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Calciopédia

·27 de junho de 2025

Em 1994, o Milan perdeu para o Vélez Sarsfield e somou terceiro vice na Copa Intercontinental

Imagem do artigo:Em 1994, o Milan perdeu para o Vélez Sarsfield e somou terceiro vice na Copa Intercontinental

Um dia é da caça, o outro é do caçador. Em 1994, o Milan faria sua sexta participação na Copa Intercontinental e buscaria o quarto troféu do torneio ante um Vélez Sarsfield que debutava na competição. Os rossoneri vinham de resultados impactantes em nível nacional e continental, tinham a experiência internacional do elenco a seu favor e vários vice-campeões mundiais pela Itália naquele ano. Porém, quem levou a melhor foi o time argentino, que pouco antes havia ganho sua primeira Taça Libertadores ao vencer o São Paulo.

O Milan retornava ao Japão apenas um ano depois de ter perdido o troféu para o São Paulo, quando disputou a competição como vice da Liga dos Campeões, herdando a vaga do Olympique de Marseille, que fora punido na França com o rebaixamento, devido a jogos comprados na campanha do título nacional posteriormente cassado, e também terminou excluído de torneios internacionais – embora não tenha perdido o direito de celebrar a taça europeia, obtida justamente sobre os rossoneri, em Munique.


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Em 1994, porém, a presença dos rossoneri na Copa Intercontinental se dava devido ao título da Champions League. O time de Fabio Capello havia atropelado o Barcelona por 4 a 0 na decisão europeia, provocando o ocaso do Dream Team de Johan Cruyff. A equipe lombarda já não contava com o lendário trio holandês formado por Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, que haviam impressionado sob o comando de Arrigo Sacchi, mas impunha respeito com um elenco fortíssimo. Paolo Maldini, Franco Baresi, Alessandro Costacurta e Mauro Tassotti garantiam solidez defensiva, auxiliados por Marcel Desailly, enquanto Dejan Savicevic, Zvonimir Boban e Daniele Massaro eram os maiores responsáveis pela criação e finalização das jogadas. Com esses grandes craques, o Milan aterrissava em Tóquio com o tetracampeonato em mira.

O capitão Baresi bem que tentou, mas a forte defesa do Milan teve uma rara noite de insegurança contra os argentinos (Tomikoshi)

Do outro lado, o Vélez Sarsfield vivia um sonho em carne e osso. O time argentino evitou que a Copa Intercontinental de 1994 fosse uma revanche, visto que superou o São Paulo nos pênaltis e, no fim de agosto daquele mesmo ano, se sagrou campeão da Taça Libertadores pela primeira vez. El Fortín desembarcava no Japão com sede de mais uma glória inédita sob o comando de Carlos Bianchi, que moldaria uma era de ouro e se tornaria o maior técnico de sua história – como atleta, já havia se constituído como principal goleador do clube. A equipe de Liniers contava com o irreverente e decisivo goleiro artilheiro José Luis Chilavert, o firme capitão Roberto Trotta e o inquieto atacante Omar “Turco” Asad, que deixaria seu nome gravado naquela noite iluminada.

A edição de 1994 da Copa Intercontinental de Clubes marcou a estreia de uma mudança significativa: pela primeira vez, o torneio seria disputado à noite no horário local. Com essa alteração, a transmissão passou a acontecer em um período mais conveniente para o público europeu, perto do meio-dia, e sem mudar prejudicar tanto os sul-americanos, que veriam o jogo no início da manhã – assim, ampliando a audiência do embate entre os melhores times da Europa e da América do Sul.

A partida começou quente. Logo nos dois primeiros minutos, tivemos entradas duras de ambos os lados e cartão amarelo para Héctor Almandoz, do time argentino. Na cobrança da infração, Savicevic arriscou, mas o paraguaio Chilavert defendeu sem maiores sustos. O jogo prometia, mas os minutos seguintes frustraram expectativas. O Milan controlava a posse, embora sem contundência; o Vélez se resguardava, estudando os movimentos rivais.

O Vélez Sarsfield vivia o melhor momento de sua história, enquanto o Milan apresentava um de seus times mais estrelados (Tomikoshi)

Um episódio aos 21 minutos parecia irrelevante, mas deu pistas do que estava por vir: Desailly desarmou um contra-ataque puxado por Asad, entregou a bola a Sebastiano Rossi e o goleiro, em uma trapalhada incomum, errou o passe de volta para o francês. A jogada resultou apenas em lateral, mas expôs um Milan vulnerável, desconcentrado e propenso a erros. A falta de atenção seria o maior problema para os rossoneri em Tóquio.

Num primeiro tempo morno, o Vélez Sarsfield se contentaria apenas com jogadas que terminaram em escanteios, enquanto a melhor oportunidade do Milan foi uma finalização de Boban por cima do gol de Chilavert. Quem acordou cedo para ver o jogo na Argentina talvez tivesse dado alguns cochilos e, na Itália, certamente o almoço tinha mais tempero do que o embate em solo japonês.

O segundo tempo começou mais animado. Aos 47 minutos, Costacurta lançou Massaro, que recebeu, arrancou e finalizou frente a frente com Chilavert, desperdiçando chance valiosa – conseguiu o escanteio, mas irritou Savicevic, que pedia a bola livre de marcação. Pouco depois, o Vélez Sarsfield respondeu na mesma moeda. Através da ligação direta, o arqueiro paraguaio encontrou José Basualdo aberto na direita. O volante tentou um cruzamento, que desviou em Tassotti e, na sequência, Costacurta e José Oscar Flores se enroscaram: o árbitro colombiano José Torres Cadena não teve dúvidas e apontou para a marca da cal, assinalando o pênalti sobre Turu. O zagueirão Trotta cobrou mal, no meio do gol, mas com força. Assim, nem mesmo a tentativa de defesa com as pernas, por parte de Rossi, impediu os argentinos de pularem à frente no placar.

Para esquecer: Costacurta falhou nos dois gols do time de Liniers e ainda foi expulso (Tomikoshi)

A tentativa de reação italiana foi rápida, mas ineficaz. Aos 52, depois de um belo cruzamento de Savicevic e escorada de Boban, Massaro chutou e obrigou Chilavert a fazer uma defesa instintiva, no susto. Cinco minutos depois, o Vélez desferiu o golpe fatal. Costacurta, em jornada infeliz, errou um recuo para Rossi e seu toque fraco foi interceptado por Asad. El Turco driblou o arqueiro italiano e, mesmo desequilibrado, girou já batendo com leveza para o gol vazio, anotando o segundo dos argentinos.

Capello tentou mudar o panorama da final, trocando Boban por Marco Simone aos 55 minutos, mas o reserva pouco impactou na partida. Aliás, o jogo ficou bastante morno até os 69, quando Maldini procurou Massaro com um cruzamento açucarado e o atacante quase acertou o voleio. Já na casa dos 71, uma nova oportunidade rossonera: Savicevic serviu o mesmo Massaro, que finalizou rasteiro e parou nos pés do imbatível Chilavert.

O Milan passou a buscar mais o jogo, tentando reabri-lo, enquanto o Vélez se defendia e não queria correr o desnecessário risco de dar espaço aos italianos. Quando encontrava a oportunidade, entretanto, o time argentino incomodada. Aos 75 minutos, por exemplo, Marcelo Gómez desarmou no meio, iniciou a jogada e encontrou Turu Flores, que avançou e tocou para Christian Bassedas. O camisa 7 arriscou da entrada da área e obrigou Rossi a efetuar uma grande defesa.

Atônito, o Milan sucumbiu a sua própria falta de atenção e viu o Vélez Sarsfield se impor (Tomikoshi)

O tempo corria contra o Milan, que parecia esgotado física e psicologicamente. As jogadas ofensivas se resumiam a cruzamentos imprecisos e chutes sem direção. A criatividade do time italiano havia desaparecido, assim como a esperança. Aos 85 minutos, então, a noite desastrosa de Costacurta ganhou seu último capítulo. O zagueiro errou mais um passe no meio-campo, viu Asad ficar com a bola e perdeu na corrida para o atacante, derrubando-o quando este avançava livre. Chance clara de gol negada e cartão vermelho direto aplicado de forma correta por Torres Cadena. Capello, já rendido, substituiu Savicevic por Christian Panucci com o único intuito de recompor a defesa e não ver a derrota rossonera se transformar um verdadeiro vexame. O jogo estava decidido.

O apito final decretou a primeira glória mundial do Vélez, que se impôs sobre um dos maiores times italianos da história. Em uma cena inusitada nos dias de hoje, mas muito comum antigamente, diversos jogadores argentinos levantaram a taça com camisas do Milan, trocadas com os adversários. Asad, eleito o melhor em campo, foi buscar seu prêmio com a número 2 de Tassotti, por exemplo. El Turco recebeu a honraria de forma merecida, porém o verdadeiro protagonista daquela Copa Intercontinental foi Costacurta – não pelos motivos desejados pelo rossonero, mas pelos erros capitais que definiram o campeão.

O Vélez voltou para a Argentina em festa e, sob o comando de Bianchi, ainda ganharia o torneio Apertura de 1995. Em seguida, o técnico argentino rumaria à Roma levando a tiracolo o capitão Trotta. Ambos, entretanto, fracassariam clamorosamente na Cidade Eterna e não durariam nem um ano na equipe giallorossa. O Milan, por sua vez, perdeu pela segunda vez consecutiva a Copa Intercontinental e teria que esperar quase uma década por uma nova chance de redenção em nível global.

A oportunidade de se redimir, porém, se tornaria um pesadelo. Em 2003, o Diavolo encarou outro time argentino: o Boca Juniors, treinado por… Bianchi. E quem terminaria sendo um dos vilões de mais um vice-campeonato? Costacurta. Esta, porém, é uma história para outro texto.

Milan 0-2 Vélez Sarsfield

Milan: Rossi; Tassotti, Costacurta, Baresi, Maldini; Donadoni, Desailly, Albertini, Boban (Simone); Savicevic (Panucci), Massaro. Técnico: Fabio Capello. Vélez Sarsfield: Chilavert; Almandoz, Trotta, Sotomayor, Cardozo; Basualdo, Gómez, Pompei; Bassedas; Asad, Flores. Técnico: Carlos Bianchi. Gols: Trotta (50′) e Asad (57′) Cartão vermelho: Costacurta Melhor em campo: Asad Árbitro: José Torres Cadena (Colômbia) Local e data: estádio Nacional, Tóquio (Japão), em 1º de dezembro de 1994

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