Entenda como atua Matías Soulé, um dos destaques da Serie A 2023-24 | OneFootball

Emprestado pela Juventus ao Frosinone, o jovem Matías Soulé, de 20 anos, tem sido uma das grandes revelações da temporada italiana. O argentino, contratado junto ao Vélez Sarsfield para integrar as categorias de base da gigante italiana, fez sua estreia como profissional dois anos atrás e chegou a marcar com a camisa bianconera, mas recebia poucos minutos em Turim.

A solução encontrada pelas partes para potencializar o desenvolvimento do jovem foi um empréstimo a outro time da Itália – até então, essa tem se mostrado uma escolha certeira. Aos 20 anos, Soulé vive uma temporada de afirmação: foi titular em todas as partidas possíveis da Serie A e tem, atualmente, oito gols e uma assistência na liga nacional, sendo peça fundamental na campanha do Frosinone.

Analisamos que tipo de jogador é Soulé e mostramos quais características o tornam uma figura tão impactante em sua primeira temporada como titular na Serie A. Confira nossa análise completa!

Posição

Ao longo da temporada, Eusebio Di Francesco tem escalado seu time a partir de duas formações: o 4-2-3-1 e o 3-4-2-1. Soulé atua como ponta pela direita nas duas situações.

Posicionamento inicial de Soulé nos esquemas utilizados pelo Frosinone

Movimentação ofensiva

Soulé não é um típico extremo, daqueles focados em manter amplitude e segurar sua posição próximo à linha lateral – o argentino opera bem mais como um meia-atacante. Dentro do contexto oferecido por Di Francesco, ele tem bastante liberdade para se movimentar pelo campo e constantemente aparece pelo centro do campo, ao partir do corredor lateral. Além de gerar espaços ao arrastar seu par em situações de marcação individual (como contra o Milan, por exemplo), a tendência de Soulé a ocupar posições mais centrais gera novas possibilidades de passes aos zagueiros por dentro, facilitando o trabalho dos defensores ao quebrar linhas de marcação.

No vídeo abaixo, ele pode ser visto partindo da direita e ocupando uma posição mais central, mesmo que o passe em sua direção não aconteça.

Esse tipo de comportamento acontece em sequências de construção de jogadas, quando ele recua e se oferece como opção de passe para os zagueiros, auxiliando na progressão. Soulé “escaneia” seus arredores com frequência ao receber de costas, mas ainda demonstra certa inconsistência nos domínios e na sequência da jogada, alternando entre controles malsucedidos, passes para trás e toques rápidos para acelerar e colocar sua equipe em vantagem.

Ele demonstrou em alguns lances ter agilidade e qualidade para, quando pressionado firmemente, girar sobre seu próprio eixo e partir em vantagem com a bola dominada, mas é um tipo de ação que ainda acontece com menor frequência, quando a comparamos com as citadas anteriormente.

A movimentação central do argentino também ocorre durante as fases de criação e finalização de jogadas, com sua equipe já estabelecida no campo de ataque. É comum ver Soulé flutuando pela região central e se aproximando do setor da bola para combinar com seus companheiros de time.

É importante dizer que Soulé ainda recebe um número considerável de passes quando se encontra aberto pela ponta direita (sua zona predominante ao longo das partidas), mas seu impacto nesse tipo de situação tem sido menor do que ao se deslocar pelo centro. Portanto, as movimentações ofensivas é que foram destacadas nesta análise.

Volume e qualidade de dribles

O segundo ponto marcante no jogo de Soulé é sua capacidade de drible. Segundo dados do FBRef, o argentino é o jogador com mais tentativas de dribles a cada 90 minutos disputados na Serie A (8,36), com larga vantagem sobre Khvicha Kvaratskhelia, do Napoli, segundo colocado. Ele é também o segundo jogador da liga italiana que mais gera situações de finalização – concluindo ou servindo alguém – a partir de um drible, atrás apenas de Lameck Banda, do Lecce.

Gráfico de dribles

O estilo de drible de Soulé, no entanto, não é aquele que se imagina de um ponta com tais números. O argentino não é um jogador especialmente rápido e deixa a desejar em sua capacidade de explosão e aceleração – duas características físicas que um extremo de elite normalmente apresenta quando se destaca em dribles. Dessa forma, é bem raro ver o argentino criando uma grande separação entre si e seu marcador, superando-o em corridas e atacando o espaço vazio na sequência.

A ausência desses dois fatores é compensada pelas fintas de corpo que Soulé utiliza para criar um mínimo de espaço antes de executar sua próxima ação, geralmente um chute ou um passe em profundidade. O argentino geralmente se movimenta com uma série de passos curtos para induzir seu adversário a um lado e então atacar no sentido contrário, e apresenta uma tendência enorme em levar a bola a seu pé dominante, o esquerdo, nesse tipo de situação, trabalhando de fora para dentro. Por fim, outro aspecto importante de seus dribles é a velocidade com a qual é capaz de reagir após identificar uma ação adversária.

Criatividade a partir de passes em profundidade

Os números de gols (oito, sendo três de pênalti) e assistências (uma) podem deixar a sensação de que Soulé é um ponta goleador, mas sua terceira característica destacável – e aquela que o torna tão especial – é sua capacidade criativa a partir de passes. O argentino se destaca em uma série de métricas ofensivas, como passes progressivos, expected assists, passes para a área adversária e passes para finalização, mesmo atuando em um time que atualmente briga contra o rebaixamento e registra apenas a nona maior média de posse de bola por partida na Serie A.

Soulé tem um repertório grande de passes e quebra linhas com frequência para acionar companheiros atacando a área ou ultrapassando pelo corredor. Além da qualidade técnica para executar tais passes com o peso correto, seja rasteiros ou bolas levantadas por cima da marcação, evitando que o receptor necessite ajustar drasticamente sua corrida, ele também se destaca identificando oportunidades para desmarcar alguém. Essa combinação faz com que seja um dos melhores jogadores de toda a liga em capacidade criativa. O argentino poderia tranquilamente ter mais de uma assistência na temporada.

O que o futuro reserva a Soulé?

Apesar das dúvidas sobre a falta de atleticismo em seus dribles, fator que pode prejudicar o jogador em cenários diferentes, Soulé é, sem dúvidas, um jogador bastante interessante para o futuro – e já foi destacado como uma das grandes revelações da última Serie A. A qualidade criativa dele, por si só, já justificaria uma aposta, embora certos ajustes sejam necessários para que mantenha seu impacto em uma equipe de nível superior.

Assumir de vez uma posição central é uma das possibilidades para o futuro, mas, por enquanto, tem sido interessante acompanhar seu desenvolvimento como um extremo criativo. Sejam quais forem os planos da Juventus para a próxima temporada, é certo que ainda escutaremos bastante o nome de Soulé dentre os destaques da nova geração de jogadores do futebol europeu.