Em 1992, o Torino ficou a um passo da glória na Copa Uefa, mas perdeu para o Ajax na final | OneFootball

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Calciopédia

·31 de maio de 2023

Em 1992, o Torino ficou a um passo da glória na Copa Uefa, mas perdeu para o Ajax na final

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Na temporada 1991-92, o Torino viveu um dos capítulos mais empolgantes de sua história e, por pouco, essa trama não teve um desfecho feliz. Na ocasião, o time granata foi finalista da Copa Uefa e encarou o temido Ajax na decisão, mas ficou com o vice-campeonato graças ao regulamento do torneio, que privilegiava os gols marcados fora de casa. Foram dois empates em dois confrontos, com os holandeses levando a melhor por terem balançado as redes duas vezes no 2 a 2 na Itália, no estádio Delle Alpi.

O que torna o feito do Toro ainda mais louvável é a história do clube de Turim nos anos que antecederam aquela temporada. Para se ter uma ideia, em 1988-89, um ano depois de ter perdido a final da Coppa Italia para a Sampdoria, o Torino foi rebaixado para a Serie B pela segunda vez desde sua fundação (30 anos após o primeiro descenso), em um campeonato que passou a ter 18 participantes; antes, eram 16. Em um campanha turbulenta e com direito a duas trocas de treinadores – os piemonteses começaram com Luigi Radice, tentaram Claudio Sala e terminaram com Sergio Vatta –, o desfecho não poderia ter sido diferente.


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O retorno dos granata à elite foi imediato. Em 1989-90, sob o comando de Eugenio Fascetti, foram campeões da Serie B com uma luxuosa contribuição do atacante brasileiro Müller, artilheiro do time. No ano seguinte, mesmo com o sucesso, Fascetti, criticado pela ausência de ousadia, foi para o Verona e Emiliano Mondonico assumiu o comando em seu lugar – Mondo, como era conhecido, chegou a defender o Toro entre 1968 e 1970. Em sua campanha de debute no clube piemontês, o treinador obteve a quinta colocação na Serie A e o primeiro título da carreira, o da Copa Mitropa.

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Torino e Ajax fizeram duas partidas equilibradas na decisão da Copa Uefa da temporada 1991-92 (imago)

A temporada 1991-92

As expectativas apontavam para mais uma temporada empolgante e só aumentaram quando Walter Casagrande Jr., vindo do Ascoli, se tornou o mais novo reforço grená. Além do atacante brasileiro, o meio-campista Enzo Scifo, ex-Inter, chegava do Auxerre, da França. O belga de origem italiana foi outra contratação que elevou o nível de um plantel que já contava com nomes respeitáveis, como Luca Marchegiani, Roberto Cravero, Roberto Mussi, Luca Fusi, Rafael Martín Vázquez e Gianluigi Lentini.

Se um recorte fosse feito considerando apenas o desempenho do Toro na Serie A, já seria o suficiente para considerar a temporada um sucesso. Afinal, os granata tiveram a melhor defesa do torneio e ficaram com a terceira colocação, atrás somente da rival Juventus e do campeão Milan, que reinou absoluto ao vencer o scudetto de forma invicta. Mas foi na Copa Uefa que o clube piemontês chegou ainda mais longe.

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Contando com jogadores do calibre de Lentini e Martín Vázquez, o Torino encarou um Ajax cheio de jovens promissores (Getty)

A jornada continental começou de forma tranquila: um elástico placar agregado de 8 a 1 sobre o KR, da Islândia. Na segunda fase, o 2 a 0 contra o Boavista, no Delle Alpi, garantiu que, com o empate sem gols em Portugal, os comandados de Mondo avançassem. Nas oitavas de final, o AEK, da Grécia, foi o primeiro real desafio. Após um 2 a 2 fora de casa, o Torino contou com um tento decisivo de Casagrande para se classificar às quartas.

Desta vez, os italianos reencontraram a facilidade das fases iniciais. Contra os dinamarqueses do B 1903, 3 a 0 no agregado e uma dose extra de confiança para as semifinais, onde teriam como adversário simplesmente o gigante Real Madrid. Na capital espanhola, Casagrande abriu o placar aos 58, mas os anfitriões viraram rapidamente, com Gheorghe Hagi aos 61, e Fernando Hierro quatro minutos mais tarde. Em Turim, um gol contra de Ricardo Rocha no comecinho do jogo, aos 7, colocou o Toro na frente. Adiante, na metade da etapa complementar, Fusi selou o 2 a 0 da histórica classificação grená.

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O protesto de Mondonico, que ergueu uma cadeira aos céus, entrou para o folclore do Torino (Onze/Icon Sport)

Para ficar na história

Passado o momento de celebração, era hora de focar na final. Do outro lado, o adversário era o Ajax, equipe treinada por Louis van Gaal e que praticava um futebol bonito, com nomes que futuramente desembarcaram em solo italiano: Dennis Bergkamp, Wim Jonk, Aron Winter, Michel Kreek, John van ’t Schip e Bryan Roy, além dos suplentes Edwin van der Sar, Michael Reiziger, Edgar Davids e Marciano Vink; sem falar em Frank de Boer, que atuaria no país como técnico.

O caminho do Ajax até as semifinais foi relativamente tranquilo. Os neerlandeses passaram por Örebro, da Suécia, por um placar agregado de 4 a 0; Rot-Weiss Erfurt, da Alemanha (5 a 1); Osasuna, da Espanha (2 a 0) e Gent, da Bélgica (3 a 0). No duelo que valia vaga na decisão, os Godenzonen viajaram até a Itália e ganharam a partida de ida, contra o Genoa, por 3 a 2 – graças a um gol de Winter aos 89 minutos. Na volta, o empate em 1 a 1 decretou o 4 a 3 total e pôs o time dos Países Baixos na final.

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Depois de empatar com gols em casa, o Torino precisou partir para o ataque na visita ao Ajax (imago)

O primeiro jogo da decisão aconteceu em um Delle Alpi lotado por mais de 65 mil torcedores apaixonados. Com a bola rolando, todavia, os holandeses não se deixaram assustar pela atmosfera intimidadora e abriram o placar logo aos 14 minutos, quando Jonk aproveitou o desenrolar de uma sobra de escanteio e acertou um forte e bonito chute de longe, sem chances para Marchegiani.

Os visitantes continuavam impondo seu ritmo e, pouco depois, Winter quase ampliou, de peixinho, mas o goleiro granata defendeu com firmeza. Os mandantes começaram a se soltar aos poucos e pediram pênalti em cima de Pasquale Bruno, que foi calçado por Roy. O árbitro inglês Joe Worrall mandou que o lance seguisse e, na sequência, Giorgio Venturin arrematou para fora.

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Treinado por Van Gaal, o Ajax tinha vários jogadores que passariam pelo futebol italiano, como Winter (imago)

No segundo tempo, Scifo arriscou de fora da área e Stanley Menzo, arqueiro do Ajax, espalmou, mas Casagrande, sempre oportunista, estava lá para conferir e deixou tudo igual. A euforia no estádio não durou muito. Treze minutos depois, Silvano Benedetti cometeu pênalti em cima de Bergkamp. O camisa 9 Stefan Pettersson converteu a cobrança com perfeição, recolocando seu time na frente.

Buscando nova reação, o Torino igualou o marcador aos 84 minutos, novamente através de Casagrande, que recebeu passe de Lentini, ganhou a disputa com o capitão Danny Blind e tocou com a parte externa do pé, para o fundo das redes. Os granata tentavam pressionar. Giorgio Bresciani, que havia entrado no lugar de Cravero, deu um chapéu em Blind, mas pecou na hora de finalizar e mandou sem força, nas mãos do goleiro. Foi a última grande ocasião de gol no primeiro encontro da decisão.

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Na Holanda, a pressão do Torino não resultou em gols (imago)

Traves, protestos e decepção

Em Amsterdã, diante dos olhares de mais de 40 mil pessoas, o título da Copa Uefa seria decidido. Fazendo valer-se do mando de campo, o Ajax – sem Bergkamp – começou partindo para cima e só não marcou porque Fusi salvou uma cabeçada de Pettersson em cima da linha, antes de cortar para longe.

A pressão dos donos da casa era grande e Roy, em chute cruzado de média distância, obrigou Marchegiani a fazer grande intervenção. Mostrando que também estava no páreo, o Toro se lançou com Lentini pela esquerda. O ponta cruzou para Casagrande cabecear, mas a finalização do brasileiro explodiu no pé da trave.

Ainda no primeiro tempo, Cravero foi protagonista de um lance que resultou um momento curioso – e marcante – da carreira de Mondonico. O treinador granata reclamou de um pênalti não marcado em cima do defensor, que caiu dentro da grande área. O árbitro Zoran Petrovic, da Iugoslávia, nada marcou, corretamente, mas Mondo ficou exasperado. Em revolta, o técnico protestou erguendo uma cadeira acima de sua cabeça e gesticulou freneticamente contra a equipe de arbitragem.

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Com Casagrande no comando do ataque, o Torino se esforçou muito para bater o Ajax na Holanda, mas não conseguiu (imago)

Na etapa complementar, Mussi tentou de longe, a bola desviou em Blind e, graças a um tapinha providencial de Menzo, morreu na trave. Os italianos iam com tudo em busca do gol e, já no finalzinho, o meia Gianluca Sordo, que substituiu o capitão Cravero, teve grande chance. Após uma ajeitada de Mussi, com a cabeça e meio no desespero, ele girou enfiando o pé na bola e acertou o travessão com violência.

Ainda houve tempo para Roberto Policano chegar duro em Pettersson, que caiu sobre o próprio braço e, por conta dessa lesão, perdeu a disputa da Eurocopa de 1992 com a Suécia, em sua própria terra natal. No fim das contas, a peleja terminou num empate sem gols e o troféu ficou com o Ajax, graças aos tentos anotados na Itália.

As dores pela perda daquela taça são sentidas até hoje, como disse Clara Mondonico, filha do inesquecível treinador grená. “Se fecho os olhos, me vejo no avião para voltar de Amsterdã a Turim. Eu choro”. Mas apesar disso, foi um período que, acima de tudo, gerou orgulho no torcedor do Torino, que viu seu clube brigando por coisas grandes e, por pouco, não teve uma conquista europeia para chamar de sua.

Torino 2-2 Ajax

Torino: Marchegiani; Annoni, Bruno, Cravero (Bresciani), Benedetti, Mussi (Sordo); Martín Vázquez, Scifo, Venturin, Lentini; Casagrande. Técnico: Emiliano Mondonico. Ajax: Menzo; Silooy, Blind, F. de Boer; Van ’t Schip, Winter, Jonk, Kreek, Roy (Groenendijk); Bergkamp, Pettersson. Técnico: Louis van Gaal. Gols: Casagrande (62’ e 82’); Jonk (14’) e Pettersson (73’) Árbitro: Joe Worrall (Inglaterra) Local e data: estádio Delle Alpi, Turim (Itália), em 29 de abril de 1992

Ajax 0-0 Torino

Ajax: Menzo; Silooy, Blind, F. de Boer; Van ’t Schip, Winter, Jonk, Kreek (Vink), Roy (Van Loen); Alflen; Pettersson. Técnico: Louis van Gaal. Torino: Marchegiani; Mussi, Benedetti, Cravero (Sordo), Fusi, Policano; Martín Vázquez, Scifo (Bresciani), Venturin, Lentini; Casagrande. Técnico: Emiliano Mondonico. Árbitro: Zoran Petrovic (Iugoslávia) Local e data: Olympisch Stadion, Amsterdã (Países Baixos), em 13 de maio de 1992

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