grupo de conselheiros enviou ao Conselho um requerimento que solicita a destituição de Melo.
O documento, de autoria do “Movimento Reconstrução SCCP”, conteve mais de 50 assinaturas, número mínimo para que a solicitação fosse apreciada pelo presidente do CD.
O documento pede “tramitação sucinta” e se apega, principalmente, ao Artigo 106, “b” e “d”, do Estatuto do clube, além da Lei 14.597/23, referente a nova Lei Geral do Esporte, que dispõe sobre crimes de “Lavagem” ou ocultação de bens.
Art. 106 – São motivos para requerer a destituição do Presidente e/ou dos Vices:
b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians.
d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária.
Em 19 páginas, que detalham acontecimentos recentes promovidos pela atual gestão, o requerimento se apoia em fundamentos que objetivam apontar eventuais problemas e condutas temerárias da gestão após avaliação dos seguintes casos:
-“Laranja” na intermediação da VaideBet.
-Depoimento de Cassundé à Polícia, refutando ter feito intermediação.
-Debandada de dirigentes, perda do patrocínio e prejuízo moral.
-Depoimento de Armando Mendonça à Polícia, apontando omissão dos gestores.
-Agressão de Augusto a um torcedor do Cruzeiro, em MG, com prejuízo a imagem da instituição.
No requerimento, conselheiros colocam o Corinthians como “vítima de crimes cometidos pelos próprios dirigentes” e ainda reforçam a intenção de se obter para o clube o devido “ressarcimento do prejuízo em razão do pagamento errôneo à malfadada empresa que nunca intermediou a confecção do contrato com a antiga patrocinadora”.
A conclusão do inquérito pelas autoridades na noite da última quinta-feira aumentou a pressão sobre Augusto Melo. Além do mandatário, também foram indiciados o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, além de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, apontado no contrato entre clube e a casa de apostas como intermediador do acordo.
Cabe agora ao Ministério Público decidir se irá ou não apresentar a denúncia formal à Justiça. O promotor Juliano Atoji monitorou as investigações de perto e deve levar o caso adiante. Se a denúncia foi aceita por um juiz, Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé se tornarão réus em processo penal.
O contrato virou alvo de investigação policial após a descoberta de repasses de receitas oriundas de pagamentos do Corinthians para a Rede Social Media Design LTDA, empresa de Cassundé. Posteriormente, parte destes valores foram transferidos para uma empresa ‘laranja’ e chegaram a uma conta vinculada ao crime organizado, conforme comprovou o relatório assinado pelo delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), responsável pelo caso.
O documento ainda confirmou que Cassundé fez uma transferência de R$ 580 mil para a Neoway Soluções Integradas, a tal empresa fantasma, no dia 25 de março de 2024, mesma data em que, de acordo com dados telemáticos (ERB’s) obtidos pela Polícia, Alex esteve presente no Parque São Jorge.
A intermediação deu à Rede Social Media Design LTDA o direito a receber 7% do valor total do acordo entre o clube e a VaideBet, o que, à época da vigência da parceria, renderia, ao fim do período de três anos, R$ 25,2 milhões para a empresa. A quantia deveria ser repassada pelo clube em parcelas mensais de R$ 700 mil.
Após o indiciamento, Augusto Melo e seu advogado, Ricardo Cury, concederam entrevista coletiva na Neo Química Arena na última sexta-feira. O presidente voltou a dizer que é inocente no caso VaideBet e reforçou que não irá renunciar à cadeira presidencial do Corinthians.
“Não passa pela minha cabeça renunciar, em hipótese nenhuma. Até porque não devo nada. Esse foi um grande contrato, se teve algum problema, a Justiça vai resolver. Não tivemos problemas em nenhum outro. Não tenho envolvimento nenhum. Confio na Justiça, quero mais do que ninguém essa investigação. Faço questão que a Justiça termine isso, temos que dar sequência. Eu não tenho nenhum tipo de acordo com empresa de jogador, tenho meu executivo de futebol. Estou muito tranquilo, não penso em renunciar. Isso não é manchar o Corinthians, o Corinthians está sendo manchado há várias gestões”, declarou o mandatário.
Os aliados de Augusto Melo e o próprio presidente tentaram movimentações para derrubar a votação de impeachment agendada para esta segunda-feira. O mandatário tentou judicializar a reunião através do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele viajou a Brasília duas vezes nos últimos dias com a intenção de obter uma liminar para derrubar a votação no CD.
Já outro conselheiro aliado de Augusto Melo no Corinthians, Roberto Willian Miguel, conhecido como ‘Libanês’, sofreu uma derrota no Tribunal de Justiça de São Paulo. Ele entrou com uma solicitação na 5ª Vara Cível do Tatuapé para suspensão da votação do impeachment do presidente, mas teve a pretensão indeferida na última sexta-feira.
Além disso, outros dois aliados de Augusto – Marcos Ragazzi e José Trucilio Júnior – entraram com ação na 5ª Vara Cível do Tatuapé com o intuito de causar a suspensão imediata, em caráter liminar, de todo o processo de destituição do presidente do Corinthians. Para isso, contrataram José Eduardo Cardozo, um dos advogados mais renomados e caros do Brasil. O profissional foi Ministro da Justiça no Governo de Dilma Rousseff e defensor principal da ex-Presidenta da República no processo que culminou com o impeachment dela em 2016.
Em meio às novidades sobre o Caso VaideBet e outras notícias vinculadas ao clube, a Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians, deixou de apoiar o presidente Augusto Melo. A organizada foi a favor do mandatário nas eleições de 2023 e também se posicionou contra a destituição antes da votação do último dia 20 de janeiro, pois o inquérito policial ainda não havia sido finalizado.
Contudo, a Gaviões da Fiel mudou sua posição ainda no início deste mês de maio e citou que não se oporia a reuniões que pautem propostas de impeachment do atual presidente do Timão. A organizada citou três principais motivos que culminaram em tal decisão: a repetição de erros de gestões anteriores, a rotação de profissionais em cargos da diretoria, e a falta de transparência.
Além disso, na última sexta-feira, a Gaviões da Fiel solicitou o afastamento imediato de Augusto. A organizada entende que “tal medida se faz necessária para preservar a imagem do Corinthians, que deve estar sempre acima de qualquer interesse pessoal”.
Em coletiva de imprensa após o empate com o Atlético-MG no último sábado, o técnico Dorival Júnior afirmou que o foco dentro do CT Dr. Joaquim Grava é o futebol que a blindagem contra a crise política do Corinthians “existe”.
“Eu acho que a blindagem existe. É interessante porque existe um respeito muito grande por parte da diretoria do Corinthians, assim como da oposição, não interferindo em sentido nenhum no departamento de futebol, mais especificamente dentro do nosso centro de treinamento. Esse respeito tem sido importante. É natural que nós temos um problema, que todos sabem. Mas mais importante que isso, é que lá dentro nós estamos focados, trabalhando apenas em busca de resultados, os melhores resultados possíveis para a nossa equipe”, disse Dorival.
Apesar da fala do treinador, a Gazeta Esportiva apurou com diferentes fontes que alguns jogadores ficaram aflitos com as recentes notícias envolvendo Augusto Melo. Os atletas procuraram seus empresários e outros dirigentes do clube para entender o que está acontecendo com o presidente e como ficará a situação a partir de agora.
Neste sentido, o executivo de futebol do Corinthians, Fabinho Soldado, exerce um papel fundamental. O dirigente está trabalhando com os objetivos de blindar o CT Dr. Joaquim Grava do caos administrativo e manter o elenco focado somente no futebol.