Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli | OneFootball

Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli | OneFootball

Icon: Última Divisão

Última Divisão

·10 de janeiro de 2024

Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli

Imagem do artigo:Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli

Foram 94 anos de vida. Mais de 20 clubes como técnico. Quatro títulos nacionais. Muitos triunfos e também inúmeras dificuldades.

Toda a vida pessoal e profissional de Rubens Francisco Minelli (1928-2023) está fartamente documentada no livro Professor Rubens Minelli: a saga do técnico tetracampeão brasileiro, escrita pelo jornalista Brunno Minelli de Moraes e publicada pela Onze Cultural em dezembro de 2023.


Vídeos OneFootball


São mais de 600 páginas que contam a vida do ponta-esquerda revelado pelo Clube Atlético Ypiranga, que depois teve passagens por Nacional (SP), Taubaté e São Bento de Sorocaba.

Formando-se em Economia, Minelli trabalhava nos Correios e não esperava tornar-se treinador profissional. Acabou levado para as categorias de base do Palmeiras e logo depois para o América de São José do Rio Preto, onde faturou seu primeiro título profissional como treinador. Pelo Rubro, conquistou a segunda divisão do Campeonato Paulista de 1963.

Imagem do artigo:Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli

Correio da Araraquarense, 28 de abril de 1964; Minelli é o primeiro em pé à direita, no América campeão da segunda divisão de SP (Imagem: Reprodução)

Depois viriam as façanhas nacionais. O Robertão de 1969 pelo Palmeiras, os Campeonatos Brasileiros de 1975 e 1976 pelo Internacional e o Brasileiro de 1977 pelo São Paulo. Além de inúmeros estaduais e outros torneios.

Os detalhes de todas essas conquistas estão esmiuçados em detalhes no livro. Além de jornalista, Brunno Minelli de Moraes é neto do treinador e entrevistou mais de 90 profissionais do futebol até conseguir terminar sua obra. O autor conversou com exclusividade com o Última Divisão sobre a trajetória de Minelli e sobre seu livro.

Última Divisão: Originalmente, a ideia de fazer a biografia do Rubens Minelli foi sua ou dele?

Brunno Minelli: A ideia da biografia é dele. Ele tinha o sonho de ter a história dele contada e repassada para as próximas gerações, mas até então ele apenas alimentava essa ideia. Fui crescendo vendo que ainda ninguém tinha iniciado esse projeto, então resolvi tomar a frente disso. E transformei o sonho dele no meu sonho. Me formei em jornalismo, trabalhei na área, aos poucos fui amadurecendo a ideia. Em 2015 e 2016, já havia iniciado uma série de entrevistas com meu avô, praticamente 90% do material que usei dele é desse período. Revirei a casa dele atrás de qualquer anotação, qualquer registro que me ajudasse a contar essa história. Fiz uma série de pesquisas, além de 90 entrevistas. E durante a pandemia, eu comecei a escrever a biografia.

UD: Desde o início, o objetivo era abordar tanto os momentos mais gloriosos como as passagens mais difíceis?

BM: Com certeza. Ele, assim como todos os técnicos, teve altos e baixos na carreira e tudo isso faz parte da história dele e precisa ser contado. Também por conta dos momentos difíceis, ele conseguiu chegar onde chegou.

UD: Quais foram as maiores dificuldades da elaboração do livro?

BM: A maior dificuldade foi escrever sobre os primórdios da vida e da carreira dele. Muito por conta da escassez de informações. Depois da década de 1970, foi fácil encontrar materiais, pessoas para entrevistar e tudo mais, mas antes disso tanto na fase dele como jogador como nas passagens pelos primeiros clubes foi bem difícil.

UD: Existiu alguém que não quis dar entrevista para a obra?

BM: Não. Ninguém se negou a dar entrevistas. No entanto, algumas pessoas que estavam planejadas para falar acabaram ficando de fora por conta de agenda ou pôr o telefone que eu tinha dessas pessoas ter mudado. Coisas assim.

Imagem do artigo:Enfim, uma biografia sobre a carreira Rubens Minelli

Minelli jogou como ponta-esquerda no Taubaté em 1954 (Imagem: Reprodução)

UD: Originalmente você pensava em deixar o livro menor?

BM: Nunca pensei no número de páginas. Fui escrevendo e só no fim tive a consciência de que era um livro bem grande. Quando entreguei o livro pra editora Onze Cultural, inicialmente acharam enorme (nunca tinham publicado um livro desse tamanho), mas depois que leram e viram que, de fato, tinha conteúdo nas mais de 600 páginas. Então, resolveram manter nesse tamanho.

UD: O trabalho mais conhecido do seu avô é como treinador do Internacional bicampeão brasileiro. Como ele saiu de um time interiorano como o Rio Preto e seguiu para o Inter?

BM: Foi obra do acaso. O presidente do Internacional, Eraldo Herrmann, e o mandatário são-paulino, Henri Aidar, eram amigos e conversavam muito sobre futebol. Em um papo informal, Herrmann falou que procurava um novo treinador e Aidar disse que em Rio Preto tinha um treinador muito bom e o descreveu como um fazendeiro rico, que dificilmente sairia de lá. Minelli não era fazendeiro e muito menos rico. É certo que pela comodidade de trabalhar com toda a sua família por perto e com as coisas dando certo aos poucos na equipe do interior queria permanecer e fez jogo duro pra sair. Mal sabia ele que no Internacional ele viveria a melhor fase de sua carreira.

UD: Muitas pessoas atribuem que seu avô trouxe o esquema da Copa de 1974 do Rinus Michels para o futebol brasileiro. Você também pensa assim?

BM: Não posso falar que ele trouxe isso pra cá, mas tenho certeza que pela admiração que ele tinha pela Holanda de 74 e pelo Rinus Michels, que ele pegou muita coisa dali e adaptou para o futebol brasileiro. Principalmente pro Internacional onde o material humano era melhor. Antes disso, ele já havia tido contato com diversos livros europeus sobre táticas que os amigos e conhecidos dele traziam para ele, e que depois de 1969, no Palmeiras, ele pôde também comprar e aumentar seu conhecimento sobre táticas e sua biblioteca pessoal.

UD: Dos entrevistados para o livro, teve algum que te surpreendeu mais?

BM: Falei com muita gente, mas a entrevista mais inesperada e com certeza a mais surpreendente – não pelo conteúdo, mas pela dificuldade – entre todas foi a do árabe Mohamed Abduljawad, que atuou com meu avô na seleção da Arabia Saudita.

UD: Seu avô era de uma mesma geração de diversos grandes técnicos: Telê Santana, Chico Formiga, Ênio Andrade, Didi, entre outros. Ele chegou a te falar sobre alguma rivalidade com algum deles?

BM: Naquela época apesar de existirem grandes técnicos não tinha muito dessa rivalidade que a imprensa pinta hoje de Felipão x Luxemburgo, Abel Ferreira x Jorge Jesus. No entanto, ele sempre falou que um treinador que ele admirava muito e que era uma verdadeira pedra no seu sapato, apesar de um grande amigo, era o Chico Formiga. Que tinha um esquema que complicava o seu time e que na maioria das vezes, os times do Chico Formiga levavam a melhor.

Leia também:

  • “O Serginho tem medo de ler a biografia”
  • Livro resgata carreira de goleiro da Academia do Palmeiras
  • Os anos de glória, a queda e a redenção: a década de ouro do Paraná Clube é recontada em livro
  • Os livros essenciais para quem gosta de futebol

UD: O título de 1977 no São Paulo é um capítulo à parte no livro e na trajetória de Minelli. A ideia de o artilheiro Serginho Chulapa suspenso aparecer no Mineirão foi dele? Você tem ideia onde o Muricy encontrou o Serginho?

BM: Sim, a história de levar o Serginho Chulapa para Belo Horizonte foi uma estratégia dele para que se mudasse o foco da imprensa e dos seus jogadores. Nos dias que antecederam o jogo, os jogadores do São Paulo, muito por conta do que ouviam na imprensa, acreditavam que o atacante do Galo, Reinaldo, que também estava suspenso, fosse jogar e ficaram preocupados e comentando sobre o fato. Minelli trouxe Serginho para acabar com esse assunto. Solicitou ao presidente a vinda do centroavante, que encarregou Muricy Ramalho, amigo pessoal de Serginho, dessa missão de encontrar o jogador – não sei exatamente, onde o Muricy o encontrou, mas acredito que tenha sido pelos lados da Casa Verde. E do momento que ele chegou em Minas até subir ao gramado, e depois voltar para os vestiários, ele agitou a imprensa e o vestiário do Atlético. E de quebra desmoralizou o atacante escalado para substituir o Reinaldo, pois com o papo de que o Serginho iria jogar, a cúpula atleticana queria escalar Reinaldo também a todo custo, sem dar muito valor para o outro jogador.

UD: Seu avô tem muita história em diversos clubes como no Palmeiras, São Paulo e Internacional. Mas também marcou seu nome na história do Paraná Clube. Como ele chegou a encarar o atual momento do clube? Você acredita que com a SAF o Paraná pode voltar a ter relevância nacional?

BM: Encarava com muita tristeza, pois sempre foi um clube que ele teve um carinho muito grande (também por ser fundado no dia do seu aniversário), onde ele sempre se sentiu bem e em casa. Ver o Paraná, que era uma das grandes surpresas da década de 1990, na situação que está hoje era motivo de muita lamentação para ele. Os diversos clubes que já são SAF, na primeira divisão do futebol brasileiro, tem mostrado que é um longo processo de reformulação e nada fácil, casos de Cruzeiro e Vasco da Gama. Porém, acredito que agora se tenha uma perspectiva de melhora e de que o Paraná, talvez em alguns anos, volte a ser aquela equipe competitiva que foi na década de 1990.

UD: Qual é seu objetivo principal com seu livro?

BM: Sem dúvida é passar para a frente o legado do meu avô. E fazer com que os mais velhos revivam esses momentos e os mais novos possam conhecer ele e a trajetória dele no futebol brasileiro.

UD: Você já tem algum próximo projeto em livro de futebol?

BM: No momento, não. Mas pretendo seguir com as biografias de outros personagens do nosso futebol

Saiba mais sobre o veículo